AA 2024
sebentas 2021
Quadro de Sumários
UNIDADE 1 Creacionismo e degeneracionismo
1 Uma nova ciência do homem
2 Progresso ou degeneração do homem?
3 Quadro ideológico e teórico
4 Selvagens e primitivos?
UNIDADE 2 Evolucionismo social
5 Antropologia victoriana
6 A “Ciência das sociedades primitivas”: Edward Burnett Tylor
7 Rituais comunitários e eficácia social: William Robertson Smith
8 Da magia à ciência: James George Frazer
9 Sistemas classificatórios e descritivos: Lewis Henry Morgan
UNIDADE 3 Escola sociológica Francês
10 Consciência e representações colectivas: Émile Durkheim
11 O Prelogismo: Lucien Lévy Bruhl
12 O escândalo da morte: Robert Hertz
13 Os rituais de passagem: Arnold Van Gennep
14 Investigação e formulação do tema
15 Os factos sociais totais: Marcel Mauss
UNIDADE 4 O Difusionismo
16 A etnografia de Adolf Bastian
17 O espaço vital: Friedrich Ratzel
18 Teoria dos “ciclos culturais”: Fritz Graebner
19 o degeneracionismo difusionista: Wilhelm Schmidt
20 A escola de Viena: Paul Schebesta e Martin Gusinde
UNIDADE 5 O Particularismo histórico
21 O historicismo de Franz Boas
22 O determinismo cultural e superorgánico de Alfred Kroeber
23 O neocomparativismo: Murdock G.P.
24 O relativismo cultural: Melville J. Herskovits e Margareth Mead
25 O configuracionismo: Ruth Benedict
UNIDADE 6 O Funcionalismo
26 Holismo e funcionalismo: Bronislaw Malinowski
27 Funcionalismo organicístico: Radcliffe Brown
28 O funcionalismo estrutural: Edward Evans Pritchard
UNIDADE 7 O Estruturalismo
29 Estruturas universais da cultura: Claude Lévi-Strauss
30 O método da análise estrutural
31 O totemismo
32 O pensamento selvagem
UNIDADE 8 O Africanismo francês
33 A cosmogonia dogon: Marcel Griaule
34 A sociologia do Maghreb: Robert Montaigne
35 O dinamismo: George Balandier.
36 Antropologia marxista: Claude Meillassoux
37 O etnicismo: Jean Loup Amselle
UNIDADE 9 Antropologia Americana
38 Cultura e personalitá: Leslie White
39 Evolucionismo multilinear: Julian Stewart
40 O Materialismo cultural: Marvin Harris.
41 O sostantivismo: Karl Polanyi
42 A Etnociência: Goodenough
UNIDADE 10 Africanismo anglo-saxão
43 O conflito: Max Glukman
44 O simbolismo: Victor Turner
45 A matrilinearidade: Mary Douglas.
UNIDADE 11 Interpretativismo
46 Escrever a cultura: James Clifford
47 Interpretativismo: Clifford Geertz
48 O deconstrutivismo: Pierre Bourdieu.
49 Os estudos culturais: Herbert Hoggart
50 O agentivismo: Stuart Hall
51 A antropologia da modernidade: Marc Augé
quadro teórico
Evolucionismo Difusionismo Particularismo Histórico Funcionalismo Estructural- funcionalismo Estruturalismo Simbolismo Lugar e
Momento
Histórico
Surgimento
Meados do século 19 (América do Norte e Europa)
Final do século 19 e início do século 20 (Europa-Grã-Bretanha e
Alemanha)
Início do século 20 (América do Norte)
Início do século 20 (Europa - Grã-Bretanha)
Segunda metade do século 20
(Europa- França)
Últimas décadas do século 20 (Europa e América do Norte)
Principais antropólogosL. H. Morgan {1818-1881)
E.B. Tylor (1832-1917)
Fritz Graebner (1877- 1934)
Fr. W. Schmidt {1868-1959)
Franz Boas (1858-1942)
A.R. Radcliffe-Brown (1881-1955)
B. Malinowski (1884- 1942)
C. Levi-Strauss {1908-2009)
C. Geertz {1926-2006) Principio teórico fundamental
Não existe relação alguma no surgimento das culturas, mas todas passam pelos mesmos estágios de desenvolvimento, sendo este um processo linear.
O nível mais alto de civilização é representado pelo modelo de sociedade dos antropólogos; O ocidental (visão etnocêntrica)
As culturas têm pouca capacidade inventiva e sua tendência natural é imitar e copiar outras culturas.
As origens da civilização estão no Egito e a partir daí a complexa cultura se espalhou Na forma de círculos culturais para o resto do mundo.
Seu objetivo principal é criticar a perspectiva evolucionária. Em vez disso, ele defende a diversidade cultural!
O que todas as culturas têm em comum é a diferença e não a igualdade.
Cada cultura é o resultado de seu próprio processo histórico e organização social.
Não existem leis universais para entender a realidade, pelo contrário, se deve obter conhecimento com base na experiência; Cada fenômeno social deve ser interpretado dentro de seu próprio contexto de produção.
A cultura é formada por instituições e sempre cumpre uma determinada função na sociedade.
A cultura favorece a unidade psíquica das pessoas. Os invariantes da cultura são universais e graças a eles é possível o entendimento mútuo entre as pessoas e o estabelecimento de normas universais.
A cultura é sempre a mesma, mas a diversidade deriva das múltiplas interpretações que dela são feitas.
Seu interesse é descobrir o uso que as pessoas fazem dos símbolos, bem como determinar as consequências da ação simbólica na sociedade.
Os símbolos representam forças sociais ativas que cumprem uma determinada função, que pode ser a satisfação de necessidades pessoais; Manter a Coesão social
Conceitos teóricos
Evolução linear Cultura complexa! Empréstimo
Círculos culturais
Alteridade cultura! Relativismo cultura! Estrutura social da função
Instituição
Estrutura Social lnvariantes favorecer a
solidaridade, etc. Símbolos
Acção Simbólica
Visão da cultura
Única e universal. Composto por elementos técnicos (materiais) e imateriais. Único e universal. Composto por diferentes complexos ou estruturas que se expandem dos centros (da civilização) para a periferia Todos são particulares em função do desenvolvimento histórico de cada um deles.
A interconexão e o relacionamento entre os complexos culturais ocorrem embora eles se movam em todas as direções.
Cada cultura deve ser estudada em seu próprio contexto.
É universal e funcional
1) Satisfaz os interesses psicológicos e biológicos das pessoas.
- 2) Subordina os indivíduos às necessidades da própria sociedade.
É ideal e universal.
É a expressão da estrutura social que se encontra no mundo das ideias.
É um sistema simbólico que favorece a comunicação entre as pessoas.
É um sistema simbólico que ajuda a orientar a prática social das pessoas. É um mecanismo de controle que impulsiona as características da humanidade.
Não é encontrado no mundo das ideias, mas na prática social diária ou na realidade empírica.
Propostas teóricas voltadas para a superação do evolucionismo Relevância do conhecimento empírico e etnográfico.
Perspectiva positivista: sociedade, metáfora do corpo.
Se supera definitivamente a interpretação positivista da sociedade.
Ano Académico 2024
1ª Lição 6 de Março 2024: Evolucionismo
Evolucionismo
Nascimento da antropologia
1799 nascida em Paris, a Société des Observateur de l'homme, de Jauffret, reúne um grupo de herdeiros intelectuais do Iluminismo e da Enciclopédia. A antropologia é delineada como saber
1) empírico
2) Teórico
3) Comparado
1.1. Primeiro
Houve relatos de missionários à Santa Sé, viajantes, exploradores mercantes e soldados mercenários.
1) exotismo,
2) moralismo
3) preconceito,
4) e maravilhoso.
Definição e campos de estudo
O termo antropologia, derivado do grego anthropos e logos (discurso sobre o homem), define hoje um vasto agrupamento de estudos sobre o homem, dividido internamente em vários campos disciplinares e setores de estudo entre os quais podemos identificar a antropologia cultural como o campo das ciências humanas e sociais que tem como objeto de estudo os produtos intelectuais e manuais do homem enquanto membro de uma sociedade.
Um exemplo de campos disciplinares é constituído por: antropologia forense, antropologia física, antropologia filosófica (com também antropologia teológica e antropologia bíblica), a. c. (com antropologia social, etnologia, etnografia, história das tradições populares, demologia, folclore). As diferentes fronteiras entre esses campos disciplinares da antropologia são constituídas pelos diferentes aspectos de interesse e linhas de estudo do objeto 'homem' e, com isso, também pela diversidade de métodos perseguidos.
No âmbito específico da antropologia cultural, então, identificam-se sectores de estudo como: antropologia biológica, antropologia da arte, antropologia cognitiva, antropologia do corpo, antropologia crítica, antropologia do direito, antropologia da mulher, antropologia económica, antropologia da educação , antropologia da família e do parentesco, antropologia do jogo, antropologia da indústria, antropologia linguística, antropologia médica, antropologia política, antropologia psicológica, antropologia da religião, antropologia do simbolismo, antropologia do desenvolvimento, antropologia urbana, antropologia visual, etc. Em particular, as bordas internas do a.c. eles se distinguem mais pelas diferentes habilidades e articulações de estudo do que por qualquer outra coisa, a ponto de hoje na Itália todos esses diferentes setores do a.c. constituem um agrupamento consistente e autónomo da antropologia, chamados coletivamente de 'disciplinas demóticas-etno-antropológicas', 'estudos antropológicos' ou, commumente, 'antropologia'.
O conceito de cultura
Convencionalmente a data de fundação da antropologia cultural como ciência situa-se em 1871, ano da publicação da obra de E. B. Tylor, Primitive Culture, com a definição sistemática e referência comum para estudiosos posteriores do conceito de cultura. Esta data 'divisor de águas' do período moderno de B.C. deriva da identificação das características de uma ciência em 'sistema de investigação dotado de objeto, teoria e método'. Como Tylor coloca: “Cultura ou civilização, tomada em seu sentido etnográfico mais amplo, é aquele todo complexo que inclui conhecimento, crença, arte, princípios morais, leis, costumes e quaisquer outras habilidades e hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade'.
Definição de dinamica.
Por 'dinâmica da cultura' entendemos todos os processos de nascimento, crescimento, transformação e circulação de fatos culturais; a vida de uma cultura que, de fato, nunca fica 'parada'.
Diferenças culturais.
Chamamos a distância cultural que geralmente separa duas culturas de 'diferenças na cultura' e também podemos falar de:
a) diferenças de nível externas à nossa sociedade, quando nos referimos à distância entre a nossa cultura (observadora, do antropólogo) e a das sociedades não ocidentais (observadas, objeto de estudo da antropologia);
b) disparidades dentro de uma sociedade quando nos referimos à distância cultural existente entre diferentes condições sociais dentro de uma sociedade. Essas condições são os estratos sociais subalternos e periféricos em oposição aos hegemónicas, as classes, as camadas, os grupos sociais.
A formação histórica da desigualdade interna de uma cultura está relacionada com:
a) as dificuldades materiais de comunicação;
b) a discriminação cultural das classes hegemónicas contra as classes subalternas;
c) a resistência das classes periféricas e subordinadas às imposições 'civilizadoras' das classes hegemónicas (aculturação forçada).
O conceito de conotação.
No contexto do antropologia cultural a relação de solidariedade, relevância entre um facto cultural e um grupo social chama-se conotação: quando um ou mais fenómenos que andam juntos com o grupo social que é seu portador, quando estão sistematicamente ligados, quando se há um, há sempre o outro também. Mas diz-se que nem sempre um elemento cultural nasce no estrato social que resulta do seu portador. De facto, os fatos culturais passam por:
- uma transmissão no tempo ou na tradição;
- uma propagação no espaço ou difusão;
- uma mudança na dimensão social. Esses três processos de dinâmica cultural podem ser separados ou mesmo ligados entre si.
A transmissão no tempo é a passagem de uma geração a outra da cultura, dentro de um grupo homogéneo do ponto de vista sociocultural. A este processo de herança social chama-se tradição e à operação com que os indivíduos das novas gerações se integram na cultura do seu grupo chama-se inculturação.
A propagação espacial é a difusão de um elemento cultural de uma cultura para outra e também a difusão de uma cultura como um todo no espaço, às vezes até em detrimento de outras culturas previamente existentes no território. Em outras palavras, essa difusão geralmente ocorre como um processo de aculturação e coloca alguns problemas quanto às modalidades e prioridades do nascimento dos fatos culturais.
A mudança na dimensão social: quando as concepções e comportamentos nascidos em um grupo ou estrato social se espalham para outros grupos ou estratos que os adotam (transformando-os mais ou menos) e os mantêm mesmo quando às vezes foram abandonados pelo estrato de origem. Esse fenómeno é chamado de circulação social dos fatos culturais. Em particular, o deslocamento ou circulação pode se dar como:
- descida (de cima) quando o processo se dá a partir das classes dotadas de mais poder e/ou prestígio;
- subida (por baixo) quando o processo ocorre no sentido inverso.
- Além disso, como chamamos de folclore a cultura dos estratos sociais subalternos, quando um facto cultural ocorre em sua origem em um estrato social dominante (antecedente extrafolclórico) e depois passa por descendência a um estrato social subalterno, este último se apropria dele e o caracteriza. como seu (folclorização).
Pressupostos histórico-culturais e escolas de antropologia
Os pressupostos histórico-culturais que permitiram o nascimento da Antropologia podem ser resumidos em:
- afirmação ou expansão de novos setores disciplinares modernos, como a antropologia física, a arqueologia, a linguística, a geografia;
- descobertas relevantes nestas novas ciências sobre o nascimento do homem, o passado pré-histórico e histórico do homem ocidental, os grandes e ricos espaços africanos;
- domínio nos diversos estudos e setores científicos do tema das 'origens';
- expansão dos interesses científicos para além das civilizações africanas.
Os 25 referentes das teorias antropológicas
Enfim aonde nos baseamos para determinar as diferentes teorias antropológicas? Nos seguintes 25 autores:
«Edward Tylor, Lewis Henry Morgan, Franz Boas , Émile Durkheim , Alfred Kroeber , Ruth Benedict , Edward Sapir , Margaret Mead , Marcel Mauss , Bronislaw Malinowski , A. R. Radcliffe-Brown , Edward Evans-Pritchard , Leslie White , Julian Steward , Marvin Harris , Eleanor Burke Leacock , Claude Lévi-Strauss , Victor Turner , Clifford Geertz , Mary Douglas , James Fernandez , Sherry Ortner , Pierre Bourdieu , Eric Wolf , e Marshall Sahlins» (Moore 2009: XV).
Escolas e teorias clássicas em antropologia são:
evolucionismo, difusionismo, funcionalismo, estruturalismo. Na base das diferenças internas entre eles estão questões de método, concepção das características do objeto de estudo e conceitos explicativos da dinâmica histórico-social.
Evolucionismo.
Abordagens evolutivas são aquelas abordagens que, a partir da segunda metade do século XIX, assumem a teoria da evolução como ponto central para a análise da formação da dimensão natural e cultural da realidade, formulada pela primeira vez em termos sistemáticos por H. Spencer e cultural de Darwin, referindo-se respectivamente à sociedade humana e ao reino da natureza.
Para além das diferenças teóricas entre os vários autores e campos de estudo, o conceito de evolução é entendido no sentido do desenvolvimento de um elemento desde formas iniciais e simples até formas subsequentes e complexas. Além disso, o conceito de evolução pretende o desenvolvimento de um elemento criado através de processos naturais de diferenciação da função e complexidade da estrutura, de forma a reconhecer vários estágios de desenvolvimento do próprio elemento.
O principal tópico de pesquisa das abordagens evolutivas é a origem das instituições e, mais geralmente, dos fatos culturais e sua classificação de acordo com o arco histórico de formas simples a complexas. Em particular, é dada atenção ao casamento e às instituições parentais (J. Bachofen , J. F. MacLennan, H. Maine , L. Morgan , E. Westermarck ), à magia e à religião (M. Müller , E. Tylor , J. Frazer ) , aos textos e costumes da tradição popular europeia (M. Müller). O evolucionismo cultural junto com o difusionismo foram correntes predominantes no final do século XIX que lançaram bases para o desenvolvimento da antropologia como uma disciplina acadêmica autônoma.
Em um ambiente teórico confuso com as ideias de poligenia, racismo científico e criminologia determinista, o evolucionismo e o difusionismo apresentaram os primeiros discursos coerentes sobre a humanidade além de estabelecerem uma das primeiras definições compreensivas de cultura.
Nessas teorias de perspectivas diacrônicas, a cultura seria “em seu amplo sentido etnográfico, este todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou quaisquer outras capacidades ou hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade”. (Tylor, 1871, p.1).
A primeira corrente teórica que propriamente pode ser chamada de antropológica, o evolucionismo cultural pressupunha uma unidade psíquica do ser humano. Com esse pressuposto, todos os povos passariam unilinearmente por estágios de desenvolvimento sociocultural semelhantes, do mais primitivo modo de vida ao mais complexo. Desse modo, seria possível conhecer o passado da humanidade bastando investigar os povos mais “primitivos”.
Essa busca pelos seres humanos mais prístinos levou ao estudo da origem das instituições – principalmente a religião, a família, a propriedade e o direito – entre os esses povos “fósseis” como os arunta da Austrália, por sua suposta simplicidade.
Como pode se inferir dessa visão bem enviesada, a complexidade tecnológica refletiria uma maior complexidade social. Assim, as sociedades ocidentais seriam as mais “avançadas”.
Influências:
- Teoria da seleção natural: Darwin publicou seu A Origem das Espécies em 1859, gerando uma série de monografias evolucionistas na década seguinte sobre as mais variadas instituições. Mais tarde, Darwin seria ele próprio influenciado pelos antropólogos evolucionistas. Em um ciclo reflexivo de sua teoria, Darwin em A descendência do Homem e Seleção em relação ao Sexo (1871) utiliza, além das teorias de Spencer, as propostas de Lubbock, Tylor, Morgan e Max Müller para explicar a evolução cultural, intelectual e moral a partir de fatores biológicos. Os estágios de pedestrialização, bipedalismo, encefalização e desenvolvimento da linguagem simbólica refletiram em mudanças superorgânicas no ser humano.
- Historicismo de Vico: desdobramento por fases progressivas da humanidade por agência humana.
- Progresso intelectual humano: O Marquês de Condorcet (1743–1794) propôs dez estágios de evolução intelectual e tecnológica humana. Apesar de seu eurocentrismo, foi influencial em substanciar o evolucionismo na antropologia.
- Positivismo de Comte: teoria dos estágios progredindo para uma sociedade racional.
- Darwinismo social e positivismo de Herbert Spencer.
- Escola histórica do Direito de Von Savigny: investigação das origens das instituições e crítica às teorias contratualistas.
- Método filológico comparativo.
- Investigações sobre religião e etnologia de William Robertson Smith.
- Unidade psíquica do ser humano: defendida pelo etnógrafo alemão Adolf Bastian (1826–1905), a teoria sustentava que todos os povos eram psicologicamente semelhantes. Apesar de defensor de um evolucionismo multilinear, Bastian rejeitou os esquemas de estágios e progresso do evolucionismo cultural. Todavia, a maioria dos evolucionistas não acreditava que a unidade psíquica resultasse na mesma capacidade de inteligência. Para eles, os povos ocidentais seriam os mais avançados.
Fontes de dados:
- Compilação de relatórios de administradores coloniais, missionários, viajantes, e respostas de questionários como as Notes and Queries in Anthropology elaborado em 1872 pelo Royal Anthropological Institute of Great Britain and Ireland.
- Análise bibliográfica de textos das civilizações clássicas.
Método: abordagem comparativa sob uma ótica macro-histórica.
Temas do evolucionismo:
- Origem de instituições como família, propriedade, estado, religião, direito e linguagem. Pesquisadores de origem jurídica enfocaram na origem da sociedade e de suas instituições, enquanto outros antropólogos se destacaram na investigação da origem da religião.
- Conceitos de cultura, religião, direito e família: busca de definições que servissem à comparação entre diferentes culturas.
- Estágios civilizatórios: paradigmas evolutivo das sociedades em diferentes estágios.
Autores Evolucionistas:
- Johann Jakob Bachofen (1815–1887): jurista suíço, autor do Direito Matriarcal (1861). Essa tese pressupõe na relação de maternidade a fonte do comportamento social e cultural humanos, resultando nas instituições de religião, agricultura, moral e decoro. Para ele, o ser humano primitivo era promíscuo e com grande poder por parte das mulheres; entretanto, a transformação em família patriarcal resultou na apropriação do poder pelos homens.
- Friedrich Max Müller (1823-1900): Filólogo e estudioso da religião alemão. Estabeleceu um método comparativo para a reconstrução do proto-indoeuropeu. Com esse mesmo método, investigou a gênese institucional da religião, arguindo que a religião original seria fetichista.
- Henry James Sumner Maine (1822 – 1888): jurista escocês. Expôs sua tese “do status ao contrato” na monografia Ancient Law (1861), na qual o status primitivo seria atribuído pelas relações familiares – que seriam patriarcais e patrilineais – resultando nas instituições sociais (como o contrato) a medida em que a família crescia e se tornava a civilização.
- Numa Denis Fustel de Coulanges (1830–1889): jurista e arqueólogo francês. Em seu A Cidade Antiga (1864) argumenta que as instituições surgiram a partir dos cultos religiosos. Baseado nos clássicos gregos e no direito romano, afirmava que as lápides, sendo marcas sacras, serviriam depois para demarcar as propriedades familiares.
- John Lubbock, Barão Avebury (1834–1913): esse aristocrata inglês, um botanista e antiquário aficionado, propôs vários estágios pré-históricos, observando os depósitos estratigráficos. Sua obra Prehistoric Times: As Illustrated by Ancient Remains and the Customs of Modern Savages (1865) foi referência em arqueologia por meio século. Também propôs vários estágios para a origem da religião, desde um ateísmo primitivo até o monoteísmo. Foi presidente da Ethnological Society entre 1864 e 1865.
- John Ferguson McLennan (1827 –1881): advogado escocês que postulou que as hordas primitivas teriam suprido a carência de membros femininos por meio de raptura e poliandria, nascendo os vínculos sociais através a exogamia, termo que aliás ele cunhou junto com endogamia. Suas ideias eram similares a Bachofen, porém foram desenvolvidas independentemente e publicadas em Primitive Marriage (1865). Cunhou o termo e teoria do “totemismo” como meio de representação social da religiosidade e forma primeva de religião.
- Lewis Henry Morgan (1818–1881): advogado norte-americano e um dos pioneiros da pesquisa de campo, além de enviar questionários para informantes em diversas partes do globo. Propôs uma terminologia e técnica de estudo do parentesco, porém inferiu que a complexidade social e tecnológica acompanhava a terminologia do parentesco. Assim, dividiu a evolução humana nos estágios de selvageria (uso de fogo, arco e flecha, cerâmica), barbárie (domesticação dos animais, agricultura, metalurgia) e civilização (domínio da escrita, propriedade privada).
- John Wesley Powell (1834 – 1902): geólogo, explorador e etnógrafo influenciado por Morgan. Cunhou o termo aculturação para explicar as alterações psicológicas ocorridas pelo contato entre povos indígenas e os euroamericanos.
- Friederich Engels (1820–1894): em seu A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado (1884), Engels baseou-se em Morgan para defender uma evolução política e econômica desde um comunismo primitivo e matriarcal até as civilizações das sociedades de Estado.
- William Graham Sumner (1840-1910): clérigo tornado em professor de política e sociologia em Yale, propagava um darwinismo social. Para ele, conforme a sociedade evoluía, os indivíduos mais aptos deveriam receber as benesses de suas aptidões. Cunhou vários termos como etnocentrismo, mores e folkways.
- Edward Burnett Tylor (1832–1917): filho de uma rica família mercante, sua religião quaker era impedimento ao acesso à educação superior no Reino Unido. Viajou pelo México e Caribe e, de suas leituras, elaborou uma teoria análoga a teoria da evolução de Darwin aplicada à cultura. Para Tylor, a cultura evolvia-se como um organismo. A prova dessa evolução seria a existência de resquícios ou survivals, práticas culturais passadas que continuavam a serem mantidas, embora suas funções e significados originais já se perderam. Para Tylor, a religião primitiva seria o animismo. Foi o primeiro professor permanente de antropologia nomeado em Oxford.
- James George Frazer (1854-1941): mitólogo e estudioso das religiões, propôs a evolução de estágios do sistemas de conhecimento: da mágica à religião, dessa à ciência. Seu livro O Ramo de Ouro (1890) fez uma comparação exaustiva de vários parâmetros em mitos. Essa obra influenciou outros antropólogos, como Boas e Malinowski e deixou uma interessante teoria sobre mágica.
- Robert Ranulph Marett (1866–1943): sucessor de Tylor em Oxford, esse classicista e estudioso da religião, criou o primeiro programa de diploma em antropologia em 1905. Propunha uma origem emocional da religião, a qual chamou de dinamismo, pré-animismo ou animatismo.
Introdução
«Mas insistirei que a tentativa de Marx e Engels de encadear o materialismo cultural, aos fantasmas da dialética hegeliana, foi um erro. Estou convencido de que a nova geração de estudiosos das ciências sociais estão preparados para dizer aos escribas do partido e lacaios burgueses «Vão ambos para o inferno» e levem a sério a tentativa de encontrar a verdade, onde quer que essa pesquisa os leve» (Harris 1971:8).
A Etnografia é a descrição pura e simples de uma determinada cultura dos seus elementos, delimitada na sua área cultural, sem se ater somente a povos exóticos mas também a povos europeus. A Etnologia representa o primeiro passo para a síntese antropológica. A partir dos casos particulares, descritivos, que a Etnografia lhe apresenta. Recolhidos com a observação directa, que constituem o primeiro estádio da investigação etnográfica, E a síntese se opera em três direcções: geográfica, se se quer integrar conhecimentos relativos a grupos vizinhos; histórica, se se visa a reconstituição do passado ou de várias populações; sistemática, enfim, se se isola, «para lhe dar uma atenção particular, certo tipo de técnicas, os costumes ou as instituições» .
Antropologia Social
A designação de Antropologia Social fez o seu aparecimento em Inglaterra para designar a primeira cadeira ocupada por J. G. Frazer, nova na terminologia tradicional empregue para denominar as antigas disciplinas. Contudo, a escolha da expressão corresponde, hoje pelo menos, a preocupações teóricas bem definidas. Da polémica havida entre o americano G. P. Murdock e o inglês H. Firth e das discussões do Simpósio Internacional de Antropologia de 1952 em Nova Iorque, ficou claro que as designações de Antropologia Social e Antropologia Cultural traduzem métodos diferentes, embora na coincidência de programas. Com efeito,
Antropologia cultural
a Antropologia Cultural parte das técnicas e objectos materiais para chegar ao estudo da actividade social e politica; ê de orientação da antropologia cultural, consagrar-se sobretudo ao estudo das técnicas e de outras instituições consideradas como técnicas ao serviço da vida social;aproxima-se à Geografia, à Tecnologia e da Pré-História;
Antropologia social
a Antropologia Social, «da vida social, para descer até as coisas sobre as quais ela imprime a sua marca e até às actividades através das quais ela se manifesta. é de orientação sociológica, atendo-se mormente ao estudo das instituições tidas como sistemas de representações aproxima-se da Arqueologia, da História e da Psicologia.
Mas ambas, a Antropologia Cultural e a Antropologia Social, aspiram ao conhecimento do homem nas suas manifestações totais, considerado ele, na primeira, a partir das suas produções, e, na segunda, a partir das suas representações.
Antropologia geral
E a Antropologia Cultural (ou Social) é apenas um dos ramos da Antropologia geral o outro é a Antropologia Física, que se ocupa do homem físico e fisiológico.
Deste modo, Antropologia (geral) divide-se em Antropologia Cultural, Social e Antropologia Física. A primeira estuda o homem no ponto de vista psicológico e cultural; a segunda, do ponto de vista social e a terçeira no seu aspecto fisico e fisiológico.
Etnografia
Às vezes é usada apenas a expressão Etnografia como termo geral para designar o conjunto de ciências que tratam das particularidades específicas da cultura e do modo de vida dos povos, quaisquer que eles sejam. Isto significa que, a Etnografia é simultaneamente descritiva e teórica. Por esta época, o termo Etnografia, empregado por Balbi, em 1826, na sua classificação das línguas, e pelo Dicionário da Academia francesa em 1835 é tida como uma espécie de estatística que tem por objectivo o estudo e a descrição dos diversos povos»
Folclore
O termo Folclore se aplica à criação popular. Para designar a ciência que trata da tradição popular oral, é utilizada a designação folclorica. Portanto, esta designação não tem o alcance do termo inglês Folk -Lore, da expressão alemã Volkskunde. Para exprimir as manifestações de música popular, por exemplo, emprega-se por vezes o nome de Etnografia Musical.
Etnologia
A palavra Etnologia, oriunda de etnoj (povo) mais logoj (discurso, tratado), apareceu pela primeira vez em 1829, numa carta de W. Edwards a Amédé Thierry. Dez anos depois, foi fundada em Paris por W. Edward a Société d’Ethnologie. O seu objecto era vasto e confuso: estudar «o homem, a sua organização física, o seu carácter intelectual e moral, as suas línguas, as suas tradições históricas a fim de distinguir as raças».
Etnologia e etnografia
Etnologia e Etnografia tinham idêntico significado. Ambas as expressões, se aplicavam indiferentemente para designar tudo aquilo que diz respeito à «história natural da humanidade». Mas no Dictionaire de Émile Littré (1873) Etnologia aparece só no sentido de «tratado sobre a origem e a distribuição dos povos». Segundo Lévi-Strauss, a existência da Etnologìa é devida a três ordens de causas históricas e sociais: a primeira é o descobrimento do Novo Mundo, porque ê «sobre o solo americano que o homem começa a pôr, de maneira concreta, o problema do Homem e a experimentar-se ele próprio, de algum modo»; a segunda è m reacção política e ideológica posterior à Revolução Francesa e às ruínas deixadas peias conquistas napoleónica; a terceira procede do evolucionismo biológico do séc, XIX (Lévi-Strauss 1957, pp. 56-57).
Com a obra de Edward Evans Pritchard, a Etnologia começa a sair das generalidades confusas. Embora considerada ainda como a história de raças humanas e de tudo o que concerne às suas origem e suas relações», separa-se já das ciências naturais. Sociedades de Etnologia surgem em Paris (1838), em Londres (1843), e depois na América, em Berlim, querendo afirmar o objecto da nova ciência,
Durante muito tempo e até cerca de 1896 o conceito de evolução dá à Etnologia o seu primeiro impulso. É o período do evolucionismo, iniciado com as discussões à volta das descobertas e hipóteses de J. Boucher de Perthes, (Maisels 2005, p.1) que foi o primeiro, a partir de 1836, a pôr indutivamente o problema da evolução da Humanidade.
Nesta primeira fase da Etnologia, os cultores da nova ciência, fundamentados no postulado da unidade da espécie humana, ocupam-se da totalidade da cultura no tempo e no espaço, e não das culturas ou das sociedades em particular. Esta orientação é fruto dos métodos de trabalho empregues. De facto, os primeiros etnólogos trabalharam sobretudo a partir de compilações de factos e de informações. O antropólogo in loco é bem mais tardio.
Com a comunicação de F. Boas intitulada The Limitations of Comparative Method in Anthropology inicia a Antropologia cultural o seu segundo período, o da «história cultural».
Três grandes escolas exprimem esta tendência: os etnólogos americanos, na sua maioria, elaboram conceitos precisos para o estudo dos factos de difusão cultural, segundo F. Boas na consideração de que todo o fenómeno resulta de acontecimentos históricos; a Escola Histórico-Cultural alemã, depois de F. Graebner, dedica-se ao estudo dos «Ciclos culturais», considerando que é deles que se opera todo o desenvolvimento cultural da Humanidade; na Grã-Bretanha, G, Elliott Smith funda a escola hiperdifusîonista, ou heliocêntrica, de cultura.
A França não acompanhou esta evolução. A Antropologia propriamente dita iria absorver a Etnologia por algum tempo. Mas, antropólogos como Quatrefages , Manouvrier, Broca , Geoffroy Saint-Hilaire , Cuvier, debruçando-se sobre o estudo da natureza física do homem e das raças humanas, não se alhearam, porém, da ideia de civilização. Os estudos de Mortillet sobre a Pré-História e as descobertas de Boucher de Perthes , como dissemos, invadiram também o domínio da Etnologia.
Liberta da Antropologia Física, a Etnologia, mormente por via dos trabalhos de Augusto Comte e Durkheim, conseguiu desenvencilhar-se tão depressa da Sociologia. Só depois de 1930 se autonomizou, em grande parte devido a Marcel Mauss, o qual escreveu que a Sociologia «não distingue naturalmente entre as instituiçôes dos povos ‘selvagens e das naturezas bárbaras ou “civilizadas». Portanto a Etnologia começou por ser um estudo das populações actuais ou dos grupos humanos actuais que não atingiram ainda o estado de produção caracterizada pela grande indústria», como a definiu Arnold Van Gennep (1914, p. 149).
A introdução em França da orientação da Escola Histórico-Cultural alemã foi obra de G. Montandon Foi ele que alargou ali o objecto específico da Etnologia no sentido de alargar a compreensão e a extensão do conceito à etnia, comportando esta três factores: um factor somático, um factor linguistico e um factor cultural. A Etnografia, segundo este autor, seria o estudo cultural dos povos e a Etnologia seria a sintese dos conhecimentos antropológicos, linguísticos e culturais. Foi assim que a Etnologia se foi individualizando conto ciência e como método, iniciando por cerca de 1930 o seu periodo actual.
Para África, pode dizer-se que ela começou quando H. Liechtenstein em 1808, declarou que os Boximanes não eram hotentotes e que ambos estes grupos não eram senão negros degradados».
Em um ensaio recente, James Clifford resumiu a teoria antropológica do passado. E os que a estudaram nestes termos
- um objeto empírico,
- um método distinto,
- um Paradigma interpretativo, e
- um objectivo, ou finalidade transcendente.
O objeto foi as Sociedades 'primitivas'; O método era 'trabalho de campo'; O paradigma era 'cultura'; A finalidade era o 'homem' (Clifford 2005, p. 37). O famoso objeto, por ser chamado de “selvagem” era pesquisado e representado e justificação por relações de poder desiguais, como aquelas geradas pelo colonialismo.
Antropologia em 4 campos
Método de análise (principalmente) qualitativa com base em observação participante de longa duração. A observação já não era distintiva. O conceito de cultura era apropriado mas por outras disciplinas. O objetivo de estudar o homem - ou seja, a espécie humana, na linguagem moderna - em todos os nossos aspectos parecia um projeto irrealizável, um problema particularmente agudo pelos antropólogos. A organização em quatro campos não parecia mais viável em muitos departamentos:
1) antropologia sociocultural,
2) antropologia linguística,
3) Antropologia biológica (incluindo a paleoantropologia, o estudo do desenvolvimento da espécie humana baseada em registros fósseis)
4) arqueologia.
Em geral, no entanto, a antropologia não é diferente de outras disciplinas baseadas no conhecimento. Seus passados e presentes estão ligados através de linhas de descendência intelectual e profissional, mas todos os campos académicos tiveram limites flutuantes. Para muitos que problematizaram a identidade da antropologia há algumas décadas, a disciplina apresenta um defeito fundamental ou seja o seu nascimento se opera durante a situação colonial. Isto é, os antropólogos ao encontrar os povos exóticos seu estudo foi possível através da extensão do colonialismo. Certamente, o objecto de seus estudos eram os mais vulneráveis dos indigenas. Os povos eram aqueles que se tornaram populações oprimidas em seus próprios territórios, pelo colono.
Como em Angola os Ovimbundu empregues pelo contrato nas fazendas de café. Os indígenas tornaram-se assuntos assuntos oficiais dos estudos dos europeus que vieram para testemunhar seu comportamento,
Medir suas características físicas e colectar espécimes de sua cultura material, que foram representados em textos, fotos e amostras de museu. Foi o desenvolvimento de Infra-estrutura econômica e tecnológica global que tornou possível o domínio colonial, nesta senda se abriram novas áreas de pesquisa. Eu devo enfatizar que a visita
As atitudes dos europeus em relação aos povos não ocidentais não eram uniformes. Em particular,
Representações visuais e exposições de museus exibiram a gama completa de possíveis
atitudes em relação aos povos exóticos no entanto, abriram -se fronteiras aparentes - bem como clivagens - podem. Além disso, nenhum relacionamento de podia pode ser completamente coercitivo; Até prisioneiros e escravos desenvolveram modos de resistência. O estabelecimento da autoridade colonial não protegia os antropólogos de serem considerados intrusos adversários. Portanto a acusação que fizeram de que a antropologia teria sido a 'serva' do colonialismo.
Em 1965, Margaret Mead sentiu pena do jovem antropólogo que pode não ser capaz de contribuir com qualquer coisa significativa para a disciplina, Ao contrário do antropólogo de tempos passados, que tinha 'o conhecimento maravilhoso que tudo aquilo que gravava era valioso pois era único, mas tudo desapareceu, tudo foi moído. Hoje, é claro, a causa atribuída das extinções culturais não é mais a extensão do poder colonial, mas o rolo compressor da globalização - que pode ser visto como uma extensão do status quo de ante.
Reconhecer a atitude política subjacente às extinções previstas é colocar em questão o status epistemológico das observações dos antropólogos. Ou seja, já foi uma vez Princípio fundamental que os antropólogos foram capazes de compreender as sociedades estrangeiras, porque Eles trouxeram durante suas observações as perspectivas de pessoas de fora; confrontando as diferenças entre seus modos de vida e os modos de vida dos povos que estudaram, os antropólogos foram capazes de compreender crenças e práticas distintas de outras sociedades como produtos de contingências situacionais, ao invés de fenómenos naturais.Os antropólogos argumentaram de maneira completamente desinteressada quando alegaram que o seu estatuto de estranhos em lugares exóticos tornou-os observadores agudos, e portanto capazes de teorizar. Infelizmente o estudo alteridade tornou-se uma casualidade política na antropologia: “o outro” tornou-se um símbolo em código a descodificar.
“O passado é um país estrangeiro”
Confrontar a história da antropologia significa reconhecer diferenças significativas entre praticantes do passado e do presente. A disciplina tem raízes em praticamente todas as correntes intelectual. Mas como uma sociedade que exige trabalho de campo, ela depende das Ciências da história natural. Era uma vez imperativo que os pesquisadores de campo descrevessem a flora e a fauna, bem como as diversas pessoas entre as quais eles se encontravam, a fim de transmitir ao leitor que eles eram autênticos Testemunhas, cujo testemunho era confiável : a metodologia do trabalho de campo foi inventada por Bronislaw Malinowski como algo que não foi intencional ma nasceu de um um acidente histórico. Ele era um estudante de graduação da London School of Economics, estava visitando a Austrália quando a Primeira Guerra Mundial começou; Ele tinha que fazer pesquisa de campo, mas nunca poderia ter passado tanto tempo no campo das ilhas Trobriand, se ele não tivesse sido um cidadão do Império Austro-Húngaro, classificado como um inimigo inimigo e, portanto, impedido de regressar à Grã-Bretanha até o final da guerra.
ROUSSEAU,
Com Montaigne ele olha para o selvagem criticando a sociedade do tempo
1) controvérsia sobre religião
2) batalha anti-escravidão
3) crítica do absolutismo monárquico
1762 Emile
Neste período, uma noção cultural de Buon Selvaggio foi desenvolvida pelos Illuministas
O conceito básico: na primeira revolução industrial há a realização das primeiras máquinas mecânicas, as primeiras descobertas científicas, com Pasteur nascem as primeiras vacinas, percebemos que a cultura é o resultado do desenvolvimento, para Rousseau é a Natureza que produz as Estruturas da cultura e do Emilio bom selvagem num homem positivo. Cultura e civilização degeneraram
Em Emile é a natureza que educa Emile, a intervenção do mestre é prejudicial. É a utopia do Iluminismo, a realização de cidades utópicas, o primitivo que vive no estado da Natureza, uma visão romântica e utópica feliz, neste período nascem as concepções de Robinson Crusoe, o primitivo, o índio americano. O primeiro estágio é o conceito do conceito de progresso e degeneração. Em 1700, há o desenvolvimento positivo do homem da natureza. O selvagem é positivo. Nós começamos a fazer a
1) comparação entre o Bom Selvagem e o homem civilizado. Um fenómeno que será desenvolvido no século XIX durante o período romântico. O fenómeno da jornada exótica de Gaughin que foge de Paris para ir às ilhas Haway.
O conceito de Bom Selvagem
2) Bom Selvagem comparado ao Bom Civilizado. Esta é a base do comparativismo. Havia literatura filosófica como Montaigne, Rousseau, Voltaire, Mercier, onde o selvagem é um assunto metafórico e um espelho para o europeu ver sua figura quebrada endireitada, é um confronto ideológico. Em controvérsia com a
1) visão religiosa,
2) batalha anti-escravidão de filantropos e fisiocratas e
3) a crítica do poder absolutista do tipo monárquico.
Estes foram os temas que dominaram a controvérsia. O status do discurso sobre o selvagem permaneceu subordinado àquele do homem civilizado O europeu viu sua figura decomposta endireitada no bom selvagem. Enquanto no evolucionismo a situação virará de cabeça para baixo: A civilizada (alta cultura) comparada com a Selvagem (não civilizada) para colonizar a civilização e a exploração. De fato, entre o final do século XVIII e o início do século XIX, os impérios financeiros coloniais serão formados, e a antropologia é responsável por essas explorações, pois serviu como suporte teórico para o colonialismo, e a antropologia conheceu o contexto científico das populações silvestres para melhor gerenciá-las e explorá-las. A antropologia era uma ciência muito comprometida com o colonialismo. (veja antropólogos ingleses na Índia).
Montesquieu
Imagem da civilização selvagem regulada pelas leis da natureza civilização mais saudável e autêntica, o bom selvagem como o mito da cultura ocidental. Descreve a expressão de seu apreender e descobrir como, em todos os homens, o espírito das leis poderia ser identificado, elaborado e produzido, e um conjunto de leis que estabelecia o comportamento social. Claude Levy Strauss justificará a transição entre Natureza e Cultura, o tabu do incesto, homens como todos os animais são incestuosos, os homens adotam tabus e elaboram conteúdos simbólicos. O privilégio dos homens é implementar normas: o tabu do incesto é uma norma fundamental para a família e para as relações de parentesco. Montesquieu não consegue refiná-los como Levy Strauss, o que significa que em todos os homens habita o espírito normativo. A razão que produz normas e regras a razão pela qual as normas e os tabus são fixados é o princípio da reciprocidade. Cada comunidade se recusa a acasalar com suas mulheres porque outros grupos fazem o mesmo deixando livres suas mulheres. Eu te dou algo porque você me dé alguma coisa. Princípio da troca e reciprocidade. Em todo lugar esse princípio é universalmente adquirido. É o motor que faz a comunidade andar.
O quadro ideológico e teórico dominante
Monogênese e poligênese da cultura
Tem cultura e história originadas de múltiplos centros ou de um único centro? A perspectiva do condicionamento. Na filosofia do Iluminismo, um papel essencial foi desempenhado por
Um dos fundadores da antropologia legal. Um objeto fundamental são os homens que se organizam com normas, regras e costumes jurídicos para viver em sociedade, formulando um sistema de controle social. Por exemplo, o casamento entre irmão e irmã é proibido. Por exemplo, os 10 mandamentos como normas consuetudinárias e legais. Os homens não são autárquicos, mas sociais.
Esprit de Loi em todo o mundo os homens têm a centelha da razão que elabora a lei. A razão produz normas de comportamento que são a base da lei e do costume. A lei é contextualizada, refere-se a um contexto e contexto social em que é formulada e respeita os hábitos das pessoas que vivem em determinadas áreas. Por exemplo, a lei da retaliação: olho por olho e dente por dente. No deserto, eles olham nos olhos um do outro para se reconhecerem. Tudo se baseia na reciprocidade: cada ação corresponde a uma reação igual e oposta. Como lei social, se você me der algo, eu te dou algo. Esta norma segundo Montesquieu baseia-se e modifica-se na esfera diferente e no contexto diferente. Isso é assim no Saara. Na Lapônia, a situação muda, porque segundo Montesquieu as diferentes formas de governo são baseadas nesse princípio, a natureza das leis varia de acordo com o contexto social. Tudo também depende da densidade populacional da população.
Há o estágio bárbaro que implica o isolamento da população em relação a um estágio mais avançado.
A razão está presente em todos os homens, nos povos selvagens e primitivos e produz
1) padrões
2) hábitos
3) organizações sociais
Teoria e etnografia
Na antropologia social ou cultural, uma distinção é frequentemente feita entre 'etnografia' e 'teoria'. Etnografia é literalmente a prática de escrever sobre os povos. Muitas vezes, isso significa que entendemos os modos de pensar de outras pessoas, uma vez que os antropólogos geralmente estudam culturas diferentes do seu próprio. A teoria é também, em parte, nossa maneira de dar sentido ao nosso próprio modo antropológico de pensamento. No entanto, teoria e etnografia inevitavelmente se fundem em uma. É impossível colocar História e Teoria em Antropologia se envolver em etnografia sem alguma ideia do que é importante e o que não é. Os estudantes frequentemente perguntam para que serve a teoria antropológica; eles poderiam facilmente perguntar o que é etnografia! Idealmente, etnografia serve para melhorar nossa compreensão da cultura no abstrato e definir a essência da natureza humana (que é de fato baseada na existência da cultura). Do outro lado da moeda, a teoria sem etnografia não tem sentido, uma vez que a compreensão da diferença cultural está em pelo menos um dos objetivos mais importantes da investigação antropológica.
Elementos teóricos básicos
É útil pensar na teoria como contendo quatro elementos básicos:
(1) perguntas,
(2) suposições,
(3) métodos e
(4) evidências.
As perguntas mais importantes, são “O que estamos tentando descobrir?” “Por que esse conhecimento é útil?” O conhecimento antropológico pode ser útil, por exemplo, na tentativa de entender a própria sociedade ou tentando entender a natureza da espécie humana. Algumas questões antropológicas são históricas: “Como as sociedades mudam?”, Ou “Qual o relacionamento entre a Natureza e a cultura?” Outras questões antropológicas são sobre questões contemporâneas: “Como funcionam as instituições sociais? ”, ou “Como os humanos imaginam e classificam o que vêem ao seu redor?” Pressupostos incluem
noções de humanidade comum,
de alteridade cultural,
de valores comuns em todas as culturas,
ou de alteridade culturais.
Mais especificamente, os antropólogos podem assumir
- a inventividade humana ou
- a incapacidade humano;
- ou que sociedade que obriga o indivíduo,
- ou os indivíduos que criam a sociedade.
Algumas suposições são comuns a todos os antropólogos, outras não são. Assim, apesar de ter algum terreno comum, os antropólogos podem ter diferenças significativas de opinião sobre o caminho teórico a percorrer.
A comparação
Os métodos foram desenvolvidos ao longo dos anos e fazem parte de todos os estudos de campo. No entanto, os métodos incluem não apenas o trabalho de campo, mas igualmente importante, a comparação. A evidência é obviamente um componente metodológico, mas como é tratada, ou mesmo compreendida, será diferente de acordo com a perspectiva teórica. Alguns antropólogos preferem ver a comparação como um método de construir uma imagem de uma área de cultura particular. Outros o vêem como um método para explicar suas próprias descobertas à luz de uma teoria. Outros ainda consideram a comparação como um objectivo ilusório, excepto quando se entende o exótico na sua diferença do familiar. Este último ponto levanta a questão sobre qual evidência se pode realmente construir a pesquisa. Na antropologia, como em muitas outras disciplinas, a única coisa que é concordada é que as evidências devem estar relacionadas ao problema em questão. Em outras palavras, não apenas as teorias dependem de evidências, mas as próprias evidências dependem das perguntas que alguém está tentando responder. Para tomar a arqueologia como uma analogia, não se pode simplesmente cavar qualquer lugar antigo e esperar encontrar algo.
Teorias antropológicas: Evolucionismo
Charles Darwin (1809-82)
Charles Darwin (1809-82) anunciou a sua teoria da evolução um ano após a morte de Comte, mas Marx, Engels, Spencer, Tylor e Morgan ainda viviam. Tem-se dito frequentemente que Darwin não inventou a evolução, mas demonstrou-a. As descobertas científicas são normalmente construídas sobre os alicerces lançados pelos seus predecessores, mas ninguém, para além de Darwin, tinha recolhido uma massa tão grande de material e dados relevantes para o problema da evolução e nunca ninguém tinha chegado a uma conclusão tão lógica a partir deles como na teoria formulada da seleção natural. Graças às suas descobertas, a perspetiva histórica da idade da terra, da vida e do homem atingiu o seu pleno potencial, embora o homem tivesse de se revelar muito mais velho do que Darwin supunha. A sua teoria pode ser resumida de forma muito simples na ideia de que cada organismo vivo se diferencia através de um processo universal de modificação que favorece a perpetuação dos organismos mais adaptados à sobrevivência do que os outros. Quando a Origem das Espécies foi publicada, em 1859, Marx, Maine, McLennan, Spencer e Morgan já tinham publicado as suas obras mais importante, e Tylor estava provavelmente a escrever o seu primeiro livro, que saiu dois anos mais tarde. Aqueles que, na altura, manifestaram o seu apreço pela obra de Darwin, fizeram-no não porque ela alterasse as suas próprias teorias, mas porque confirmava as suas próprias concepções. Marx escreveu a Engels: «O livro de Darwin é muito importante e serve de base à seleção natural da luta de classes na história». Até Engels ficou mais impressionado com o conceito de luta pela existência do que com o de seleção natural. Spencer acolheu com entusiasmo a publicação do livro, considerando que ele confirmava amplamente as suas próprias teorias, enquanto o célebre linguista Max Müller declarou: «Em matéria de linguagem, eu era darwinista antes de Darwin». Não se pode, portanto, dizer que a teoria de Darwin tenha representado um avanço na evolução da cultura. Nem Tylor, nem Morgan, nem Frazer utilizaram o conceito de seleção natural que estava no cerne da teoria darwiniana. É claro que os «darwinistas sociais» posteriores derivaram, de facto, as suas teorias da seleção natural, mas tratava-se de um movimento cultural. até certo ponto fora da corrente principal do pensamento antropológico. Foi, quase, durante algum tempo, um ramo separado das ciências sociais, agora completamente desacreditado tanto por antropólogos como por sociólogos. Mas, para além disso, a influência de Darwin no pensamento antropológico foi geral, e não especifico. A sua demonstração de que o homem está relacionado com os animais e, portanto, não está separado da natureza nem foi criado independentemente dela, é certamente importante para as ciências sociais. A nova dimensão temporal da existência humana, muito alargada, pôde ser aceite graças à relação que Darwin conseguiu demonstrar entre o homem e a natureza; além disso, as suas teorias reforçaram muito o conceito de continuidade na história cultural. Podemos também notar que o método científico de Darwin foi exemplar: sem atacar a conceção da criação e do propósito divino, Darwin simplesmente aceitou os fenómenos naturais como tais e examinou-os à medida que se manifestavam. Incapaz de explicar as suas observações com base nas ideologias dominantes, começou de novo, procurando os seus argumentos completamente fora do campo da filosofia especulativa. Darwin demonstrou assim que o método da ciência era de natureza diferente do da teologia ou da filosofia. A Origem das Espécies" foi o resultado de mais de vinte anos de observações e experiências científicas. Os seus cânones científicos foram reconhecidos pela maioria dos académicos posteriores e o ideal do método científico no estudo da vida social foi grandemente reforçado Os seus cânones científicos foram reconhecidos pela maioria dos académicos depois dele e o ideal do método científico no estudo da vida social foi grandemente reforçado pelo exemplo de Darwin, devido à distinção clara que ele foi capaz de fazer entre afirmações e demonstrações.Para além destas «importantes» considerações, Darwin foi menos importante para o desenvolvimento da antropologia cultural evolutiva do que Maine, McLennan e Bachofen, que abordaram o problema da evolução de instituições sociais específicas.
No final da década de 1850, o criacionismo e o evolucionismo passaram a ser apresentados como duas interpretações opostas da história natural e humana. Charles Robert Darwin (1809-1882) tinha publicado A Origem das Espécies em 1859, após mais de vinte anos de investigação baseada na observação de espécies animais e vegetais, muitas das quais viviam fora da Europa, na qual expôs uma teoria revolucionária da história natural. Enquanto o criacionismo postulava a fixidez das espécies vivas e a ideia de que qualquer variação nelas era o resultado de uma intervenção externa aos processos e forças do mundo natural, Darwin propôs uma visão da história da natureza viva, da qual a história do próprio homem fazia parte, segundo a qual as formas de vida se transformavam por um lento processo de mutação devido ao acaso, à influência do meio sobre elas e à maior ou menor capacidade dos seres vivos de se adaptarem com sucesso ao meio, reproduzindo assim algumas das suas características na sua descendência.
Herbert Spencer (1820-1903)
Ele sistematiza a sociologia com o método indutivo, com a perspectiva da pesquisa evolutiva, onde a sociedade considerada como o último estágio do desenvolvimento humano: o organismo superorgânico resulta de um processo de desenvolvimento pelo esforço de adaptação aos meios de subsistência e empenhado (socialmente) na a luta pela supremacia.
Teoria do Organismo Humano
E assim esta teoria serviu como um suporte para afirmar a superioridade da Inglaterra mais forte e mais avançada sobre as outras nações. O organismo humano é concebido em analogia à sociedade submetida às leis que regulam os processos adaptativos e evolutivos como se a sociedade fosse um superorganismo diferente daquele dos animais para realizar actividades intelectuais, culturais e sociais, acima dos organismos naturais. À medida que os organismos crescem ao longo de suas vidas, o desenvolvimento social continua até o momento em que as sociedades são divididas ou esmagadas. Assim como no organismo, um membro destinado à locomoção ou ao conhecimento adquire divisões e subdivisões, cada qual com tarefas principais e secundárias. O mesmo se aplica às partes, em que uma sociedade é dividida, uma classe assume o governo sobre o resto e desempenha as suas funções. Conforme a evolução avança, há uma transformação das partes, que dependem reciprocamente umas das outras. No organismo social, as diferentes partes mantêm a cooperação através da linguagem oral e escrita emocional e intelectual. Grandes agregados têm altas organizações, dependência mútua de partes que constituem a organização, que não é constituída por famílias que são poucas e errantes (Cayaguas - América) Esquimós, australianos e Vatuas não estão sujeitos a nenhuma autoridade se não for um velho mais forte e mais astuto e mais experiente .
Diferenciações sociais:
a) Escritório do governo exercido por homens que alegam exercer autoridade.
b) Posições e funções dos respectivos sexos: homens = mulheres de guerra = escravos
c) Combinação de diferentes líderes para defesa contra um inimigo comum
d) Divisões de classe: militares, sacerdotes, servidores.
A união entre as tribos facilita muito a troca de bens, a paz interna deriva da subordinação ao governo que facilita as relações comerciais.
Entre as partes acontecem: diferenciações, contrastes, transformações das quais derivam divisões internas, subdivisões e mudanças.
Quando todos os membros da linhagem têm a mesma vida que os outros, não há funções diferentes a serem trocadas, todos podem fazer por si mesmos o que o outro faz.
Os Princípios da evolução social são:
1) integração = união e colecta de massas que aumentam a massa
2) heterogeneidade = da tribo simples para a nação com muitas funções e diferenciações.
3) Consistência = tribo subordinada a um homem que domina o princípio da soldagem.
4) Determinação = ordens estáveis que se tornam precisas, costumes que se tornam leis, instituições estruturadas.
Sociedade militar
A vida não pertence ao indivíduo, está disponível para a sociedade, uma vontade conformada à vontade pública, é obrigada a ceder tudo o que é exigido dela para uso público. O indivíduo é propriedade do Estado. Liberdade e propriedade são subordinadas ao agregado. Do déspota ao escravo todos são senhores dos superiores e sujeitos aos superiores, o indivíduo de um estado inferior está à mercê de um indivíduo de um estado superior. O trabalho é feito sob vigilância coercitiva que abomina tudo. O regime reprime e impõe ao indivíduo o que ele deve e não deve fazer. O poder do governo limita as ações do indivíduo, prescreve, como, onde e quando deve fazer coisas que não faria espontaneamente, dita regras mais ou menos detalhadas sobre o padrão de vida.
O princípio militar é a cooperação obrigatória.
Quanto mais o indivíduo é subordinado na vida, liberdade e propriedade dadas à sociedade da qual ele é membro, mais é necessário que seu domicílio seja constantemente conhecido, cada um deve estar sempre disponível para seu superior.
1) coletivismo,
2) combinação,
3) coesão,
4) regimentação
eles pressupõem uma estrutura que resiste fortemente à transformação, impedindo e neutralizando mudanças. A guerra tem sido frequentemente o primeiro promotor de iniciativas sociais que são realizadas com autoridade despótica.
5) Se a coerção era necessária para desenvolver certos traços do caráter individual do homem, é verdade que esse processo causou males imensos, tanto nas instituições políticas quanto no caráter individual, que só melhorarão com a repressão do caráter militar e com a decadência do regime. militar
6) É necessário distinguir a sociedade comunista do industrial, onde a produção e a distribuição estão sujeitas a regras compulsórias de cooperação, impedindo-as de lidar com o que gostam, revalorizando numa economia de mercado e estabelecendo relações de que gostam. A troca começou com a intenção de fazer um presente e receber outro em troca.
«O homem sábio deve lembrar que é descendente do passado, mas também pai do futuro».
Evolucionismo Cósmico
Ao contrário de Darwin, que reduz o evolucionismo a um ambiente puramente biológico, Spencer fala explicitamente de 'evolucionismo cósmico', com a ideia de que, além da evolução orgânica, há também uma evolução que é anterior a ela, de tipo inorgânico, em um molde super-orgânico subsequente. O filósofo observa com entusiasmo que, mesmo antes que a evolução biológica (esboçada por Darwin) pudesse ser realizada, a realização do inorgânico é necessária, o que permitiu, por exemplo, a formação do sistema solar; somente após essa evolução inorgânica foi possível realizar a orgânica: e o próximo passo será o superorgânico, ao qual o homem será submetido com suas conquistas (cultura, instituições e, em geral, sociedade ). Se Comte era não-reducionista, Spencer, por outro lado, é pelo menos parcialmente reducionista, já que em sua opinião há um único processo fundamentalmente governado pelas mesmas leis (aquelas do evolucionismo) que envolvem o orgânico, inorgânico e até super-orgânico: as leis que regulam a biologia, diz Spencer, são quase as mesmas que governam o progresso da física, da política, da cultura, da sociedade, etc., de modo que é suficiente, em princípio, identificar as leis da evolução para a biologia. ser capaz de estudar toda a realidade, que é o oposto do conceito de Comte. Com Spencer, então, o elemento que talvez distingue o positivismo do racionalismo do século XVII e do século XVIII emerge: se é verdade que eles têm um interesse marcante pelas ciências sociais (a ponto de considerá-las como o único conhecimento válido), o tipo de ciência a que apelam é diferente. De facto, quando a filosofia toma a ciência como seu modelo de investigação, sempre tende a escolher a mais em voga no momento, de modo que se Platão tivesse utilizado a ciência médica de origem hipocrática, os filósofos dos séculos XVII e XVIII, ao contrário, preferiam a física matemática de estilo galileu e newtoniano, e o ‘Discurso sobre o método', de Descartes, que é uma prova notável, uma vez que o pensador francês afirma explicitamente que reconheceu na matemática o verdadeiro modelo cognitivo. Spencer e os positivistas, por sua vez, vivem numa época em que a biologia prevaleceu sobre a física newtoniana, mais em harmonia com os impulsos vitalistas típicos da época romântica: por isso, ao contrário do iluminismo e do racionalismo, o positivismo escolhe a biologia e, em particular, Spencer amplia o evolucionismo biológico para toda a realidade tornando-o cosmológico. Reconhecendo a primazia da ciência (em particular da biológia), parece que a filosofia é deslegitimada: os positivistas e Spencer não apenas reconhecem na ciência o modelo supremo de conhecimento, mas até tendem a ver todos os outros como ineficazes, sancionando assim a morte da filosofia.
Compatibilidade entre ciência e religião
No entanto, eles sempre encontram, de alguma forma, uma maneira de esculpir algum espaço para a filosofia: Comte a reduz a uma investigação racional da história da ciência, Mill a concebe como um estudo puro e simples dos fundamentos metodológicos da ciência e, finalmente, Spencer lhe reserva um tratamento especial. Em primeiro lugar, com um discurso de forte sabor kantiano, ele declara a compatibilidade entre ciência e religião, rompendo assim certas franjas positivistas expressamente anti-religiosas: de facto, se é verdade que se pode investigar a realidade e inferir dela as leis do comportamento, é igualmente verdade que a essência da realidade permanece incognoscível, isto é, escapa de qualquer estrutura cognitiva. Em outras palavras, a ciência pode explicar como um fenômeno que ocorre e por que ele ocorre, mas nunca será capaz de extrair sua essência profunda: as generalizações que a ciência alcança nunca conterão o que Spencer define como o Incognoscível (uma espécie daquilo que em si é kantiano). E é precisamente em virtude dessa impotência da ciência que a religião e sua investigação do Incognoscível (isto é, a profunda essência da realidade) não é apenas compatível com a ciência, mas é de fato necessária para ela: as duas disciplinas se apoiam mutuamente na ciência, reciprocamente, projetando suas investigações em questões diferentes, mas igualmente necessárias, e além disso, a religião nos lembra simultaneamente dos limites intrínsecos do conhecimento humano e do profundo mistério da realidade. Isso também nos permite entender por que Spencer se refere não à teologia em geral (catafática), mas àquela de tipo negativo (apofática), o que significa que não nos diz o que está além da barreira cognitiva, mas, pelo contrário, o que não é. Naturalmente, isso só pode acontecer se a ciência e a religião não pretenderem passar para o campo dos outros: e, nesse sentido, a história de Galileu simboliza precisamente a invasão da religião no campo científico. Tendo esclarecido a relação entre ciência e religião, Spencer enfoca aquilo que diz respeito à filosofia e à ciência: se a ciência pode e deve explicar toda a realidade de acordo com as leis evolucionárias, qual é o uso da filosofia? De uma maneira bastante original, Spencer atribui-lhes, ao mesmo tempo, o valor mínimo e máximo, afirmando que a filosofia nada mais é do que a ciência mais importante, com a consequente perda de autonomia e especificidade. Ele é talvez o positivista que dá mais peso do que tudo à filosofia, mas que tende ainda mais a reduzi-la à ciência: em última análise, para Spencer, a filosofia é uma espécie de super-ciência. Cada um de nós, na verdade, tem suas experiências diárias e tende a generalizá-las para derivar regras de comportamento (e a ciência faz a mesma coisa, de uma maneira sistemática, no que diz respeito à natureza), mas depois, além das leis. relativamente geral, é possível identificar leis muito gerais que não se aplicam a um campo da realidade em vez de outro, mas, vice-versa, aplicam-se a toda a realidade. A filosofia trata dessas leis muito gerais, válidas para toda a realidade.
Reducionismo
E precisamente em virtude dessa concepção, Spencer tende a ser reducionista, ou a nutrir a convicção de que todas as ciências podem ser rasteadas até uma única ciência, filosofia. É reducionista, em outras palavras, porque tem a convicção de que existem leis muito gerais válidas para cada realidade das quais as leis estudadas pela ciência são derivações particulares, como se, em última análise, todas as ciências fossem derivações particulares da filosofia super-ciência. A filosofia como entendida pelo filósofo inglês, portanto, destaca-se entre todos os conhecimentos, mas, qualitativamente, não é diferente das outras ciências. É curioso como, nesta perspectiva, retornamos ao conceito aristotélico de metafísica entendido como ciência (além das coisas 'além do mundo físico') do estudo das leis gerais do ser: é precisamente para este estudo que a filosofia deve ser dedicada , que sobe para a rainha das ciências, mas perde sua autonomia.
No entanto, o evolucionismo de Spencer não é uma extensão pura e simples das noções de Darwin para todo o universo: na realidade, os dois pensadores elaboram suas teorias separadamente, sem contactos; e quando dizemos que, para Spencer, a evolução é cósmica, não devemos pensar que ela deva ser interpretada como uma analogia, portanto, a partir da observação de que no mundo biológico existe o evolucionismo, ele deve se aplicar ao resto da realidade. Inversamente, todo o cosmos é submetido a um único processo evolutivo que é dividido em diferentes fases e aspectos, bem como os subsequentes. O problema da filosofia é justamente ir além da ciência para reconstruir as leis da evolução em geral: todas as ciências chegam, de diferentes maneiras e em diferentes campos, para reconhecer as leis da evolução. Por exemplo, a biologia descobre a evolução no mundo vivo, a física na realidade material e assim por diante: a filosofia, por sua vez, deve consertar todas essas leis gerais elaboradas pelas ciências individuais para poder obter leis muito gerais de evolução válidas para todo o cosmos.
Princípios fundamentais da ciência
E todas as ciências individuais, diz Spencer, alcançam, embora de formas diferentes, o reconhecimento de três princípios fundamentais:
1) indestruibilidade da matéria, (porque é transformada em energia, a matéria é um amálgama de energia)
2) continuidade do movimento (na natureza nada é criado e nada é destruído, pois o Pré-Socrático nunca se molha na mesma água)
3) persistência da força.
Todos esses princípios, é claro, são, por assim dizer, 'penúltimos' respostas, que explicam que a matéria não pode ser destruída, e evolui passando de inconsistente a coerente com base no desvio de que o movimento é contínuo e que a força tende a persistir, mas que não respondem à questão decisiva (que atravessa o limiar do Incognoscível): por que é assim? O que originou isso?
Lei geral da evolução
A tarefa da filosofia será, portanto, unificar esses três princípios em uma única lei geral, que Spencer traça na lei da evolução. Essa lei, de fato, explica a integração gradual (isto é, a concentração) da matéria e a consequente dissipação do movimento (para os quais os três princípios listados acima podem ser resumidos brevemente) por meio de um processo triplo:
a) como passagem do inconsistente para o coerente (passagem da concentração progressiva);
b) como passagem do homogéneo para o heterogéneo, do uniforme para o multiforme (isto é, um processo de diferenciação progressiva);
c) como uma passagem do indefinido para o definido (ou seja, como um processo de determinação progressiva).
Em termos concretos, imagine que temos diante de nós um ser primitivo como uma ameba e um mais complexo como um cavalo: a matéria que compõe o cavalo é muito mais concentrada e compacta do que a da ameba (passagem evolucionária do inconsistente para o coerente); o cavalo, então, é mais complexo e articulado que a ameba, tanto que cada célula do cavalo é em si mesma mais complexa que a ameba (passagem evolutiva do homogéneo para o heterogéneo); finalmente, a ameba é mais simples, o cavalo é mais complexo e, portanto, desfruta de uma identidade maior, ou seja, distingue-se mais do ambiente circundante (passagem evolutiva do indefinido ao definitivo). E essas leis que acabamos de ilustrar são válidas não apenas na esfera biológica (a ameba e o cavalo), mas para todo o universo: elas também devem ser usadas, diz Spencer, para interpretar a formação do sistema solar a partir de uma nebulosa original. Transição do buraco negro para a formação da matéria de tal forma que determine o movimento, de modo que a matéria seja formada e integrada pela incoerência (criação ex nihilo) O mudar evolui de uniforme para multiforme. A evolução é a mudança, da condição primitiva para a condição generalizada, do mental para o complexo, passou do homogéneo para o heterogéneo, do menos denso a muito denso, do inconsistente para o coerente, a ponto de dar vida a todo o sistema solar. As leis evolucionistas, então, também devem ser aplicadas ao mundo super-orgânico, ou à sociedade humana: e o mais curioso é que, diz Spencer, as leis que regulam o processo evolucionístico do mundo biológico são quase as mesmas que governam a evolução nos mundos inorgânicos e superorgânicos; estas são leis que o pensador inglês deriva em parte de Darwin e em parte de Lamarck. Está de fato convencido de que todas as instituições se esforçam para se adaptar ao ambiente e que as mutações que derivam desses esforços são, por sua vez, selecionadas pelo meio ambiente. No entanto, entre a sociedade e o mundo biológico, que também seguem leis evolutivas quase idênticas, há uma enorme diferença: no mundo humano, de fato, a cultura e a consciência do que é feito toma conta, o que sugere que a ideia lamarckiana A transmissibilidade herdada de caracteres adquiridos, falsa se aplicada ao evolucionismo biológico, é verdadeira no que diz respeito ao mundo humano. É verdade que na história da humanidade há um esforço consciente de se adaptar ao ambiente e que há uma transmissão de caracteres adquiridos (noções, mudanças culturais, etc.), tanto que a ideia de sobrevivência é adequadamente corrigida. caso contrário, acabaríamos vivendo no estado de natureza delineado por Hobbes: hoje vivemos muito mais do que anos atrás, porque a ideia segundo a qual somente os mais fortes podem sobreviver e formas de solidariedade e normas de comportamento aceito por todos. Se o darwinismo social continuasse a existir, ninguém poderia sobreviver aos quarenta, porque, tendo perdido sua força, seria facilmente subjugado pelos homens em seu auge. De facto, no homem entre o evolucionismo cultural e o evolucionismo biológico há quase um conflito, à medida que o mais velho fica, mais a cultura cresce e a força física para sobreviver no hipotético estado da natureza diminui. Em seu tempo, entretanto, Spencer acreditava que poderia aplicar as leis da evolução também à sociedade, dando origem ao que ficou na história sob o nome de darwinismo social: o critério segundo o qual sobreviver é ser aceito também no mundo social. o mais forte e é por isso que Spencer é um firme defensor do liberalismo mais desenfreado. Ele retoma as considerações de Malthus de que Darwin se limitou a aplicar-se à realidade biológica e chega a dizer que o Estado absolutamente não deve intervir com critérios de solidariedade ou facilitação, pois impede o amadurecimento das formas de seleção natural funcionais à sobrevivência da própria sociedade. E nesse sentido, o filósofo inglês opera uma série de comparações entre o mundo biológico e a sociedade humana, destacando que, evolutivamente, as sociedades modernas são mais coerentes, mais heterogéneas e mais definidas que as antigas: elas são mais articuladas especialmente em virtude da
1) divisão do trabalho que os caracteriza,
2) mas também graças ao facto de que elas estão mais distantes do ambiente (e a comparação se concentra principalmente nas diferenças entre cidades modernas e aldeias antigas);
3) e depois nas sociedades modernas os tecidos que executam determinadas funções concentram-se em lugares muito específicos (em áreas industriais), assim como no indivíduo as células se diferenciam qualitativamente e se posicionam em lugares muito específicos.
É muito curioso como até Spencer compara as sociedades e as estruturas dos animais: como os moluscos são protegidos pela armadura, também algumas estruturas sociais são (como a concha de moluscos) rígidas, emolduradas por estruturas que restringem a tendência. E, a esse respeito, Spencer identifica dois tipos diferentes de empresas: aquela
1) industrial e que
2) militar, que exige a coesão do grupo, de acordo com seus próprios interesses, iniciativas e individualidade, há seleção natural e a sobrevivência daqueles que são mais fortes e mais adequados. É a lógica do colonialismo
Quanto mais uma sociedade é orgânica, menos precisa de um aparato externo que a mantenha unida: por exemplo,
1) a sociedade industrial é tão articulada e as partes que a constituem estão tão ligadas entre si que, em princípio, ela poderia prosseguir sem leis e estruturas que a mantenham unida, uma vez que permaneceria quieta sozinha.
2) Pelo contrário, uma sociedade que não possui um aparato industrial avançado precisa de uma estrutura que a mantenha unida para que não se desfaça: o exército, a polícia, uma série de regras coercitivas, etc .; por isso, vem de Spencer definido, quase com um sentido depreciativo, 'sociedade militar'.
Resta agora perguntar qual é o ponto máximo que o conhecimento da realidade pode alcançar: em última análise, o problema a ser resolvido é como entender o processo evolutivo de toda a realidade através de uma ferramenta de pesquisa tão geral quanto a filosofia de acordo com Spencer. . Ele diz que duas coisas devem ser assumidas:
Materia, uma massa original e disforme e uma força que age de fora sobre ela. Já que esta força não atua de maneira absolutamente uniforme sobre o assunto (haverá pontos onde ela empurra mais e aponta onde ela empurra menos),
Zione é uma diferenciação que desencadeia a reação em cadeia que dá vida ao processo evolutivo estudado por Spencer.
Spencer prestou especial atenção às mudanças evolutivas das estruturas sociais. Sua ideia de evolução envolveu uma mudança
1) de um estágio relativamente indefinido de homogeneidade
2) em um estágio de heterogeneidade relativamente definida e coerente, um processo que poderia explicar, segundo ele, tanto a evolução do universo quanto das estruturas sociais.
Sua sociologia basear-se-á, de facto, em uma ideia de direito natural, que permitirá, no nível da análise, considerar a sociedade em analogia com um organismo biológico. Isso significava criar uma analogia entre as partes constituintes de uma sociedade e os órgãos internos de um organismo, que, interagindo entre si, permitiam que a empresa funcionasse e se perpetuasse ao longo do tempo. A sociedade, para Spencer, teve que funcionar através das mesmas leis que regulam a natureza e se desenvolvem como qualquer espécie viva. A evolução agiu, portanto, no sentido de uma crescente complexidade do organismo 'social', cujo ápice foi visto na civilização inglesa, considerada a mais avançada e complexa. Além disso, em sua sociologia há uma forte carga determinista em relação ao aparato legislativo. Spencer pensava, na verdade, que somente as sociedades mais fortes, e dentro delas os indivíduos mais fortes, poderiam sobreviver, usando o conceito, que mais tarde seria adotado por Darwin, da sobrevivência do mais apto. Qualquer intervenção do Estado na direção do bem-estar para as camadas mais fracas da população poderia levar a uma regressão da sociedade, porque, segundo ele, impedia que a natureza seguisse seu curso, isto é, permitisse apenas indivíduos capazes de ajudar o corpo a sobreviver. desenvolvimento social. O maduro Spencer estava convencido de que a evolução dos grupos humanos também poderia depender do meio ambiente e do social, visto nos diferentes tipos não mais estágios de uma única evolução, mas entidades classificáveis em grupos divergentes e re-divergentes.
Edward Burnett Tylor (1832–1917)
é considerado o pai fundador da antropologia britânica. Tylor foi o primeiro professor de antropologia em Oxford; Ele era ativo no estabelecimento de associações e instituições antropológicas; E suas ideias contribuíram para os debates intelectuais do final do século XIX, provocados por Darwin, sobre a origem das espécies. Central para a contribuição de Tylor foi sua definição de cultura:
«Cultura ou Civilização, tomada em seu amplo sentido etnográfico, é aquele todo complexo que inclui conhecimento, crença, arte, moral, direito, costumes e quaisquer outras capacidades e hábitos adquiridos pelo homem como Um membro da sociedade» (1958, p. 1).
Nessas linhas de abertura de sua principal obra, Primitive Culture, Tylor primeiro definiu a cultura no «seu significado técnico moderno e antropológico» Kroeber e Kluckhohn 1952, p. 9; Stocking 1963). É uma definição de cultura que Bohannan e Glazer observam «é a única que a maioria dos antropólogos pode citar corretamente, e a que eles recorrem quando outros se mostram muito embaraçosos» (1988, p. 62). Complexas culturas complexas que podem ser divididas em campos de atividade material e simbólica compostos por elementos ou traços (mitos, crenças, rituais, instituições, tecnologias) cujo estudo é feito de forma comparativa. Para os evolucionistas, as culturas se prestavam a ser estudadas por tipos por categorias e dispostas dentro de uma escala hierárquica, que inclui culturas primitivas.
A filosofia da história coloca civilizações em um eixo temporal
A antropologia encontra a cultura e as culturas tomando o elemento do espaço no elemento da filosofia, em vez de padrões temporais nos quais incluir a história (filosofia), a antropologia leva em conta a realidade das culturas distribuídas pelo espaço.
Evolucionismo é a tentativa de combinar tempo e espaço
TEMPO = dimensão privilegiada pela filosofia da história
ESPAÇO = dimensão retirada da antropologia
Primeira teoria o Evolucionismo
William Robertson Smith (1846-1894)
Lewis Henry Morgan (1818-1883)
Para os evolucionista, toda a realidade natural e social está em constante movimento de um estado original imperfeito, para uma forma mais completa e coerente de organização (desenvolvimento evolutivo unilinear).
Evolução como progresso contínuo e itinerário do menos perfeito ao mais perfeito (tempo de aproximação da cultura ocidental).
Unidade psíquica da humanidade e estadeações universais de desenvolvimento.
Os estágios iniciais da antropologia (segunda metade do século XIX) foram dominados por perspectivas evolutivas, especialmente aquelas associadas a Morgan e Tylor.
No início do século XX, surgem reações a essa perspectiva, são reações ao evolucionismo que levam à implementação do método de trabalho de campo e à abordagem multicultural: é o momento em que a linguagem é valorizada como meio de intercâmbio entre as populações do mundo e língua como valor cultural.
Reacções ao evolucionismo
É no início do século XX que as reações a esta perspectiva aparecem -
1) funcionalismo de Malinowsky e Radcliffe-Brown na Grã-Bretanha
2) e particularismo histórico de Boas nos Estados Unidos.
Essas razões valorizavam a língua como elemento cultural e a língua como elemento de troca entre as populações do mundo.
Principais perspectivas teóricas que caracterizaram a antropologia desde seus inícios na segunda metade do século XIX.
Uma teoria inconveniente
A teoria 'evolucionista' explicava as leis do mundo natural e a evolução das espécies foi a partir de então, como qualquer teoria que se opusesse ao controle religioso das consciências (por exemplo, o copernicano ou o psicanalítico depois) furiosamente opostos pelos chamados 'criacionistas', ou seja, todos aqueles que com base nas Sagradas Escrituras insistiam. acreditar em um mundo criado ab eterno e em qualquer caso, sempre sob o olhar benevolente e providencial de um Deus.
Quando aplicado ao homem, a teoria evolucionista implicava uma 'descendência com modificações' dos primeiros hominídeos e dos homens tout court de algum tipo de macaco evoluído. Isso só poderia despertar uma feroz aversão, especialmente entre os círculos religiosos. O que embaraçou a comunidade religiosa, mas também o homem comum, foi antes de tudo essa relação sem precedentes entre o homem e o macaco. É frequentemente mencionada a reação da esposa do bispo de Manchester que, ao ler A origem das espécies, exclamou: «Descer do macaco ?! Esperamos que não seja verdade... Mas, se for assim, rezamos porque não saibam disso!»
Uma famosa controvérsia oposta ao T.H. Huxley ao bispo de Oxford. Este último perguntou cinicamente: «É do lado do seu avô ou da avó que você descende do macaco?» Huxley respondeu:
«Se eu tivesse que escolher um ancestral entre o macaco e um académico que se opusesse a teses, não com argumentos, mas com escárnio, então, sem dúvida, escolheria o macaco».
Evolucionismo características
Qual é a verdade que o Evolucionismo supõe? Simplesmente que todas as formas de vida no mundo estão relacionadas. E que as relações manifestas no tempo e no espaço entre as diferentes vidas são suficientemente uniformes para serem descritas sob uma fórmula geral, ou lei, ou evolução (Kuper 2008, p. 30)
2) Unidade psiquica do genero humano
Uma de suas expressões técnicas mais importantes
É a doutrina da 'unidade psíquica', a crença de que no estudo das diferenças socioculturais, diferenças hereditárias (genéticas) elas se anulam, deixando a experiência como variável mais significativa Totalmente errada, a origem desta doutrina foi colocada em relação aos escritos de alguns evolucionistas culturais. Houve a tendência dominante no século XIX de negar o que foi dito a este respeito.
3) Do menos perfeito ao mais perfeito
Nós deveríamos olhar para trás e exultar:
«Dificilmente poderia haver dúvida de que os habitantes de... quase todo o mundo civilizado, estiveram alguma vez em uma condição de barbárie. Acreditar que 0 homem foi civilizado de forma aborígene e depois sofreu degradação completa em tantas regiões, é ter uma baixa e desprezível visão da natureza humana. É aparentemente uma visão mais verdadeira e mais animadora a de que 0 progresso tem sido muito mais amplo do que o retrocesso; de que o homem tem emergido, ainda que em passos lentos e interruptos, de uma condição baixa para um padrão mais alto até agora obtido através do conhecimento, na moral e na religião» (Kuper 2008: 32).
4) Estadeações
Cada um concebia o novo mundo em contraste com a “sociedades tradicionais”, mas por detrás desta “sociedade tradicional” eles discerniam uma sociedade primitiva ou primeva, a qual configurava a verdadeira antítese da modernidade. A sociedade moderna era definida, acima de tudo, pelo Estado territorial, a família monogàmica e a propriedade privada. A sociedade primitiva deve ter sido, portanto, nómade, ordenada por laços de sangue, sexualmente promíscua e comunista. Houve também uma progressão na mentalidade. O homem primitivo era ilógico e supersticioso. As sociedades tradicionais eram submetidas à religião. A modernidade, por sua vez, era a idade da ciência (Kuper 2008: 24).
5) Comparativismo
Fundador do método comparativo é Lafitau é ironicamente citado por Voltaire, que afirma: 'Lafitau faz os americanos virem dos antigos gregos e eis as suas razões. Os gregos tinham suas fábulas e até os americanos as possuíam. Os primeiros gregos vão caçar e os americanos fazem o mesmo. Os primeiros gregos tinham oráculos e os americanos têm magos. Eles dançaram durante os festivais gregos e dançaram na América. Devemos concordar que essas razões são convincentes (Cocchiara , 1971, 116).
O trabalho de Lafitau é realmente como Voltaire o pinta? Ao ler o texto, descobre-se um etnógrafo atento que demonstra como o mundo dos selvagens não é constituído por esquisitices, mas de homens concretos dotados de cultura (Gatto Trocchi , 1999, 19). Antes de Lafitau, o primitivo não foi estudado, mas 'inventado'. Para um estudo aprofundado, o conhecimento das línguas locais era a instrumentação absoluta e necessária para compreender o modo de pensar, os usos, os costumes e as tradições dos povos. Lafitau dominava a língua uron e alguns dialetos iroquois, foi instruído por um irmão que viveu no Canadá por mais de sessenta anos, Julien Garnier, que conhecia a língua algonquiana, o uron e cinco dialetos iroqueses.
O autor contesta a literatura exótica pré-científica que sustentou a existência de povos que não têm religião, nem usos políticos, nem estruturas sociais:
«Eu relutantemente vi como aqueles que lidam com selvagens em seus relacionamentos, retratando-os como pessoas que eles não têm nenhum sentimento de religião, nenhum conhecimento do divino, algum objeto para ser adorado, como pessoas que não têm leis, nem disciplina externa, nem forma de governo, em uma palavra como homens que têm apenas o homem este é um erro pelo qual muitas pessoas são responsáveis»(Cocchiara, 1971, 118).
Lafitau descreve e interpreta organizações sociais, estruturas de parentesco, representações coletivas de natureza religiosa, adoração, o panteão das divindades, casamento e usos funerários, usando
1) observação participante,
2) a descrição escrupulosa das culturas locais,
3) e finalmente a comparação com outras formas culturais.
O trabalho de Lafitau é mencionado repetidamente por Giambattista Vico , que se opôs ao Iluminismo anti-tradicionalista. A nova ciência se baseia nas perspectivas de Lafitau, que ele menciona várias vezes. Vico também considera as culturas humanas sem preconceitos ou divisões entre nações civilizadas e povos bárbaros, já que a história inclui todas as nações. Cada grupo étnico tem alguma religião, todas as pessoas contraem casamentos solenes, todos enterram seus mortos. Ele vê, abaixo da orgia de descontinuidade e da desigualdade de instituições, usos e tradições, uma regularidade e uma uniformidade que remetem ao espírito humano.
A expressão não deve parecer antiquada, porque, dois séculos depois, Claude Lévi-Strauss relatará ao homem as características universais, as regras que governam a formação da cultura, da linguagem, das estruturas de parentesco e da circulação dos bens económicos. O estruturalismo nada mais é do que descobrir recorrências e regularidades de tipo científico naquelas articulações do espírito humano submetidas a um automatismo inconsciente, que representam os processos universais do pensamento.
Para Lafitau, a presença da religião era um fato forte para afirmar a existência necessária de uma civilização. A comparação que Lafitau faz entre os costumes dos povos indígenas da América e os do mundo antigo é uma tentativa de dar dignidade e civilização aos chamados selvagens. Ele tentou não apenas descrever fatos culturais, mas também relacioná-los em uma estrutura de ordem que fosse compreensível e propusesse explicações. A comparação com o mundo clássico foi ditada pelo desejo de colocar religiões primitivas e religiões históricas em um único reino espiritual.
Lafitau formulou e aplicou alguns princípios que se tornaram a base da etnologia. As culturas primitivas foram valorizadas à luz das condições em que se desenvolveram e não em relação ao desenvolvimento das culturas européias. Ele afirmou que as relações genéticas só poderiam ser deduzidas a partir de analogias específicas: as culturas primitivas contemporâneas lançam luz sobre as antigas e vice-versa. As crenças de Lafitau são baseadas na intuição do conceito de relativismo cultural.
6) Uniformismo
Para Tylor, Morgan, Frazer e Marret, Darwin oferecia a garantia de que a história dos seres humanos era uma, mesmo se pudesse ser conferida maior ou menor importância à diferenciação racial. A história da sociedade humana no seu conjunto aparecia assim como o resultado da ação de leis sempre idênticas (uniformes), cujos efeitos cumulativos tinham gerado etapas de desenvolvimento marcadas por uma complexidade crescente. No plano teórico, esta imagem progressiva da história tem duas consequências principais. Em primeiro lugar, os "primitivos" contemporâneos representavam de alguma forma a fase mais remota do desenvolvimento cultural; em segundo lugar, com base no critério da complexidade cultural crescente, tornou-se possível classificar as sociedades numa escala geral de desenvolvimento.
Em meados do século XIX, assistiu-se na Grã-Bretanha a uma revolução nas ciências naturais e humanas. A geologia, a biologia e a arqueologia foram as grandes protagonistas desta renovação, possibilitada pela assunção de uma perspetiva que dá pelo nome de uniformismo (ou atualismo), e que teve uma influência decisiva no estudo da sociedade humana.
De facto, a teoria da invariância das leis que caracterizam o desenvolvimento cultural em sentido cumulativo resultou da conjugação de uma teoria iluminista do progresso com a hipótese do uniformismo enunciada pelo cientista escocês Charles Lyell (1797-1875) nos seus Princípios de Geologia de 1830. Lyell, que era geólogo, propôs a hipótese de que os processos atualmente em curso na transformação da crosta terrestre eram de natureza idêntica aos que, operando no passado, tinham moldado a atual superfície do globo. A importância das teorias de Lyell residia no facto de fornecerem uma explicação alternativa ao criacionismo e de a paisagem terrestre atual ser o resultado da «ação uniforme de causas uniformes» Daqui o nome de uniformismo.
Ele também propiciou uma explicação biológica para o progresso gradual de racionalidade - na medida que os seres humanos se desenvolviam, seus cérebros se tornavam maiores. Mas ele não perturbou as idéias sobre progresso cultural que os vitorianos herdaram dos filósofos do século XV. Ao contrário, Darwin estava confiante que a civilização havia progredido, e a moralidade junto com ela.
Deixando de lado por enquanto a questão do “grau de civilização”, o ponto chave de Tylor é que os processos de cultura são semelhantes para todas as pessoas, independentemente de onde ou quando viveram, porque as mentes humanas são semelhantes (Tylor 1958, p. 159). Essa é a lógica central do uniformismo de Tylor: cultura ou civilização consiste em conhecimento, crenças, arte, moral, costumes e outras construções mentais; Como os processos mentais humanos são universais, as sociedades humanas desenvolveram a cultura em trajetórias semelhantes, caracterizadas pelo progresso e expressas na evolução da cultura.
7) Traços culturais
Isso tem três implicações. Primeiro, a raça não explica diferenças culturais. Acreditando que era «possível e desejável eliminar considerações sobre variedades hereditárias ou raças humanas», Tylor sustentou que seu estudo demonstrou
«que estágios de cultura podem ser comparados sem levar em conta até que ponto as tribos que usam o mesmo implemento seguem o mesmo costume , ou acreditam no mesmo mito, podem diferir em sua configuração corporal e na cor de sua pele e cabelo» (1958, p. 7).
Em vez disso, se duas sociedades têm traços culturais análogos (cerâmica ou monoteísmo ou mercado de ações), é porque ou
(1) o traço se difundiu de uma sociedade para outra, ou
(2) porque invenções independentes se desenvolveram devido ao semelhante humano construído por Mentes que encontraram situações semelhantes.
(3) Em terceiro lugar, significa que as sociedades com características culturais semelhantes podem representar etapas análogas no desenvolvimento da cultura humana. Citando o insulto bastante previsível de Samuel Johnson , «um conjunto de selvagens é como outro», Tylor surpreendentemente exclama: «Como isso é uma verdadeira generalização, qualquer Museu Etnológico pode mostrar» (1958, p. 6). Tylor rapidamente explica que essas semelhanças são mais pronunciadas no campo da tecnologia - as ferramentas para caçar, pescar, fazer fogo, cozinhar e assim por diante - embora existam semelhanças entre culturas na mitologia, no parentesco e em outros aspectos da vida social. Tais paralelos refletem estágios similares de desenvolvimento cultural entre as sociedades existentes e também nos permitem
ANIMISMO
Tylor dedicou grande parte da sua obra Primitive Culture à evolução da religião e, em particular, ao que desde então se tornou parte do jargão antropológico sob o nome de animismo. Com este termo, Tylor designava «a crença nas almas e nos seres espirituais em geral». Mais precisamente, o termo animismo designava a crença, típica, segundo Tylor, dos povos mais primitivos, de que os objectos, mesmo inertes, possuíam uma "alma". Com base em relatos etnográficos, Tylor postulou que a origem do animismo pode ser rastreada até à experiência do sonho, da qual os nossos antepassados devem ter derivado a crença de que os fenómenos de personalidades divididas e aparições, que por vezes ocorrem durante o sono, se deviam à existência de um "duplo". Este duplo, ou alma, podia ter uma existência independente do corpo, tanto durante a vida como depois da morte. Mais tarde, segundo Tylor, o homem estenderia a crença na existência de uma alma a todos os seres e fenómenos naturais que, de alguma forma, lhe tocassem a imaginação. Assim, os animais, as plantas e os objectos eram dotados de uma alma que, sendo capaz de se separar dos corpos a que pertencia, deu origem à noção ainda mais abstrata de espírito, entidade inteiramente autónoma e sem «suporte» material.
No entanto, como para Tylor o animismo era «a base da filosofia da religião, desde a dos selvagens até à do homem civilizado», esta mesma noção indicava também o tipo de pensamento para o qual a explicação dos fenómenos naturais e psíquicos era remetida para princípios estranhos à investigação racional e materialista. O animismo era, assim, uma noção que permitia a Tylor definir de uma só vez a essência do pensamento mítico, mágico e religioso e distingui-lo, por oposição, do pensamento científico e racional. De facto, Tylor observou que «a divisão que separou as grandes religiões da humanidade em seitas hostis é quase nada comparada com o mais profundo de todos os cismas, aquele que separa o animismo do materialismo».
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Ele sistematiza a sociologia com o método indutivo, com a perspectiva da pesquisa evolutiva, onde a sociedade considerada como o último estágio do desenvolvimento humano: o organismo superorgânico resulta de um processo de desenvolvimento pelo esforço de adaptação aos meios de subsistência e empenhado (socialmente) na a luta pela supremacia.
Teoria do Organismo Humano
E assim esta teoria serviu como um suporte para afirmar a superioridade da Inglaterra mais forte e mais avançada sobre as outras nações. O organismo humano é concebido em analogia à sociedade submetida às leis que regulam os processos adaptativos e evolutivos como se a sociedade fosse um superorganismo diferente daquele dos animais para realizar actividades intelectuais, culturais e sociais, acima dos organismos naturais. À medida que os organismos crescem ao longo de suas vidas, o desenvolvimento social continua até o momento em que as sociedades são divididas ou esmagadas. Assim como no organismo, um membro destinado à locomoção ou ao conhecimento adquire divisões e subdivisões, cada qual com tarefas principais e secundárias. O mesmo se aplica às partes, em que uma sociedade é dividida, uma classe assume o governo sobre o resto e desempenha as suas funções. Conforme a evolução avança, há uma transformação das partes, que dependem reciprocamente umas das outras. No organismo social, as diferentes partes mantêm a cooperação através da linguagem oral e escrita emocional e intelectual. Grandes agregados têm altas organizações, dependência mútua de partes que constituem a organização, que não é constituída por famílias que são poucas e errantes (Cayaguas - América) Esquimós, australianos e Vatuas não estão sujeitos a nenhuma autoridade se não for um velho mais forte e mais astuto e mais experiente .
Diferenciações sociais:
a) Escritório do governo exercido por homens que alegam exercer autoridade.
b) Posições e funções dos respectivos sexos: homens = mulheres de guerra = escravos
c) Combinação de diferentes líderes para defesa contra um inimigo comum
d) Divisões de classe: militares, sacerdotes, servidores.
A união entre as tribos facilita muito a troca de bens, a paz interna deriva da subordinação ao governo que facilita as relações comerciais.
Entre as partes acontecem: diferenciações, contrastes, transformações das quais derivam divisões internas, subdivisões e mudanças.
Quando todos os membros da linhagem têm a mesma vida que os outros, não há funções diferentes a serem trocadas, todos podem fazer por si mesmos o que o outro faz.
Os Princípios da evolução social Spencer:
Ele sistematiza a sociologia com o método indutivo, com a perspectiva da pesquisa evolutiva, a sociedade considerada como o último estágio do desenvolvimento dos vivos: o organismo superorgânico resulta de um processo de desenvolvimento pelo esforço de adaptação aos meios de subsistência e empenhado (socialmente) na a luta pela supremacia.
E assim esta teoria serve como um suporte para afirmar a superioridade da Inglaterra mais forte e mais avançada sobre as outras nações. Organismo humano concebido como uma analogia para a sociedade submetida a leis que regulam processos adaptativos e evolutivos como se a sociedade fosse um superorganismo diferente daquele dos animais para realizar actividades intelectuais, culturais e sociais, acima dos organismos naturais. À medida que os organismos crescem ao longo de suas vidas, o desenvolvimento social continua até o momento em que as sociedades são divididas ou esmagadas. Assim como no organismo, um membro destinado à locomoção ou ao conhecimento adquire divisões e subdivisões, cada qual com tarefas principais e secundárias. O mesmo se aplica às partes, em que uma sociedade é dividida, uma classe assume o governo sobre o resto e desempenha as suas funções. Conforme a evolução avança, há uma transformação das partes, que dependem umas das outras. Em uma dependência mútua.
Organismo social
No organismo social, as diferentes partes mantêm a cooperação através da linguagem oral e escrita emocional e intelectual. Grandes agregados têm altas organizações, dependência mútua de partes que constituem a organização, que não é constituída por famílias que são poucas e errantes (Cayaguas - América) Esquimós, australianos e Vatuas não estão sujeitos a nenhuma autoridade se não for um velho mais forte e mais astuto e mais experiente .
Diferenciações sociais:
a) Escritório do governo exercido por homens que alegam exercer autoridade.
b) Posições e funções dos respectivos sexos: homens = mulheres de guerra = escravos
c) Combinação de diferentes líderes para defesa contra um inimigo comum
d) Divisões de classe: militares, sacerdotes, servidores.
A união entre as tribos facilita muito a troca de bens, a paz interna deriva da subordinação ao governo que facilita as relações comerciais.
Entre as partes acontecem: diferenciações, contrastes, transformações das quais derivam divisões internas, subdivisões e mudanças.
Quando todos os membros da linhagem têm a mesma vida que os outros, não há funções diferentes a serem trocadas, todos podem fazer por si mesmos o que o outro faz.
Os Princípios da evolução social são:
1) integração = união e colecta de massas que aumentam a massa
2) heterogeneidade = da tribo simples para a nação com muitas funções e diferenciações.
3) Consistência = tribo subordinada a um homem que domina o princípio da soldagem.
4) Determinação = ordens estáveis que se tornam precisas, costumes que se tornam leis, instituições estruturadas.
Sociedade militar
A vida não pertence ao indivíduo, está disponível para a sociedade, uma vontade conformada à vontade pública, é obrigada a ceder tudo o que é exigido dela para uso público. O indivíduo é propriedade do Estado. Liberdade e propriedade são subordinadas ao agregado. Do déspota ao escravo todos são senhores dos superiores e sujeitos aos superiores, o indivíduo de um estado inferior está à mercê de um indivíduo de um estado superior. O trabalho é feito sob vigilância coercitiva que abomina tudo. O regime reprime e impõe ao indivíduo o que ele deve e não deve fazer. O poder do governo limita as ações do indivíduo, prescreve, como, onde e quando deve fazer coisas que não faria espontaneamente, dita regras mais ou menos detalhadas sobre o padrão de vida.
O princípio militar é a cooperação obrigatória.
Quanto mais o indivíduo é subordinado na vida, liberdade e propriedade dadas à sociedade da qual ele é membro, mais é necessário que seu domicílio seja constantemente conhecido, cada um deve estar sempre disponível para seu superior.
1) coletivismo,
2) combinação,
3) coesão,
4) regimentação
eles pressupõem uma estrutura que resiste fortemente à transformação, impedindo e neutralizando mudanças. A guerra tem sido frequentemente o primeiro promotor de iniciativas sociais que são realizadas com autoridade despótica.
5) Se a coerção era necessária para desenvolver certos traços do caráter individual do homem, é verdade que esse processo causou males imensos, tanto nas instituições políticas quanto no caráter individual, que só melhorarão com a repressão do caráter militar e com a decadência do regime. militar
6) É necessário distinguir a sociedade comunista do industrial, onde a produção e a distribuição estão sujeitas a regras compulsórias de cooperação, impedindo-as de lidar com o que gostam, revalorizando numa economia de mercado e estabelecendo relações de que gostam. A troca começou com a intenção de fazer um presente e receber outro em troca.
'O homem sábio deve lembrar que é descendente do passado, mas também pai do futuro'.
Evolucionismo cósmico
Ao contrário de Darwin, que reduz o evolucionismo a um ambiente puramente biológico, Spencer fala explicitamente de 'evolucionismo cósmico', com a ideia de que, além da evolução orgânica, há também uma evolução que é anterior a ela, de tipo inorgânico, em um molde super-orgânico subsequente. O filósofo observa com entusiasmo que, mesmo antes que a evolução biológica (esboçada por Darwin) pudesse ser realizada, a realização do inorgânico é necessária, o que permitiu, por exemplo, a formação do sistema solar; somente após essa evolução inorgânica foi possível realizar a orgânica: e o próximo passo será o superorgânico, ao qual o homem será submetido com suas conquistas (cultura, instituições e, em geral, sociedade ). Se Comte era não-reducionista, Spencer, por outro lado, é pelo menos parcialmente reducionista, já que em sua opinião há um único processo fundamentalmente governado pelas mesmas leis (aquelas do evolucionismo) que envolvem o orgânico, inorgânico e até super-orgânico: as leis que regulam a biologia, diz Spencer, são quase as mesmas que governam o progresso da física, da política, da cultura, da sociedade, etc., de modo que é suficiente, em princípio, identificar as leis da evolução para a biologia. ser capaz de estudar toda a realidade, que é o oposto do conceito de Comte. Com Spencer, então, o elemento que talvez distingue o positivismo do racionalismo do século XVII e do século XVIII emerge: se é verdade que eles têm um interesse marcante pelas ciências sociais (a ponto de considerá-las como o único conhecimento válido), o tipo de ciência a que apelam é diferente. De facto, quando a filosofia toma a ciência como seu modelo de investigação, sempre tende a escolher a mais em voga no momento, de modo que se Platão tivesse utilizado a ciência médica de origem hipocrática, os filósofos dos séculos XVII e XVIII, ao contrário, preferiam a física matemática de estilo galileu e newtoniano, e o ‘Discurso sobre o método', de Descartes, que é uma prova notável, uma vez que o pensador francês afirma explicitamente que reconheceu na matemática o verdadeiro modelo cognitivo. Spencer e os positivistas, por sua vez, vivem numa época em que a biologia prevaleceu sobre a física newtoniana, mais em harmonia com os impulsos vitalistas típicos da época romântica: por isso, ao contrário do iluminismo e do racionalismo, o positivismo escolhe a biologia e, em particular, Spencer amplia o evolucionismo biológico para toda a realidade tornando-o cosmológico.
Primazia da ciência
Reconhecendo a primazia da ciência (em particular da biológia), parece que a filosofia é deslegitimada: os positivistas e Spencer não apenas reconhecem na ciência o modelo supremo de conhecimento, mas até tendem a ver todos os outros como ineficazes, sancionando assim a morte da filosofia. No entanto, eles sempre encontram, de alguma forma, uma maneira de esculpir algum espaço para a filosofia: Comte a reduz a uma investigação racional da história da ciência, Mill a concebe como um estudo puro e simples dos fundamentos metodológicos da ciência e, finalmente, Spencer lhe reserva um tratamento especial. Em primeiro lugar, com um discurso de forte sabor kantiano, ele declara a compatibilidade entre ciência e religião, rompendo assim certas franjas positivistas expressamente anti-religiosas: de facto, se é verdade que se pode investigar a realidade e inferir dela as leis do comportamento, é igualmente verdade que a essência da realidade permanece incognoscível, isto é, escapa de qualquer estrutura cognitiva. Em outras palavras, a ciência pode explicar como um fenômeno que ocorre e por que ele ocorre, mas nunca será capaz de extrair sua essência profunda: as generalizações que a ciência alcança nunca conterão o que Spencer define como o Incognoscível (uma espécie daquilo que em si é kantiano).
A religião
E é precisamente em virtude dessa impotência da ciência que a religião e sua investigação do Incognoscível (isto é, a profunda essência da realidade) não é apenas compatível com a ciência, mas é de fato necessária para ela: as duas disciplinas se apoiam mutuamente na ciência, reciprocamente, projetando suas investigações em questões diferentes, mas igualmente necessárias, e além disso, a religião nos lembra simultaneamente dos limites intrínsecos do conhecimento humano e do profundo mistério da realidade. Isso também nos permite entender por que Spencer se refere não à teologia em geral (catafática), mas àquela de tipo negativo (apofática), o que significa que não nos diz o que está além da barreira cognitiva, mas, pelo contrário, o que não é. Naturalmente, isso só pode acontecer se a ciência e a religião não pretenderem passar para o campo dos outros: e, nesse sentido, a história de Galileu simboliza precisamente a invasão da religião no campo científico.
A filosofia
Tendo esclarecido a relação entre ciência e religião, Spencer enfoca aquilo que diz respeito à filosofia e à ciência: se a ciência pode e deve explicar toda a realidade de acordo com as leis evolucionárias, qual é o uso da filosofia? De uma maneira bastante original, Spencer atribui-lhes, ao mesmo tempo, o valor mínimo e máximo, afirmando que a filosofia nada mais é do que a ciência mais importante, com a consequente perda de autonomia e especificidade. Ele é talvez o positivista que dá mais peso do que tudo à filosofia, mas que tende ainda mais a reduzi-la à ciência: em última análise, para Spencer, a filosofia é uma espécie de superciência. Cada um de nós, na verdade, tem suas experiências diárias e tende a generalizá-las para derivar regras de comportamento (e a ciência faz a mesma coisa, de uma maneira sistemática, no que diz respeito à natureza), mas depois, além das leis. relativamente geral, é possível identificar leis muito gerais que não se aplicam a um campo da realidade em vez de outro, mas, vice-versa, aplicam-se a toda a realidade. A filosofia trata dessas leis muito gerais, válidas para toda a realidade.
Reducionismo
E precisamente em virtude dessa concepção, Spencer tende a ser reducionista, ou a nutrir a convicção de que todas as ciências podem ser rastreadas até uma única ciência, filosofia. É reducionista, em outras palavras, porque tem a convicção de que existem leis muito gerais válidas para cada realidade das quais as leis estudadas pela ciência são derivações particulares, como se, em última análise, todas as ciências fossem derivações particulares da filosofia superciência. A filosofia como entendida pelo filósofo inglês, portanto, destaca-se entre todos os conhecimentos, mas, qualitativamente, não é diferente das outras ciências. É curioso como, nesta perspectiva, retornamos ao conceito aristotélico de metafísica entendido como ciência (além das coisas 'além do mundo físico') do estudo das leis gerais do ser: é precisamente para este estudo que a filosofia deve ser dedicada , que sobe para a rainha das ciências, mas perde sua autonomia.
Evolucionismo de Spencer
No entanto, o evolucionismo de Spencer não é uma extensão pura e simples das noções de Darwin para todo o universo: na realidade, os dois pensadores elaboram suas teorias separadamente, sem contatos; e quando dizemos que, para Spencer, a evolução é cósmica, não devemos pensar que ela deva ser interpretada como uma analogia, portanto, a partir da observação de que no mundo biológico existe o evolucionismo, ele deve se aplicar ao resto da realidade. Inversamente, todo o cosmos é submetido a um único processo evolutivo que é dividido em diferentes fases e aspectos, bem como os subsequentes. O problema da filosofia é justamente ir além da ciência para reconstruir as leis da evolução em geral: todas as ciências chegam, de diferentes maneiras e em diferentes campos, para reconhecer as leis da evolução. Por exemplo, a biologia descobre a evolução no mundo vivo, a física na realidade material e assim por diante: a filosofia, por sua vez, deve consertar todas essas leis gerais elaboradas pelas ciências individuais para poder obter leis muito gerais de evolução válidas para todo o cosmos. E todas as ciências individuais, diz Spencer, alcançam, embora de formas diferentes, o reconhecimento de três princípios fundamentais:
1) indestrutibilidade da matéria, (porque é transformada em energia, a matéria é um amálgama de energia)
2) continuidade do movimento (na natureza nada é criado e nada é destruído, pois o Pré-Socratico nunca se molha na mesma água)
3) persistência da força.
Todos esses princípios, é claro, são, por assim dizer, 'penúltimos' respostas, que explicam que a matéria não pode ser destruída, e evolui passando de inconsistente a coerente com base no desvio de que o movimento é contínuo e que a força tende a persistir, mas que não respondem à questão decisiva (que atravessa o limiar do Incognoscível): por que é assim? O que originou isso?
Lei geral
A tarefa da filosofia será, portanto, unificar esses três princípios em uma única lei geral, que Spencer traça na lei da evolução. Essa lei, de fato, explica a integração gradual (isto é, a concentração) da matéria e a consequente dissipação do movimento (para os quais os três princípios listados acima podem ser resumidos brevemente) por meio de um processo triplo:
a) como passagem do inconsistente para o coerente (passagem da concentração progressiva);
b) como passagem do homogêneo para o heterogêneo, do uniforme para o multiforme (isto é, um processo de diferenciação progressiva);
c) como uma passagem do indefinido para o definido (ou seja, como um processo de determinação progressiva).
Em termos concretos, imagine que temos diante de nós um ser primitivo como uma ameba e um mais complexo como um cavalo: a matéria que compõe o cavalo é muito mais concentrada e compacta do que a da ameba (passagem evolucionária do inconsistente para o coerente); o cavalo, então, é mais complexo e articulado que a ameba, tanto que cada célula do cavalo é em si mesma mais complexa que a ameba (passagem evolutiva do homogêneo para o heterogêneo); finalmente, a ameba é mais simples, o cavalo é mais complexo e, portanto, desfruta de uma identidade maior, ou seja, distingue-se mais do ambiente circundante (passagem evolutiva do indefinido ao definitivo). E essas leis que acabamos de ilustrar são válidas não apenas na esfera biológica (a ameba e o cavalo), mas para todo o universo: elas também devem ser usadas, diz Spencer, para interpretar a formação do sistema solar a partir de uma nebulosa original. Transição do buraco negro para a formação da matéria de tal forma que determine o movimento, de modo que a matéria seja formada e integrada pela incoerência (criação ex nihilo)
Evoluir é mudar
O mudar evolui de uniforme para multiforme. A evolução é a mudança, da condição primitiva para a condição generalizada, do mental para o complexo, passou do homogêneo para o heterogêneo, do menos denso a muito denso, do inconsistente para o coerente, a ponto de dar vida a todo o sistema solar. As leis evolucionistas, então, também devem ser aplicadas ao mundo super-orgânico, ou à sociedade humana: e o mais curioso é que, diz Spencer, as leis que regulam o processo evolucionístico do mundo biológico são quase as mesmas que governam a evolução nos mundos inorgânicos e superorgânicos; estas são leis que o pensador inglês deriva em parte de Darwin e em parte de Lamarck. Está de fato convencido de que todas as instituições se esforçam para se adaptar ao ambiente e que as mutações que derivam desses esforços são, por sua vez, selecionadas pelo meio ambiente. No entanto, entre a sociedade e o mundo biológico, que também seguem leis evolutivas quase idênticas, há uma enorme diferença: no mundo humano, de fato, a cultura e a consciência do que é feito toma conta, o que sugere que a ideia lamarckiana A transmissibilidade herdada de caracteres adquiridos, falsa se aplicada ao evolucionismo biológico, é verdadeira no que diz respeito ao mundo humano. É verdade que na história da humanidade há um esforço consciente de se adaptar ao ambiente e que há uma transmissão de caracteres adquiridos (noções, mudanças culturais, etc.), tanto que a ideia de sobrevivência é adequadamente corrigida. caso contrário, acabaríamos vivendo no estado de natureza delineado por Hobbes: hoje vivemos muito mais do que anos atrás, porque a ideia segundo a qual somente os mais fortes podem sobreviver e formas de solidariedade e normas de comportamento aceito por todos. Se o darwinismo social continuasse a existir, ninguém poderia sobreviver aos quarenta, porque, tendo perdido sua força, seria facilmente subjugado pelos homens em seu auge. De facto, no homem entre o evolucionismo cultural e o evolucionismo biológico há quase um conflito, à medida que o mais velho fica, mais a cultura cresce e a força física para sobreviver no hipotético estado da natureza diminui. Em seu tempo, entretanto, Spencer acreditava que poderia aplicar as leis da evolução também à sociedade, dando origem ao que ficou na história sob o nome de darwinismo social: o critério segundo o qual sobreviver é ser aceito também no mundo social. o mais forte e é por isso que Spencer é um firme defensor do liberalismo mais desenfreado. Ele retoma as considerações de Malthus de que Darwin se limitou a aplicar-se à realidade biológica e chega a dizer que o Estado absolutamente não deve intervir com critérios de solidariedade ou facilitação, pois impede o amadurecimento das formas de seleção natural funcionais à sobrevivência da própria sociedade. . E nesse sentido, o filósofo inglês opera uma série de comparações entre o mundo biológico e a sociedade humana, destacando que, evolutivamente, as sociedades modernas são mais coerentes, mais heterogêneas e mais definidas que as antigas: elas são mais articuladas especialmente em virtude de
1) divisão do trabalho que os caracteriza,
2) mas também graças ao facto de que eles estão mais distantes do ambiente (e a comparação se concentra principalmente nas diferenças entre cidades modernas e aldeias antigas);
3) e depois nas sociedades modernas os tecidos que executam determinadas funções concentram-se em lugares muito específicos (pensam em áreas industriais), assim como no indivíduo as células se diferenciam qualitativamente e se posicionam em lugares muito específicos.
É muito curioso como até Spencer compara as sociedades e as estruturas dos animais: como os moluscos são protegidos pela armadura, também algumas estruturas sociais são (como a concha de moluscos) rígidas, emolduradas por estruturas que restringem a tendência. E, a esse respeito, Spencer identifica dois tipos diferentes de empresas: aquela
1) industrial e que
2) militar, que exige a coesão do grupo, de acordo com seus próprios interesses, iniciativas e individualidade, há seleção natural e a sobrevivência daqueles que são mais fortes e mais adequados. É a lógica do colonialismo
Quanto mais uma sociedade é orgânica, menos precisa de um aparato externo que a mantenha unida: por exemplo,
1) a sociedade industrial é tão articulada e as partes que a constituem estão tão ligadas entre si que, em princípio, ela poderia prosseguir sem leis e estruturas que a mantenham unida, uma vez que permaneceria quieta sozinha.
2) Pelo contrário, uma sociedade que não possui um aparato industrial avançado precisa de uma estrutura que a mantenha unida para que não se desfaça: o exército, a polícia, uma série de regras coercitivas, etc .; por isso, vem de Spencer definido, quase com um sentido depreciativo, 'sociedade militar'.
Resta agora perguntar qual é o ponto máximo que o conhecimento da realidade pode alcançar: em última análise, o problema a ser resolvido é como entender o processo evolutivo de toda a realidade através de uma ferramenta de pesquisa tão geral quanto a filosofia de acordo com Spencer.. Ele diz que duas coisas devem ser assumidas:
Materia
mais precisamente, uma massa original e disforme e uma força que age de fora sobre ela. Já que esta força não atua de maneira absolutamente uniforme sobre o assunto (haverá pontos onde ela empurra mais e aponta onde ela empurra menos),
Zione é uma diferenciação que desencadeia a reação em cadeia que dá vida ao processo evolutivo estudado por Spencer.
Spencer prestou especial atenção às mudanças evolutivas das estruturas sociais. Sua ideia de evolução envolveu uma mudança
1) de um estágio relativamente indefinido de homogeneidade
2) em um estágio de heterogeneidade relativamente definida e coerente, um processo que poderia explicar, segundo ele, tanto a evolução do universo quanto das estruturas sociais.
Sua sociologia basear-se-á, de fato, em uma idéia de direito natural, que permitirá, no nível da análise, considerar a sociedade em analogia com um organismo biológico. Isso significava criar uma analogia entre as partes constituintes de uma sociedade e os órgãos internos de um organismo, que, interagindo entre si, permitiam que a empresa funcionasse e se perpetuasse ao longo do tempo. A sociedade, para Spencer, teve que funcionar através das mesmas leis que regulam a natureza e se desenvolvem como qualquer espécie viva. A evolução agiu, portanto, no sentido de uma crescente complexidade do organismo 'social', cujo ápice foi visto na civilização inglesa, considerada a mais avançada e complexa. Além disso, em sua sociologia há uma forte carga determinista em relação ao aparato legislativo. Spencer pensava, na verdade, que somente as sociedades mais fortes, e dentro delas os indivíduos mais fortes, poderiam sobreviver, usando o conceito, que mais tarde seria adotado por Darwin, da sobrevivência do mais apto. Qualquer intervenção do Estado na direção do bem-estar para as camadas mais fracas da população poderia levar a uma regressão da sociedade, porque, segundo ele, impedia que a natureza seguisse seu curso, isto é, permitisse apenas indivíduos capazes de ajudar o corpo a sobreviver. desenvolvimento social. Mais tarde Spencer estava convencido de que a evolução dos grupos humanos também poderia depender do meio ambiente e do social, visto nos diferentes tipos não mais estágios de uma única evolução, mas entidades classificáveis em grupos divergentes e re-divergentes.
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2ª Lição 13 de Março 2024: Pré-logismo
Introdução
Em França, onde o interesse intelectual pela vida dos povos não europeus surgiu mais cedo do que em qualquer outro país, o estudo das sociedades "primitivas" só conheceu um desenvolvimento significativo no final do século XIX. De facto, esta reflexão desenvolveu-se mais tarde do que na Grã-Bretanha e nos Estados Unidos e, pelo menos no início, numa relação de dependência com a sociologia. Esta última era uma disciplina derivada, por sua vez, da filosofia e, em particular, da filosofia "positiva" de Auguste Comte (1798-1857) que, nas décadas centrais do século XIX, tinha constituído a linha de estudo dominante em França. Comte tinha centrado a sua reflexão no tema da normatividade social, ou seja, do equilíbrio e da ordem social como resultado da aplicação possível de um conhecimento positivo (a "sociologia") que era simultaneamente conhecimento e instrumento de gestão da sociedade com base em critérios técnico-científicos.
O ideal de Comte de um saber capaz de contribuir para a construção de uma tal sociedade sofreu um golpe devastador com a guerra civil de 1870. Os acontecimentos da Comuna de Paris, com os seus efeitos traumáticos na sociedade e na cultura francesas, geraram questões diferentes das que podiam ser formuladas na perspectiva positivista, progressista e optimista de Comte. O pensamento de Comte, que, ao avançar para a "lei dos três estádios" (teológico, metafísico, positivo), conduzia a humanidade ao estádio final, ou "positivo", representado pela sociedade capitalista-industrial do século XIX, não conseguia dar conta dos fenómenos de massa que emergiam das novas condições sociais, políticas e económicas da França do século XIX. Com efeito, era evidente que esta última era também largamente dominada por forças aparentemente irracionais, enraizadas na opinião pública, nas tensões sociais e políticas e nos conflitos entre confissões religiosas.
O prelogismo ou primitivismo de Lucien Lévy-Bruhl
Entre os que contribuíram para o desenvolvimento original das ideias de Durkheim, e que também favoreceram a difusão da etnologia noutras disciplinas para além da sociologia, conta-se Lucien Lévy-Bruhl (1857-1939). Filósofo e professor na Sorbonne, Lévy-Bruhl foi um dos melhores intérpretes da tradição do racionalismo filosófico e merece um grande crédito por ter lançado as bases, com outros colegas, do Institut d'ethnologie que, fundado em 1925, viria a ser o "trampolim" da etnologia francesa entre as duas guerras.
A primeira obra de Lévy-Bruhl em que podemos localizar a emergência dos interesses etnológicos que farão deste filósofo o teórico da "mentalidade primitiva" é A Moral e a Ciência dos Costumes , de 1903. Esta obra começou por ser um livro de filosofia pura com a intenção de responder a uma questão tipicamente filosófica: existe uma moral objetiva? A crítica de Lévy-Bruhl a qualquer pretensão a uma moral teórica universalmente válida, ou seja, à objetividade no sentido filosófico, colocou o seu autor na posição de se abrir a um confronto com a etnologia.
Para Lévy-Bruhl, qualquer teoria que pretendesse fundar uma moral objetiva teria de partir do pressuposto de que existe uma "natureza humana" sempre e em toda a parte idêntica a si própria, o que equivaleria a reactivar um preconceito etnocêntrico na filosofia. A teoria, argumentou Lévy-Bruhl, não pode fundar nenhuma moral, mas apenas estudá-la. Estudar a moral significa tentar compreender os diferentes significados que a experiência moral pode assumir em diferentes contextos sociais, os diferentes sistemas morais característicos de diferentes sociedades.
Foi neste texto que Lévy-Bruhl efectuou a sua "revolução etnológica". Com efeito, a partir de então, o seu olhar voltou-se para as sociedades "primitivas" que lhe ofereciam o material etnográfico sobre o qual refletir, já não só em relação à experiência moral, mas também em relação às formas de pensamento (funções mentais).
Foi, de facto, o "pensamento primitivo" que constituiu o objecto de estudo de Lévy-Bruhl a partir de então, portanto a sua teoria é conhecida também como “primitivismo”.
As representações "místicas”
Em Les fonctions mentales dans les sociétés inférieures ) publicado em 1910, Lévy-Bruhl critica a tradição do evolucionismo inglês. A pretensão de explicar o pensamento dos povos primitivos com base em operações mentais individuais e subjectivas (como tinham feito Tylor e Frazer) parecia, mesmo para Lévy-Bruhl, errada. As representações colectivas, por mais bizarras e ilógicas que pudessem parecer, não eram, como pensavam os evolucionistas, erros de julgamento cometidos pelo espírito primitivo na tentativa de encontrar as verdadeiras causas dos fenómenos. De facto, as representações colectivas eram, antes de mais, "comuns a um determinado grupo social e transmissíveis de geração em geração" (é esta a indicação de Durkheim). Elas impunham-se aos indivíduos através da prática social e constituíam, assim, modelos sociais de comportamento mental, verdadeiros "factos sociais".
Para Lévy-Bruhl, não se tratava, portanto, de descobrir a origem "primeira" destas representações. Ele via (seguindo Durkheim) estes factos sociais como já dados num contexto já dado, a sociedade. Tal como tinha estabelecido numa importante obra teórica de 1895, intitulada “As regras do método sociológico ”, Durkheim considerava os factos sociais, que constituíam para ele o objeto específico da sociologia, como conjuntos de acções e de representações identificáveis em função do poder que tinham de exercer um constrangimento sobre os indivíduos. Um papel, um ritual, uma crença, uma obrigação, etc., são factos sociais. Eram independentes da psicologia do indivíduo, tinham uma vida autónoma e eram o que determinava "do exterior" o comportamento dos membros de uma sociedade. Eram eles que, através do mecanismo impessoal da obrigação e da norma, impunham aos indivíduos a adesão às regras do corpo social a que pertenciam."Por mais recuadas que sejam, por mais primitivas que sejam as sociedades observadas", escreveu, "encontramos sempre espíritos socializados, se assim podemos dizer, já tomados de uma multidão de representações colectivas que lhes foram transmitidas pela tradição e cuja origem se perde nas brumas do tempo" (Lévy-Bruhl 1970: 47).
Todas essas representações que a teoria antropológica tinha até então considerado incompreensíveis, bizarras e abstrusas, e que a tradição evolucionista tinha interpretado como o produto de uma ingenuidade intelectual original, foram assim reconduzidas por Lévy-Bruhl a uma espécie de determinação social que tinha de ser investigada na sua lógica específica, a mesma com a qual Evans-Pritchard estudará os Azande.
O universo simbólico do primitivo era, para Lévy-Bruhl, homogéneo ao universo social em que o próprio primitivo vivia. Foi o carácter eminentemente emocional da experiência social que gerou o tipo particular de representações colectivas que constituíram esse universo simbólico. O grupo social primitivo vivia assim uma experiência mística, que se concretizava nas práticas de culto e no desempenho do ritual. Neste contexto, o indivíduo não tinha a possibilidade de desenvolver o seu próprio juízo, independente do que lhe era imposto pela sua sociedade. Lévy-Bruhl levou ao extremo a ideia de Durkheim, segundo a qual a força do pensamento social se impõe aos indivíduos, e para o autor de Psique e Sociedades Primitivas , os indivíduos apresentavam uma atitude mental caracterizada por uma "impermeabilidade à experiência" fundamental. Esta última caraterística do pensamento primitivo explicaria, por exemplo, o facto de continuarem a praticar a magia independentemente dos resultados que podem ser efetivamente obtidos através dela, pois é a representação colectiva que os impede de concentrar a sua atenção nos dados da experiência objetiva.
Participação e prefiguração
A mentalidade dos "primitivos" não era apenas mística, mas também regida por um tipo de lógica que visava coordenar as representações da natureza mística. Esta tendência da mentalidade primitiva foi definida por Lévy-Bruhl como participação, enquanto que, em oposição ao pensamento "civilizado", a mentalidade dos primitivos foi vista por ele como dependente de uma forma de raciocínio pie-lógico.
Em The Primitive Mentality de 1922, o livro que mais do que qualquer outro tornou Lévy-Bruhl conhecido dos antropólogos, ele especificou: "A mentalidade primitiva preocupa-se, como a nossa, com as causas do que acontece. Mas não as procura na mesma direção. Vive num mundo em que inúmeras forças ocultas estão sempre activas ou prontas a agir" (Lévy-Bruhl 1966: 431). Estes inumeráveis poderes ocultos eram o que a mentalidade primitiva apreendia na sua relação "participativa", em que a parte corresponde ao todo e em que o gesto ritual prefigura ou mesmo representa a ação real. Esta relação “participativa é o que determina o carácter "pré-lógico" deste tipo de mentalidade. O conceito de pré-lógico não designa em Lévy-Bruhl uma forma de pensamento "menos evoluída" do que a designada pelo termo "lógico". Significa a-científico, a-crítico e, como tal, não implica nem a ideia de uma anterioridade temporal no desenvolvimento das faculdades mentais nem, muito menos, um carácter "irracional". O conceito de pré-lógico indica uma diferença qualitativa e não quantitativa entre as faculdades mentais do primitivo e as do "civilizado".
Como se pode ver, a distância que separava Lévy-Bruhl dos evolucionistas era, apesar da utilização de termos como "pré-lógico", "sociedades inferiores" e "primitivo", considerável. A imagem das sociedades primitivas que assim se produzia era a de sociedades cujos membros tinham atitudes radicalmente diferentes das que Lévy-Bruhl considerava características dos povos "civilizados".
Sentido e limites do pré-logicismo
Nesta distinção radical entre mentalidade pré-lógica e mentalidade "lógica", alguns viram uma variante do preconceito etnocêntrico que Lévy-Bruhl, depois de o rejeitar, viria, no entanto, a reintroduzir por outra via. Este facto é inegável. Mas esta distinção, que também tem sido interpretada como reflexo de uma espécie de imperialismo ideológico (já que, como intelectual, Lévy-Bruhl pensava que a sua racionalidade era a de qualquer outro ocidental), representa uma tentativa de organizar uma compreensão da diferença livre de procedimentos evolutivos e de padrões de investigação. A teoria da "mentalidade primitiva" foi o produto de uma operação destinada a dar ao primitivo o seu próprio espaço real de existência e reconhecimento. Lévy-Bruhl não tinha qualquer experiência de investigação no terreno e, por isso, todas as sociedades primitivas eram consideradas por ele como "equivalentes", o que lhe permitia contrastá-las em bloco com as sociedades "ocidentais", um contraste que se reflectia no contraste entre a "mentalidade pré-lógica", por um lado, e a "mentalidade lógica", por outro.
No entanto, nos últimos anos da sua vida, Lévy-Bruhl mudou de opinião sobre a oposição entre estas duas "formas" de pensamento, uma "pré-lógica" e "mística", a outra "lógica" e "racional". Dos Cadernos, publicados postumamente em 1949, depreende-se que Lévy-Bruhl desejava atenuar o fosso que ele próprio tinha contribuído para traçar entre o pensamento primitivo e o pensamento ocidental, sobretudo através da observação de como, mesmo na sociedade positiva e científica, era possível detetar traços indubitáveis de atitudes "participativas", "místicas" e "racionais " (Fabietti, 2011, pp. 37-39).
Bibliografia
Levy_Bruhl, Lucien. 1971. La morale et la science des moeurs. Paris: Presses Universitaires de France.
Lévy-Bruhl, Lucien. 1910. Les fonctions mentales dans les sociétés inférieures. Paris: Alcan.
Durkheim, Émile. 2007. As Regras do Método Sociológico. São Paulo: Martins Fontes.
Lévy-Bruhl, Lucien. 1970. Psiche e Società Primitive. Roma: Newton Compton.
Lévy-Bruhl, Lucien. 2015. A mentalidade primitiva. Rio de Janeiro: Teodoro.
Fabietti, Ugo. 2011. «Storia dell’antropologia». Pp. 13–18 em. Bologna: Zanichelli.
2ª Lição 6 de Março 2024: Difusionismo
Difusionismo
O difusionismo foi uma abordagem diacrônica para explicar a diversidade da cultura. Os dados sobre as diferenças entre os povos acumulados exponencialmente desde as grandes navegações não possuíam coerência. Enquanto o evolucionismo tentava explicar essas variações pelos diferentes estágios que supostamente a humanidade passaria (mas sem esclarecer como passava de um estágio a outro), o difusionismo pressupunha uma falta de inventividade. As grandes invenções teriam local de origem certa e se propagariam por difusão, migração, apropriação, aculturação ou assimilação, depois adquirindo conotações locais.
Essas teorias ganharam corpo no final do século XIX entre antropólogos de língua alemã, mas teve seu auge entre 1910 e 1925. Apesar da cronologia, seus temas, métodos e pressupostos pertencem mais ao século XIX que ao século XX. Logo, abordagens sincrônicas a substituiriam como paradigmas na antropologia.
Influências
- Conceitos de Volkskunde (ciência da nação) e Völkerkund (ciência das nações): essa distinção entre povos de língua alemã delineou o interesse para estudar sistematicamente outros povos além do folclore local.
- Lendas e especulações de contactos transoceânicos: quando os europeus encontraram civilizações com tecnologias complexas nas Américas, Ásia e África sub-sahariana foi dificultoso admitirem a igualdade entre eles e esses “bárbaros”. Logo surgiram explicações mirabolantes: continentes submersos, fenícios viajantes, cidades desparecidas e tribos perdidas de Israel. Embora povos como os malaio-polinésios e os vikings fizeram longas viagens transoceânicas, foram exceções. A semelhança entre estruturas, como as pirâmides, ao redor do mundo, resultaram de invenção independente. Todavia, no século XIX essas teorias reacenderam-se, contribuindo para alimentar o difusionismo.
- A antropogeografia de Friedrich Ratzel (1844—1904): o geógrafo cultural alemão Ratzel propôs a existência de grandes áreas culturais pelo mundo e que a tecnologia e cultura imaterial — línguas, costumes e religiões — se propagavam pelo comércio e pela guerra, ganhando modificações locais.
- Ideenarmut: ou a escassez de ideias. Para Ratzel no geral as pessoas não possuíam muito inventividade. Antes, copiavam e emprestando ideias umas das outras.
- Reação contra o evolucionismo e o racismo científico: o acúmulo de dados com melhor qualidade sobre diversos povos fazia ruir os pressupostos racistas e evolucionistas. Instrumentos de antropometria empregados por Paul Broca demonstravam que as variações interna a um grupo racial eram maiores que quando comparado entre dois grupos diferentes. Viagens a campo demonstravam que não existia correlação entre raças e cultura, como fez o etnógrafo russo Nicholas Miklouho-Maclay (1846–1888). Esquemas de evoluções das instituições como em O ramo de Ouro de Frazer não tinham sustentação lógica, parecendo mais com obras de fantasia que propriamente científica.
- Unidade da espécie humana: conceitos herdados de E.B. Tylor e Adolf Bastian que, embora evolucionistas, davam importância ao papel da difusão cultural para explicar a diversidade cultural em uma matriz de unidade psíquica humana.
- Colonialismo: desde a partilha da África (1878) e da Oceania (c.1900) ficou patente como as culturas locais eram afetadas pela tecnologia, religião e ideias europeias. Um paradigma difusionista tinha exemplos contemporâneos para facilitar sua aceitação.
- Consolidação da museologia: os avanços da arqueologia do fin-de-siècle e o colonialismo resultaram em um acúmulo de artefactos que requeriam uma classificação apropriada. Um método popularizado foi a classificação por povos e áreas. Começando com o Museu Nacional de Etnologia em Leiden (1837), várias instituições surgiram na Europa para documentar a diversidade global das culturas, como o Museu de Etnologia de Berlim (1869), Kulturhistorische Sammlung (1874), Museu de Antropologia e Etnografia em Dresden (1874) e Hamburgo (1877), Viena (1884), Frankfurt (1904), Göteborg (1913), Musée d’ethnographie du Trocadéro (1878), Pitt-Rivers Museum em Oxford (1884).
Análise difusionista
Fontes de dados:
- Similarmente aos teóricos do evolucionismo, os difusionistas dependiam da compilação de relatórios de administradores coloniais, missionários e viajantes, bem como das respostas de questionários. Todavia, os avanços de comunicação e transporte, bem como a consolidação política do colonialismo europeu permitiram viagens com propósitos etnográficos e museológicos. Entre elas estão a célebre expedição ao Estreito de Torres (1898) e as viagens de etnógrafos como Georges Montandon (1879—1944) médico que fez explorações na Áfica, Sibéria e Japão e a do Barão Erland Nordenskiöld (1877—1932) na América do Sul.
- Análise bibliográfica de textos das civilizações clássicas, mas com uma crítica cronológica e cotejada com dados arqueológicos.
- Análise de mitos, embora já empregada pelos evolucionistas (por exemplo, Frazer), o pressuposto de que os mitos continham vestígios de uma era perdida no tempo servia para traçar as tecnologias e organizações sociais disponíveis no tempo primevo.
Métodos:
- Análise espacial e diacrônica comparativa.
- Enfoque em traços culturais de várias instituições em uma área ou comunidade delimitada ao invés de instituições específicas, como os evolucionistas faziam com o direito, religião e parentesco.
Temas:
- Local de origem de instituições e seus mecanismos de propagação.
- Particularidades da geografia local e de eventos históricos para explicar a diferenciação de traços culturais durante sua difusão.
Conceitos:
- Traços culturais: unidade de análise. Pode ser um fonema que possua variações geográficas, formas de remos, parâmetros narrativos de mitos, dentre outros.
- Círculo de Cultura: ou Kulturkreis, são modelos de propagação concêntricas (como as ondas formadas ao lançar uma pedra em um lago) de difusão cultural.
- Área de cultura: são grandes áreas dotadas de traços culturais comuns,
- Transmissão cultural: por contato entre diferentes por povos devido a migração ou aculturação (assimilação ou integração); e por trocas de traços culturais por contato ou difusão (um telefone sem fio, sem deslocamento populacional) empréstimo e apropriação cultural.
ESCOLAS E AUTORES
O difusionismo não foi uma tendência monolítica. As diferentes escolas possuíam métodos e teorias explicativas distintas, como se verá.
Difusionismo Germânico
Decorrente da linhagem de eruditos em contato com Adolf Bastian e Ratzel. Essa escola admitia a origem múltipla de vários traços culturais que se propagavam por mecanismos diversos. Todavia, há elementos etnocentristas, como a teoria de Frobenius que deveria ter existido uma civilização branca na África austral, pois a organização militar era muito avançada entre povos como os zulus.
- Leo Frobenius (1873—1938): propôs o conceito de Kulturkreis e de morfologia cultural. Esse africanista utilizava o conceito de paideuma , uma interpretação totalizante (Gestalt) para criação de significados culturais.
- Fritz Gräbner (1877—1934): autor do Methode der Ethnologie (1911) que serviu por anos como guia para a pesquisa de campo dos antropólogos difusionistas.
- Bernhard Ankermann (1859-1943): foi um dos principais opositores do evolucionismo unilinear.
- Paul Kirchhoff (1900—1972): americanista que aplicou os conceitos de círculos culturais na Mesoamérica.
- Adolf Ellegard Jensen (1899—1965): investigador da formação de cosmovisões (Weltbild) com fundamentos difusionistas.
- Wilhelm Schmidt (1868 —1954): padre católico investigava a origem e difusão da religião. Transformou a Sociedade do Verbo Divino, os padres verbitas, em uma rede de padres-etnógrafos. Sua teoria do monoteísmo primitivo (Urmonotheismus) foi controversa, mesmo assim a qualidade dos trabalhos mediados por ele e publicados em sua revista Anthropos fez que ganhasse respeito. Publicou em 12 volumes Der Ursprung der Gottesidee (1912-1955).
Difusionismo Britânico
Conhecido também como hiperdifusionismo, teoria defensora de uma visão extremada de difusionismo. A civilização — um conjunto de tecnologias, artes e instituições sociais complexas — teria surgido no Egito e de lá propagada para o mundo. Essa corrente ganhou notoriedade em 1911 com a publicação do Ancient Egyptians and their influence upon the Civilization of Europe de G.E. Smith. Seu principal centro foi o University College de Londres e permaneceu influente até os finais da década de 1920, sendo suplantada pelo funcionalismo de Malinowski.
- William James Perry (1868—1949): baseado na University College de Londres, propôs em Os filhos do sol (1923) que o heliocentrismo, a religiosidade centrada nesse astro, surgiu no Egito e foi o principal veículo para a propagação da cultura civilizada.
- Augustus Henry Lane Fox Pitt Rivers (1827-—1900): militar e arqueólogo, genro do evolucionista John Lubbock, criou o museu que leva seu nome em Oxford.
- William Halse Rivers Rivers (1864—1922): psiquiatra de Cambridge, participou da Expedição ao Estreito de Torres e fez trabalho de campo entre os Todas na Índia.
- Alfred Cort Haddon (1855—1940): biólogo e fundador da escola de antropologia em Cambridge. Participou da Expedição ao Estreito de Torres.
- Grafton Elliot Smith (1871—1937) arqueólogo e anatomista vinculado à Universidade de Cambrigde. Expoente do hiperdifusionismo egípcio.
- FitzRoy Somerset , Lord Raglan (1885—1964) em seu How Came Civilization (1939) propôs um hiperdifusionismo com gênese na Mesopotâmia.
Difusionismo Sul-Americano ou Autoctonistas
Mescla de nacionalismo e religiosidade católica. Inspirados na obra de Antonio de León Pinelo (1589–1660) que argumentava ser a Amazônia boliviana o berço da humanidade.
- Emeterio Villamil de Rada (1804–1876) diplomata e filólogo boliviano para quem o paraíso terrestre estaria localizado em Sorata e que o aymará seria a língua original do homem.
- Florentino Ameghino (1854–1911) paleontólogo argentino monogenista. Dos restos humanos encontrados em Arroyo de Frías, na Patagônia, postulou a existência do Homo Pampeanus publicada no La antigüedad del hombre en el Río de La Plata (1880).
Difusionismo Mitigado
Várias formas de difusionismo que aproveitavam alguns aspectos dessa teoria, mas que negavam ser única ou principal forma de mudança cultural ou a existência de um único centro difusor da cultura.
- Escola das áreas culturais, nos Estados Unidos Franz Boas aproveitou mais os métodos que a teoria do difusionismo alemão. Treinado em geografia e influenciado por Ratzel, Boas pretendia documentar traços culturais em uma área circunscrita; entretando, rejeitava os macro-esquemas teóricos do difusionismo, preferindo interpretar os dados com o particularismo histórico. Dois de seus discípulos, Clark Wissler e Alfred Kroeber, aprofundaram no conceito de áreas culturais, aplicando-o na classificação dos povos indígenas norte-americanos.
- Na falta de categoria melhor, o trabalho do francês Paul Rivet (1876—1958) talvez caiba aqui. Rivet estudou a difusão linguística indígena na América do Sul e propôs a origem múltipla (via Oceania e Melanésia, além da hipótese do Estreito de Bering) da população indígena americana.
- Estrutural-Funcionalistas: as obras tardias de E.E. Evans-Pritchard e o trabalho de Arthur Maurice Hocart (1883—1939) contém alguns elementos de um difusionismo mitigado. Evans-Pritchard a partir dos anos 1950 passou a ver a antropologia não como uma ciência natural ou biológica, mas como uma das ciências sociais que explicava as mudanças culturais com base nas trocas entre povos que em leis biológicas. Hocart combinava o difusionismo, evolucionismo e historiografia conjectural para formular explicações que se assemelham (e antecedem) ao estruturalismo.
- Neo-evolucionistas: nos anos 1930 antropólogos principalmente nos EUA como Leslie White Steward, Gordon Childe e Alexander Lesser propuseram uma síntese entre evolucionismo, funcionalismo e difusionismo. Os processos evolutivos seriam multilinear, em contraposição ao evolucionismo unilinear dos evolucionistas do século XX, e suas transformações decorriam da adaptação ao ambiente e trocas entre diferentes grupos culturais.
- Verbitas: após W. Schmitt, vários padres verbitas continuaram a pesquisa sobre a Urkultur, com variáveis níveis de aceitação de teorias do Urmonotheismus, dentre eles os padres Wilhelm Koppers (1886—1961), Paul Joachim Schebesta (1887—1967) e Martin Gusinde (1886—1969).
Difusionismo marginal
Com exceção das formas mitigadas de difusionismo, desde os anos 1930 essa macro teoria caiu em desfavor da academia estabelecida. Todavia, sobrevive em modalidades marginais, às vezes tidas como pseudo-ciência, como as teorias dos fenícios, gregos ou romanos nas Américas, continentes perdidos da Atlântida e Lemúria ou as viagens de circunavegação de Zheng He. Essa arqueologia popular ganhou um momento durante os anos 1970, sendo hoje relevada aos compartimentos de teorias da conspiração e forteana. Os principais expoentes foram:
- Antonio Snider-Pellegrini (1802—1885): um dos pioneiros da teoria da deriva continental que separou a África do Brasil, esse francês identificava a origem de todas as civilizações na região do Xingu. Um catástrofe separou os continentes e afundou a Atlântida, a cidade que os ligavam.
- Bernardo de Azevedo da Silva Ramos (1858 — 1931): polímata amazonense que em seu livro Inscrições e tradições da América Pré-Histórica (1939) argumentava que a Pedra da Gávea no Rio continha uma inscrição fenícia.
- Ludwig Schwennhagen (fl.1900—1928): professor austríaco radicado em Teresina e via na formação geológica das Sete Cidades uma cidade perdida dos colonizadores do velho mundo.
- Apollinaire Frot (fl.1920—1930?): um engenheiro francês estabelecido na Bahia para quem os egípcios vieram à América do Sul, onde formaram um império da Bolívia à Bahia.
- Cyrus H. Gordon (1908—2001): proponente de uma difusão civilizatória dos semitas, especialmente através dos fenícios que chegaram até ao Brasil e que havia monumentos em hebraico no Oeste americano.
- Thor Heyerdahl (1914—2002): aventureiro norueguês que fez a expedição Kon-Tiki (1947) para demonstrar a possibilidade de contato entre os incas e os polinésios.
Críticas
Algumas críticas comuns ao evolucionismo e ao difusionismo são um etnocentrismo aliado a um colonialismo europeu, juntamente com uma metodologia reprovável de especulações infundadas com base em uma comparação massiva de traços culturais. Também, faltavam observações empíricas, pois esses arm chair anthropologists ou antropólogos de gabinete possuíam dados bem pouco confiáveis para fazer generalizações.
Embora seja aceitável que traços culturais se difundam, o difusionismo falha em explicar por que alguns traços se propagam enquanto outros não.
À procura do gênesis: razão para o declínio do evolucionismo e difusionismo
A antropóloga Hortense Powdermaker fazia seu doutorado na London School of Economics nos anos 1920 quando dois professores do vizinho University College London, Grafton Elliot Smith e W. J. Perry, a convidaram para discutir sua tese sobre a natureza da liderança nas sociedades ágrafas. Depois de explicar sua pesquisa, Grafton Elliot Smith teria perguntado:
“Mas, qual é a origem da liderança?”
Para horror de Smith e Perry, Powdermaker disse que não estava interessada em investigar a origem da liderança.
Essa anedota retrata a transição teórica quando os paradigmas diacrônicos do evolucionismos e difusionismo deixaram de ter sentido. A falta de provas históricas, arqueológicas e etnográficas desacreditava as especulações das teorias de evolucionismo cultural e difusionismo. Desde então, a busca pelo momento exato da origem das instituições e os caminhos certos de sua propagação — temas que não são falseáveis — deixaram de ser objeto da antropologia.
Legado
O difusionismo deu suas contribuições nas teorias de mecanismos de alterações culturais, além de etnografias detalhadas, especialmente feita por investigadores ligados à revista e instituto Anthropos. Entretanto, enquanto teoria, sua validade permanece mais como uma curiosidade histórica na antropologia.
O pensamento antropológico lida com as teorias desenvolvidas e as contribuições feitas por diferentes antropólogos.
durante a primeira metade do século XX a antropologia nos EUA se caracterizou por evitar numa forma programática todas as sínteses teóricas. a estratégia básica de pesquisa daquele período foi formulada por Franz Uri Boas uma das figuras mais influentes na historia da antropologia.
Que guiava Boas foi o método indutivo que soube também transmitir a toda uma geração de prosélitos.Estar atentos aos dados etnográficos sem preconceitos livres de cada esquema teórico e desconfiando de todos os esquemas. Expulsar da antropologia os especialistas de gabinete fazendo da pesquisa etnográfica de campo a experiência central. Estes são as bases do particularismo histórico.
Estratégia do particularismo histórico
total suspensão da dialéctica entre factos e teoria pois se apurou inconsistência entre processos causais, tendências, comparações. O critério da verdade antropologica é a pesquisa etnográfica, averiguada com métodos indutivos. quem transgrediu a este critério não deixou na antropologia nenhuma herança.Mesmo tendo apurado uma certa esterilidade, e negatividade devemos afirmar que este movimento foi determinante para o desaparecimento do evolucionsimo.
Seguazes de Boas
Alfred Kroeber, Robert Lowie, Fay-Cooper Cale, Edward Sapir, MelvilIe Herskovits, Alexander Goldenweiser, Alexander Lesser, Paul Radin, Clark Wissler, Leslie Spier, J. Alden Mason, E. Adamson Hoebel. Ruth Benedict, Margaret Mead, Ruth Benedict, Jules Henry, M. F. Ashley Montagu e Franck Speck
Historicismo
Como acabámos de dizer, o evolucionismo cultural ateve-se à evolução unilinear da cultura, menosprezando o processo da difusão. Outras escolas iriam pôr em destaque este factor importante na vida das culturas.
Franz Boas havia de pôr o acento tónico da sua teoria no carácter histórico e difusionista da cultura.
Deste modo, parece Franz Boas ter sido influenciado pela orientação «geográfica» alemã de F. Ratzel e pela orientação americana do «trabalho de campo», uma e outra encaminhadas em sentido diferente do ponto de vista evolucionista. Segundo Boas, só o estudo da história cultural permite compreender a situação e as características de toda a sociedade. Daí haver ele sublinhado que o fundamental, numa mudança cultural não tanto o facto do contacto mas sim os efeitos dinâmicos desse contacto. Isto é: interessam mais os processus dinâmicos do que a reconstituição de factos descritivos.
Fiél à indução, Franz Boas revelou-se um céptico quanto à possibilidade de fazer generalizações úteis e, portanto, contrário às simplificações a que conduzira o évolucionismo cultural. Propôs a substituição do método dedutivo pelo indutivo. O método historicista orientou-se em três preocupações principais; identificação dos elementos culturais de uma dada cultura ou área cultural e sua utilização para reconstituir a sua história, na medida do possível; comparação das culturas ou áreas culturais, indagando da presença ou ausência de determinados elementos, para daí estabelecer possíveis relações históricas entre elas; acompanhar a distribuição de um elemento ou complexo regionalmente ou a âmbito maior com o fim de compreender a sua história e distribuição.
À «reconstituição da evolução», Franz Boas propôs uma «reconstituição histórica», uma análise específica da história cultural. Insistiu em que todo o fenómeno ê resultado de acontecimentos históricos. Cada cultura traduz um desenvolvimento histórico modelado pelo ambiente social e geográfico de cada sociedade e pela maneira como desenvolve o material cultural recebido ou nascido da sua própria invenção”. Daqui a peculiaridade das culturas como fruto da multiplicidade de combinações que a mesma série de elementos culturais pode proporcionar em cada grupo social. A diversidade das realizações culturais não resulta apenas da influência do meio físico em que as sociedades vivem.
Uma das constantes da obra de Boas é, sem dúvida, a sua insistência sobre o «relativismo cultural», que lhe permitia estudar as várias sociedades com um mínimo de a priori etnocentrista. For isso, é bem conhecida a sua tolerância, o seu respeito até, pelas excentricidades de grupos sociais que analisava.
Para se compreenderem os processus das culturas, é necessário fazer o estudo descritivo da difusão, a mais importante das expressões dos processus dinâmicos. «Um estudo puramente indutivo de fenómenos étnicos — escreve Franz Boas — leva à conclusão de que os tipos culturais compósitos que são geográfica e històricamente intermediários entre dois extremos provam a existência da difusão», O estudo da difusão, induzindo em vez de deduzindo, terá de estabelecer a repartição dos complexos culturais em regiões limitadas antes de reconstituir a carta da sua repartição em base continental e, depois, se possível, em base mundial.
A passagem de um elemento cultural de uma sociedade para outra implica segundo Boas, uma modificação desse elemento. Os elementos «estranhos são remodelados segundo o padrão da cultura que os recebe», pelo jogo de forças internas desta. Esta ideia, a retomaria
E. H. Lowie, ao falar da difusão como de um processo criador.
Clark Wissler distinguiu entre difusão espontânea e difusão organizada.
A primeira produz-se por contactes fortuitos ou voluntariamente;
na segunda, intervém a intenção, ou mesmo o constrangimento.
Alfred L. Kroeber salientou a distinção entre difusão por contacto e difusão por estímulo. No primeiro caso, a difusão de um objecto ou instituição faz-se directamente na forma precisa que a tinha o grupo dador, quaisquer que sejam as modificações de função produzidas pelo grupo recebedor, ê que ê mais facilmente aceite a forma de um objecto, de uma técnica ou de uma instituição do que a sua função. No caso da «difusão por estímulo», apenas se mantém o princípio sabre que repousa esse objecto ou essa instituição, dando a difusão lugar a uma invenção induzida.
Nem sempre os elementos culturais propostos ou impostos são aceites. Dá-se por vezes um processus selective, como lhe chama Lowie, uma espécie de triagem dos elementos difundidos, sendo aceites pelo grupo recebedor apenas aqueles que se mostrem conformes com as suas crenças, valores morais, etc. Há uma perda cultural, na expressão de Kroeber, A. Goldenweiser quis submeter este fenómeno, aliás como o da difusão em geral, à lei das possibilidades limitadas, isto é, aos limites estabelecidos pelas condições naturais.
Não há dúvida que esta escola americana sobreestímou a importância dos fenómenos da difusão. Todavia, o seu conceito de atomismo e superorganicidade cultural desumanizou a cultura.
Com efeito, Kroeber, em The Superorganic (1917), afirmou que a cultura é «um fenómeno sui generis, que se comporta segundo leis próprias». Segundo ele, o real pode ser estudado em vários níveis: inorgânico, orgânico e superorgâníco. Neste último, o homem aparece apenas como criador de cultura e de história. A concepção superorgànica da cultura torna esta possível de ser estudada independentemente dos indivíduos.
Por outro lado, Wissler considera a cultura como um conjunto de «reflexos condicionados», susceptíveis também de serem estudados por si sós. primários trinta anos deste sée, XX.
De origem americana, o historicismo galgou fronteiras. Suecos como E, Nordenskiõld e K. G. Líndblom, dinamarqueses como Birkert-Smith seguiram o seu ponto de vista e o seu método. Em França, na Bélgica, na Holanda foi este acolhido com simpatia. Mas aí pelo decénio de 1920 e princípios do de 1930 foi objecto das mais acerbas críticas, sobretudo por via do seu carácter mecanícista e atomista, que considerava a cultura como uma mera colecção de traços de unidade, e por motivo da sua vulnerabilidade a interpretações subjectivas. Aceitando a superorganicídade da cultura, o historicismo tomava o indivíduo, criador, portador e modificador da cultura, num simples elemento passivo e a cultura no elemento activo, predispondo para um determinismo cultural.
Escola Pan-Egípcia
Outra escola dìfusionista foi a de «Sir» Grafton Elliot Smith, chamada Escola Pan-Egípcia. ou Heliocêntrica.
A bem dizer, esta escola inglesa é simplesmente amadorista. Elliot Smith, sendo embora célebre pelos seus trabalhos sobre o cérebro e sobre a paleontologia, estava, contudo, longe de poder ocupar-se com seriedade dos problemas culturais. Por isso, a sua teoria é demasiado audaciosa e impertinente.
Deixando-se impressionar com as descobertas de W. M. Flinders Petrie e outros no Egipto, Elliot Smith e alguns dos seus colaboradores, quase todos da Universidade de Manchester, pretenderam ver nas culturas das outras partes do Mundo elementos e complexos difundidos pela antiga civilização egípcia, O culto do Sol, a mumificação, a construção megalítica, o reinado, até a agricultura e a pedra de fogo aperfeiçoada, teriam sido difundidos pelos «Filhos do Sol», que à India, à Polinésía, à América Central teriam ocorrido em busca de ouro, pérolas e outros objectos.
Como se vê, a Escola Heliocêntrica levou o difusionismo até ao seu ponto extremo, a um «hiperdifusionismo». Elliot Smith expressamente negava a invenção independente. Para ele, o fémur de um defunto rei africano, conservado para fins rituais, representava a difusão da mumificação egípcia. «Qualquer pedra grosseira comemorativa [passava] por um monumento megalítico da mesma origem».
Contraditada não só pelos ensinamentos da História mas também pelo próprio mecanismo dos contactos culturais, a teoria da Escola de Manchester foi um facto episódico na história da Antropologia, de alcance limitado ao reduzido círculo que a gerou.
Escola Histórico-Cultural
A Escola Histórico-Cultural germano-austríaca foi mais comedida e mais pertinente.
Fundada por Fritz Graebner e W. Foy, do Museu de Colónia, a Kulturhístorísche Schule foi continuada pelo grupo de investigadores da revista Anthropos, de Viena; Wilhelm Schmidt (1868-1954), W. Hoppers, M. Gusínde. Contudo, é o Padre Schmidt quem passa por seu chefe. Dal chamar-se esta escola também de Viena ou Anthropos.
Em relação à teoria heliocêntrica, a nota mais saliente desta escola ê que não admite a difusão cultural a partir de um ponto único, mas, antes, uma difusão múltipla, sob a forma de complexos culturais em ciclos culturais. Admitindo embora a unidade do homem, é pluralista a sua visão da história cultural. Todavia, assemelha-se à teoria pan-egípcia ao estender a difusão a todas as regiões da Terra e ao menosprezar os aspectos psicológicos da difusão.
Relativamente ao evolucionismo cultural, a Escola Histórico-Cultural, apesar de a ele vivamente contrária, foi menos adversa ao conceito de evolução do que ao de «evolução igual e lenta» ou de «desenvolvimento uniforme», como escreveu G. Montandon. De facto, W. Schmidt, por exemplo, utiliza a noção de estádios de desenvolvimento. Por outro lado, a aceitação de correlações necessárias de instituições, como ê o caso da agricultura primitiva, iniciação feminina e matriarcado, conduz a um paralelismo, numa construção de sequências eventualmente repetitivas.
Em comparação com o difusionìsmo americano, a escola germano-austríaca usa o conceito de difusão com o cuidado de não o tornar tão «mecânico», tão «atomista».
A grande preocupação de Graebner era a determinação histórica e geográfica dos kulturkreise, isto é, eidos culturais, ou sejam os complexos culturais que compreendem «toda a categoria essencialmente necessária da cultura humana: a ergologia, a economia, a sociedade, os costumes, a religião.
Esta concepção, de ciclos culturais, trouxe uma contribuição importante para a ciência da cultura. Ela é diferente do conceito de área cultural. Esta é um equilíbrio de cultura de variada natureza e origem; no ciclo cultural, há uma multiplicidade de elementos culturais orgànicamente homogéneos ", Em segundo lugar, o ciclo cultural consta de elementos de todos os campos da cultura essencial e necessária à vida; na área cultural, o essencial é a reunião de particularidades características. Em terceiro lugar, esta última considera as culturas num dado momento da sua vida, é uma área cultural; aquele revela o passado e o presente, dando conta da sua evolução. Isto é: o ciclo cultural cuida não só da repartição geográfica do «complexo cultural», mas também de analisar a história da sua evolução.
Há um laço «orgânico» que, dentro de um mesmo ciclo cultural, une todos os seus elementos, laço de origem histórica. Cada ciclo cultural desenvolve-se a partir de um centro único, indo cobrir espaços de extensão variável.
Os principais critérios para a identificação dos ciclos culturais são de forma (inadequada) e de quantidade. Outros, como os critérios da afinidade, continuidade, são auxiliares. Quanto maior for a complexidade e o número dos elementos de um complexo cultural em dois pontos diferentes, tanto maior será a probabilidade da sua convergência. O critério de forma inadequada revela uma não-pertinência ou desnecessidade perante as condições naturais e os propósitos de utilidade imediata,
Graebner considera dois tipos principais de ciclos de cultura: o ciclo cultural ao modo de árvore genealógica e o ciclo cultural com difusão interrompida.
O Padre Schmidt distingue nove principais ciclos de cultura, de cuja difusão resultou o moderno cenário cultural: três ciclos primitivos ou arcaicos
1) dos Pigmeus da África e da Ásia,
2) dos povos primitivos do Ártico,
3) de alguns aborígenes da Austrália e povos comparáveis; três ciclos primários, representados
4) pelos povos recolectores,
5) pelos povos pastoris e
6) pelos grupos agricultores com certas regras de descendência matrilinear;
e três ciclos secundários, todos de povos agricultores, dois deles com formas especializadas de descendência matrilinear e um terceiro de descendência patrilinear, «no alvorecer da história escrita».
é inegável o contributo da Escola Histórico-Cultural para o progresso da Etnologia, Contudo, várias críticas lhe foram feitas.
Os ciclos culturais apresentam-se como compostos generalizados, sem se ter feito qualquer tentativa séria para determinar a sua origem, a sua existência no passado e a sua difusão em áreas tão separadas. Melhor seria que os trabalhos da escola germano-austríaca se cingissem a áreas mais restritas de investigação.
Os principais mestres da escola foram homens de gabinete, faltando-lhes a experiência do terreno. Foram notórios os defeitos de método na utilização dos factos etnográficos.
For outro lado» a concepção mística da vida e da experiência humana, tão fundamental para W. Schmidt, não podia deixar de ser criticada numa ciência que tanto almeja pela objectividade.
Para Graebner e outros dos seus discípulos, nos ciclos culturais, os traços individuais, quando se encontram simultaneamente em várias culturas, são demasiado simples, sem relações funcionais recíprocas Os funcionalistas haviam de pretender que» num todo cultural, todas as partes são interdependentes.
Finalmente» não podia passar em branco a natureza demasiado hipotética da teoria histórico-cultural. Graebner, ao aplicar o princípio da Ferninterpretation, não obstante as suas precauções, queria com isso dizer que bem poderia negligenciar-se o facto da distância quando dois elementos culturais, lògicamente idênticos, ainda que não-materiais, apresentam, em pontos diferentes, uma semelhança externa.
Compreende-se, pois, o descrédito em que caiu a escola germano-austríaca.
Cultura holística
Sendo que esses e todos os outros aspectos de uma cultura devem estar razoavelmente bem integrados para funcionar adequadamente, os antropólogos raramente se concentram em um aspecto cultural isoladamente. Em vez disso, eles vêem cada um no seu contexto maior e examinam cuidadosamente suas conexões com características relacionadas. Para fins de comparação e análise, os antropólogos habitualmente imaginam uma cultura como um sistema bem estruturado, composto por partes distintas que funcionam juntas como um todo organizado. Embora possam distinguir claramente cada parte como uma unidade claramente definida com suas próprias características e lugar especial dentro do sistema maior, os antropólogos reconhecem que a realidade social é complexa e mutável e que as divisões entre unidades culturais são muitas vezes erradas.
Estrutura, infraestrutura, superestrutura
De um modo geral, as características culturais de uma sociedade se enquadram em três categorias: estrutura social, infra-estrutura e superestrutura. A estrutura social diz respeito a relações regidas por regras - com todos os seus direitos e obrigações - que unem os membros de uma sociedade. Os agregados familiares, as famílias, as associações e as relações de poder, incluindo a política, fazem parte da estrutura social. Estabelece a coesão grupal e permite que as pessoas satisfaçam consistentemente suas necessidades básicas, incluindo alimentos e abrigo, para si e seus dependentes, por meio de trabalhos. Assim, há uma relação direta entre a estrutura social de um grupo e sua base econômica, que inclui práticas de subsistência e as ferramentas e outros equipamentos materiais usados para ganhar a vida. Como as práticas de subsistência envolvem o aproveitamento dos recursos disponíveis para satisfazer as necessidades básicas de uma sociedade, esse aspecto da cultura é conhecido como infra-estrutura. Apoiada por esta fundação econômica, uma sociedade é unida também por um sentido compartilhado de identidade e da cosmovisão. Este corpo coletivo de idéias, crenças e valores pelos quais os membros de uma sociedade dão sentido ao mundo - sua forma, desafios e oportunidades - e compreendem seu lugar nela é conhecido como ideologia ou superestrutura. Incluindo religião e ideologia nacional, a superestrutura compreende suas idéias abrangentes sobre si mesmas e tudo o mais ao seu redor - e dá sentido e direção a suas vidas. Influenciando e reforçando um ao outro, e adaptando-se continuamente aos fatores demográficos e ambientais em mudança, estas três estruturas interdependentes junto constituem um sistema cultural.
CULTURA Bakongo COMO SISTEMA INTEGRADO
A integração dos aspectos econômicos, sociais e ideológicos de uma cultura pode ser ilustrada pelos Bakongo, povo que vive no Norte de Angola, estudado nos anos 1950 pelos antropólogos Jean Cuvelier, Van Wing, George Balandier. A economia dos Bakongo depende do cultivo de plantas, da criação de suínos e ovinos, da caça e da pesca. Embora o cultivo da mandioca forneça a maioria da comida das pessoas, é através da criação de porcos, cabras e ovelhas que os homens alcançam algo.
Entre os Kapauku, a preparação das lavras é um trabalho complexo. A nova família deve contactar o Mfumu a Ntoto para receber e legalizar o seu talhão de terra. O marido com seus amigos e parentes deve desbravar da mata o terreno, fazer secar os paus e queimar. Mais tarde no começo das chuvas são às mulheres que compete semear. A sementeira é constituída por amendoim, feijão e batata-doce, cultivada em parcelas da lavra. De acordo com a cultura Bakongo, certas atividades de jardinagem e a manutenção são tarefas que se enquadram exclusivamente no domínio do trabalho das mulheres. Para ter muitas lavras e manifestar seu prestigio, um homem precisa de mais mulheres em casa; assim na sociedade bakongo as esposas múltiplas são permitidas somente, se o marido tem capacidade de mantê-las. Para cada mulher, no entanto, um homem deve pagar o preço do alambamento, e isso pode ser caro. Além disso, as esposas têm de ser compensadas pelo seu cuidado as lavras e os filhos, precisam de casa, roupa e talheres. Escusado será dizer que isso requer um empreendedorismo considerável. É essa capacidade que actualmente produz líderes na sociedade bakongo. A inter-relação destes elementos com várias outras características da cultura bakongo é ainda mais complicada. Por exemplo, uma condição que encorajava os homens a manter várias mulheres era um excesso de mulheres adultas, às vezes causadas pela perda de machos através da guerra. Este sistema mudou com o refoulement forçado de Bakongo angolanos presentes desde então da RDC. Entre os Bakongo o matrimonio é matrilinear e patrilocal. Com este arranjo, os homens de uma aldeia são tipicamente 'sangue' parentes uns dos outros, o que aumenta a sua capacidade de cooperar na economia, na caça e na organização social. Considerando tudo isso, faz sentido que os Bakongo traçam a sua descendência (ancestralidade) através de grupos linháticos matrilineares chamados kanda. No entanto juntamente com a matrilinearidade da kanda se afirma a importância da gestão e organização mascolina através da organização do lumbu com grupos parentais de descendência mascolina chamados kise. Portanto, não é de surpreender que as posições de liderança na sociedade bakongo sejam mantidas também por homens que se apropriam dos produtos do trabalho feminino para aumentar sua estatura política. Tal dominação masculina não é de modo algum característica de todas as sociedades humanas. Em vez disso, como nos Bakongo, ela surge apenas em circunstâncias particulares que, se mudadas, alterarão o modo como os homens e as mulheres se relacionam entre si.
Funções da Cultura
O antropólogo britânico Bronislaw Malinowski argumentou que as pessoas em todo o mundo compartilham certas necessidades biológicas e psicológicas e que a função final de todas as instituições culturais é satisfazer essas necessidades. Outros têm marcado diferentes critérios e categorias, mas a idéia é basicamente a mesma: uma cultura não pode suportar se não lidar eficazmente com os desafios básicos. Deve incluir estratégias para a produção e distribuição de bens e serviços considerados necessários para a vida. Para garantir a continuidade biológica de seus membros, ela também deve proporcionar uma estrutura social para reprodução e apoio mútuo. Ela deve oferecer maneiras de transmitir o conhecimento e enculturar novos membros para que eles possam contribuir para o bom funcionamento da sua comunidade como adultos. Ela deve facilitar a interação social e fornecer maneiras de evitar ou resolver conflitos dentro do seu grupo, bem como com os de fora. Uma vez que uma cultura deve apoiar todos os aspectos da vida, também deve atender as necessidades psicológicas e emocionais de seus membros. Esta última função é satisfeita, em parte, simplesmente pela medida de previsibilidade que cada cultura, como um projeto compartilhado de pensamento e ação, traz para a vida cotidiana. Claro que envolve muito mais do que isso, incluindo uma visão de mundo que ajuda as pessoas a entender o seu lugar no mundo e enfrentar grandes mudanças e desafios. Por exemplo, cada cultura fornece a seus membros certas idéias e rituais habituais que lhes permitem pensar criativamente sobre o significado da vida e da morte. Muitas culturas ainda tornam possível para as pessoas imaginarem uma vida após a morte. Convidados a suspender a descrença e a se envolver nessas crenças, as pessoas encontram os meios para lidar com o sofrimento de perder um ente querido. Em Luanda, por exemplo, na Camama os grupos de jovens realizam rituais de criatividade espectaculares no cimitério onde eles dançam com os caixões dos restos físicos de seus mortos. Depois de uma colorida procissão com músicos, o cadáver é levado para o enterro dentro do cimitério.
AS REGRAS CULTURAIS
As regras culturais ditam o modo pelo qual os impulsos biológicos básicos são expressos. O que é aprendido e internalizado por crianças humanas durante o processo de enculturação em diferentes culturas são regras culturais. As enormes variações entre as culturas se devem às diferenças culturais e às regras. Definir essas regras culturais é como tentar identificar as regras que governam uma linguagem. Todas as línguas operam de acordo com conjuntos de regras, e as pessoas as seguem em seus discursos. É o trabalho do linguista para determinar as regras de gramática que os falantes das línguas usam automaticamente e geralmente não estão cientes. Frequentemente, as pessoas podem dizer ao antropólogo quais são as regras culturais. Em outras ocasiões, eles podem se comportar de acordo com regras que eles próprios não podem verbalizar. O trabalho do antropólogo é descobrir as regras culturais das quais as pessoas podem não estar cientes a existência de regras não implica que falantes de uma língua ou membros de uma cultura sejam robôs que falam e agem de maneira idêntica. Cada criança aprende regras culturais de uma maneira distinta, e todo falante de uma língua tem a sua pronúncia distinta e especialidades linguísticas. A variação individual é considerável na linguagem falada, e está igualmente presente na cultura prática. As regras devem ser respeitadas e muitas vezes os indivíduos respondem às regras da mesma maneira. Mas acontece que o código é desrespeitado. Por fim, os indivíduos não são simplesmente receptores de cultura; eles são participantes ativos em refuncionalizar suas culturas e tradições. Como consequência, é a variação na observação das regras que regem o comportamento social em termos daquilo que é permitido, bem como quando, onde, e como, são altamente variáveis. Notamos anteriormente que trabalhadores e chefes têm perspectivas culturais diferentes. Seu repertório de regras culturais também podem variar. Da mesma forma, as subculturas também exibem variabilidade em suas regras culturais. Isso é chamado de variação intracultural. Ocasionalmente, como observamos acima, os indivíduos podem violar as regras culturais. Todas as culturas têm alguma provisão para sancionar a violação de regras culturais, bem como recompensas por obedecê-las. Da mesma forma que os conjuntos de regras culturais diferem, tanto recompensas quanto punições também diferem de uma cultura para outra. As regras culturais também mudam com o tempo. Quando muitos indivíduos insistentemente interpretam uma regra de forma diferente do que havia sido interpretado antes, o resultado será uma mudança na regra em si.
A SOCIEDADE
Outro conceito de paralelismo cultural é o da sociedade. A cultura lida com significados e simbolismos padronização, enquanto a sociedade tem sido usada para lidar com a organização das relações sociais dentro grupos. A cultura é distintiva unicamente dos seres humanos, embora existam alguns primatas que têm o que nós caracterizaram-se como protocultura. No entanto, todos os animais que vivem em grupos, os humanos entre eles, pode-se dizer que tem sociedades. Assim, uma colmeia de abelhas, uma matilha de lobos, uma manada de veados e uma tropa de babuínos constituem sociedades. Como em uma sociedade humana, os membros individuais de uma matilha de lobos são diferenciados como machos e fêmeas, como indivíduos imaturos e adultos, e como mães, pais e filhos.
Que existam semelhanças entre o lobo e as sociedades humanas não surpreende, já que tanto os lobos quanto os humanos são animais sociais. Hoje, não há entidades sociais absolutamente isoladas como eram sociedades no passado. Estados-nação que são entidades políticas independentes estão ligadas a outros estados. Muitos estados-nação são multiétnicos, contendo grupos com culturas e repertórios culturais diferentes. Embora os antropólogos possam começar as suas pesquisas com os grupos como se fossem entidades separadas enquanto sociedades, em última análise, a sua conexão social e cultural com outras grupos e ao Estado-nação devem ser considerados. Esses grupos compartilham idéias culturais e ainda outras idéias são contestadas, mas eles têm um património em comum como parte do estado-nação.
ESTRUTURA SOCIAL
Os padrões particulares de relações sociais que caracterizam uma sociedade ou grupo social são referidos como a sua estrutura social. Padrões de estrutura social são baseados em regras culturais. Sociedades ou grupos sociais podem ser organizadas com base na
- família,
- parentesco,
- afinidade residencial,
- interesse,
- amizade
- ou classe.
Esses agrupamentos têm continuidade no tempo. A estrutura distingue-se da organização social (Firth 1951). Enquanto a estrutura enfatiza a continuidade e estabilidade, a organização refere-se ao modo como os indivíduos percebem a estrutura e o contexto de qualquer situação e tomam decisões e escolhas entre os tipos alternativos de comportamento.
A Organização enfatiza fluxo e mudança e refere-se a variações no comportamento individual. Esta ênfase nas escolhas e decisões individuais também é definida como prática (Bourdieu, 1977). A praxe social refere-se ao ponto de vista do indivíduo que faz as escolhas. A gama de escolhas que as pessoas podem fazer a escolha é sempre moldada pela estrutura social. A ação que eles tomam enquanto 'agentes' pode servir para reconfigurar a estrutura social (Ahearn 2001: 115).
Em sociedades ou grupos sociais, os indivíduos geralmente ocupam mais de uma posição ou status ao mesmo tempo. Um indivíduo pode ser pai e chefe ao mesmo tempo. As Sociedades, variam no número e nos tipos de status sociais. O comportamento que é associado a um determinado status social em uma sociedade é conhecido como papel social. Os papéis sociais envolvem o comportamento em relação a outras pessoas. A Interação de pessoas em seus papéis sociais e a interação entre grupos definem dois tipos de relações sociais. Essas relações sociais podem ser analisadas em termos de diferenciais de poder, prestígio e acesso a recursos. O chefe tem mais poder, prestígio e recursos do que seus súbditos.
A desigualdade caracteriza muitos papéis sociais, de modo que um pai tem poder sobre seus filhos, um gerente tem poder sobre os trabalhadores, e um sargento tem poder sobre seu pelotão. A estrutura social contém uma rede de papéis sociais, isto é, o comportamento associado a uma determinada posição ou status, e uma distribuição de energia através dessa rede.
TEORIAS ANTROPOLÓGICAS
A disciplina da antropologia é profissionalizada há mais de 130 anos. Para mais claramente entender o trabalho que os antropólogos estão fazendo hoje, bem como os resultados de suas pesquisas anteriores, é necessário fazer um breve levantamento das abordagens teóricas e metodológicas significativas que marcaram, moldaram e focalizaram essa pesquisa. Quando a antropologia se desenvolveu durante o século dezanove, foi concebida como uma ciência, modelada a partir das ciências naturais. Esta imagem foi dominante até o início do século XX. Nas décadas que se seguiram a antropologia oscilou entre abordagens humanistas e científicas. Deve-se também considerar que o quadro dentro do qual os antropólogos trabalharam durante o século XIX e grande parte do século XX foi o dos impérios coloniais.
Evolucionismo cultural
O século XIX foi um período de expansão colonial e o desenvolvimento de grandes impérios pelas potências europeias. A teoria evolutiva darwiniana era dominante. O Darwinismo Social, que proclamava a sobrevivência do mais apto, foi usado para justificar a dominação dos povos nativos, bem como a exploração da subclasse nas sociedades industriais. Foi durante este período que a antropologia enquanto disciplina surgiu, e se concentrou no estudo dos povos indígenas das colônias que haviam sido estabelecidas. A teoria significativa da época era a evolução cultural. A contribuição de Edward Tylor (1871) foi definir cultura, o conceito central em antropologia, de uma maneira ampla e abrangente que incluía a linguagem e todas as demais características de um grupo social. Em geral, os antropólogos da época permaneciam em suas poltronas e utilizavam as relações de missionários, exploradores como o Cavazzi, viajantes como o Diogo Cão que explorou a costa angolana, e outros (Redinha, Estermann etc) que descreveram os povos nativos que eles encontraram em suas viagens. Muitas dessas descrições foram etnocêntricas e tendenciosas. Lewis Henry Morgan e Tylor, os principais teóricos do século XIX, conceituaram a evolução cultural em termos de etapas pelas quais todas as sociedades haviam progredido, com as sociedades simples tomando formas cada vez mais complexas, culminando em sua própria sociedade vitoriana. Dentro desta visão, algumas sociedades, ou seja, aquelas dos “selvagens” que foram encontradas pelos missionários e outros, representaram exemplos de etapas anteriores, isto é, exemplos de desenvolvimento ou sobrevivência pertencentes a estadeações precedentes. Os evolucionistas organizaram os seus dados e utilizaram a abordagem comparativa, descoberta inicialmente por Lafiteau. Eles procuraram semelhanças e diferenças nas culturas, classificaram-nas em modelos culturais, e sistematizaram os tipos culturais a partir do simples até o mais complexo. Eles eram etnocêntricos na suas avaliação de outras sociedades. Religião ocidental, vida familiar e assim por diante constituíam o apogeu do desenvolvimento evolutivo. A ênfase de Morgan na base econômica da sociedade como o fator determinante dos estágios da evolução cultural chamaram a atenção de Friedrich Engels. A Origem da Família, Propriedade Privada e Estado de Engels (1884) inclui uma reinterpretação da Ancient Society de Morgan (1877).
Relativismo cultural
Embora Franz Boas tenha começado como um defensor do ponto de vista evolucionista, seu trabalho de campo com os esquimós (conhecidos hoje como Inuit) da ilha de Baffin no final do século XIX, e um pouco mais tarde com uma variedade de sociedades da Costa Noroeste, especialmente o Kwakiutl, logo o levou a abandonar a abordagem evolutiva. Depois de aprender a língua Kwakiutl, ele veio a respeitar as diferenças significativas entre o modo como os Kwakiutl viam o mundo e o modo como as outras as pessoas o viam. Ele se afastou de uma perspectiva evolucionista, considerando todas as culturas e linguagens igualmente distintas e complexas de maneiras diferentes.
Particularismo histórico
Esta ênfase pelo particularismo veio a ser referida como relativismo cultural ou particularismo histórico. Boas viu as culturas como sistemas simbólicos de idéias. Seu trabalho enfatizou a coleta de textos na língua nativa sobre todos os aspectos da vida das pessoas, especialmente arte, mitologia e linguagem. Boas sentiu que os antropólogos deviam primeiro abordar a história do desenvolvimento das sociedades particulares, como aquela dos Kwakiutl e outras sociedades indígenas dos índios americanos. Esta abordagem passou a ser conhecida como particularismo histórico. A sua ênfase no relativismo cultural veio a ser associada à abordagem humanista que caracterizou o trabalho de seus alunos Benedict Ruth, Sapir e Kroeber
Funcionalismo
A reação britânica contra a teoria evolucionista do século XIX tomou uma forma um pouco diferente. Os antropólogos britânicos no início do século XX suplantaram a teoria evolucionista com um modelo derivado da biologia referente à sociedade como a um organismo vivo. Os princípios organizacionais básicos que eles usaram foram os conceitos interligados de estrutura e função.
Estrutura
Estrutura é uma descrição da forma e da relação das partes entre si,
função
a função se refere a como a estrutura funciona. Eles rejeitaram a especulação e a substituíram com o trabalho de campo.
trabalho de campo
Portanto determinantes pela pesquisa são as observações de campo empíricas feitas por antropólogos academicamente treinados que passaram um ano ou mais trabalhando com um grupo de pessoas, aprendendo a sua língua, observando e participando da sua cultura. Este trabalho de campo era realizado com indígenas que viviam sob um império colonial. Bronislaw Malinowski, um grande funcionalista, foi um dos fundadores do trabalho de campo antropológico moderno. Ele passou um longo período fazendo trabalho de campo nas Ilhas Trobriand na Nova Guiné. Ele identificou as instituições que compunham o “esqueleto” da sociedade (ou seja, a sua estrutura) e, em seguida, descreveu em detalhes como essas instituições funcionavam. Malinowski viu as instituições culturais funcionando em resposta às necessidades biológicas humanas básicas, bem como ao que ele chamou de necessidades culturalmente derivadas. Em seu trabalho de dois volumes, Coral Gardens and Their Magic (1935), ele descreveu aquela parte da instituição econômica dos trobriandeses preocupados com a horticultura. Ele descreveu a plantação e o cultivo de inhame, mas também os feitiços envolvidos no cultivo do inhame, e como os inhame eram usados no sistema de troca e de obrigações para com os parentes e chefes.
Radcliffe Brown
O outro funcionalista britânico, A. R. Radcliffe-Brown, optou por uma teoria um pouco diferente. Usando uma abordagem comparativa, ele tentou desenvolver tipologias para classificar e categorizar diferentes tipos de sociedades (1952). Ele estava preocupado com a 'anatomia' das sociedades, com a estrutura social, que ele definiu como ‘uma rede de relações sociais realmente existentes' (1952: 190). Para Radcliffe-Brown, a função de uma parte da estrutura social, como o grupo linhático, significava a contribuição feita pela linhagem para os processos de vida em curso da sociedade. Ele opunha-se fortemente à “história conjetural”, que tinha sido característica da teoria evolucionista. A história real, argumentava ele, existe apenas lá onde há registros escritos mantidos pelas próprias pessoas. Infelizmente, o efeito da posição de Radcliffe-Brown foi inibir todos os tipos de pesquisa histórica feitos por antropólogos britânicos por uma ou duas gerações. Com o colapso dos impérios coloniais após a Segunda Guerra Mundial, o arcabouço teórico funcionalista, que enfatizava as sociedades imutáveis existentes em um estado de equilíbrio, foi atacado. Antropólogos britânicos, como A. L. Epstein e Philip Mayer, começaram a seguir o povo tribal que tinha sido estudado antes, na sua transição para as cidades onde os indígenas foram contratados para trabalhar nas minas. Documentaram as mudanças econômicas e políticas que estavam ocorrendo nas suas vidas. Outros, rejeitaram a posição de Radcliffe-Brown contra a história conjetural, como E. E. Evans-Pritchard e M. G. Smith, e recorreram à pesquisa de arquivos para documentar as histórias das sociedades com as quais estavam realizando pesquisas etnográficas. Finalmente entrou em cena um modelo muito mais processual, que enfatizava não a estrutura social, mas os conceitos de organização social e a maneira como as estruturas mudam .
Estruturalismo
O estruturalismo como abordagem teórica está intimamente associado ao trabalho do antropólogo francês Claude Lévi-Strauss. Ele usou o método linguístico para analisar a cultura. Os sons articulados numa linguagem, por si só, não têm significado, mas fazem parte duma estrutura maior que transmite significados. Da mesma forma, os elementos de uma cultura devem ser vistos na sua relação uns com os outros à medida que formam uma estrutura que transmite significados culturais. O antropólogo estrutural tentou determinar a estrutura subjacente de uma cultura, que corresponde à gramática de uma língua na análise do linguista, e pode não estar na consciência do falante. Lévi-Strauss viu Boas como um seu precursor. Foi Boas que por primeiro salientou que a gramática de uma língua não fazia parte da consciência do falante e, de maneira paralela, que a cultura também tinha uma estrutura subjacente que funcionava da mesma maneira. Os estruturalistas analisaram os sistemas cognitivos, a estrutura de parentesco, a arte, a mitologia, o ritual e a cerimônia, entre outras coisas. Os antropólogos estruturais eram comparativos na medida em que tentavam determinar se havia semelhanças nas estruturas subjacentes em diferentes culturas. Assim, esta abordagem pode agrupar sociedades que parecem ser muito diferentes à primeira vista. O estruturalismo de Lévi Strauss foi fortemente rejeitado pelos pós-modernistas e pós-estruturalistas porque seus modelos eram abstratos demais e sua abordagem era basicamente a-histórica.
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3ª Lição 19 de Março 2024: Particularismo histórico
Particularismo historico
Com o tempo, a antropologia social britânica espalhar-se-ia por muitos países, tanto na Europa como noutros continentes. A antropologia social era um ramo da sociologia durkheimiana e as suas prioridades de investigação eram a estrutura social, as relações sociais e a interação social, o parentesco, a política e a economia. Os problemas que não encontravam espaço nesta definição (incluindo todas as questões históricas) eram considerados desinteressantes. A antiga definição "alemã" de cultura de Tylor foi-se desvanecendo. Como vimos, Radcliffe-Brown considerava a cultura um termo vago e pouco científico, e a sua orientação foi seguida pela maioria dos antropólogos sociais até aos anos 50. Nos EUA, a influência alemã foi mantida e a disciplina ficou conhecida como antropologia cultural. Aqui, a definição alargada de cultura de Tylor ainda dominava o campo. No sentido germano-americano (e tyloriano), cultura é um conceito muito mais amplo do que sociedade. Se a sociedade é constituída por normas sociais, instituições e relações, então a cultura é constituída por tudo o que o homem criou, incluindo a sociedade: fenómenos materiais (um campo, um arado, um quadro), condições sociais (casamento, agregados familiares, o Estado), técnicas corporais (dança, habilidades manuais, perceção dos sentidos) e significado simbólico (linguagem, ritual, crença). A antropologia era a ciência humanista, a ciência da humanidade, e estava, literalmente, preocupada com tudo o que era humano. Boas reconheceu que nenhum indivíduo poderia contribuir de forma igual para todas as partes deste vasto tema (embora ele próprio tenha feito tentativas heróicas) e defendeu uma "abordagem em quatro campos", dividindo a antropologia em linguística, antropologia física, arqueologia e antropologia cultural (que incluía a antropologia social). Os estudantes eram formados nos quatro campos, especializando-se mais tarde num deles. A especialização foi, assim, parte integrante da antropologia americana desde o seu início, enquanto na Grã-Bretanha e em França se manteve o ideal de uma abordagem mais generalista, embora na Grã-Bretanha, pelo menos, a restrição à "sociedade" era efetivamente uma especialização de pleno direito. Já na década de 1930, existiam nos Estados Unidos equipas de investigação bem estabelecidas, especializadas, por exemplo, em línguas nativas da América do Norte. Os escritos de Boas abrangiam amplamente os quatro "campos", com uma inclinação para o quarto campo, a antropologia cultural. Em 1883-84, Boas realizou uma longa investigação individual no terreno entre os Inuit , mas também trabalhou com assistentes que recolheram material sobre os Kwakiutl da costa noroeste e outros povos nativos americanos. Durante o trabalho de campo, recorreu a membros da tribo em estudo com conhecimentos linguísticos , que registaram, discutiram e interpretaram as declarações dos informadores. Alguns desses colaboradores, nomeadamente o prodigioso George Hunt (1854-1933), que co-escreveu vários dos livros de Boas sobre os Kwakiutl e lhe forneceu milhares de páginas de documentação etnográfica, foram mais tarde reconhecidos como académicos antropológicos por direito próprio. O trabalho de campo, tal como Boas o via, era frequentemente colaborativo e não pressupunha necessariamente um investigador solitário sujeito às tensões de longo prazo de uma "imersão" contínua no terreno. As estadias individuais no terreno eram frequentemente curtas e, mesmo durante as viagens mais longas, Boas viajava muito entre grupos locais (cerca de 5000 quilómetros durante o seu ano entre os Inuit). No entanto, os projectos eram frequentemente de "longa duração" num outro sentido, uma vez que as estadias eram repetidas muitas vezes ao longo dos anos, frequentemente por várias pessoas que colaboravam no projeto (Foster , 1979; Silverman 2005). Esta estratégia metodológica tinha precursores na tradição alemã e era, além disso, uma abordagem natural, dado que "o campo" estava próximo, nos EUA, e não a continentes de distância, como na Grã-Bretanha. Ao contrário dos seus contemporâneos britânicos, Boas não era hostil à reconstrução histórica. A história cultural dos nativos americanos era parte integrante da sua agenda de investigação, e incluía a antropologia física e a arqueologia como partes do empreendimento antropológico holístico. A sua orientação básica continuou a ser a de um historiador cultural, e a escola a que está associado é frequentemente designada, de forma vaga, por particularismo histórico. Tal como Bastian , defendia que cada cultura tinha os seus próprios valores e uma história única, que os antropólogos podiam tentar reconstruir. Via um valor intrínseco na pluralidade das práticas culturais e era profundamente cético em relação a qualquer tentativa, política ou académica, de minar esta diversidade. Escrevendo sobre a dança Kwakiutl, por exemplo, ele diz que ela ilustra a abordagem da cultura ao ritmo e não pode ser reduzida a uma mera "função" da sociedade (como a "escola britânica" preferia). É preciso perguntar o que é que a
O início do século XX foi marcado por várias reações ao evolucionismo do século XIX. Na Grã-Bretanha, os funcionalistas como Malinowski e Alfred Reginald Radcliffe Brown abandonaram o historicismo especulativo dos evolucionistas em favor de estudos das sociedades vivas de hoje. Nos Estados Unidos, Boas e seus seguidores rejeitaram a busca por estágios evolutivos em favor de uma abordagem histórica que traçava empréstimos entre culturas e a disseminação de características culturais por áreas geográficas (Boas , 2005). O ritmo é para as pessoas que o dançam, e a resposta só pode ser encontrada explorando os estados emocionais que geram e são gerados pelo ritmo (Boas 1927). Como crítico incansável do racismo e da ciência que o inspirava, Boas foi uma presença muito visível no debate público americano. Contra os académicos que afirmavam que as "raças" tinham diferentes potenciais inatos de desenvolvimento cultural, Boas argumentava que a cultura era sui generis - a sua própria fonte - e que as diferenças inatas não podiam explicar a impressionante gama de variações culturais que os antropólogos já tinham documentado. O termo relativismo cultural, a que nos referimos acima, foi cunhado por Boas. Nos nossos dias, pergunta-se frequentemente se o relativismo deve ser entendido como um imperativo metodológico ou moral, e a resposta mais frequente é que se trata de método: sem relativizar a nossa própria cultura, não podemos ter esperança de compreender outra. Para Boas, isto pareceria, sem dúvida, um exagero. Boas dominou a antropologia americana durante quatro décadas, mas não deixou nenhuma grande teoria ou obra monumental que seja lida pelas gerações seguintes de antropólogos. Isto reflecte a sua desconfiança em relação a grandes generalizações. Durante os anos que passou com Bastian, foi alertado para os perigos de uma teorização vazia, e levou estes avisos a peito. Nos seus escritos, tenta identificar as circunstâncias únicas que geram determinadas culturas ou padrões culturais, quase nunca chegando a conclusões gerais. Foi cauteloso no uso da comparação, que muito facilmente estabelecia semelhanças espúrias entre circunstâncias que eram fundamentalmente diferentes. Há, portanto, um sentido em que Boas era um individualista metodológico, na medida em que procurava a instância particular e não o esquema geral. Os alunos de Boas incluem quase todos os antropólogos americanos importantes da geração seguinte (com algumas excepções, às quais voltaremos). Entre eles estavam Alfred L. Kroeber, que com Robert H. Lowie, seu colega de longa data e também historiador cultural, fundou o Departamento de Antropologia de Berkeley; Edward Sapir, que fundou o Departamento de Antropologia de Yale e a escola de "etnolinguística"; Melville Herskovits, que estabeleceu os estudos afro-americanos nos Estados Unidos; Ruth Benedict, amiga íntima e colaboradora de Boas, que fundou a escola de "cultura e personalidade "; e Margaret Mead, a mais nova da ninhada, que continuou o trabalho de Benedict Como esta lista indica, a antropologia cultural defendida por Boas evoluiu em várias direcções durante a sua vida. Seguiu-se uma maior diversificação na década de 1950, quando Morgan foi redescoberto e os associados de Radcliffe-Brown em Chicago desenvolveram uma antropologia social ao estilo britânico. No entanto, o legado de Boas permanece no coração da antropologia americana.
Funcionalistas e boasianos viam as culturas como algo integradas e governadas por padrões. Os funcionalistas, em especial, viam as sociedades como sistemas em que as várias partes trabalhavam juntas para manter o todo. Em meados do século XX, após a Segunda Guerra Mundial e o colapso do colonialismo, houve um interesse revitalizado pela mudança, incluindo novas abordagens evolutivas. Outros antropólogos concentraram-se em fundamentos simbólicos e na natureza da cultura, usando abordagens simbólicas e interpretativas para descobrir padrões e significados. Na década de 1980, os antropólogos se interessaram mais pela relação entre cultura e indivíduo e pelo papel da ação humana (agência) na transformação da cultura. Houve também um ressurgimento de abordagens históricas, incluindo aquelas que viam culturas locais em relação ao colonialismo e ao sistema mundial. A antropologia contemporânea é marcada por sua crescente especialização, baseada em temas e identidades especiais.
Quatro sub-campos
Como reflexo dessa especialização, algumas universidades se afastaram da visão holística e biocultural da antropologia. No entanto, a perspectiva boasiana da antropologia como uma disciplina com quatro subcampos - que inclui
1 antropologia biológica,
2 arqueológica,
3 Antropologia cultural e
4 antropologia linguística -
continua com sucesso em muitas universidades também.
Especificamente, Boas se oporá ao MÉTODO e abordagem DOS EVOLUCIONISTAS fundando um método de estudo das culturas centrado na RELAÇÃO DIRETA com o OBJETO de investigação, conhecimento da língua e verificações históricas precisas sobre a emergência e imposição de traços culturais.
Boas foi referência para gerações de antropólogos americanos - Kroeber Lowie Benedic Mead.
PARTICULARISMO
Franz Boas (1858-1942) fundador
Alfred L. Kroeber (1876-1960)
Robert Lowie (1883-1957)
Cada cultura deve ser estudada e compreendida em relação ao ambiente específico em que se desenvolve e aos problemas que enfrenta. Apoia o estudo e o conhecimento das culturas na sua singularidade.
Compreender o ponto de vista do nativo. Irredutibilidade das culturas a um esquema evolutivo unitário. A ênfase é colocada no significado diferente que fenómenos culturais semelhantes podem ter em contextos culturais heterogéneos. [alguns termos iguais podem significar coisas diferentes em códigos linguísticos diferentes]
O objectivo é o conhecimento das causas históricas que determinam a configuração dos traços culturais de uma determinada população. Os particularistas aceitam a definição de cultura de Tylor (em uma grande caixa há muitos pequenos elementos: religião, leis, direitos, idiomas, culinária, família linguística...), mas, ao contrário dos evolucionistas, os particularistas veem uma pluralidade na cultura
Durante a primeira metade do século XX, a antropologia nos Estados Unidos foi caracterizada pela evitação programática de toda síntese teórica. A estratégia básica de pesquisa daquele período foi a formulada por Franz Boas. Uma das figuras mais influentes da história das ciências sociais. Boas foi guiado por um senso distinto de pureza indutiva que transmitiu a toda uma geração de prosélitos. Era um credo que paradoxalmente negava sua própria existência. A única coisa que seus discípulos estavam dispostos a reconhecer que Boas lhes ensinara era servir seus próprios interesses variados, atentos aos dados, livres de preconceitos e desconfiados de todos os esquemas. Mas que Boas era o centro de uma escola, foi negado abertamente. Em vez disso, eles pensavam que a missão de Boas era expulsar os fãs e especialistas em gabinetes da antropologia, fazendo da pesquisa de campo etnográfica a experiência central e o atributo mínimo do status profissional. No entanto, com o tempo, certo tema central acabou sendo associado ao período boasiano, e é o que sugere o título: particularismo histórico. A perspectiva com a qual podemos contemplar o período boasiano hoje não diminui de forma alguma a importância da contribuição de Boas para o desenvolvimento da antropologia ou da teoria antropológica. É verdade que a estratégia do particularismo histórico exigia uma suavidade quase total da dialética normal entre fatos e teoria. Os processos causais, as tendências, os paralelos, foram enterrados por uma avalanche de cessões negativas. Também é verdade que a tentativa de melhorar a qualidade da pesquisa etnográfica, sujeitando-a a critérios de verificação mais rigorosos, teve apenas um êxito moderado e ainda precisamos levar em conta os inúmeros casos em que Boas e seus discípulos deformaram os fatos como tantos outros antes. E depois deles. Mas os critérios propostos por Boas continuam sendo a parte permanente de seu legado. Aqueles que dizem que Boas atrasou o progresso da antropologia como ciência não valorizam adequadamente as forças culturais ocultas após a reforma do particularismo histórico. Havia limites ideológicos culturalmente determinados e a teoria antropológica foi forçada a aderir a eles. Os transgressores não deixaram herança da qual hoje temos conhecimento no campo da antropologia. Boas e a primeira geração de seus discípulos foram forçados a construir uma antropologia profissional universitária, praticamente a partir de suas fundações. E eles fizeram isso com sucesso notável, se você levar em conta os inúmeros obstáculos que eles tiveram
Escola do particularismo histórico
Os limites culturalmente prescritos não eram tão estreitos nem bem definidos que não havia opções. Basta considerar o destino da antropologia na União Soviética, na Alemanha e na Itália durante o mesmo período para perceber que, mesmo que o particularismo histórico fosse essencialmente negativo e teoricamente estéril, ele não deixou de se livrar das piores armadilhas da Seu tempo. A lista de antropólogos que, entre os discípulos de Boas, alcançou fama e influência, atesta sua importância capital na história da disciplina: Alfred Kroeber, Robert Lowie, Fay-Cooper Cale, Edward Sapir, MelvilIe Herskovits, Alexander Goldenweiser, Alexander Lesser, Paul Radin, Clark Wissler, Leslie Spier, J. Alden Mason, E. Adamson Hoebel. Ruth Benedict, Margaret Mead, Ruth BW1Zel, Jules Henry, M.F. Ashley Montagu e Frank Speck. Esses discípulos, por sua vez, continuaram as principais linhas de desenvolvimento da pesquisa e instrução antropológicas em instituições cruciais em todo o país. Por exemplo, Kroeber e Lowie, em Berkeley; Cale e Sapir, em Chicago; Herskovits, na North Western University. Quanto a Boas, ele pessoalmente manteve o controle patriarcal sobre a antropologia na Columbia, de 1896 até sua morte em 1941. Além disso, foi o centro de uma série de eventos fundamentais decisivos, como a modernização da revista. Antropólogo americano em 1889, a fundação da American Anthropological Association em 1900, a revitalização da American Ethnological Society no mesmo ano e a fundação da American Folk-Lore Society em 1888. Os sucessos de Boas como professor, pesquisador, administrador, Fundador e presidente de sociedades, editor, palestrante e viajante são impossíveis de listar. E para quem já enfrentou o dilema, publicou ou pereceu, o fato de toda essa atividade ter sido acompanhada pela publicação de uma torrente de livros e artigos é quase aterrador. Além de meia dúzia de livros, Boas publicou setecentos artigos (LEsSER, 1968, p. 26). O tamanho de Boas cresce a cada ano que passa, e seu trabalho nos dá a medida de nossos próprios instintos.Para entender a antropologia do século XX, devemos deixar de lado a imagem de Boas como pai, como herói e como guru. Concentro nossa atenção na tarefa de colocar sua contribuição para a teoria dentro das tendências de sua época. Devemos nos elevar acima das personalidades e adotar uma perspectiva cultural. Ao fazê-lo, prestamos homenagem à crítica objetiva, mais valiosa do que a dos panegiristas que impedem nossa compreensão de Boas e de nós mesmos.
Imagine di Boas
Margaret Mead escreveu: É característico que não haja métodos que levem o nome de Boas. Nem existe uma escola boasiana (1959b, página 31). Durante uma discussão com o crítico sul-africano A. W. Hoérnle (1939), Kroeber também expressou sua convicção de que não há escola Boas em 220 Marvin Harris e nunca houve> (1935. p. 540). Muitos dos discípulos de Boas parecem ter compartilhado essa visão de si mesmos e, em mais de um aspecto, essa crença pode ser considerada em si mesma como a característica central da posição boasiana. Segundo Kroeber, programas partidários e de propaganda eram um sinal da imaturidade das ciências sociais. Costumava dizer que não há escolas de física: mas apenas físicos que fazem seu trabalho com todas as técnicas científicas à sua disposição. Com Boas, a antropologia atingiu sua maturidade e sua influência deixou de ser 'a escolha de um único método, psicológico, sociológico, difusionista, funcional ou histórico-cultural, como se constituísse um caminho de conhecimento superior aos demais' (ibidem ) Para Margaret Mead, Boas foi 'o homem que transformou a antropologia em ciência' (1959b, página 35). A imagem que De Boas preferia fazer de seus discípulos era a de um cientista profissional que havia elevado os métodos de pesquisa antropológica e os critérios de verificação a níveis em que até os físicos podiam se sentir à vontade. Nesse sentido, os discípulos insistiram repetidamente na natureza especial do doutorado de Boas. Sua tese principal é. Ele havia se apresentado à Universidade de Kiel em 1881, e era um estudo sobre a cor da água do mar. Ele havia estudado física e geografia em Heidelberg e Bonn e também havia recebido uma sólida formação matemática. Para Kroeber, é nessa formação que a chave para as 'eñtenae' deve ser buscada para o papel que Boas desempenhou: a partir da física, Boas trouxe à antropologia um sentido da definição do problema. Do rigor exato do método e de uma objetividade altamente crítica. Ele soube manter essas qualidades intactas e transmiti-las à antropologia: é aí que reside sua contribuição fundamental e imperecível à nossa disciplina [KROEBBR, 1935, p. 540] Para Goldenweíser, Boas era o 'herói cultural' da antropologia. Como os heróis dos mitos primitivos que dão ao homem tudo o que é essencial para sua vida, Boas deu à antropologia o dom da ciência: as mitologias indianas falam de heróis culturais, animais ou pássaros sobrenaturais que concedem cultura ao homem, ensinam-lhe As artes e ofícios revelam canções e cerimônias. Pela antropologia deste país. Franz Boas O 'homem' era um desses heróis culturais: educado na atmosfera e nos métodos das ciências naturais e treinado nos ideais acadêmicos da Alemanha antes da guerra, ele deu à antropologia americana esse esclarecimento sobre as questões e que Rigor científico tão necessário [GOLDENWEISER, 1941, p. 153] Segundo Ruth Benedict, “Boas encontrou uma antropologia que nada mais era do que uma coleção de conjecturas sem base, um campo de caça para amantes românticos de coisas primitivas; e Ele a havia transformado em uma disciplina na qual as teorias poderiam ser postas à prova. (1943, página 61; citado em WHITE, 1963, p. 67) Lowie, como veremos em mais detalhes posteriormente, equipara Boas a O físico e o filósofo Ernst Mach: os dois desenvolveram critérios de teste mais rigorosos e aperfeiçoaram o método científico.
Os contemporâneos de Boas
Há uma grande dose de verdade nesses retratos. Boas era uma verdadeira força da sobriedade científica em comparação com a maioria de seus contemporâneos. Embora sua cautela contra generalizações retrospectivas pareça exagerada e derrotista, não há dúvida de que os critérios de seus contemporâneos eram absolutamente indefensáveis. Sem uma base sólida nas universidades, as questões antropológicas eram presas fáceis para todos os tipos de amadores imaginativos. Considere, por exemplo, esta descrição de que o comportamento dos chimpanzés foi publicado nas páginas do Antropólogo Americano em 1893: Calveros são usados por chimpanzés Levantar imensas piras de Ieña secas. Quando a pilha está completa, um dos chimpanzés começa a soprar na direção da pira como se estivesse abanando o fogo. Imediatamente outros se juntam a ele e, depois de um tempo, toda a companhia, e continuam soprando até que as línguas caiam de suas bocas. Então eles se agacham ao redor da pilha com os cotovelos nos joelhos e as mãos voltadas para o fogo imaginário. Quando o tempo está úmido. Eles costumam passar horas sentados dessa maneira [BUITBKOPER, 1893, p. 337] Deve-se lembrar que muitos dos contemporâneos de Boas, por temperamento, foram incapazes de se submeter à disciplina científica. Era uma época em que as pessoas da segunda e terceira fila usavam livremente a licença para generalizar com base em evidências fragmentárias. Lester Ward, um dos fundadores da sociologia americana, é um caso extremo. Em sua resenha de um livro sobre a origem da vida, ele não teve escrúpulos em escrever o seguinte: O livro é puramente teórico e não apresenta fatos de nenhum tipo. Isso não é uma crítica ao livro. Pelo contrário, essa é uma de suas belezas. Quem lê o livro pode perceber que a cabeça do autor está cheia de fatos e que o que ele tenta fazer é argumentar a partir desses fatos para chegar a certas conclusões. Aqueles que falam depreciativamente desse método geralmente são incapazes de usar seus fatos, por mais que conheçam [WARD, 1904, p. 151] Como a teoria da cultura era dominada nos Estados Unidos por uma espécie de mistura do evolucionismo de Spencer e Morgan, era perfeitamente esperado que, com a licença metodológica vigente, ele frequentemente pecasse em nome de reconstruções evolutivas. William McGee, por exemplo, que foi o primeiro presidente da Associação Antropológica Americana, repetidamente se considerou culpado de reconstruções ingênuas, cheias de exaltações jingoísticas spencerianas do sucesso evolutivo dos Estados Unidos: assim como o patriarcado deixa seu lugar na hierarquia, e A hierarquia para a monarquia absoluta, a monarquia limitada está deixando a sua própria democracia ou republicanismo; A nação mais avançada do mundo já é uma república. E todas as outras nações civilizadas são republicanas ou estão passando por mudanças que as aproximam do republicanismo. Assim, de acordo com a experiência dos séculos, a melhor nação é republicana e o melhor cidadão é o indivíduo adaptado à vida em condições republicanas [MCGEE, 1894; p. 353].
Racismo
McGee é uma mina inesgotável de todos os erros de substância e teoria que é possível cometer quando o que passa pela experiência científica nada mais é do que um disfarce dos preconceitos mais vulgares. Para entender como o trabalho de Boas pode significar um reavivamento em todos os campos da antropologia, devemos lembrar que pessoas como McGee costumam ter opiniões tão imperfeitamente patentes que, assim que alguém as desafia e mostra sua inanidade, desmorona e deixa para trás Por si só um vazio quase total. As idéias de McGee sobre a conexão entre raça e linguagem são chocantes. Tentando explicar a superioridade 'do simples,
Linguagem e escrita tangíveis e definidas de anglo-saxão »afirma: Possivelmente o sangue anglo-saxão é mais potente que o das outras raças; Mas é preciso lembrar que a língua anglo-saxônica é a mais simples, a mais perfeita e simplesmente simbólica que o mundo já viu; E que, graças a ele, o anglo-saxão mantém sua vitalidade e energia para a conquista, em vez de desperdiçá-las no Juggernaut de um mecanismo pesado para a comunicação do pensamento [MCGEE, 1895a, p. 281] Essa confusão que McGee incorre, de raça com língua e cultura, era representativa da opinião educada, tanto na antropologia quanto em geral na sociedade ocidental. A redução dos povos primitivos contemporâneos no nível dos antropoides foi, como vimos, uma expressão importante do imperialismo euro-americano. A versão de McGee é especialmente detestável: 'A natureza é extremamente próxima das espécies sub-humanas em todos os aspectos de sua mentalidade, bem como em seus hábitos corporais e em sua estrutura corporal' (MCGEB, 1901, p. 13). John Powell, fundador em 1879 do American Bureau of Ethnology, foi outro especulador influente no campo do evolucionismo antropológico, mas sem a menor base ou disciplina. Como muitos de seus contemporâneos, Powell conseguiu esclarecer em um único discurso inaugural toda a história da humanidade, com uma amplitude de visão e entendimento que nem Turgot nem Condorcet foram capazes de superar. Numa síntese colossal, ele organizou os estágios da evolução em quatro graus: selvageria, barbárie, monarquia e democracia. Em seguida, ele designou para cada uma dessas séries instituições sociais específicas, como a família para a selvageria, as pessoas para a barbárie etc. Na música, os estádios eram ritmo, melodia, harmonia e sinfonia. Em estética, dança, sacrifício, cerimônia, arte histriônica; Em tecnologia, caça, agricultura, artesanato e machinismo (POWELL, 1899). Um dos antropólogos contemporâneos mais influentes de Boas foi Daniel G. Brinton. Em seu discurso presidencial na Associação Americana para o Avanço da Ciência, Brinton reafirmou a posição de Spencer:
'As raças preta, amarela e vermelha diferem anatomicamente da branca, especialmente em seus órgãos esplâncnicos, tanto que, mesmo com a mesma capacidade cerebral, nunca alcançarão resultados iguais' (1896, p. 12). Brinton é especialmente importante para entender a famosa crítica de Boas ao método comparativo (1896b). Foi em Brinton mais do que em Margan ou em Tylor que Boas pensou em denunciar a cautela insuficiente com a qual as seqüências paralelas universais eram reconstruídas.
Critica de método comparativo
Qual foi, então, a verdadeira reação de Boas à convicção generalizada de uniformidade e até monotonia do campo evolutivo? A questão fundamental levantada em 'As limitações do método comparativo' é o problema de separar os exemplos de convergência dos exemplos de evolução paralela. Ele não duvidava da existência de muitas semelhanças culturais notáveis que não podiam ser explicadas pela difusão. Mas o fato de fenômenos como xamanismo, o conceito de vida futura, o uso do arco, desenhos geométricos, máscaras e muitos outros elementos serem apresentados em lugares distantes não é suficiente para estabelecer a uniformidade da história. A conclusão de que essas são uniformidades evolutivas, ou seja, seqüências evolutivas paralelas, não pode ser passada até que certos tipos de dados tenham sido coletados, a saber: os fatos das seqüências históricas pelas quais nas diferentes Áreas locais particulares passaram a ser fenômenos observados. O fato de muitas características fundamentais da cultura serem universais, ou pelo menos ocorrerem em muitas áreas isoladas, interpretadas a partir do pressuposto de que as mesmas características devem sempre ter sido desenvolvidas pelas mesmas causas, nos levaria à conclusão de Que existe um grande sistema, segundo o qual a humanidade se desenvolveu em toda parte; Que todas as variações que aparecem não são detalhes menores nessa grande evolução uniforme. É claro que a base lógica dessa teoria é a suposição de que os mesmos fenômenos são sempre devidos às mesmas causas [BOAS, 1948, p. 275; Original, 1896b]. Mas essa suposição, argumenta Boas, é claramente falsa em um grande número de exemplos concretos. Os clãs, por exemplo, parecem prosseguir entre os navajos da fusão de grupos separados, mas entre as tribos do noroeste são o resultado da fissão das cidades. Os desenhos geométricos não são necessariamente explicados, como argumentam Hjalmar Stolpe (1891) e AlfredHaddon (1895), pela convencionalização gradual de representações realistas, mas que «a partir de um número infinito de diferentes pontos de partida, eles foram capazes de seguir quatro linhas diferentes de desenvolvimento. ». Outro exemplo: em alguns lugares, as máscaras são usadas como figurinos, para que os maus espíritos não reconheçam seus usuários; Em outros, eles se afastam para assustar pessoas e espíritos, e em outros, em suma, para comemorar um parente falecido. Parece improvável, portanto, que a mesma sequência causal possa explicar em todos os lugares o desenvolvimento desses fenômenos. Assim pois. Devemos pensar que todas as tentativas engenhosas de construir um grande sistema de evolução da sociedade não têm mais do que um valor muito duvidoso se não nos derem ao mesmo tempo a prova de que os mesmos fenômenos sempre tiveram a mesma origem. Embora isso não seja feito, a presunção deve sempre ser que o desenvolvimento histórico possa ter seguido uma ampla variedade de caminhos [BOAS, 1948, página 275]. Ao insistir na variedade da história, é óbvio que Boas se posicionou contra os esquemas evolutivos que incluíam toda a humanidade em uma única fórmula de desenvolvimento. Mas, no contexto de sua época, o desrespeito à moda de paralelos universais de base puramente lógica era mais do que justificado. Isso não significa que Boas conscientemente se estabeleceu como defensor da proposição de que não há regularidades na história, mas que ele estava ciente de que o escopo das regularidades havia sido superestimado. Oprimido pela livre especulação de que seus contemporâneos eram arrogantes como sua prerrogativa profissional, Boas lutou para restaurar o equilíbrio. A longo prazo, as duas perspectivas eram necessárias: particularização e generalização. Mas a prioridade do momento correspondeu ao estudo de seqüências específicas em áreas bem definidas. O método comparativo e o método histórico, se eu puder usar esses termos, estão resolvendo a supremacia há muito tempo. Mas devemos esperar que cada um encontre o seu lugar e função mais adequados em breve. [...] O método comparativo, apesar de tudo o que foi dito e escrito em seus elogios, foi incapaz de obter resultados precisos, e Na minha opinião, não será proveitoso até desistirmos do esforço vã para construir uma história uniforme e sistemática da evolução da cultura e começarmos a fazer nossas comparações na base mais sólida e ampla que ousei esboçar. Até hoje, tudo o que temos são vaguidades mais ou menos desiguais. Ainda temos um trabalho sólido a fazer [ibidem, p. 280).
Boas contra o evolucionismo
Esperava-se que a transgressão das regras científicas ocorresse especialmente naquelas cuja ignorância e incompetência fossem estimuladas pelo dogma ideológico dominante, que era o evolucionismo spenceniano. Quando surgiram esquemas alternativos, de reivindicações igualmente ambiciosas e conteúdo igualmente vago, mas não mais relacionados ao evolucionismo, Boas reagiu contra eles com o mesmo vigor. O interesse inicial que Boas demonstrou na mitologia e no folclore foi baseado em sua convicção de que esses materiais poderiam ser úteis na tentativa de distinguir traços inventados independentemente de traços difusos. Assim, seu estudo da difusão do mito americano de Cuer.va ofereceu-lhe a oportunidade de fazer uma crítica de muitas suposições fáceis sobre a evolução paralela. Mas Boas demonstrou claramente que não estava disposto a abraçar a causa do evolucionismo dogmático. O seu interesse. O foco principal foi a conquista de altos níveis de cientificidade. Se queremos avançar na linha desejada, devemos insistir na necessidade de usar métodos críticos, baseados não em generalidades, mas em cada caso individual. Em muitos casos, a decisão final será favorável à origem independente; Em outros, a favor da difusão [ibidem, p. 435; Original, 1896a}. Boas tentou manter esse equilíbrio ao longo de sua carreira. Criticando uma obra de Leo Frobenius, um dos autores mais importantes da escola difusionista alemã, escreveu: ... Seguindo os métodos que este livro se aplica, você pode tentar qualquer coisa. É ficção e não ciência »(BOAS, 1899b. P. 755). Com Fritz Graebner. O principal arquiteto da metodologia difusionista alemã, era mais respeitoso, mas não menos crítico. Invenção independente, evolução paralela e convergência, todos os três são fatos comuns da história da cultura. Embora Boas concordasse com Graebner de que a disseminação é mais consciente do que uma invenção independente, ele não achou que seria suficiente para dar explicações difusionistas até que a viabilidade dos contactos geográficos fosse demonstrada. A generalização prematura também parecia o pior erro aqui. Prefiro repetir aqui o aviso que fiz repetidamente nos últimos dez anos: é melhor ser cauteloso ao admitir a transmissão como causa de analogias nos casos em que fenômenos semelhantes ocorrem esporadicamente, para não operar com o conceito de Os elos perdidos de uma cadeia de relações culturais [BOAS, 1948, p. 303; Original, 1911].
Puritanismo metodológico
Boas raramente se dava ao luxo de acreditar que nem ele próprio era
No auge dos níveis que eu queria impor. Parecia que a orgia da especulação evolucionista e difusionista o havia enojado tanto que ele não podia mais se sentir à vontade com qualquer generalização.
Kroeber, Lowie, Sapir, Bunzel e muitos outros sublinharam esse aspecto do trabalho de Boas, sem a compilação que Leslie White fez de vários casos em que o próprio Boas chegou a conclusões especulativas (1963, pp. 41, ss.) Pode ser considerado um contra-teste válido. Não há dúvida de que os esforços de Boas para reconstruir a história de vários grupos dos índios americanos geralmente se baseiam em evidências muito precárias. Mais tarde, quando julgarmos a influência que Boas teve no desenvolvimento da teoria antropológica, teremos que voltar a algumas dessas conclusões especulativas. Mas parece-me que White exagera esses lapsos. Afinal, como White e muitos outros críticos apontaram, a principal objeção contra a perspectiva boasiana é que ele o levou a fazer uma vasta compilação de materiais, textos e descrições principais, sem praticamente fazer o menor esforço para guiar o leitor. Generalizações, mesmo que fossem apenas provisórias e de escopo restrito. De acordo com Helen Codere (1959, p. 61), apenas na costa noroeste Boas publicou mais de dez mil páginas e, como o próprio White apontou, a maioria delas é sem comentários, sem a menor informação necessária para torná-las inteligíveis. Allector (WHITE, 1963, p. 55). Nesse oceano de dados, as especulações que White denuncia são simples excrescências, cujo desaparecimento Boas teria aceito com perfeita equanimidade. Comparado a seus contemporâneos, Boas permaneceu fiel a seus princípios indutivos. Que ele não inaugurou o reino da verdade absoluta, é algo que não é preciso dizer. Mas superou a maioria dos antropólogos anteriores e subsequentes em sua preocupação em apresentar as evidências sobre as quais eles poderiam construir suas afirmações etnográficas. Vamos admitir que o empirismo de Boas implicava demandas que nem ele poderia satisfazer. Sem dúvida, seus discípulos estavam condenados a ficar ainda mais longe dessas demandas e, em alguns casos, cair em uma paródia de um método comparável ao de Brinton, Powell e McGee. Admito também, pelas razões que explicarei abaixo, que a filosofia da ciência que estava na base da posição de Boas incorria em erros que eram, em última análise, contrários ao progresso das ciências sociais. Mas nada disso constitui justificativa suficiente para o refinamento de que Boas atrasou o desenvolvimento da antropologia por pelo menos cinquenta anos (cf. R, AY, 1955, p. 140). Dada a situação da antropologia no final do século XIX, o grande movimento de reforma necessário para promover o progresso da ciência da cultura foi exatamente o que Boas iniciou; Só que, com tudo e sendo necessário, também não era suficiente.
Fisicismo
Que reconhecemos o efeito saudável da intervenção de Boas contra
Aqueles fãs charlatães que usaram o evolucionismo como uma poção mágica, de forma alguma nos obrigam a ignorar as influências negativas que emanam de outros aspectos de sua abordagem. Desde o início, 228 Marvin Harris Boas enfrentou um paradoxo filosófico do qual nunca se livrou e que, para a história da antropologia, é muito mais importante do que seu puritanismo metodológico. A essência desse dilema era que Boas acreditava que o acúmulo de dados históricos pelo paciente leva automaticamente ao progresso da teoria antropológica. Embora admitisse que, por temperamento, estava mais interessado na coleta de dados históricos, ele conseguiu se convencer e convencer seus discípulos de que um programa de reconstrução histórica era a melhor maneira de satisfazer o interesse pela generalização. Ele nunca admitiu que era necessário escolher entre história e ciência; Pelo contrário, pensei que a ciência era história e generalização e que nenhum desses dois componentes era mais importante que o outro. Embora tenha se esforçado para manter seu interesse na formulação de princípios, leis, tendo em vista a estratégia de pesquisa, à qual permaneceu fiel ao longo de sua vida profissional, é óbvio que se sentiu perfeitamente satisfeito em continuar seus estudos. Particularizadores, com total independência das possíveis conclusões nomotéticas. Assim, historicamente, parece que seu treinamento em física teria que ser julgado da maneira oposta, como costumam fazer seus discípulos. Longe de aplicar um modelo fisicalista ao estudo dos fenômenos socioculturais, Boas reagiu contra esse modelo, preocupando-se acima de tudo em demonstrar como, nas circunstâncias especiais do chamado Geisteswissenschatten ou ciências humanas, era necessário complementá-lo. A primeira vez que essa reação foi expressa em suas publicações foi em 1887. Ele acabara de retornar de um trabalho de campo entre os esquimós, que havia empreendido como geógrafo, e tentava definir a especificidade da geografia como uma disciplina independente. «Se queremos defender a independência da geografia - ele escreveu - temos de provar que a ciência pode ter outro objeto que não a dedução das leis dos fenômenos» (1948, p. 641; original, 1887a). . Esse outro propósito da ciência, diz Boas, é o mesmo que caracteriza a diferença entre métodos descritivos ou históricos e fisicalistas. Nas ciências descritivas, o fato singular, o fenômeno único, é bastante interessante por si só. «O objetivo do historiador é r. ,,] o estudo dos fatos [...] estende-se cheio de admiração ao caráter de seus heróis. Ele tem o interesse mais vívido pelas pessoas e nações que estuda, mas não está disposto a considerá-las sujeitas a leis estritas ”(ibidem, p. 642). Embora os físicos não neguem a importância de cada fenômeno, 'eles também não o consideram digno de ser estudado'. Por outro lado, o cientista descritivo adere ao fenômeno que é objeto de seu estudo, independentemente da classificação alta ou baixa que ele ocupa no sistema de ciências físicas, e tenta penetrar em seus segredos até que cada característica dele seja manifestada. E claro. Essa dedicação ao objeto de seu interesse fornece uma satisfação que não é inferior à que o físico sente com sua organização sistemática do mundo.
Rejeição do Materialismo
Já vimos que esse esforço para definir a diferença entre as abordagens histórica e ernicalista do conhecimento expressou uma mudança fundamental no Weltanschauung de Boas, e fazia parte do processo que o afastou da física e o levou à antropologia. A mudança ocorreu durante a década de 1878-1888, ou seja, desde que Boas completou vinte anos até atingir trinta. Durante esse período, Boas abandonou gradualmente as premissas filosóficas associadas às sínteses mecanicistas da física, química e biologia em meados do século. Sob a influência de um extenso movimento idealista neo-kantiano, Boas estava se separando do materialismo a que aderira em seus primeiros estudos de física. A trajetória de seu crescimento intelectual o fez seguir todo o caminho, da física à geografia, e disso à etnografia. Graças ao estudo que George Stccking fez da correspondência de Boas, hoje podemos seguir essa transição nas palavras que o próprio Boas escreveu a um tio americano, Abraham Jacobi, em abril de 1882. Os objetivos de meus estudos mudaram consideravelmente durante Meus anos de universidade.No início, minha intenção era considerar a matemática e a física como meu objetivo final, o estudo das ciências naturais me levou a outras questões que me levaram a estudar geografia também; E essa nova disciplina capturou meu interesse a tal ponto que, no final, decidi me especializar nela. No entanto, a orientação do meu trabalho e do meu estudo foi fortemente influenciada pelo meu treinamento científico-natural. Com o passar do tempo, acabei me convencendo de que meu materialista anterior Weltanschauung, muito compreensível em um físico, era insustentável, e então pude adotar um novo ponto de vista que me revelou a importância de estudar a interação entre o orgânico e o inorgânico, e Especialmente entre a vida de um povo e seu ambiente físico (citado em STOCKING, 1965a, p. SS). Essa revelação, continua Boas, permitiu-lhe definir o que ele queria fazer ao longo de sua vida: É assim que meu plano para Considere a tarefa da minha vida como a [seguinte] investigação: Até que ponto podemos considerar os fenômenos da vida orgânica, e especialmente os da vida psíquica, de uma perspectiva mecanicista, e que conclusões serão obtidas com essa consideração? [ibidem ]
Franz Uri Boas
Franz Boas (1858–1942) moldou a direção da antropologia americana do século XX. Seu ex-aluno, Alfred Kroeber, escreveu logo após a morte de Boas que 'o mundo perdeu seu maior antropólogo e a América uma de suas figuras intelectuais mais coloridas' (1943: 5). Ecoando essa avaliação trinta anos depois, George Stocking Jr. escreveu: 'Não há dúvida de que [Boas] foi a força única mais importante na formação da antropologia americana na primeira metade do século XX' (2001: 1). cientistas. A influência de Boas foi institucional, intelectual e pessoal. Como Tylor e Durkheim, Boas desempenhou um papel fundamental na mudança da antropologia para a academia, no estabelecimento de associações e periódicos e na criação de redes essenciais de apoio institucional do público, formuladores de políticas e outros Boas definiu os principais campos de investigação que os antropólogos americanos buscariam. Seus amplos interesses - da antropologia biológica à linguística - deram à antropologia americana uma amplitude tópica que não está realmente presente na Grã-Bretanha ou na França, onde a antropologia é antropologia social preeminentemente, e arqueologia e antropologia biológica são campos separados. O fato de a antropologia americana ter incluído antropologia sociocultural, linguística, antropologia física e arqueologia - a chamada abordagem dos quatro campos - é em parte um reflexo dos amplos interesses de Boas. Boas criou uma antropologia muito diferente da de Morgan, Tylor ou Durkheim. Em vez de assumir que Práticas culturais eram explicáveis apenas em referência a uma ampla evolução.
Boas argumentou que eles eram compreensíveis apenas em contextos culturais específicos. Por exemplo, Boas e o antropólogo O. T. Mason se engajaram em um debate animado sobre a organização de materiais etnográficos nas exibições de museus; É um assunto improvável para um debate feroz, mas produziu uma troca esclarecedora. Mason, um evolucionista, propôs a organização de exposições etnográficas na Smithsonian Institution por classes de artefactos - cerâmica, ferramentas de pedra, instrumentos musicais - independentemente de seu local de origem, mostrando o que Mason chamava de 'semelhanças nos produtos da indústria'. Mason queria ilustrar o Paralelos evolutivos na natureza humana, argumentando que os produtos culturais provinham de causas universais semelhantes.
A resposta de Boas foi rápida e reveladora. Boas sustentou que os traços culturais primeiro devem ser explicados em termos de contextos culturais específicos, e não por ampla referência a tendências evolutivas gerais. “Nas coleções do museu nacional”, escreveu Boas, “o caráter marcado das tribos do noroeste da América está quase perdido, porque os objetos estão espalhados em diferentes partes do edifício e são exibidos entre os de outras tribos” (1887 : 486). Em vez de serem apresentadas em 'estágios' tecnológicos, as coleções etnográficas devem ser 'organizadas de acordo com as tribos, a fim de ensinar o estilo peculiar de cada grupo. A arte e o estilo característico de um povo só podem ser entendidos pelo estudo de suas produções como um todo. ”Na década seguinte, Boas expandiu essa crítica para um ataque em larga escala às teorias de Morgan, Tylor e outros evolucionistas. A abordagem básica de Boas (a cultura deveria ser entendida a partir de estudos detalhados de culturas específicas) foi passada para a primeira coorte de antropólogos profissionais americanos, indivíduos que literalmente moldariam o campo da investigação antropológica: Alfred Kroeber, Ruth Benedict, Edward Sapir, Margaret Mead e muitos outros. Por sua vez, os alunos de Boas, como escreveu o antropólogo Marvin Harris, 'estabelecem as principais linhas de desenvolvimento da pesquisa e instrução antropológicas em instituições cruciais em todo o país' (1968: 251). Assim, os contatos pessoais de Boas com seus alunos ampliaram sua influência intelectual e moldaram as instituições da antropologia americana.
A integração de culturas
Como qualquer estudioso em desenvolvimento, as opiniões de Boas evoluíram ao longo de sua carreira, mas sua posição mais consistentemente mantida foi a de que culturas eram totais integrados produzidos por processos históricos específicos, em vez de reflexões de estágios evolutivos universais. Em seus primeiros trabalhos, Boas escreveu passagens que poderiam ter sido escritas por Edward Tylor: “A ocorrência frequente de fenômenos semelhantes em áreas culturais que não têm contato histórico. . . mostra que a mente humana se desenvolve em todos os lugares de acordo com as mesmas leis ”(1966a: 637). No final da década de 1890, no entanto, Boas havia desenvolvido sua crítica às estruturas evolutivas e ao método comparativo. Boas argumentou que as abordagens comparativas de Morgan e Tylor foram minadas por três falhas: (1) a suposição de evolução unilinear, (2) a noção de sociedades modernas como sobrevivência evolutiva e (3) a classificação de sociedades com base em dados fracos e critérios inadequados. Essas falhas foram os alvos do ataque boasiano. Boas descartou as estruturas evolutivas de Morgan, Tylor e outros como não testadas e não testáveis. Em \"The Methods of Ethnology\", Boas resume a posição evolucionária, que pressupõe que o curso das mudanças históricas na vida cultural da humanidade segue leis definidas que são aplicáveis em todos os lugares e que a levam a esse desenvolvimento cultural, em suas principais linhas, é o mesmo entre todas as raças e todos os povos. Assim que admitimos que a hipótese de uma evolução uniforme precisa ser comprovada antes de poder ser aceita, toda a estrutura perde sua base. (1920: 311–312, grifo do autor).
Assim, Boas sugere que generalizações legais podem se basear em fatores adaptativos, psicológicos ou históricos, mas apenas se documentados por casos etnográficos bem estabelecidos: O método comparativo e o método histórico, se é que posso usar esses termos, têm lutado pela supremacia por um tempo. Por muito tempo, mas podemos esperar que cada um encontre em breve seu lugar e função apropriados. O método histórico alcançou uma base mais sólida ao abandonar o princípio enganoso de assumir conexão sempre que semelhanças culturais forem encontradas. O método comparativo, apesar de tudo o que foi dito e escrito em seus louvores, tem sido notavelmente estéril de resultados definidos, e acredito que não será proveitoso até renunciarmos ao vão esforço de construir uma história sistemática uniforme da evolução da cultura, e Até começarmos a fazer comparações de maneira mais ampla e sólida, que me atrevo a delinear. Até esse momento, nos divertimos demais com caprichos mais ou menos engenhosos. O trabalho sólido ainda está diante de nós. (1896: 908).
Conclusão
Franz Boas argumentou que estudos detalhados de sociedades particulares deviam considerar toda a gama de comportamentos culturais e, portanto, os conceitos de holismo antropológico e particularismo cultural tornaram-se princípios gêmeos da antropologia americana. Nos anos posteriores, Boas ficou ainda mais cético quanto à possibilidade de derivar leis culturais. Escrevendo em 1932, Boas conclui, os fenômenos culturais são tão complexos que me parece duvidoso que leis culturais válidas possam ser encontradas. As condições causais dos acontecimentos culturais estão sempre na interação entre indivíduo e sociedade, e nenhum estudo classificatório das sociedades resolverá esse problema. A classificação morfológica das sociedades pode chamar nossa atenção para alguns problemas. Não os resolverá. Em todo caso, é redutível à mesma fonte, a interação entre o indivíduo e a sociedade. (1932: 612) Infelizmente, Boas não articulou a relação entre elementos culturais e conjuntos culturais. Stocking apresenta o paradoxo não resolvido: “Por um lado, a cultura era simplesmente um acréscimo acidental de elementos individuais. Por outro lado, a cultura - apesar da renúncia de Boas ao crescimento orgânico - era ao mesmo tempo uma totalidade espiritual integrada que de alguma forma condicionava a forma de seus elementos ”(1974: 5-6). Boas demoliu o arcabouço evolutivo, forneceu metodologias para a investigação de culturas específicas e sugeriu a relação entre indivíduos e sociedade, elementos culturais e conjuntos culturais - mas nunca realmente respondeu como as culturas se tornam conjuntos integrados. Devido à enorme influência de Boas na prática da antropologia na América, a pesquisa antropológica tomou uma decisão decididamente anti-teórica no início do século XX, quando a pesquisa começou a se concentrar nas diferenças e não nas semelhanças entre as sociedades. Quando elementos culturais eram mantidos em comum, eles eram interpretados como evidência de contato e difusão históricos, e não de evolução unilinear. A posição antievolucionária dominaria a antropologia americana até a década de 1940, quando uma abordagem evolutiva seria reformulada no trabalho de Leslie White (capítulo 13) e Julian Steward (capítulo 14). Até sua morte em 1942, Boas continuou sua notavelmente detalhada, incrivelmente diversa. Estudos da humanidade, e sua influência foi sentida por décadas mais tarde, quando muitos de seus alunos voltaram sua atenção para o que Boas via como o principal nexo, a relação entre o indivíduo e a sociedade
Preparativos para o campo
O antropólogo também deve solicitar fundos para fazer a pesquisa, às vezes de fundações privadas ou de agências governamentais, como a National Science Foundation. Antes de partir para o campo, o antropólogo atual, como Boas, deve conhecer a área em que a pesquisa deve ser feita, fazendo uma pesquisa bibliográfica, lendo o que já foi publicado na área da pesquisa, bem como sobre as questões de pesquisa. Ele ou ela também consulta arquivos não publicados, dados do censo, registros coloniais e similares antes do início do trabalho de campo, bem como durante e depois de deixar o campo para obter uma perspectiva histórica.
Método de campo
O cerne do trabalho de campo é a observação participante - viver com outras pessoas, aprender a língua delas e compreender o comportamento delas e as ideias que são importantes para elas. Geralmente inclui morar em seu tipo de casa, seja a tenda de cabelos de cabra preta ou uma casa de tijolos de barro; vestindo o vestido em ocasiões cerimoniais, e comendo sua comida. É assim que se aprende sobre o cotidiano das pessoas. Os trabalhadores de campo celebram a felicidade dos ritos de nascimento e choram nos funerais. Se possível, a linguagem de campo é aprendida antes que o antropólogo vá para o campo. Caso contrário, o antropólogo aprende a linguagem no campo enquanto aprende a cultura ao mesmo tempo. Muitas vezes, ir a campo envolve negociações com várias autoridades e fazer conexões com indivíduos que fazem parte do ambiente de pesquisa selecionado.
Choques culturais
Quando mergulhado em uma cultura diferente pela primeira vez, o pesquisador de campo experimenta um choque cultural ao reconhecer que sua própria cultura não é “natural”, porque outras pessoas fazem as coisas de maneira diferente. A princípio, à medida que o antropólogo aprende essa nova cultura, ele ou ela está na posição de uma criança nessa cultura. A observação participante envolve uma contradição inerente. Um participante opera dentro de uma cultura, enquanto um observador e portanto é como um estranho, olhando de fora. De facto, espera-se que um observador permaneça desapegado e relate objetivamente o que ele vê e ouve. Como Hume e Mulcock observam, “a prática da etnografia também assume a importância de manter distância intelectual suficiente para assegurar que os pesquisadores sejam capazes de empreender uma análise crítica dos eventos nos quais eles estão participando” (2004: xi).
Alteridade cultural
Aprender outra cultura é muito diferente de analisar e interpretar objetivamente. Como o antropólogo está interagindo e participando com outras pessoas, é impossível que ele seja completamente objetivo. A observação participante é difícil de realizar porque envolve esse paradoxo básico. Permanece um ideal que nunca é completamente realizado. A participação em outra cultura significa aprender a ver as coisas do ponto de vista do 'interno', ou seja, do ponto de vista de outra cultura. Isso significa investigar os conceitos e ideias que ordenam esse mundo. Quando os antropólogos fazem trabalho de campo, eles trazem consigo suas próprias categorias culturais, formas de ver as coisas e valores pessoais. Eles tentam evitar permitir que eles coloram suas percepções. A disposição de prestar atenção ao próprio quadro cognitivo da pessoa que opera em outra cultura é definida como reflexividade. Como observa O'Reilly, “etnografia contemporânea. . . tenta ser reflexivo, isto é, é conduzido com plena consciência das inúmeras limitações associadas aos seres humanos que estudam outras vidas humanas ”(2005: 14). Isso significa ter consciência do contexto do trabalho de campo, da natureza da relação de poder entre pesquisador e pesquisado, dos possíveis efeitos do colonialismo, a questão de qual seria a voz que deve ser representada na pesquisa e, por fim, como o texto etnográfico é algo a ser bem definido.
Reflexividade
Reflexividade significa construir o texto etnográfico não apenas em termos do próprio estilo autoral, mas também em termos de factores históricos, políticos e econômicos e de desenvolvimentos globais e tecnológicos relevantes. Além das observações, os antropólogos obtêm informações entrevistando indivíduos na cultura, que são referidos como informantes (ou consultores). Essas entrevistas geralmente eram abertas, o que significa que quando o informante era estimulado pelas perguntas do antropólogo a ir além delas seguindo diferentes “caminhos de informação”, o antropólogo acompanhava. Estes contrastam com entrevistas baseadas apenas em questionários, que possuem limites fixos. Para o antropólogo hoje, o informante é um colega de trabalho de campo. Na interação entre informante e antropólogo, o informante aprende cada vez mais o que seu colega de campo está interessado em descobrir e também ganha uma certa quantidade de conhecimento sobre antropologia. Ao tentar explicar a sua cultura para o antropólogo questionador, os informantes muitas vezes começam a redescobrir sua própria cultura de uma forma que antes não entendiam. Quando os informantes tentam explicar sua cultura aos antropólogos, os informantes objectivizam suas próprias experiências culturais. Eles podem tornar-se conscientes das regras culturais da sua própria sociedade que eles não tinham conhecimento prévio. Em suas interações, informantes e antropólogos estão, em certo sentido, operando em uma área entre suas duas culturas. Este processo é repetido com outros informantes, e um padrão começa a emergir. Os dados são comparados com as observações do próprio antropólogo.
Antropólogo - informante
A relação pessoal entre antropólogo e informante é complexa. Indivíduos que se tornam mentores e fontes de muita informação para o antropólogo são referidos como informantes-chave. O informante-chave de Rosman enquanto fazia trabalho de campo entre os Kanuri era o Administrador, um aristocrata diplomado mais velho que o neo antropólogo, a quem ele recebeu. Essa relação é crucial para o trabalho de campo, já que muitas pessoas confiavam no antropólogo e estavam dispostas a conversar com ele como consequência disso. No entanto, dada essa conexão, outras fontes de informação são fechadas para o antropólogo porque aqueles que tem essa informação estavam em oposição ou pertenciam a outra facção da comunidade. O trabalho de campo envolve reciprocidade por parte do antropólogo. No entanto, a natureza do que o antropólogo retorna a seus informantes é altamente variada. Nas áreas rurais e urbanas, o antropólogo com um veículo muitas vezes retribui, tornando-se motorista de toda a comunidade. Frequentemente, os antropólogos tornam-se partidários, assumindo as causas da comunidade como defensores nos mídia ou tornando-se testemunhas especiais defendendo-os nos tribunais. Quando surgiram conflitos legais entre os hopi e os navajos relativos à propriedade da terra, os antropólogos que haviam feito pesquisas com os navajos, os defenderam no tribunal, enquanto aqueles que haviam trabalhado com os hopis analisaram o caso do ponto de vista hopi. O trabalho de campo antropológico envolve toda uma série de considerações éticas. Como observou O'Reilly, “A medida em que somos, ou podemos ser, abertos e honestos sobre nossa pesquisa, obter o consentimento plenamente informado dos participantes, revelar o que estamos estudando e produzindo, respeitar a confidencialidade e evitar explorações levanta dilemas para cada etnógrafo ”(2005: 81-82). O trabalho de campo envolve o antropólogo em um dilema moral. Pode-se dizer que os antropólogos usam informantes para seus próprios fins, já que os antropólogos voltam para casa com as informações.
Produzir o texto
A análise e publicação dessas informações em uma dissertação ou livro ajuda a carreira do antropólogo, mas de que maneira isso ajuda as pessoas cujo estilo de vida foi registrado? Muitas vezes, pesquisas feitas por antropólogos no passado podem ser úteis para os sujeitos dessa pesquisa hoje. Por exemplo, os Kwakiutl, assim como outros povos nativos americanos, descobriram que as etnografias escritas começo do século, como as de Boas, são valiosas como registros escritos de tradições, cujo conhecimento, a essa altura, está sendo perdido. Essas informações geralmente são importantes para os nativos americanos na busca de reivindicações relacionadas à pesca e aos direitos à terra.
Traduzir
O produto do trabalho do antropólogo também faz uma contribuição acadêmica para a compreensão mais ampla do comportamento humano. O antropólogo realiza dois tipos de tradução. Primeiro, há a tradução da língua dos informantes para a língua nativa do antropólogo. Os problemas geralmente surgem porque os termos na língua indígena nunca são exatamente equivalentes aos conceitos em inglês. Por exemplo, quando a propriedade passa de uma geração para a seguinte antes da morte dos membros da geração mais velha, como entre os Kwakiutl, isso às vezes é traduzido como herança na literatura etnográfica. No entanto, a definição de herança em português pressupõe a morte do membro importante da família. O segundo tipo de tradução é traduzir as categorias culturais da sociedade que está sendo estudada para a linguagem da antropologia, isto é, a estrutura conceitual que está sendo apresentada. A suposição básica desse tipo de tradução é que as culturas têm características em comum, acima e além daqueles aspectos que são únicos.
Descrever
Pesquisas comparativas, usando conceitos antropológicos, revelam isso. 'Escrever' e descrever é o começo do trabalho de campo. O pesquisador aponta (transcreve) discussões com informantes junto com suas observações. “Escrever” envolve reunir tudo o que ele ou ela sabe sobre uma categoria (casamento, alembamento, cola, tchingandji, circuncisão, etc.). Estas são categorias sobrepostas. Por exemplo, o alembamento envolve tanto a religião quanto a política inter familiar. Esta ainda é uma descrição. Alguns preferem usar o termo 'boa descrição' ; outros “descrição densa”. Mas a antropologia é mais do que descrição.
Interpretar
É a fase da interpretação do material que é tão importante quanto a recolha de dados. Isso é fornecido pelo antropólogo que começa com aquilo que os informantes disseram a respeito dele ou dela. Interpretação envolve ir além do significado dos símbolos dados pelo informante. No casamento Kwakiutl descrito abaixo, alguns dos participantes enegreceram seus rostos como fariam para a guerra; o antropólogo interpreta isso para significar que a guerra simboliza o casamento. Os dois lados estavam em uma relação antagônica entre si e no futuro competiriam pelos filhos do casamento para se tornarem membros de seus respectivos grupos. A análise tenta iluminar a estrutura e o significado de uma cultura. No passado, os pesquisadores de campo antropológicos investigaram sociedades que eram pequenas tanto em escala quanto em tamanho de população, onde todas as esferas da atividade humana podiam ser exploradas por um único investigador. Alguns antropólogos selecionaram ilhas para estudo, enquanto outros foram para a África e outros lugares, selecionando uma aldeia ou um campo no qual se concentrar e do qual eles se generalizaram sobre a cultura. Esta unidade tinha seu próprio nome e às vezes era chamada de comunidade. A comunidade era limitada no sentido de que seus membros concentravam suas interações
Natureza e cultura
A crítica boasiana ao método comparativo e aos esquemas evolutivos criou um vácuo analítico. Se os padrões culturais não são o reflexo dos estágios anteriores do desenvolvimento humano, que foram executados 'em canais quase uniformes' na frase de Tylor, se vê então o que os padrões culturais refletem? Se as culturas são essencialmente as acumulações acidentais de diversos traços e valores reunidos por circunstâncias históricas específicas de inovação, difusão e migração, como é que as culturas são um tudo integrado? Se, como Boas havia escrito, 'as condições causais dos acontecimentos culturais estão sempre na interação entre indivíduo e sociedade' (1932: 612), qual é a natureza dessa interação? O que mantém as culturas unidas? O que dá às culturas suas essências distintas? Essas perguntas atormentaram os alunos de Boas, como Alfred Kroeber, Ruth Benedict, Edward Sapir e Margaret Mead. E, embora as respostas às quais chegaram foram diferentes, suas respectivas explorações foram enquadradas por três conceitos:
1) a prioridade causal da cultura,
2) o conceito do microcosmo e
3) o reconhecimento de que o conhecimento cultural estava desaparecendo rapidamente
As críticas específicas de Boas à evolução unilinear e às explicações raciais do comportamento levaram à conclusão geral de que a cultura só poderia ser explicada em referência a padrões culturais específicos, ou seja é a própria cultura a explicar a cultura, uma posição conhecida como determinismo cultural (Hatch 1973: 49).
Relativismo cultural
Assim, a ideia do relativismo cultural sustenta que só se pode entender as práticas de uma sociedade específica dentro de seu contexto cultural específico.Da mesma forma, a explicação requer entender como os processos históricos de difusão, migração e invenção produziram um padrão cultural específico, esta é a idéia do particularismo histórico (Harris 1968: 250–289). De maneira mais ampla, o acima exposto implica que a cultura não pode ser explicada por referências à biológicas, psicológicas individuais ou por outros fatores que não sejam culturais. Mas como é que esses fatores podem ser identificados? Boas e seus alunos acreditavam que as leis que governavam a cultura, se existissem, só poderiam ser descobertas através do estudo das sociedades de pequena escala nas quais a cultura poderia ser examinada como microcosmo. Durante o início do século XX, havia uma suposição geral de que sociedades de pequena escala - o campo isolado, a aldeia do mato- forneciam uma unidade analítica discreta onde os padrões de cultura podiam ser observados no microcosmo. Em tais 'sociedades simples', seria possível ao antropólogo observar claramente dimensões da cultura obscurecidas em sociedades maiores e mais complexas. Mas essas pequenas culturas tradicionais estavam e estão desaparecendo rapidamente. Na antropologia americana e britânica, havia um amplo reconhecimento de que o conhecimento cultural tradicional estava sendo perdido diante da colonização e globalização ocidentais. Os antropólogos responderam entrando em campo para 'salvar' os últimos vestígios das culturas tradicionais. Os antropólogos George Marcus e Michael Fischer observam que “o principal motivo que a etnografia como ciência desenvolveu foi o de resgatar a diversidade cultural. O etnógrafo capturaria por escrito a autenticidade das culturas em mudança, para que elas pudessem ser registradas no grande projeto comparativo de antropologia ”(1986: 24). Desse projeto comparativo emergiriam as leis gerais da cultura, leis inferidas a partir de estudos específicos de sociedades tradicionais de pequena escala. Trabalhando com esse conjunto comum de premissas, Kroeber, Benedict, Sapir e Mead tentaram entender o padrão da cultura sob diferentes ângulos analíticos.
1) Para Kroeber, a cultura é um fenómeno distinto do da sociedade, do indivíduo ou do organismo. A cultura existe em seu próprio nível analítico, irredutível a outros níveis de fenómenos e explicável em termos de suas próprias características particulares. A cultura é aprendida e compartilhada como Tylor havia dito, mas também é variável, plástica, carregada de valor, superpessoal e anônima. Declarações não são produtos de um génio solitário, mas expressões de “regularidades de forma, estilo e significado” (Kroeber 1952: 104). Mudanças em algumas dimensões da cultura, principalmente em questões de estilo, podem na verdade ser governadas por uma oscilação super-orgânica que ocorre sem o conhecimento dos membros individuais de uma cultura. E assim a cultura é distinta e dominante sobre o indivíduo. Para Benedict Ruth, as culturas são mais do que a soma de suas partes; São configurações baseadas em valores fundamentais da existência que diferem entre culturas. As culturas têm uma essência distinta, porque os valores-chave são aprendidos pelos indivíduos como membros de culturas específicas. A sociedade americana tem seu esboço - dinâmico, em constante mudança, fragmentário - porque valorizamos o individualismo, a inovação e o sucesso. A conexão entre o indivíduo e a sociedade é baseada em valores; Indivíduos que, por temperamento e treinamento, compartilham os valores de sua sociedade são bem-sucedidos, aqueles que não são desviados. E, no entanto, esses valores fundamentais não são os mesmos para todas as sociedades e, portanto, a pessoa de sucesso em uma cultura é desviante em outra. Mead adotou uma abordagem muito semelhante. Como Benedict, Mead via a relação entre indivíduo e sociedade como baseada em valores, mas são valores muito específicos transmitidos durante a criação dos filhos. Em vez de se preocupar com configurações gerais, Mead estava muito preocupado com conjuntos de valores culturais bastante específicos: o sexo na adolescência é traumático ou fácil; É um bebé amamentado sob procura ou desmamado rudemente; Os alimentos são compartilhados ou acumulados? Nestes e em outros casos, a maneira como as crianças são criadas determina os adultos que se tornam e esse processo confere às sociedades sua distinção e forma. A explicação de Sapir foi muito diferente. Sapir sustentou que a cultura é um documento constantemente editado, criado por indivíduos envolvidos no discurso público. Longe de serem criações passivas da cultura, os indivíduos constroem culturas em suas ações e palavras. Em vez de expressões coletivas de valores fundamentais e atemporais, Sapir argumentou que mesmo as alegações mais básicas da cultura são forragens para debate e desacordo. Existem limites para pontos de desacordo, no entanto, e os limites são É explicado como tempo, massa, espaço, número etc. são conceituados. Os falantes da mesma língua tenderão a usar categorias linguísticas semelhantes. Por exemplo, se definirmos um horário para uma reunião, poderemos discutir se estou atrasado, mas não sobre o número de minutos em uma hora. Tais categorias linguísticas são instiladas sem pensar quando a criança aprende um idioma, ficando tão arraigadas que não discutimos sobre elas. E assim, o uso da linguagem e dos símbolos permite que os humanos criem ativamente novas formas culturais, mas as categorias linguísticas inerentes à linguagem dão uma forma geral à experiência cultural. Costuma-se dizer que Boas exerce uma enorme influência sobre a antropologia americana, mas talvez em nenhum lugar isso seja mais evidente do que nos esforços de seus alunos para entender a natureza da cultura.
Alfred Kroeber e as Configurações da Cultura
É tentador chamar Alfred Kroeber (1876-1960) o último homem da antropologia renascentista. Durante seus 85 anos de vida, Kroeber viveu e moldou grandes mudanças na antropologia, que passaram de apenas documentar o exótico para se preocupar com as diferentes arenas da vida humana e desenvolveram uma visão holística dos seres humanos em nossos contextos culturais e biológicos. Alfred Kroeber atravessava todos esses campos; Ele foi o último da antropologia geral. Desde a época de Kroeber, o número de antropólogos e a quantidade de pesquisas antropológicas cresceram tanto que é difícil acompanhar a literatura em um campo, muito menos em outro. Entre 1892 e 1901, um total de oito Ph.D. em antropologia foram concedidos por universidades americanas, entre as quais Kroeber (Bernstein 2002); Em 1995, foram concedidos 484 doutorados em antropologia (Givens e Jablonski, 1996). Embora a antropologia como campo retenha a ideologia de ser um empreendimento holístico e multidimensional (Borofsky 2002), poucos antropólogos buscam mais do que um único campo; Somos antropólogos ou arqueólogos socioculturais, antropólogos ou linguistas físicos. Dentro desses campos, somos ainda mais especializados como arqueólogos da Califórnia ou arqueólogos ou andinos andinos, especializados em idiomas maia, romance ou austronésio. A falta de antropólogos culturais desde a época de Kroeber reflete uma explosão de informações e a crescente ênfase na especialização de todas as disciplinas acadêmicas. Mas a amplitude de Kroeber foi excepcional, mesmo para o seu tempo, e reflete um profundo e criativo original. Mente no trabalho numa época em que quase tudo na antropologia americana era novo. Antecedentes Alfred Kroeber nasceu em Nova Jersey em 1876, ano da derrota de Custer em Little Big Horn; Grande parte de sua pesquisa sobre a vida e a linguagem dos nativos americanos ocorreu durante o crepúsculo da independência dos índios americanos. A família de Kroeber era alemã de classe média alta, que insistia em um regime educacional desafiador de tutores, escolas particulares e trabalho duro. Entrou no Columbia College aos dezesseis anos de idade e formou-se em inglês, posteriormente recebendo um M.A. com uma tese sobre peças britânicas. A educação inicial de Kroeber levou diretamente a sua abordagem mais 'humanística' da antropologia. Kroeber mergulhou na antropologia quando participou a um seminário em línguas indígenas americanas de Franz Boas, um seminário que se reuniu em torno da mesa da sala de jantar de Boas (Steward 1973: 6). Kroeber recebeu o primeiro doutorado Em antropologia na Universidade de Columbia (Jackins 2002). Boas supervisionou a tese de doutorado de Kroeber sobre a arte do Arapaho; Tinha apenas vinte e oito páginas (Kroeber 1901). A dissertação de Kroeber pode ter sido breve, mas ele era um escritor extremamente prolífico. Em 1936, quando foi homenageado em seu sexagésimo aniversário, uma bibliografia de seus escritos incluía 175 entradas (isso parece ter sido uma subestimação; uma lista subsequente mostra 306 obras). Nos vinte e cinco anos seguintes de sua vida - numa época em que a maioria das pessoas desacelera - os escritos de Kroeber aumentaram para 532 publicações: artigos, monografias, resenhas, introduções de livros, ensaios e assim por diante (Gibson e Rowe 1961). A revisão desses títulos indica os principais interesses de pesquisa de Alfred Kroeber. Primeiro, é seu trabalho sobre os povos nativos da Califórnia (por exemplo, Kroeber 1904, 1906, 1907a, 1907b, 1909, 1910, 1911, 1925, 1929, 1932). Kroeber foi um dos primeiros membros do departamento de antropologia da Universidade da Califórnia, Berkeley. Ele foi contratado para estudar os índios da Califórnia, fazendo essencialmente “etnografia de urgência” para recuperar os vestígios da linguagem e da sociedade pré-contato antes que fossem completamente eliminados pela Sociedade euro-americana. Kroeber publicou cerca de setenta escritos sobre a etnologia da Califórnia natal, mas sua obra-prima foi o Manual dos índios da Califórnia (1925). Este tomo de mil páginas resumiu as investigações de Kroeber sobre todos os grupos nativos da Califórnia. É um compêndio notável, incluindo estimativas da população indígena, listas de topónimos nativos e detalhes de subsistência, cosmologia, parentesco e organização social. Kroeber fez inúmeras viagens de campo, entrevistou dezenas de informantes, resumiu fontes publicadas e vasculhou os registros das missões. Continua sendo uma fonte importante de informação, em muitos casos a única fonte. Kroeber compartilhou esse desejo de preservar o conhecimento cultural rapidamente desaparecido com outros antropólogos americanos como Boas e Mead e também com antropólogos britânicos (Kuper 1973: 5–6). Quando os antropólogos começaram a conduzir o trabalho de campo, rapidamente se tornou evidente que as sociedades tradicionais estavam sendo destruídas. O antropólogo e psicólogo de Cambridge W. H. R. Rivers escreveu em 1913: 'Em muitas partes do mundo, a morte de um homem velho traz consigo a perda de conhecimento que nunca será substituída' (citado em Kuper 1973: 5). Nos Estados Unidos e na Grã-Bretanha, havia um senso comum de que questões teóricas importantes só poderiam ser tratadas com informações que desapareciam diariamente, e isso desencadeou um esforço conjunto para reunir os dados empíricos disponíveis. A etnografia de salvamento de Kroeber levou a uma abordagem básica da análise etnográfica: a lista de distribuição de elementos de cultura. Ele enfrentou um conjunto básico de problemas (Kroeber 1939: 4–6): (1) Como as culturas devem ser definidas?
(2) Como suas práticas de abordagem devem ser reconstruídas a partir do conhecimento atual? E
(3) como as interações entre culturas devem ser medidas?
Em Angola ao tempo do colono, havia algumas diferenças óbvias na distribuição geográfica das práticas culturais: os Ovimbundu cultivavam milho; Os Bakongo cultivavam mandioca. Mas essas classificações não eram suficientes para explicar todo o peso cultural havia elementos mais subtis dentro de áreas culturais específicas, a forma de abordar as culturas africanas eram superficiais e supunham que Certos aspectos da cultura - por exemplo, a agricultura - eram mais importantes que outros. Como Kroeber relata pelos índios da Califórnia, tornou-se óbvio que havia diferenças significativas entre os índios da Califórnia; Por exemplo, os californianos nativos tinham a maior diversidade linguística de qualquer região da América do Norte, levando um estudioso a chamá-la de 'a Babel da América antiga'. Essa diversidade cultural teve que ser medida e explicada, e Kroeber projetou as listas de elementos culturais para lidar com esse problema. Kroeber frequentemente abordava a análise das culturas como historiador natural, especificamente como um taxonomista lineano interessado em classificar espécies, não preocupado com as mudanças de uma população. A pesquisa de elementos culturais reflete essa abordagem. Kroeber dividiu a cultura em unidades mínimas que poderiam ser caracterizadas qualitativamente. Por exemplo, um grupo específico praticava a “poliandria” outro a “cremação”, alguns usavam um “arco de costas senoidal” outro “colanas de dentes de castor”, ou seus jovens bebiam um perigoso alucinógeno feito com erva-de-cabra. Esses elementos foram organizados num questionário pelos estudantes de mestrado e foram enviados para entrevistar informantes nativos e marcando as respostas; Os resultados foram analisados e publicados. Julian Steward, um dos estudantes de pós-graduação de Kroeber, escreveu: Kroeber obteve fundos para um ambicioso projeto de campo de quatro anos de pesquisas de lista de elementos que foi realizado por 13 trabalhadores de campo e incluiu 254 tribos e subdivisões tribais a oeste das Montanhas Rochosas. As listas variaram de 3.000 a mais de 6.000 elementos, cuja presença e ausência foram registradas para cada grupo local (1961: 1057). Os levantamentos de elementos foram pesquisados na tentativa de delimitar determinadas culturas, e isso levou à questão da interação entre culturas. Steward continua: A pesquisa territorial das distribuições de elementos levantou questões sobre o mecanismo de difusão de cada elemento, que costumava ser concebido como um processo bastante simples, através do qual uma sociedade transmitia características culturais a outra apenas por causa de contiguidade. Kroeber modificou esse conceito difusionista. Mostrando que os produtos culturais podem ser imitados por Povos que não tiveram contacto direto com seus autores. (1961: 1057) Em retrospectiva, a abordagem de levantamento de elementos apresenta várias falhas.
A) Primeiro, ele subdivide a cultura em pedaços e considera cada elemento com igual significado (certamente o uso de dados de dentes de castor e a prática da poliandria têm diferentes níveis de importância).
B) Segundo, a abordagem pressupõe que a presença desse elemento cultural em uma sociedade é equivalente à presença desse elemento cultural em outra. Por exemplo, a farda que colocavam os sipaios ao serviço do colono e hoje é usada para os sobas. Embora a hoje esta farda é colocada por pessoas diferentes e em tempos diferentes e em todos esses lugares diferentes, ela claramente tem vários significados diferentes mas apela lá no contexto onde era usada durante o tempo do colono.
C) Terceiro, a pesquisa de elementos culturais criou uma visão estática e sincrónica de uma sociedade, implicando que os únicos mecanismos de mudança cultural eram invenção (a criação de um indivíduo de um novo traço cultural), migração (o movimento de uma sociedade com novos traços culturais para um Nova área) e difusão (a disseminação de traços culturais sem migração). Mas, apesar de todas as suas falhas, a pesquisa de elementos culturais alcançou um objetivo importante: produziu informações sistemáticas sobre as sociedades que estavam sendo destruídas.
Cultura e configurações
Kroeber não estava interessado em meras minúcias; Ele também estava preocupado com os amplos padrões de cultura que caracterizavam sociedades inteiras, ou o que ele chamava de estilos principais que marcavam configurações culturais particulares. Análogo ao conceito de Benedict Ruth, Kroeber afirma que «padrões são aqueles arranjos ou sistemas de relacionamento interno que dão a qualquer cultura sua coerência ou plano, e evitam que seja um mero acúmulo de bits aleatórios» (1948 : 131). Tais padrões “ou configurações ou Gestalts”, escreveu Kroeber, «são o que me parecem mais produtivos para distinguir ou formular na cultura» (1952c : 5). Kroeber traçou um forte limite de definição entre cultura e sociedade. A sociedade ocorre sempre que há vida em grupo - inclusive entre insectos sociais como abelhas e formigas - mas cultura consiste em elementos aprendidos e compartilhados de costumes e crenças (Kroeber 1952a: 118-119). Além disso, Kroeber acreditava que tais costumes e crenças existiam independentemente dos indivíduos que as sustentavam. Em uma breve conversa após o jantar em 1946 com um grupo de antropólogos, Kroeber descreveu sua posição. A cultura é transmitida pelas interações humanas, «não pelo mecanismo genético da hereditariedade, mas pelo intercondicionamento dos zigotos». Independentemente de suas origens, «a cultura tende a se tornar rapidamente supra-pessoal e anônima», caindo «em padrões ou regularidades de forma e estilo e significado». E, finalmente, Kroeber argumentou que a cultura « incorpora valores, que podem ser formulados (abertamente como costumes) ou sentidos (implicitamente, como nos costumes) pela sociedade que carrega a cultura e que faz parte dos negócios. Do antropólogo para caracterizar e definir » (1952b : 104). Assim, a definição básica de cultura de Kroeber é que ela é aprendida, compartilhada, padronizada e significativa. Kroeber tentou orientar sua análise entre dois extremos que dominavam as formas de pensar sobre os seres humanos no início do século XX: o determinismo racial e a teoria do Super Humano. Bem no início de sua carreira (1917 ) - e mostrando claramente a influência de Boas - Kroeber atacou a noção de que raças diferentes têm propriedades inatas diferentes. Ele questionou uma série de suposições que vinculam o património genético ao comportamento. Ao mesmo tempo, Kroeber argumentou contra a teoria do Grande Homem, sustentando que mesmo os genes não moldavam tanto suas culturas quanto os representavam. Kroeber encontrou exemplos repetidos de múltiplos genes - como a invenção independente do cálculo por Leibnitz em 1684 e Newton em 1687, o desenvolvimento da teoria da seleção natural por Charles Darwin e Alfred Russel Wallace e a invenção do barco a vapor por Robert Fulton e Menos quatro outros inventores contemporâneos. «A história das invenções», escreveu Kroeber, «é uma cadeia de instâncias paralelas» (1952d: 45). A co-ocorrência de tais invenções, concluiu ele, era evidência de que algo maior estava em ação, alguma força maior que a herança genética ou o genes. Essa força era maior que o organismo - era super-orgânica: A razão pela qual a hereditariedade mental tem tão pouco ou nada a ver com a civilização é que a civilização não é uma ação mental, mas um corpo ou fluxo de produtos do exercício mental, social ou cultural e essencialmente não individual. A civilização como tal começa apenas onde o indivíduo termina; e quem não percebe, de alguma forma, esse fato. Não pode encontrar sentido na civilização, e a história para ele deve ser apenas uma confusão cansativa ou uma oportunidade para o exercício da arte [isto é, inventando as coisas] (Kroeber, 1952d: 40). Para Kroeber, essa força organizadora era a cultura - conhecimento não genético, compartilhado, anónimo e padronizado. As configurações da cultura são produzidas pela história de um conjunto particular de valores culturais. Kroeber observou «que é da natureza da cultura estar fortemente condicionada por seu próprio passado num movimento cumulativo, de modo que a abordagem mais frutífera para a entender seja histórica» (1952c: 4). A abordagem histórica mostrou conexões cada vez mais amplas entre os elementos culturais, conforme eles foram expressos no espaço e no tempo (Kroeber, 1952c: 5). Colocando esses elementos dessa maneira, é possível identificar configurações no seu desenvolvimento, destaque, declínio e substituição. Kroeber sentiu que essa era a natureza da explicação. Kroeber voltou sua atenção para vários tópicos - à arqueologia peruana, linguística do índio americano e assim por diante -, mas sem dúvida sua análise mais intrigante foi sobre um assunto que pode parecer estranho: mudanças no vestuário das mulheres. Foi um tópico sobre o qual Kroeber escreveu pelo menos duas vezes, primeiro em 1919 e depois novamente em 1940. Kroeber foi atraído para estudar a moda feminina porque refletia o estilo 'puro' e porque as mudanças na moda podiam ser datadas pelo estudo de revistas históricas da moda parisiense. Na época do segundo estudo, Kroeber tinha dados que variavam de 1787 a 1936. Kroeber mediu uma variedade de variáveis, como comprimento e largura do vestido, e depois conduziu uma análise estatística e de séries temporais. O que ele descobriu foi que certas grandes flutuações tinham periodicidades diferentes; Por exemplo, o comprimento do vestido foi maior no século dezoito e meados do século dezenove, com vestidos mais curtos mais comuns em 1815 e 1931. Além disso, Kroeber encontrou alguns padrões interessantes na variação de estilo. Na maioria dos anos, a variação da tendência central era menor, se a tendência era para vestidos longos ou vestidos curtos, mas em alguns períodos houve um grande grau de mudanças antes que a tendência central fosse reafirmada. Kroeber considerou uma variedade de causas históricas - como períodos de instabilidade política poderiam causaram maior variação no comprimento da bainha - e não encontrou outras causas para tais padrões além da simples flutuação super-orgânica do estilo. O fator primário [para essas mudanças de moda] parece ser a adesão ou a saída de um padrão ideal, embora inconsciente, para roupas formais em mulheres. A conformidade consistente da variabilidade com certas magnitudes de proporção - principalmente uma conformidade de baixas variabilidades a altas magnitudes [ou seja, quando as saias são mais curtas, as saias de todos são curtas] - deixa pouco espaço para qualquer outra conclusão. (Richardson e Kroeber 1952: 368) Em suma, Kroeber estudou a moda feminina porque exemplificava sua concepção do que era cultura. Claramente não-genético, a moda estava obviamente livre das influências da hereditariedade. Obviamente compartilhada, a moda era mais do que o exercício idiossincrático do gênio. Reduzíveis a elementos, traços de moda podem ser plotados no tempo; Nesse caso, o espaço era mantido constante considerando apenas a moda parisiense. Claramente padronizada, a moda passou por flutuações sistemáticas a longo prazo. E, finalmente, sua explicação era histórica, porque as mudanças na moda não podiam ser entendidas pelo apelo a fatores externos, mas apenas explicadas dentro de sua configuração cultural específica. E, assim, a análise de Kroeber desse tópico improvável capturou as características básicas de sua abordagem à cultura. Kroeber tentou repetir sua análise microcósmica no campo estreito da moda parisiense em um enorme estudo paralelo da civilização mundial, Configurações do crescimento cultural (1944). Durante seus estudos anteriores sobre distribuição de elementos culturais, Kroeber havia desenvolvido a noção de clímax cultural. O ápice da cultura é quando “crescimentos culturais historicamente conhecidos. Mostram uma coincidência em insurgir várias faces da cultura ”(Kroeber 1939: 5). Desde que Kroeber argumentou há muito tempo que as inovações culturais não eram produtos de “Grandes Homens”, mas sim de “instâncias paralelas”, um estudo de invenções superiores demonstra “o hábito frequente das sociedades de desenvolver suas culturas ao máximo. Revela-se: especialmente em seus aspectos intelectuais e estéticos, mas também em aspectos mais materiais e práticos ”(1944: 5). Se o gene fosse simplesmente o resultado da genética, inovações superiores deveriam ocorrer aleatoriamente; Que eles não indicam 'a participação causal de um fator cultural, a intervenção de um elemento superpessoal na atividade pessoal do gene’ (Kroeber 1944: 13). No entanto, Kroeber não encontrou “nenhuma evidência de nenhuma lei verdadeira nos fenómenos tratados; Nada cíclico, regularmente repetitivo ou necessário ”(1944: 761). Na verdade, isso simplesmente fortaleceu a ideia de Kroeber da irredutibilidade da cultura. Para Kroeber, a cultura era uma construção mental completamente distinta de outros fenómenos. A cultura, escreveu ele, «é super-orgânica e superindividual, pois, embora carregada, participada e produzida por indivíduos orgânicos, é adquirida; E é adquirida pelo aprendizado » (1948: 254). A cultura não pode ser explicada pelas necessidades individuais orgânicas, como afirmou Malinowski (Kroeber 1948: 309-310), e não pode ser tratada como equivalente «sociedade» (Kroeber 1948: 847-49). Os padrões culturais podem ser entendidos apenas dentro de uma abordagem histórica que enfatiza a mudança ao longo do tempo, os antecedentes culturais de novos padrões culturais e a importância de entender os fenômenos culturais em configurações particulares (Kroeber 1957).
Conclusão
As amplas contribuições de Kroeber para a antropologia praticamente impossibilitam qualquer breve resumo de sua carreira, mas o discurso feito durante o óbito por Steward (1962) captura muitas das idéias básicas de Kroeber. Kroeber acreditava que 'a cultura derivava da cultura' e que as explicações psicológicas, adaptativas ou orgânicas eram indefensáveis. Sua abordagem histórica era “super-orgânica e supra-individual” e dupla, caracterizando primeiro as culturas “pelas minúcias de seu conteúdo”, enquanto também procurava “principais estilos, filosofias e valores” (Steward, 1962: 1050). A contribuição de Kroeber para a antropologia americana tem um legado misto. Há pouca dúvida de suas contribuições substantivas para Etnologia, etnografia, linguística e arqueologia, mas, por outro lado, há pouco entusiasmo atual pelas preocupações de Kroeber com o super-orgânico, o estilo e os padrões da civilização ou o anonimato da cultura. Como teórico, a posição de Kroeber é mais frequentemente discutida do que adotada (Benedict 1959: 231; Harris 1968: 320–337). E, no entanto, a tentativa de Kroeber de encontrar a base unificadora da cultura foi um problema central enfrentado por muitos de seus contemporâneos, incluindo Benedict, Sapir e Mead.
Ruth Benedict e os Modelos da Cultura
Ironicamente, o interesse na história de vida de Ruth Benedict ofusca suas idéias como antropóloga, que se concentra no relacionamento entre o indivíduo e a sociedade. Benedict é o assunto de três biografias (Caffrey 1989; Mead 1974; Modell 1983) e outro estudo que examina seu relacionamento com Margaret Mead (Lapsley 1999). Benedict Ruth é um assunto cativante para os biógrafos, porque ela não era apenas uma antropóloga brilhante, mas também uma mulher brilhante que era antropóloga. Benedict foi uma das primeiras mulheres a ter destaque como cientista social, e sua vida exemplifica as escolhas difíceis, muitas vezes conflituantes, que as mulheres enfrentam na sociedade americana. As trajetórias de sua vida e carreira na antropologia foram moldadas por esse fato.
Biografia
Ruth Benedict (Fulton) foi educada no Vassar College, criado na década de 1860 com o objetivo de educar as mulheres em um plano igual ao dos homens. Embora a educação universitária para mulheres existisse há vinte anos quando Ruth Benedict se matriculou em 1905, ainda era novidade que as Ladies estudassem na faculdade ’Home Journal, em outubro de 1905, publicou um artigo intitulado “Loucos por loucura de meninas de faculdade”, seguido na edição de novembro pelo artigo fascinante 'What College Girls Eat' (Caffrey 1989: 43). Ruth Benedict estudou literatura e poesia e, mais tarde em sua vida, publicou poemas em revistas e jornais de poesia. Mas sua exposição à análise crítica, ainda mais que à poesia, teve impacto na sua antropologia. Em Vassar, ela foi exposta a uma ampla gama de questões políticas progressistas e tendências artísticas modernistas e a um corpo desafiador da literatura inglesa e alemã, particularmente as obras de Friedrich Nietzsche. De fato, eram as próprias receitas de Nietzsche que exigiam criatividade, revolta contra a conformidade e envolvimento vigoroso com a vida. Caffrey escreve, Nietzsche defendia o iconoclasmo criativo. O eu deseja criar além de si mesmo, ele escreveu: 'Criar - essa é a grande salvação do sofrimento e o alívio da vida'. A criatividade que ele defendia era a criatividade de novos valores. [Nietzsche] defendia a destruição da moralidade e da conformidade convencionais porque sufocavam a criatividade. Ele afirmou a alegria física. Ele pediu uma renúncia ao materialismo e seus leitores desenvolvessem Deus dentro de si. Todas essas eram qualidades que Ruth acreditava serem mais importantes. Assim, falou Zarathustra deu-lhe uma sensação de liberdade daquele passado restritivo e um propósito para viver seu futuro. (1989: 54–55) Em 1914, Ruth Fulton casou-se com Stanley Benedict, mas, com o passar dos anos, seu casamento se desfez. Depois de uma participação insatisfatória no trabalho social e de reprimir seus próprios interesses em prol do casamento, ela voltou à escola aos trinta e um anos na New School for Social Research. Depois de um ano, ela foi incentivada a fazer cursos de pós-graduação na Columbia University, onde iniciou uma associação com Franz Boas, que durou de 1921 até a morte de Boas, em 1942. Boas supervisionou a dissertação de Benedict - “O Conceito do Espírito Guardião na América do Norte” - que era Posteriormente publicado pela American Anthropological Association (Benedict 1923). A dissertação foi baseada em pesquisa bibliográfica e não em trabalho de campo, mas no fato de ela ter obtido seu doutorado em três semestres ainda é notável. Excepto por um breve estudo de 1922 da Serrano, no sul da Califórnia (Benedict 1924), todos os primeiros escritos de Benedict foram baseados em pesquisas de bibliotecas (por exemplo, Benedict 1922). A partir de meados da década de 1920, Benedict foi ao sudoeste americano para projetos de pesquisa de campo de verão entre os Zuni (1924), Zuni e Cochiti (1925), O'totam (1927) e Mescalero Apache (1931). A pesquisa de Benedict sobre Zuni se tornaria central em seu livro Patterns of Culture, de 1934. Durante esse período, Benedict estava desenvolvendo seus interesses em personalidade e cultura, editando o Journal of American Folklore e ensinando na Columbia University, onde a relação entre Boas e Benedict continuou a evoluir. Depois de servir como seu mentor, Boas se tornou seu colega profissional quando ele conseguiu um cargo no Departamento de Antropologia, que ele presidia. Gradualmente, Benedict tornou-se um membro pleno do corpo docente e, quando morreu em 1948, ela foi um dos professores mais eminentes da Universidade de Columbia. Patterns of Culture era um livro extremamente popular desde que foi publicado em 1934. Traduzido para uma dúzia de idiomas, publicado em 1946 como um livro vendido por vinte e cinco centavos, em 1974, havia vendido 1,6 milhões de Cópias (Mead 1974: 1). Ainda continua a ser publicado. As ideias do livro se espalharam fora da academia para a sociedade americana em geral. Como as ideias permeiam a cultura americana moderna, agora as tomamos como comuns. Padrões de Cultura foi escrito para o não antropólogo e, como Caffrey observa, «ele atuou como um sinal e um catalisador para a aceitação final de uma profunda mudança de paradigma nas ciências sociais e na sociedade americana» (1989: 209). Benedict encontrou alívio do sofrimento, na frase de Nietzsche, na criatividade do intelecto; Padrões de cultura é uma evidência clara desse intelecto em ação. Primeiro, enfatizou a importância da cultura versus a biologia; Contrastando os diferentes padrões de vida entre os Zuni, Dobu e Kwakiutl, Benedict demonstrou a primazia causal da cultura na compreensão das diferenças entre os humanos modernos. Por extensão, os perfis dessas três sociedades tão diferentes da sociedade americana enfraqueceram ainda mais os costumes vitorianos da vida americana. Segundo, a ênfase de Benedict nos padrões de cultura foi uma nova reviravolta em uma idéia bastante distorcida. O conceito de padrões era similar em alguns aspectos aos complexos de elementos culturais que Kroeber e outros haviam discutido: concorrências padronizadas de traços culturais que marcavam diferentes grupos culturais.
Aplicações à cultura angolana
Por exemplo, o descrevemos o complexo cultural dos Kwanhamas os seus bois entre o ambiente das planícies do rio Cunene, uma constelação de práticas culturais no eumbo, incluindo, a iniciação feminina, a caça aos búfalos, as invasões em territórios dos Ovimbundu e Nganguela - todas realidades que giravam em torno ao boi. Da mesma forma, poderíamos definir uma cultura da mandioca dos Bakongo na qual uma ampla gama de elementos culturais - praça, kikwanga, iniciação masculina, nganga. Mas Benedict e outros antropólogos procuravam algo mais subtil e profundo, a relação não apenas entre um conjunto de coisas e comportamentos, mas também entre as idéias, valores e costumes subjacentes que caracterizam uma sociedade em particular. A noção da configuração 'Gestalt' foi influente neste momento. Proveniente da palavra alemã para o desenvolvimento de uma forma física, os psicólogos aplicaram a noção a experimentos de comportamento de aprendizagem que sugeriam que as pessoas aprendessem em resposta a padrões subjacentes desencadeados por um evento específico e não por resposta direta a estímulos. Assim, aprendemos que o comportamento barulhento é inadequado em uma igreja, mas depois estendemos esse conhecimento a catedrais e universidades, a certos programas públicos (o Memorial de Agostinho Neto), alembamentos no quintal e assim por diante. Mesmo em novas situações, seguimos as instruções aprendidas anteriormente pela tradição, porque a nova situação gera um padrão básico aprendido. “A idéia de configuração da Gestalt”, escreve Margaret Caffrey, “caiu na mente dos Estados Unidos. A configuração era uma forma de padrão que ligava fatos e eventos às atitudes e crenças subjacentes a eles ”(1989: 154). Ruth Benedict tornou essa noção da Gestalt / configuração / padrão central em seu trabalho: a psicologia da Gestalt (configuração) realizou alguns dos trabalhos mais impressionantes ao justificar a importância desse ponto de partida do todo e não das partes. Mostraram que, na percepção mais simples, nenhuma análise dos preceitos separados pode explicar a experiência total. Não basta dividir as percepções em fragmentos objetivos. A estrutura subjetiva, as formas fornecidas pela experiência passada, são cruciais e não podem ser omitidas. (1959: 51) Quando Benedict contrasta “objetivo” e “subjetivo”, ela não está usando “subjetivo” como sinônimo de “mera opinião” ou projeção etnocêntrica; Ela está tentando caracterizar os valores subjetivos que explicam por que membros de uma determinada sociedade se comportam de determinadas maneiras. Benedict usou o conceito de padrão para se referir aos «valores da existência» subjacentes de uma sociedade. Ela escreveu: «Culturas. . . São mais do que a soma de suas características. Podemos saber tudo sobre a distribuição da forma de casamento de uma tribo, danças rituais e iniciações da puberdade e, no entanto, não entender nada da cultura como um todo que tenha usado esses elementos para seu próprio objetivo» (1959: 47). Benedict Ruth expôs as diferenças nos padrões culturais, contrastando três sociedades relativamente bem estudadas e marcadamente diferentes: os índios Pueblo (Zuni e Hopi); Os Dobu, que vivem em uma ilha a leste da Nova Guiné; E os índios da costa noroeste (Tsimshian, Kwakiutl, Coast Salish) que vivem entre Puget Sound e o sudoeste do Alasca. Os três casos etnográficos foram baseados em pesquisas de antropólogos cujo trabalho Benedict confiava: Reo Fortune estudara o Dobu (ele era casado com Margaret Mead na época), Boas havia trabalhado na costa noroeste e Benedict Ela mesma havia realizado pesquisas no Zuni Pueblo. Estas também eram sociedades completamente diferentes, com configurações culturais fundamentalmente diferentes. Reunindo detalhes etnográficos extensos, Benedict Ruth selecionou os elementos fundamentais do padrão cultural. Por exemplo, ela escreveu sobre o Dobu: «O Dobuan. É severo, pudico e apaixonado, consumido por ciúmes, suspeitas e ressentimentos. A cada momento de prosperidade, ele se concebe como tendo sofrido um mundo malicioso por um conflito em que derrotou seu adversário. O homem bom é quem tem muitos desses conflitos em seu crédito, como qualquer um pode ver pelo facto de ter sobrevivido. Com uma medida de prosperidade. É dado como certo que ele roubou, matou crianças e seus companheiros próximos por feitiçaria, traiu sempre que ousou». (1959: 168-169) Compare isso com o ideal zuni do homem bom: o homem ideal em Zuni é uma pessoa de dignidade e afabilidade que nunca tentou liderar e que nunca fez comentários de seus vizinhos. Qualquer conflito, mesmo que o direito esteja do seu lado, é mantido contra ele. «Ele deveria 'conversar bastante', como eles dizem - isto é, ele sempre deveria deixar as pessoas à vontade - e, sem falta, cooperar facilmente com outras pessoas, tanto no campo quanto no ritual, nunca traindo uma suspeita de arrogância ou Emoção forte». (1959: 99) Benedict não estava apenas recitando seus próprios preconceitos sobre as pessoas; Ela estava propondo generalizações etnograficamente informadas sobre os valores distintos de diferentes sociedades. Tais sociedades eram tão fundamentalmente diferentes que Benedict recorreu ao trabalho de Nietzsche para emprestar dois conceitos: as abordagens apolínica e dionisíaca da existência. Benedict contrastou a configuração dos Zuni e de outros índios Puebloan com a dos Kwakiutl e de muitos outros grupos norte-americanos na busca pelos valores da existência. O dionisíaco os persegue através [como Nietzsche observou] 'da aniquilação dos limites e limites comuns da existência'; Ele procura alcançar em seus momentos mais valiosos escapar das fronteiras impostas a ele por seus cinco sentidos, para entrar em outra ordem de existência. O desejo do dionisíaco, na experiência pessoal ou no ritual, é pressioná-lo em direção a um certo estado psicológico, para alcançar o excesso. [O dionisíaco] valoriza as iluminações do frenesi. O apolíneo desconfia de tudo isso. . . . Ele conhece apenas uma lei, medida no sentido helênico. Ele fica no meio da estrada, fica dentro do mapa conhecido, não se mexe com estados psicológicos perturbadores. Na bela frase de Nietzsche, mesmo na exaltação da dança, ele «permanece o que é e mantém seu nome cívico». (1959: 78–79) 'Os Pueblos do sudoeste são apolíneos', escreveu Benedict Ruth, em contraste com muitos norte-americanos. Grupos americanos, «ideais zuni E instituições. . . São rigorosos neste ponto. O mapa conhecido, no meio do caminho para qualquer apolíneo, está incorporado na tradição comum de seu povo »(1959: 80). Fora dos Pueblos, e apesar das muitas diferenças na língua e cultura dos nativos americanos, Benedict Ruth observou uma ênfase comum no comportamento dionisíaco: «Eles valorizavam toda experiência violenta, todos os meios pelos quais os seres humanos podem romper a rotina sensorial usual e para todos. Essas experiências atribuíram o maior valor » (1959: 80). A evidência mais conspícua foi a busca da visão, na qual um indivíduo - através do jejum, drogas (tabaco) e automutilação - tenta romper a existência comum e obter uma visão pessoal através do contato direto com o sobrenatural. Esse conjunto de valores fundamentais moldou práticas culturais maiores, resultando em padrões distintos de cultura. No entanto, nem todos os indivíduos se encaixam confortavelmente nos padrões aceitos da vida cultural, e Ruth Benedict sabia disso por sua própria experiência. Como pessoa, ela chegou a um ponto em que não podia mais se ajustar aos valores normais das mulheres americanas na década de 1920; Ela não aceitou todos os valores fundamentais de sua própria cultura. Benedict Ruth viu o potencial de conflito entre o indivíduo e a cultura em sua própria vida e assumiu que isso ocorreria em outras sociedades. Um de seus alunos afirmou: 'Ruth buscou a antropologia para responder a suas próprias perguntas particulares sobre o destino do indivíduo' (Cole 2002: 533). Assim, a parte final de Padrões de cultura aborda esse problema. “Vimos que qualquer sociedade seleciona algum segmento do arco do possível comportamento humano”, escreveu Benedict, “e na medida em que alcança a integração, suas instituições tendem a promover a expressão do segmento selecionado e a inibir expressões opostas” (1959: 254) A natureza humana é tão maleável, as lições da cultura de alguém são tão explícitas e as sanções à desobediência são tão severas que a grande maioria das pessoas não apenas aceita os valores fundamentais, mas assume que 'suas instituições particulares refletem uma sanidade última e universal' (Benedict Ruth) 1959: 254). E, no entanto, nem todos acham as instituições de uma dada cultura “igualmente agradáveis. . . Favorecidos são aqueles. . . Cujas potencialidades quase coincidem com o tipo de comportamento selecionado por sua sociedade ”(Benedict 1959: 255). Benedict Ruth argumenta que 'desvio' é Essencialmente um conflito entre a personalidade individual e os valores de uma determinada cultura e não uma dimensão singular verdadeira para todos os seres humanos. O desviante na sociedade Dobu é 'o homem naturalmente amigável' (Benedict 1959: 258); O homem honrado em uma sociedade dionisíaca é o pária desprezado em uma cultura apolínea. Portanto, Padrões de Cultura representam um conflito interessante entre o indivíduo e a cultura: por um lado, a cultura é uma expressão dos valores centrais que a maioria das pessoas aprende e absorve; Por outro lado, existem personalidades individuais que se encontram fora do segmento particular do arco de possibilidades que define essa cultura. Portanto, não apenas os valores culturais são relativos, mas também a própria definição de desvio. O livro de Benedict Ruth é um dos textos antropológicos fundadores sobre a relação entre cultura e personalidade. Conclusão Benedict Ruth escreveu mais do que apenas Padrões de Cultura, é claro. Durante a Segunda Guerra Mundial, Benedict Ruth trabalhou no Office of War Information, examinando materiais publicados sobre outras culturas em apoio ao esforço de guerra americano e conduzindo estudos de 'culturas à distância'. O estudo mais conhecido, O Crisântemo e a Espada (1946), foi um exame dos valores centrais da sociedade japonesa e de como esses valores influenciaram o comportamento japonês durante a guerra e a ocupação americana do pós-guerra. Menos conhecido é o estudo anterior de Benedict Ruth sobre o povo e a cultura da Tailândia (1952; escrito em 1943), que antecipa os métodos do Crisântemo e da Espada. Benedict Ruth contribuiu para o esforço de guerra de outra maneira, muito diferente. Em 1943, ela e Gene Weltfish escreveram um panfleto anti-racista de dez centavos, intitulado The Races of Mankind . Em face das políticas raciais nazistas e dos conflitos raciais nos Estados Unidos, e à medida que as tropas americanas lutavam em todo o mundo, as questões raciais eram fundamentais. Benedict e Weltfish resumiram as visões científicas atuais sobre raça e argumentaram que as diferenças raciais eram mínimas quando comparadas às diferenças culturais. Esse argumento também foi avançado em Padrões de cultura e ecoou a discussão de raça de Boas (ver pp. 38-40). Quando o Exército dos EUA decidiu Para distribuir o panfleto, congressistas conservadores o atacaram como 'propaganda comunista'. Essa acusação claramente absurda atraiu publicidade e ajudou a vender mais de 750.000 cópias do panfleto, traduzido em sete idiomas (Edwards, 1968). Não obstante outros sucessos, nenhum dos trabalhos de Benedict Ruth superou os Padrões de Cultura, em termos de impacto teórico. Seu argumento claro expôs os padrões básicos de uma sociedade, o conjunto de valores básicos que formam um acorde cultural. À medida que a mudança das chaves principais para as menores nas notas de abertura de Thus Spake Zarathustra transmite uma sensação da majestade e do mistério do universo, os arquétipos apolíneo e dionisíaco evocam certos fundamentos de uma sociedade. Observe que Benedict Ruth não estava tentando criar um sistema de classificação para culturas. “As categorias se tornam um passivo”, escreveu ela, “quando são consideradas inevitáveis e aplicáveis a todas as civilizações e eventos” (1959: 238). As culturas não eram sortes desorganizadas de elementos lançados juntos por um acidente histórico; Benedict Ruth mostrou que as diferenças culturais eram expressões multifacetadas dos valores fundamentais mais básicos de uma sociedade. O objetivo da antropologia era documentar esses diferentes padrões. Benedict Ruth escreveu sobre o resultado social desse processo nas últimas linhas de seus Padrões de Cultura: “Chegaremos então a uma fé social mais realista, aceitando como fundamento de esperança e como novas bases de tolerância os padrões de vida coexistentes e igualmente válidos. Que a humanidade criou para si mesma a partir das matérias-primas da existência ”(1959: 278).
Edward Sapir Cultura, Língua, e o Indivíduo
Edward Sapir (1884–1939), um ex-aluno escreveu, “era um daqueles homens raros entre cientistas e estudiosos mencionados por seus colegas em termos de gênio” (Mandelbaum 1968: v). Em seu obituário de Sapir, na antropóloga americana, Ruth Benedict escreveu: “Poucos homens na vida acadêmica foram tão brilhantemente dotados quanto o professor Sapir, e a perda que a lingüística e a antropologia sofreram não pode ser mensurada. Para aqueles de nós que somos seus amigos, sua morte deixa uma vaga que nunca pode ser preenchida ”(1939: 468). Sapir foi reconhecido como o linguista mais brilhante de sua época, um “gênio” para muitos (Darnell 1990: x), que revolucionaram o estudo das línguas indígenas americanas. Ele também moldou estudos interdisciplinares de relações e instituições humanas e o campo mais tarde conhecido como 'cultura e personalidade'. Mas as teorias antropológicas centrais que Sapir propôs consideram a relação entre indivíduo e cultura modelada dinamicamente pela linguagem. O nome de Sapir está vinculado ao de seu aluno, Benjamin Whorf (1897–1941), na famosa hipótese Sapir-Whorf, que postula uma relação entre as categorias de significado encontradas em uma língua e as categorias mentais que os falantes dessa linguagem usam para descrever E classifique o mundo. As implicações dessa hipótese simples são profundas. Ele sugere que a compreensão do significado - em todas as suas diferentes dimensões - é tão importante quanto a compreensão da fonética, sintaxe e gramática, as dimensões mais comuns da análise linguística antes do trabalho de Sapir. A hipótese de Sapir-Whorf implica que diferentes idiomas marcam diferentes sistemas de percepção e que as diferenças entre o comportamento cultural das sociedades são comunicadas e codificadas na estrutura do significado linguístico. O estudo da língua de outra cultura é mais do que uma investigação sobre como eles falam; É uma investigação sobre como a existência cultural é criada. As contribuições de Sapir ocorreram no contexto de uma lingüística antropológica com antecedentes longos, mas mais imediatamente moldadas pelo trabalho de Franz Boas. Numa época em que grande parte do trabalho etnográfico era focado em elementos da cultura que não exigiam domínio da língua - como estudos de características da cultura material ou estudos realizados por intérpretes - a ênfase de Boas na importância de aprender línguas não ocidentais foi inovadora. Em 1911, Boas escreveu em seu Handbook of American Indian Languages: o acompanhamento da língua [de uma tribo] é um meio indispensável para obter conhecimento [etnológico] preciso e completo, porque muita informação pode ser obtida ouvindo-se as conversas dos nativos e Participar de sua vida cotidiana que, para o observador que não tem domínio da língua, permanecerá totalmente inacessível. (1911: 60) Essa noção de linguagem como ferramenta de pesquisa era menos importante do que a idéia de que a linguagem fornecia insights sobre outras dimensões da cultura. Boas enfatizou particularmente a importância de gravar textos em idioma nativo estendidos, ditados pelos falantes. Esses textos poderiam então ser torcidos de cada gota de informação disponível e correlacionados com outras fontes de informação. O linguista Roman Jakobson descreve o impacto da idéia de Boas: a linguagem foi considerada por Boas não apenas como parte dos fenômenos etnológicos em geral, mas também como “um dos campos mais instrutivos da investigação” e sua motivação é absolutamente notável: “A grande vantagem que A lingüística oferece a esse respeito ”, conta Boas em sua magnífica introdução ao Handbook of American Indian Languages (1911),“ o fato de que, no geral, as categorias formadas permanecem sempre inconscientes e que, por essa razão, os processos que Conduzir à sua formação podem ser seguidos sem a enganosa e Sapir foi assistente de pesquisa em Berkeley em 1907-1908, trabalhando no idioma nativo da Califórnia, Yana. Em seguida, ele foi para a Universidade da Pensilvânia, que apoiou sua pesquisa no Paiute do Sul, o primeiro estudo científico de uma língua shoshoneana. Trabalhando com Toni Tillohash, um homem do sul de Paiute empregado pelo Museu da Universidade da Pensilvânia, Sapir criou uma gramática do sul do Paiute que estabeleceu novos padrões de sensibilidade ao uso intuitivo da linguagem do falante nativo (Darnell 1990: 34–35). Em 1910, Sapir obteve sua primeira posição permanente como chefe da Divisão de Antropologia, Geological Survey of Canada, com sede em Ottawa (Darnell 1990: 65-79). A partir deste post, Sapir realizou pesquisas sobre o Nootka da Colúmbia Britânica e uma variedade de línguas athabascanas; Este trabalho levou à definição de Na-Dene, um estoque lingüístico composto por idiomas da costa noroeste, como haida, tlingit e outros idiomas athabascan, incluindo o Navaho. Durante seus quinze anos em Ottawa, Sapir voltou sua atenção para os problemas da lingüística histórica. 'Certas semelhanças no vocabulário e na fonética são indubitavelmente devidas a um idioma emprestado de outra', escreveu Sapir na Enyclopedia Britannica de 1929, 'mas as semelhanças mais profundas, como podem ser demonstradas, por exemplo, para Shoshonean, Piman, E Nahuatl ou Athabaskan e Tlingit, devem ser devidos a uma origem comum agora bastante obscurecida pela operação das leis fonéticas, desenvolvimentos e perdas gramaticais, distúrbios analógicos e empréstimos de elementos de fontes ”(1968a: 171). Para entender essas conexões históricas, Sapir propôs uma reclassificação das línguas indígenas americanas. A classificação proposta pelo major John Wesley Powell - o grande explorador, geólogo e etnólogo - colocou cerca de cinquenta e cinco estoques linguísticos diferentes para a América do Norte, tratando cada um deles como fundamentalmente Distinto. Sapir viu conexões maiores entre as línguas indígenas americanas e substituiu o esquema de Powell por meras seis ações linguísticas para a América do Norte: (1) esquimó-aleúte, (2) algonquiano, (3) dene, (4) penutiano, (5) Hokan e (6) Asteca-Tanoano (hoje chamado Uto-Asteca). Os idiomas desses estoques podem ser mutuamente ininteligíveis, mas exibem afinidades claras e ancestralidade compartilhada, como inglês, alemão, dinamarquês, sueco e norueguês, por exemplo. A classificação de seis unidades de Sapir das línguas indianas americanas dominou a lingüística americana na década de 1960, e continua sendo uma estrutura essencial para organizar as línguas nativas americanas (Darnell 1990: 110). O período de Ottawa de Sapir foi um período de isolamento intelectual. Ottawa estava longe dos centros de antropologia em Nova York, Berkeley e Chicago. A posição de Sapir no Levantamento Geológico não envolvia ensino, por isso faltava estímulo ao intercâmbio com os alunos. As cartas trocadas durante esse período entre Sapir e Ruth Benedict tornam claro seu senso de isolamento. Mas o tempo em Ottawa também foi marcado por extrema criatividade (Darnell 1990: 87-88). Sapir tinha um intelecto amplo, aparentemente cativado por tudo que dizia respeito às palavras, e suas publicações do período de Ottawa indicam uma produtividade extraordinária. Além de seus escritos em etnologia e linguística, Sapir também publicou poesia, resenhas de livros e ensaios sobre assuntos não-antropológicos. Suas 26 publicações de 1922 incluem 'Os elementos fundamentais do norte de Yana' e 'Athabaskan Tone', além de resenhas de poesias e romances publicadas em The New Republic, The Dial e Canadian Bookman; Dezesseis poemas originais; E traduções de três canções folclóricas canadenses francesas. Esse virtuosismo versátil é muito raro. Em 1925, Sapir aceitou com entusiasmo um cargo na Universidade de Chicago, onde poderia ensinar um grupo de estudantes de graduação apreciativos e onde poderia desenvolver seus interesses na área da semântica - o estudo do significado - e na personalidade e na cultura. Essa última arena de interesse o levou a dar importância central ao papel do indivíduo na cultura e marcou uma ruptura com os pensadores contemporâneos sobre a natureza da cultura. A cultura e o indivíduo O aspecto atual das definições de cultura do início do século XX é sua ênfase na natureza super-orgânica e supraindividual da cultura. A noção de super-orgânico é mais bem desenvolvida no trabalho de Kroeber (ver pp. 69-73), no qual ele argumentava que a cultura tinha uma propriedade super-orgânica que variava independentemente dos indivíduos que a compunham, e também que a cultura, a sociedade e o indivíduo Eram fenômenos discretos e irredutíveis. A posição de Sapir era muito diferente: ele acreditava que generalizações amplas sobre a sociedade estavam fora de lugar e que 'existem tantas culturas quanto indivíduos na população' (citado por Benedict 1939: 407). Essa idéia forma o pano de fundo de um artigo que Sapir escreveu em 1938, intitulado 'Por que a antropologia cultural precisa do psiquiatra' (1968e: 569-577). Sapir começa com uma discussão sobre o estudo de JO Dorsey sobre os índios Omaha e o fato de que depois de fazer várias generalizações antropológicas (“Os Omaha acreditam...”) Dorsey disse em vários momentos: “Dois Corvos negam isso.” Sapir admite estar chocado. Quando ele leu isso como estudante, assumindo que Dorsey não havia cumprido sua responsabilidade antropológica de fornecer ao leitor uma visão perfeita de uma sociedade diferente, delegando ao leitor a responsabilidade de avaliar como as diferentes opiniões de Two Crows se encaixam nos padrões gerais Da cultura Omaha. Mas, retrospectivamente, escreveu Sapir, vemos agora que Dorsey estava à frente de sua idade. Vivendo como ele mantinha contato íntimo com os índios Omaha [Dorsey era um missionário entre os Omaha], ele sabia que estava lidando, não com uma sociedade ou com um espécime de homem primitivo, nem com uma seção transversal da história da cultura primitiva, Mas com um número finito, embora indefinido, de seres humanos, que se deram o privilégio de diferir um do outro, não apenas em questões geralmente consideradas como 'negócios da própria pessoa', mas também em questões que claramente transcendiam a preocupação do indivíduo e eram, por A definição do antropólogo, implicada na concepção de uma sociedade definitivamente delimitada, com uma cultura definitivamente descoberta. (1968e: 570-571). Experiência e personalidade se encaixam facilmente em sua cultura foram sucessos, enquanto aqueles que não o fizeram eram desviantes (ver pp. 84–85). Sapir negou essa oposição implícita entre indivíduo e cultura: em última análise, não há oposição real entre o conceito de cultura do grupo e o conceito de cultura individual. Os dois são interdependentes. Uma cultura nacional saudável nunca é uma herança passivamente aceita do passado, mas implica a participação criativa dos membros da comunidade. É igualmente verdade, no entanto, que o indivíduo está desamparado sem uma herança cultural para trabalhar. (1968c: 321) Não surpreendentemente, Sapir estendeu essa visão do comportamento cultural a esse exemplo puro de prática cultural, linguagem: é óbvio que, para a construção da sociedade, suas unidades e subdivisões, e os entendimentos que prevalecem entre seus membros, alguns Processos de comunicação são necessários. Embora falemos frequentemente da sociedade como se fosse uma estrutura estática definida pela tradição, é, no sentido mais íntimo, nada disso, mas uma rede altamente intricada de entendimentos parciais ou completos entre os membros das unidades organizacionais de todos os graus. De tamanho e complexidade. Aparentemente, é apenas uma soma estática de instituições sociais; Na verdade, está sendo reanimado ou reafirmado de forma criativa, dia após dia, por atos particulares de natureza comunicativa que são obtidos entre os indivíduos que participam dele. (1968b: 104) Sobre a linguagem Em 1921, Sapir publicou Language: An Introduction to the Study of Speech, seu único livro para o público em geral. O biógrafo de Sapir, Regna Darnell, escreve que o Language foi direcionado a um público amplo, sem seus próprios fundamentos em etnologia e linguística. 'Os antropólogos sabiam sobre o trabalho de campo, mas não sobre métodos lingüísticos', observa Darnell. “Os lingüistas conheciam os métodos, mas não a aplicação a uma gama completa de linguagens humanas. O público educado também não conhecia ”(1990: 96). As origens literárias e o foco indo-europeu da lingüística tradicional A fraqueza metodológica e a ênfase não ocidental da antropologia significavam que nenhuma disciplina concordava em um terreno comum. Darnell escreve que “os limites disciplinares cortaram o reconhecimento da criatividade real da linguagem, que era, em todas as culturas, um veículo rico e preciso para a expressão do pensamento. Sapir se propôs o desafio de produzir um livro que pudesse ser entendido por qualquer pessoa educada com uma mente aberta ”(1990: 96). Primeiro, Sapir descreveu a artificialidade dinâmica da comunicação humana: 'A linguagem é um método puramente humano e não instintivo de comunicar idéias, emoções e desejos por meio de um sistema de símbolos produzidos voluntariamente' (1921: 8). Sapir então mostra que as palavras não são símbolos de percepções específicas ou mesmo de objetos específicos, mas sempre se referem a conceitos de objetos, 'uma conveniente cápsula de pensamento que abrange milhares de experiências distintas e está pronta para receber milhares de outras' (1921: 13). . Essas cápsulas de pensamento não apenas expressam nossos pensamentos, mas no processo de aprender a linguagem, nossos pensamentos são moldados pelos conceitos usados para organizar a percepção da experiência. Isso vale mesmo para os termos descritivos mais simples sobre o meio ambiente: a mera existência, por exemplo, de um certo tipo de animal no ambiente físico de um povo não é suficiente para dar origem a um símbolo lingüístico referente a ele. É necessário que o animal seja conhecido pelos membros do grupo em comum e que ele tenha algum interesse, por menor que seja, antes que a linguagem da comunidade seja chamada a fazer referência a esse elemento específico do ambiente físico. Em outras palavras, no que diz respeito à linguagem, toda influência ambiental se reduz, finalmente, à influência do ambiente social. (Sapir 1968d: 90) Sapir cita numerosos exemplos de como a linguagem reflete os aspectos socialmente significativos do meio ambiente; Ele lista, por exemplo, dezoito características topográficas usadas pelo Shoshone Paiute para descrever a paisagem de sua terra natal, incluindo desfiladeiro com riacho, desfiladeiro sem água, declive de montanha ou parede de desfiladeiro que recebe luz solar, encosta de montanha sombreada ou desfiladeiro e assim por diante. On (1968d: 91). De passagem, Sapir ressalta que virtualmente qualquer caçador e coletor nativo americano ficaria chocado com a variedade de plantas que simplesmente chamaríamos de “ervas daninhas”. Mas note que nossa impressão lingüística não reflete apenas nossa falta de interesse social na coleta de sementes - as palavras que empregamos e as categorias conceituais que elas implicam moldam a maneira como percebemos o mundo. Examinamos um terreno baldio e tudo o que vemos são ervas daninhas. Essa verdade básica está no centro da hipótese de Sapir-Whorf, que liga as categorias de linguagem e a percepção cultural do mundo. A hipótese de Sapir-Whorf Benjamin Whorf foi um homem incrível que fez contribuições significativas para a lingüística em apenas uma dúzia de anos antes de sua morte prematura em 1941, aos quarenta e quatro anos. Whorf era um tipo de gênio peculiarmente americano (Chase 1956). Ele trabalhou como engenheiro de prevenção de incêndio para a Hartford Fire Insurance Company por 22 anos; Seus estudos lingüísticos foram realizados após o trabalho e durante longas folgas de sua empresa. A introdução de Whorf à lingüística foi tortuosa, provocada por um interesse na cultura asteca que levou a um interesse em Nahuatl, a língua asteca. Sua pesquisa lingüística foi suficientemente impressionante que, em 1930, ele recebeu uma bolsa para estudar Nahuatl no México. As contribuições e realizações de Whorf, todas auto-instruídas, foram muito impressionantes. Mas a carreira linguística de Whorf sofreu uma grande mudança quando conheceu Sapir. No outono de 1931, Sapir deixou a Universidade de Chicago para Yale, e Whorf imediatamente se matriculou no seminário de Sapir. Em Yale, o estudo de Whorf sobre as línguas indígenas americanas se intensificou e ele se tornou um membro central de um grupo de estudantes de pós-graduação em Yale - incluindo Morris Swadesh, Charles Hockett e Carl Voegelin - que fizeram importantes contribuições para a lingüística americana. Sapir foi fundamental para direcionar Whorf para um estudo das línguas uto-astecas, e principalmente Hopi, e a interação dos dois homens levou a um modelo fundamental, a hipótese Sapir-Whorf. Como discutido acima (pp. 88-89), a hipótese de Sapir-Whorf propõe que categorias linguísticas estruturem e transmitam percepções de existência aprendidas culturalmente. É difícil determinar a contribuição de cada homem para a hipótese sobre a relação entre idioma, cultura e percepção. As idéias de Whorf são claramente baseadas nos escritos e ensinamentos de Sapir, embora Sapir tenha morrido antes que a maioria dos escritos de Whorf fosse publicada, e, portanto, Sapir nunca comentou diretamente sobre a hipótese de Sapir-Whorf (Darnell 1990: 375). Em um artigo intitulado 'Fatores linguísticos na terminologia da arquitetura Hopi', escrito em 1940, mas não publicado até 1952, Whorf descreveu a gama de termos e conceitos de construção associados às construções pueblo dos Hopis e, de maneira mais geral, a seus conceitos de espaço. Whorf observa que os termos arquitetônicos de Hopi “todos denotam sólidos tridimensionais no sentido geométrico, massas sólidas e rígidas ou áreas delimitadas definitivamente ou penetrações através de tais sólidos” - essas palavras incluíam te'kwa para uma seção da parede, parede inacabada, Ou paredes de uma ruína; Kí. ? . Umi para telhado; Ou poksö para um orifício de ventilação, janela sem vidro ou chaminé (1956: 200). O que Whorf não encontrou foi uma diversidade de palavras para espaços tridimensionais - corredor, hall, passagem, porão, sótão, sótão, despensa, câmara e sala - como temos em inglês. Não é que Hopi esteja linguisticamente empobrecido em sua descrição da arquitetura, mas que os espaços sejam descritos não em termos funcionais ou nominativos, mas em termos locacionais. Whorf escreve: Isso está de acordo com a maneira como Hopi e, de fato, a maioria ou todas as línguas uto-astecas representam a localização no espaço, ou regiões no espaço. Eles não são configurados como entidades que podem funcionar em uma frase como termos para pessoas, animais ou massas de matéria com forma característica, ou, novamente, grupos humanos e relações humanas, mas são tratados como conceitos puramente de relações, de um tipo adverbial. . Assim, espaços vazios, como sala, câmara, salão, não são realmente nomeados como objetos, mas são localizados; Isto é, posições de outras coisas são especificadas para mostrar sua localização em tais espaços vazios. (1956: 202) Segundo Whorf, os Hopi enfatizam elementos sólidos e construtivos em vez de espaços fechados, e descrevem os espaços em referência espacial entre si. Essa é uma maneira fundamentalmente diferente de pensar sobre o espaço arquitetônico do que temos em inglês, em que alguns localizadores de arquitetura incorporam elementos funcionais (“Onde fica?”, “No andar de cima”). As diferenças entre os tratamentos hopi e inglês dos espaços arquitetônicos interiores são paralelas nos termos aplicados aos edifícios como um todo. Whorf ressalta que, em inglês, temos um grande vocabulário para edifícios com funções diferentes - como em “igreja”, “capela”, “catedral”, “sinagoga”, “casa de reunião”, “templo”, “templo”, apenas para Cite algumas estruturas religiosas - isso não existe em Hopi. Hopi tem três palavras para estruturas, duas delas menores - a palavra para santuário (té. Tèska) e a palavra para tenda (mecávki), um item introduzido - e depois ki. Ele, “construção”. Embora os Hopi tenham diferentes “tipos” de edifícios - residências, depósitos, piki-houses (usados apenas para assar bolachas de milho [piki]) e os kivas circulares semi-subterrâneos usados apenas para cerimônias - a linguagem Não fundir estrutura e atividade em conjuntos funcionais. 'Eles não tem . . . O padrão que é tão natural para nós ”, observa Whorf,“ no qual 'uma igreja', ou seja, uma instituição, é um termo que se funde de maneira imperceptível em 'uma igreja', significando um tipo de edifício usado como local de encontro para essa instituição , com a distinção dificilmente sentida até chamar a atenção ”(1956: 204). Tais diferenças fundamentais na descrição do espaço arquitetônico são paralelas às diferenças nas classificações básicas do mundo externo: cores, direções, fenômenos climáticos, classificações de plantas e animais, relações de parentesco, obrigações sociais e assim por diante. Essas classificações refletem mais do que apenas palavras diferentes aplicadas aos mesmos objetos e conceitos, mas objetos e conceitos que são percebidos e concebidos de maneiras fundamentalmente diferentes. No entanto, existem muitos críticos da hipótese de Sapir-Whorf, como o linguista e cientista cognitivo Steven Pinker (2000, 2002) que ataca a hipótese de Sapir-Whorf por vários motivos. Primeiro, Pinker questiona o domínio real de Whorf sobre Hopi e outras línguas nativas americanas, citando o trabalho do antropólogo Ekkehart Malotki (1983) que encontrou construções verbais em Hopi que Whorf argumentou ausentes. Segundo, e mais fundamentalmente, Pinker argumenta que Whorf confundiu linguagem com pensamento. É um erro comum: os pensamentos são silenciosos e internos, tornados conhecidos e públicos através das palavras, e assim o pensamento e a linguagem são facilmente confundidos (Pinker 2000: 57). No entanto, experimentamos regularmente a disjunção entre pensamento e palavras: todos nós tivemos a experiência de proferir ou escrever uma frase, depois paramos e percebemos que não era exatamente o que pretendíamos dizer. Para ter esse sentimento, deve haver um 'o que queremos dizer' que é diferente do que dissemos. . . . E se os pensamentos dependiam das palavras, como uma nova palavra poderia ser cunhada? Como uma criança poderia aprender uma palavra para começar? Como a tradução de um idioma para outro é possível? (Pinker 2000: 57). A independência da linguagem e do pensamento foi demonstrada em experimentos com bebês e primatas não humanos sem linguagem, mas empregando categorias conceituais (Pinker 2002: 210). Além disso, a diferença entre linguagem e pensamento é indicada por nossas experiências pessoais: lembramos a essência de um argumento (como os tópicos, as conexões lógicas, os paradoxos), mas não as palavras individuais e, alternativamente, mudamos nossa linguagem para descrever Novos objetos e conceitos (por exemplo, house music, navegar na web). Pinker escreve que toda língua 'longe de ser uma penitenciária imutável, está constantemente sob revisão' (2002: 210). Portanto, se o princípio central da hipótese de Sapir-Whorf é suspeito (isto é, a linguagem molda o pensamento), qual é o seu valor duradouro para a teoria antropológica? Primeiro é o inegável impacto histórico da hipótese; A hipótese de Sapir-Whorf era um dos conceitos centrais do relativismo cultural e, portanto, influenciou a pesquisa antropológica no século XX. Mas talvez uma conseqüência mais sutil fosse concentrar a atenção antropológica em como os membros de diferentes sociedades classificam e descrevem os mundos culturais em que habitam. Isso, por sua vez, fez do estudo da construção cultural do significado uma questão central na teoria antropológica. Conclusão Sapir e Whorf morreram alguns anos um com o outro nas idades relativamente jovens de cinquenta e quatro (Sapir) e quarenta e quatro (Whorf). É impossível saber o que mais esses homens teriam conseguido se tivessem vivido tanto quanto Alfred Kroeber. Além de suas análises lingüísticas e realizações polímatas, elementos do trabalho de Sapir têm grande importância para o pensamento antropológico atual. A questão do significado é central. O trabalho de Sapir mudou o foco da análise linguística da palavra para o seu significado, o que imediatamente levou a idéias sobre a criação cultural de significado. Se, como Dois Corvos parecia demonstrar, o mundo do comportamento socializado é simplesmente, mas significativamente, nada mais que consenso público de opinião, segue-se que esse consenso é martelado em argumentos, debates, fofocas, rituais e um todo. Conjunto de interações simbólicas que antropólogos como Clifford Geertz (ver capítulo 19) chamariam de 'discurso' (Geertz 1973: 9-10). A cultura não é um emaranhado caótico de opiniões individuais, no entanto, nos pontos de vista de Sapir e Whorf, porque a própria linguagem impõe certas estruturas à percepção. Como membros de uma cultura e falantes de um idioma, aprendemos certas classificações implícitas e consideramos que essas classificações são representações precisas do mundo. E como essas categorias linguísticas variam, culturas diferentes, embora compostas por indivíduos com capacidade de discordar, também exibem consensos distintos sobre a natureza da existência.
Margaret Mead O Individual e a Cultura
Antropologia cultural tem duas componentes principais: etnografia e Etnologia. A etnografia é uma descrição detalhada de uma determinada cultura, baseada principalmente no trabalho de campo, que é o termo que todos os antropólogos usam para designar a pesquisa no lugar onde se encontra a cultura. Porque a característica específica do trabalho de campo etnográfico é uma combinação entre participação social e observação pessoal dentro da Comunidade estudada, bem como as entrevistas e discussões com membros individuais de um grupo; o método etnográfico é comumente referido como observação participante. As Etnografias fornecem as informações usadas para fazer comparações sistemáticas entre culturas de todo o mundo. A etnologia, é uma pesquisa transcultural que permite aos antropólogos desenvolver teorias antropológicas que ajudem a explicar do porque de certas diferenças importantes ou semelhanças ocorrem entre grupos. Quando ela morreu em novembro de 1978, Margaret Mead era a antropóloga mais lida na América; Ela provavelmente ainda é. Seu primeiro livro, Coming of Age in Samoa, foi publicado em 1928, tornou-se um clássico instantâneo e continua sendo a melhor venda de todos os livros antropológicos (Freeman 1983: xii). A vasta popularidade do livro surgiu de sua pergunta central, uma pergunta que os humanos acham fascinante: por que somos do jeito que somos? Mead encontrou a resposta em três experiências que a maioria das pessoas compartilha - infância, paternidade e sexo - e, portanto, seu trabalho foi imediatamente relevante para literalmente milhões de pessoas. O grande interesse no trabalho e nas idéias de Mead é refletido por suas numerosas e diversas publicações e disponibilidade em uma variedade de mídias, incluindo registros, fitas, filmes e vídeos. Em 1976, sua bibliografia listava mais de mil e quatrocentos trabalhos impressos: livros, artigos em revistas científicas, resenhas de livros, artigos de jornais, declarações inscritas como testemunho do congresso, relatórios de conferências e um fluxo contínuo de artigos de revistas (Gordon 1976). Os artigos da revista são interessantes em seus títulos e locais: “Dicas do Mar do Sul sobre a Criação de Filhos” apareceram na edição de setembro de 1929 da revista Parents; A Mademoiselle de julho de 1948 apresentava 'As crianças são selvagens?'; E, nos anos 60, Mead escreveu uma coluna mensal na revista Redbook, na qual respondia às perguntas dos leitores: “Margaret Mead Responde: Perguntas sobre Orações Escolares, Felicidade, Telepatia etc.” (fevereiro de 1963), “Margaret Mead Responde: Is Trabalho doméstico mais fácil do que há 50 anos? Shakespeare era realmente Shakespeare? O que é o fascínio fatal do beisebol? ”(Novembro de 1964) e“ Margaret Mead responde: perguntas sobre Jean-Paul Sartre, ônibus escolar, por que as pessoas gostam de ter o cabelo arrepiado etc. ”(março de 1965). Isso mostra um certo talento de temerário, uma disposição ousada de escrever sobre quase tudo. 'A antropologia atraiu Mead em primeiro lugar porque suas fronteiras eram muito flexíveis', escreve Jane Howard, 'mas mesmo ela não a podia conter' (1984: 13). O motivo de Mead era advocacia, seu desejo de falar sobre questões centrais sobre a sociedade e reformar as condições sociais com base em dados antropológicos comparativos. O fato de outra sociedade, por exemplo, não alimentar os bebês em um horário rígido implicava que isso envolvia um comportamento aprendido, um comportamento que poderia ser identificado e alterado, se desejado. Os impactos de diferentes práticas de criação de filhos na personalidade adulta podem ser avaliados; Diferentes práticas poderiam ser defendidas e adotadas; E a sociedade poderia ser melhorada. “O processo de investigação”, escreve sua filha Mary Catherine Bateson, sobre a experimentação de Mead com seu próprio filho, “envolvendo a vida de uma criança, só poderia ter sido realizada em um contexto de advocacy, e Margaret, para Margaret, nunca foi realizada. Muito para trás ”(1984: 30). As idéias de Mead sobre a educação dos filhos foram amplamente sentidas na sociedade americana. Mead escolheu o Dr. Benjamin Spock como pediatra da filha porque ele havia sido psicanalisado (Bateson 1984: 31), e Mary Catherine Bateson foi a primeira criança amamentada e amamentada que encontrou. Como antropóloga, Mead registrou as demandas alimentares de seu bebê, encontrou padrões nos tempos e, em seguida, agendou seus compromissos de ensino e redação nesse período. Isso teve alguma influência nos escritos de Spock sobre cuidados com os bebês e, consequentemente, na criação dos baby boomers pós-Segunda Guerra Mundial. Para o bem ou para o mal, muitos de nós fomos criados ou criamos nossos filhos de uma maneira indiretamente influenciada por Margaret Mead. Como escreve sua filha, “As inovações que Margaret fez como mãe foram realmente maiores do que parecem agora, porque muitas foram incorporadas aos padrões da sociedade” (1984: 33). Apesar de seus escritos prolíficos, ou talvez por causa deles, a influência de Margaret Mead na antropologia é difusa. Ao contrário de teóricos como Sapir ou Benedict cujos conceitos centrais podem ser Sumariamente resumida e suas implicações derivadas, a idéia central de Margaret Mead - de que as diferenças entre os povos são geralmente diferenças culturais transmitidas na infância - não leva a expectativas específicas, mas a uma mudança geral de visão, a uma preocupação de como um bebê humano é transformado em Um membro adulto de uma sociedade em particular. E o papel muito público de Mead como advogada levantou questões sobre a precisão de sua pesquisa antropológica (Freeman 1983; Holmes 1987; Leacock 1993). Margaret Mead viveu muito, trabalhou duro e defendeu a combinação de inovação social e respeito à tradição, em um esforço para melhorar a situação humana. As consequências de sua vida e trabalho são profundas e contínuas. Antecedentes Margaret Mead nasceu em 1901 em uma família de classe média alta, bem-educada e socialmente sólida (para uma seleção das cartas de Mead, veja Caffrey e Francis 2006). Seu pai era professor de economia e a mãe, uma mulher com formação universitária e ativa em uma variedade de causas sociais - direitos civis, sufrágio feminino, anti-pêlo - que transmitiam um senso de defesa à filha. Depois de um ano na Universidade DePauw, Mead se transferiu para o Barnard College, a universidade feminina associada à Universidade Columbia, no coração da cidade de Nova York. Ela se divertiu muito em Barnard, formando amizades duradouras com outros estudantes e se envolvendo nas principais teorias, questões políticas e controvérsias que surgiram nos círculos acadêmicos com o desenvolvimento do modernismo (Mead, 1972). Como graduada em inglês e psicologia, Mead fez um curso com Franz Boas em seu último ano. Ela ficou cativada pelas palestras de Boas e, após o primeiro mandato, participou de todos os cursos e seminários que ele ofereceu na Columbia. Mead também ficou fascinado pela assistente de ensino de Boas, Ruth Benedict, que convenceu Mead a seguir a antropologia como estudante de graduação. No final de seu último ano em Barnard, Mead estava preparada para começar seus estudos em antropologia - e seu primeiro casamento com Luther Cressman, que se tornou um arqueólogo conhecido. Mais tarde, casou-se com o antropólogo Reo Fortune, cujo trabalho Orcerers of Dobu é uma etnografia clássica discutida por Benedict em Patterns of Culture (ver pp. 82–85) e, finalmente, Gregory Bateson, um dos cientistas sociais mais criativos e iconoclasta do século XX (Lipset, 1980). Mead conduziu um trabalho de campo com Fortune e Bateson, e ela e Bateson tiveram uma filha, a antropóloga e escritora Mary Catherine Bateson. A pesquisa antropológica de Mead e sua vida pessoal foram explorações paralelas das relações entre gênero, infância e sociedade. Gênero, criação de filhos e cultura: as ideias teóricas de Fieldwork e Theory Mead evoluíram diretamente de suas investigações de campo. Entre 1925 e 1939, Mead participou de cinco viagens de campo e estudou oito sociedades diferentes. Estranhamente, sua própria dissertação não se baseou em trabalho de campo, mas em pesquisa de bibliotecas sobre a cultura material da Polinésia - um tópico atribuído por Boas - e é descrita como detalhada e competente por alguns (Thomas 1980) e sem brilho por outros (McDowell 1980: 278). A primeira pesquisa de campo de Mead foi em Samoa, onde ela passou oito meses em campo em 1925. Seu livro, Coming of Age in Samoa, foi o resultado extremamente popular e seus resultados permanecem controversos (ver discussão abaixo, p. 110). Depois que ela voltou de Samoa, Mead e Fortune trabalharam em dois projetos de campo: uma breve investigação dos Omaha durante o verão de 1930 (seu único trabalho em um grupo de indígenas americanos) e um projeto de pesquisa muito mais longo na Nova Guiné (1931–1933) , uma comparação transcultural descrita em Sex and Temperament in Three Primitive Societies (1963). Mais tarde, ela conduziu uma pesquisa de campo com Gregory Bateson em Bali em 1936–1938 e novamente em 1939 e entre os Iatmul da Nova Guiné em 1938. A pesquisa balinesa é notável pelo uso da fotografia como ferramenta de pesquisa e resultou em caráter balinês ( Bateson e Mead 1942; para um excelente estudo, ver Sullivan 1999). Essas três fases do trabalho de campo capturam a base etnográfica da contribuição central de Mead: que práticas específicas de criação de filhos moldam personalidades que, por sua vez, dão sociedades específicas Suas naturezas essenciais. Na introdução de Coming of Age, em Samoa, Mead escreveu: Este conto de outro modo de vida se preocupa principalmente com a educação, com o processo pelo qual o bebê, que chegou sem cultura à cena humana, se torna um membro adulto de pleno direito. Ou a sociedade dela. A luz mais forte cairá sobre as maneiras pelas quais a educação samoana, em seu sentido mais amplo, difere da nossa. E a partir desse contraste, podemos ser capazes de nos tornar, nova e vividamente autoconscientes e autocríticos, para julgar de novo e talvez modelar de maneira diferente a educação que damos a nossos filhos. (1928: 13) O perfil de Mead sobre a educação samoana foi baseado em um estudo detalhado de sessenta e oito meninas entre oito e vinte anos de idade em três aldeias quase contíguas na ilha de Ta'u, a maior das três ilhas do país. Manu'a grupo de ilhas mais a leste da Samoa Americana. Uma folha de registro de exemplo (Mead 1928: 284) indica que Mead coletou uma variedade de dados pessoais e familiares sobre as maneiras como os samoanos se avaliavam (a garota mais bonita, o homem mais sábio, o pior garoto) e administrou um conjunto de testes psicológicos básicos, como Como memória mecânica para números. 'Mas', admitiu Mead, esses dados quantitativos representam o esqueleto mais simples do material que foi coletado através de meses de observação dos indivíduos e dos grupos, sozinhos, em suas casas e em jogo. A partir dessas observações, a maior parte das conclusões é tirada sobre as atitudes das crianças em relação às famílias e entre si, seus interesses religiosos ou a falta deles e os detalhes de suas vidas sexuais. Esta informação não pode ser reduzida a tabelas ou declarações estatísticas. (1928: 264) A conclusão básica foi que a adolescência em Samoa não foi um período estressante para as meninas, porque, em geral, a sociedade samoana carecia de tensões: o contexto samoano que torna o crescimento tão fácil, tão simples, é a casualidade geral do grupo. Sociedade inteira. Para Samoa é um lugar onde ninguém joga com apostas muito altas, Margaret Mead Ninguém paga preços muito altos, ninguém sofre por suas convicções ou luta até a morte por fins especiais. As divergências entre pai e filho são resolvidas pelo movimento da criança do outro lado da rua, entre um homem e sua aldeia pela remoção do homem para a próxima aldeia, entre o sedutor do marido e da esposa por alguns belos tapetes. . . . E nas relações pessoais, o cuidado é leve. Amor e ódio, ciúme e vingança, tristeza e luto, são questões de semanas. Desde os primeiros meses de sua vida, quando uma criança é entregue descuidadamente das mãos de uma mulher para outra, aprende-se a lição de não cuidar muito de uma pessoa, de não criar grandes esperanças em nenhum relacionamento. (Mead 1928: 199) Mead citou várias observações para apoiar sua conclusão. Os bebês samoanos são amamentados sob demanda até duas ou três, mas outros alimentos como mamão amassado e leite de coco são dados ao bebê durante a primeira semana. Após o desmame, as crianças são entregues a uma menina de seis ou sete anos; Essas crianças mais velhas cuidam e são responsabilizadas pelo mau comportamento de suas cobranças. O agregado familiar samoano é bilateral e frequentemente alargado; A composição familiar varia de famílias nucleares a famílias de quinze a vinte pessoas que podem estar relacionadas por casamento, sangue, adoção ou amizade. Essa flexibilidade de residência permite que uma criança samoana se estabeleça com outro parente quando há conflitos em casa. Mead descreveu as relações sexuais como frequentes e geralmente sem conseqüências. Das trinta meninas pós-pubescentes que Mead estudou, dezessete tiveram relações heterossexuais e vinte e duas relações homossexuais; A maioria das virgens vivia na casa do pastor cristão. Os contatos ocorreram na praia ou quando um intrépido amante entrou na casa; O estupro não era frequente em contraste com o 'moetotolo, no qual um homem apropria-se furtivamente dos favores destinados a outro' (Mead, 1928: 93; compare Freeman, 1983). Os abortos podem terminar a gravidez, embora não haja grande confusão sobre crianças “ilegítimas” que são incorporadas à casa. Essa facilidade de transições, a fluidez das mudanças de status, argumentou Mead, caracterizaram a infância e a sociedade em Samoa. Não se tratava simplesmente de uma infância moldando a sociedade ou vice-versa, mas de ambos. As implicações desta pesquisa e a descoberta O tumulto adolescente não era uma característica inata da condição humana, deu um grande significado ao trabalho de Mead. É também uma fonte de controvérsia cinquenta e cinco anos depois. Em 1983, Derek Freeman publicou Margaret Mead e Samoa: The Making and Unmasking of an Mito Antropológico, no qual argumentava que Mead distorcia sistematicamente a sociedade samoana. Freeman, também especialista em Samoa, argumentou que Mead “subestimou muito a complexidade da cultura, sociedade, história e psicologia” dos samoanos, assumindo que eles eram “muito simples” (1983: 285). Freeman afirmava que a simplicidade refletia apenas a falta de domínio da língua samoana por Mead, sua ignorância das complexidades do status e dos sistemas políticos samoanos e uma ingênua euforia sobre Samoa como um Éden tropical. Mas o mais condenador, na crítica de Freeman, foi que Mead foi para Samoa com a intenção preconcebida de mostrar que a cultura, não a biologia, determinava respostas humanas às transições da vida, como a adolescência. Freeman afirmou mais tarde que essa suposição predispunha Mead a aceitar acriticamente as declarações das meninas samoanas sobre ligações sexuais que eram falsas farsas, “um exemplo da maneira pela qual um observador altamente inteligente pode ser cego à realidade empírica por um compromisso acrítico com um comprometimento cientificamente falso. Suposição ”(1999: 212). Freeman escreve: Portanto, é evidente que seus escritos desse período, sobre Samoa e outras culturas dos mares do sul, tinham o objetivo explícito de confundir explicações biológicas do comportamento humano e defender as doutrinas da escola boasiana. . . . Não há dúvida de que o desejo fervoroso de Mead de demonstrar a validade das doutrinas que ela mantinha em comum com Benedict Ruth e Boas a levou, em Samoa, a ignorar evidências contrárias a suas crenças. (1983: 282) As acusações de Freeman provocaram um uivo de controvérsia, bastante separado da avaliação das evidências, uma vez que ele tinha evidências que contradiziam Mead desde os anos 1960, mas só as publicou após sua morte. O debate, que foi apresentado na mídia, tornou-se particularmente vitriólico, porque tocou um nervo real: a degradação do trabalho mais conhecido do antropólogo americano mais conhecido (ver Holmes 1987; Leacock 1993; Orans 1996). Mas muito antes da controvérsia, o trabalho de Mead em Samoa estabeleceu o padrão para uma série de estudos etnográficos detalhados realizados em outros lugares na Oceania e na Melanésia. Sexo e temperamento em três sociedades primitivas apresenta os resultados do trabalho de Mead de 1931 a 1933 entre três sociedades da Nova Guiné. Sua pesquisa examinou uma questão básica sobre 'o condicionamento das personalidades sociais dos dois sexos' (1963: xiv). Mead descreveu seu estudo como um relato de como três sociedades primitivas agruparam suas atitudes sociais em relação ao temperamento sobre os fatos muito óbvios da diferença de sexo. Estudei esse problema em sociedades simples, porque aqui temos o drama da civilização pequeno, um microcosmo social semelhante em espécie, mas diferente em tamanho e magnitude, a partir das complexas estruturas sociais. . . . Entre o gentil Arapesh, que habita nas montanhas, o feroz canibalista Mundugumor e os graciosos caçadores de cabeças de Tchambuli, estudei essa questão. Cada uma dessas tribos tinha, como toda sociedade humana, o ponto da diferença de sexo para usar como um tema na trama da vida social, e cada um desses povos desenvolveu esse tema de maneira diferente. (1963: viii – ix) Esses três grupos viviam a um raio de cem milhas um do outro na costa norte da Papua Nova Guiné, e ainda assim suas personalidades eram completamente distintas. Sobre o Arapesh, Mead escreveu: Eles consideram homens e mulheres inerentemente gentis, receptivos e cooperativos, capazes e dispostos a subordinar o eu às necessidades daqueles que são mais jovens ou mais fracos e obter uma grande satisfação ao fazê-lo. Eles cercaram com prazer a parte da paternidade que consideramos especialmente maternal, o cuidado minucioso e amoroso da criança pequena e o prazer altruísta do progresso dessa criança em direção à maturidade. (1963: 134) As responsabilidades de criação de filhos de Arapesh eram tão divididas entre mãe e pai que “se alguém comenta sobre um homem de meia idade como bonito, o povo responde:‘ Bonito? Sim? Mas você deveria tê-lo visto antes que ele desse todas as crianças '”(Mead 1963: 39). O Mundugumor não poderia ser mais diferente. Vivendo em uma sociedade 'baseada na teoria de uma hostilidade natural que existe entre todos os membros do mesmo sexo', pais e filhos de Mundugumor, e mães e filhas, eram adversários. “O filho de Mundugumor nasce em um mundo hostil”, escreveu Mead, “um mundo em que a maioria dos membros de seu próprio sexo serão seus inimigos, em que seu principal equipamento para o sucesso deve ser a capacidade de violência, de ver e Insulto vingativo ”(1963: 189). Esse temperamento hostil era compartilhado por homens e mulheres; Os mundugumor não têm teoria de que as mulheres diferem temperamentalmente dos homens. Acredita-se que sejam igualmente violentos, agressivos e ciumentos. Eles simplesmente não são tão fortes fisicamente, embora uma mulher possa lutar muito bem e um marido que queira bater em sua esposa se esforce para se armar com uma mandíbula de crocodilo e para ter certeza de que não está armada. (Mead 1963: 210) Voltando aos Tchambuli, Mead encontrou outra sociedade em que os principais temas de temperamento e gênero eram definidos de maneira diferente: como os Arapesh fizeram dos alimentos e crianças em cultivo a maior aventura de suas vidas, e os Mundugumor encontraram maior satisfação em lutar. E aquisição competitiva de mulheres, pode-se dizer que os Tchambuli vivem principalmente pela arte. Todo homem é um artista e a maioria dos homens não é habilidosa em apenas uma arte, mas em muitas: em dança, escultura, trança, pintura, e assim por diante. Cada homem se preocupa principalmente com seu papel no palco de sua sociedade, com a elaboração de seu figurino, a beleza das máscaras que possui, a habilidade de tocar flauta, o acabamento e a melodia de suas cerimônias e com as outras pessoas. Reconhecimento e avaliação de seu desempenho. (Mead 1963: 245) E enquanto os homens de Tchambuli estavam preocupados com a arte, as mulheres tinham o poder real, controlando a pesca e as manufaturas mais importantes, observando seus homens com 'gentil tolerância e apreciação' (Mead 1963: 255). Sexo e temperamento em três sociedades primitivas eram importantes porque naquela época nos Estados Unidos os papéis sexuais eram vistos - Por homens e mulheres - como características naturais inevitáveis das diferenças de gênero; Mead mostrou que esses padrões de comportamento eram realmente extremamente maleáveis e refletiam diferenças culturais. Mead e Gregory Bateson também exploraram as bases culturais da personalidade em seu trabalho de campo em Bali de 1936 a 1938. Seu objetivo era “traduzir aspectos da cultura nunca registrados com sucesso pelo cientista, embora freqüentemente capturados pelo artista, em alguma forma de comunicação suficientemente. Clara e suficientemente inequívoca para satisfazer os requisitos da investigação científica ”(Bateson e Mead 1942: xi). Na ausência de um vocabulário científico complexo projetado para expressar o ethos de uma cultura, Mead se baseava em palavras inglesas comuns - mesmo que seus significados fossem específicos para um cenário cultural completamente diferente da experiência balinesa (Bateson e Mead 1942: xi). A saída desse dilema foi combinar a etnografia tradicional com um registro fotográfico para que as observações pudessem ser registradas e comunicadas. O resultado é um registro antropológico fascinante. Com base em seu trabalho na comunidade montanhosa de Bajoeng Gede, Mead e Bateson documentam um modo de vida baseado na orientação. “Orientação”, observa Mead, “no tempo, espaço e status são os elementos essenciais da existência social” (Bateson e Mead 1942: 11). Mead escreve que 'o lugar de cada homem no esquema social de sua aldeia é conhecido' (Bateson e Mead 1942: 7). As diferenças de status são refletidas no espaço (a pessoa superior deve dormir no lado leste ou interior da pessoa inferior), elevação vertical (cadeiras mais altas para status mais altos), idioma (usando linguagem polida para falar com alguém de uma casta ou status mais alto) ), postura e gesto. Em Bajoeng Gede, “espaço, tempo e status social formam um todo ordenado, com pouco estresse ou tensão” e “dentro dos conjuntos fixos e complicados de regulamentos, obrigações e privilégios, as pessoas são relaxadas e sonhadoras”, e essa orientação espacial “É mais uma proteção do que uma camisa de força e sua perda provoca extrema ansiedade” (Bateson e Mead 1942: 10). Esse conhecimento cultural é literalmente transmitido no nascimento. Mead escreve: Quando o bebê balinesa nascer, a parteira, mesmo no momento de levantá-lo nos braços, colocará palavras em sua boca, Comentando: “Sou apenas um bebê recém-nascido pobre e não sei falar direito, mas sou muito grato a vocês, pessoas honradas, que entraram nesta casa de porco para me ver nascer. E a partir desse momento, durante toda a infância, a criança se encaixa em um quadro de comportamento, de fala imputada, pensamento imputado e gesto complexo, muito além de sua habilidade e maturidade. (Bateson e Mead, 1942: 13) Gradualmente, a criança adota esses padrões de fala e comportamento, um processo que Mead descreve em uma bela metáfora, como “escorregar na fala, como em uma roupa velha, usada antes, mas ajustada à peça”. Outra mão ”(Bateson e Mead, 1942: 13). “Assim como a fala, assim como a postura e o gesto”, escreve Mead, e é nas fotografias de Bateson que vemos as mães colocarem as mãos dos filhos em oração, professores de dança estendendo os braços das crianças para instruírem mecha mecânica, e uma mãe provocando seu filho Segurando o irmão mais novo sobre a cabeça e, assim, invertendo os relacionamentos adequados de idade, status e elevação. Ao todo, Bateson filmou cerca de 22.000 pés de filme de 16 mm e 25.000 fotografias estáticas; Combinados com o registro etnográfico intensivo de Mead, como Nancy McDowell observou, 'eles se encontraram com um corpo de dados, particularmente material fotográfico, que era tão detalhado, extenso e inovador que não existia outro corpo de dados com o qual eles pudessem compará-lo' ( 1980: 297). Continua sendo uma obra-prima de documentação e análise. Conclusão O caráter balinês exemplifica um tema central no trabalho de Mead - a relação entre padrão individual e cultural. É uma abordagem que ficou conhecida como “cultura e personalidade” e, embora compartilhe preocupações com a abordagem de padrões culturais de Benedict Ruth, o trabalho de Mead exibe um uso mais explícito da teoria psicológica, métodos de coleta de dados e uma maior conscientização da dinâmica entre O ethos individual e cultural. A cultura não é apenas o indivíduo em geral, argumentou Mead. O indivíduo é um produto do comportamento cultural que molda a pessoa de maneiras comuns, mas únicas, que são reinterpretadas e reexpressas, revividas à medida que a criança se torna adulta, Como a criança se torna um pai. Essa interação entre indivíduo e cultura é o processo dinâmico e complexo pelo qual os humanos aprendem a ser humanos, mas são seres humanos de tipos muito distintos. Como seus colegas Kroeber, Benedict e Sapir, Mead tentou descobrir o que tornava as culturas distintas, mas coerentes. Como é que as sociedades humanas podem ser tão incrivelmente diferentes, não apenas na superfície, mas em seus próprios ângulos, e ainda dentro de uma sociedade específica pode haver tanta unanimidade quanto a valores e práticas? Para os evolucionistas vitorianos, a resposta foi direta: as sociedades eram diferentes porque representavam estágios nos 'canais quase uniformes' do progresso humano. A crítica boasiana demoliu essa resposta fácil, mas não colocou nada em seu lugar; O melhor que Boas poderia sugerir era continuar coletando bons dados etnográficos e, um dia, talvez, as leis da cultura humana se tornassem evidentes. Mas isso aparentemente não satisfez os alunos de Boas, pelo menos não Kroeber, Sapir, Benedict e Mead. Cada um buscou uma maneira diferente de explicar a coerência da cultura: Kroeber voltou-se para o super-orgânico, Benedict para os valores fundamentais da cultura, Sapir e Whorf para as categorias conceituais incorporadas na linguagem e Margaret Mead para os processos de desenvolvimento humano: O bebê é banhado, as intimidades compartilhadas entre marido e mulher, ou os pequenos gestos que ensinam a criança seu lugar no mundo.
ETNOGRAFIA
Através da Observação participante — comendo a comida do povo, dormindo sob seu tecto, aprendendo a falar e a comportar-se de forma aceitável e experimentando pessoalmente os seus hábitos e costumes — o etnógrafo procura ganhar a melhor compreensão possível de um modo particular de vida. Sendo um observador participante não significa que o antropólogo deve participar em batalhas para estudar uma cultura onde a guerra é proeminente; Mas por viver entre um povo bélico, o etnógrafo deve ser capaz de entender como a guerra se encaixa no âmbito da cultura em geral. Ele ou ela deve observar cuidadosamente para obter uma visão geral sem colocar demasiada ênfase sobre uma parte em detrimento da outra. Só descobrindo como todos os aspectos de uma cultura — as práticas sociais, políticas, econômicas e religiosas e institucionais — interagem o etnógrafo pode começar a entender o sistema cultural. Esta é a perspectiva holística tão básica para esta disciplina. A imagem popular do trabalho de campo etnográfico é a que ocorre entre pessoas que vivem em lugares distantes e isolados. Para ter certeza, tem sido feito muito trabalho etnográfico nas aldeias remotas da África ou na América do Sul, as ilhas do Oceano Pacífico, as reservas índias da América do Norte, os desertos da Austrália e assim por diante. No entanto, como a disciplina se desenvolveu, as sociedades industrializadas ocidentais também se tornaram o foco de estudo antropológico.
O Trabalho de campo etnográfico conduziu antropólogos ocidentais peritos a estudar as pessoas d’ "outros " lugares em colaboração com antropólogos e varias comunidades locais. Hoje, os antropólogos de todo o mundo utilizam as mesmas técnicas de pesquisa que foram usadas no estudo dos povos não-ocidentais para explorar diversos temas como movimentos religiosos, gangues de rua, direitos de terra, escolas, práticas matrimoniais, resolução de conflictos nas culturas ocidentais.
Etnologia
A ampla descrição da natureza feita pela etnografia fornece os dados necessários para a etnologia — o ramo da antropologia cultural que envolve comparações transculturais e teorias que explicam as diferenças ou semelhanças entre os grupos. O estudo sobre as nossas próprias crenças e práticas pode contribuir a estabelecer comparações transculturais. Considere, por exemplo, a quantidade de tempo gasto em tarefas domésticas por povos industrializados comparada à preparação da comida tradicional camponês (pessoas que dependem de plantas silvestres e recursos animais para subsistência). A Pesquisa antropológica demonstrou que as operárias na preparação da comida empregam muito menos tempo em tarefas domésticas e outras atividades de subsistência em comparação com as pessoas nas sociedades industrializadas. Mulheres urbanas nos Estados Unidos, que não estavam trabalhando por salários fora de suas casas emèregam 55 horas por semana na sua casa — isto, apesar de todos os "electrodomésticos " máquinas de lavar louça, máquinas de lavar, secadores de roupa, aspiradores de pó, processadores de alimentos e fornos de micro-ondas. Doutro lado, as mulheres aborígines na Austrália dedicam 20 horas por semana para seus afazeres. No entanto, aparelhos de consumidor tornaram-se importantes indicadores de um alto padrão de vida nos Estados Unidos devido à crença generalizada de que aparelhos domésticos reduzem o trabalho doméstico e aumentam o tempo de lazer.
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4ª Lição 2 de Abril 2024: Funcionalismo
Introdução
A investigação antropológica ensinou-nos a apreciar o fenómeno da cultura. Afastou-nos adequadamente do anterior pensamento biológico ingénuo e levou-nos a compreender que cada pessoa é moldada pela sua cultura e que cada cultura é moldada pelo seu próprio passado. Foi uma lição importante a aprender, mas aprendemo-la demasiado bem, ensinamo-la com demasiada insistência. Os excessos da doutrina antropológica atual levam-nos a assumir que o homem é uma coisa perfeitamente plástica e que as culturas podem assumir qualquer forma. Esta é, no mínimo, uma posição questionável, mas é uma posição que raramente é posta em causa. A resposta a este exagero antropológico não é regressar ao pensamento biológico, não é explicar a diversidade humana em termos de composição genética nem o comportamento humano em termos de respostas biológicas - embora, suspeito, exista o perigo de um tal movimento intelectual. Pelo contrário, trata-se de reconhecer o biológico no homem, o facto de que cada cultura só pode ser vista como uma resposta padronizada ao carácter das necessidades humanas e cada sociedade é moldada pelas exigências insistentes que a vida exerce sobre os vivos. O etólogo pode estabelecer padrões de comportamento de uma espécie estudando qualquer amostra que possa encontrar; o antropólogo pode obter uma análise etológica de uma espécie.
A compreensão do homem só pode ser feita através de um corte nos determinantes culturais, e isso ele pode fazer apenas examinando as consistências que subjazem aos padrões de comportamento manifestos variantes. Não é razoável duvidar que tais consistências existam. A antropologia teve um grande impacto na filosofia moral do nosso tempo, um impacto desproporcionado em relação à força numérica e fiscal da disciplina. Afastou-nos do pensamento biológico e levou-nos a uma apreciação da força da cultura; tornou-nos conscientes dos nossos próprios costumes e crenças como um dos muitos e aparentemente arbitrários modos de pensamento. Ao fazê-lo, promoveu um relativismo cultural, o que, por sua vez, colocou a própria antropologia na corrente principal de uma velha tradição científica. Pois, tal como a astronomia afastou a terra do centro do universo e a biologia retirou o homem da sua posição única no mundo vivo, também a antropologia retirou o homem ocidental do pináculo e da quintessência da perfetibilidade humana e colocou-o ao lado do aborígene australiano e do hotentote angolano como um de tantos seres culturais diversos.
O funcionalismo comparativo
O objetivo último da antropologia é a compreensão científica do comportamento social humano e uma compreensão sistemática da distribuição no tempo e no espaço das suas manifestações. O esforço para atingir este objetivo deu origem a muitas e diversas escolas de etnologia e, embora se possa ver com desânimo tanto as realizações limitadas como os desacordos internos, é preciso reconhecer que o nível geral de sofisticação aumentou notavelmente, tendo em conta o curto período de tempo e as instalações limitadas da nossa disciplina. Entre as realizações de que os antropólogos se podem orgulhar contam-se
(1) o reconhecimento geral do fenómeno da cultura e a implicação dos conjuntos culturais nos atributos manifestos dos seres humanos no seu habitat natural;
(2) o reconhecimento de que o homem-em-sociedade coloca certas exigências à situação em que os seres humanos operam, de modo a afetar o carácter que a cultura pode ou deve assumir em determinadas circunstâncias; e
(3) que existe uma inter-relação (ainda pouco explorada) entre as manifestações da vida social e o carácter psicológico do animal humano.
Tem sido popular em certos círculos descartar a explicação "cultural", e particularmente apontar a inadequação da teoria antropológica pós-boasiana. No entanto, a contribuição de Boas foi precisamente a de inserir esta dimensão cultural na filosofia social. Embora a teoria Boasiana seja inadequada e fraca em termos dos entendimentos actuais - sobretudo por algumas das suas falhas negativas -, ela pôs fim ao pensamento racista e teve um impacto tremendo na concepção genérica do homem e do seu comportamento. A relação da antropologia com as considerações psicológicas é de uma ordem diferente. Um aspecto infeliz do legado de Comte de "níveis" na ciência tem sido o medo do reducionismo. O territorialismo natural das disciplinas académicas é agravado pela suposição de que alguns assuntos são mais profundos e pelo medo de "reduzir" os fenómenos de um nível aos de outro. Isto resultou numa espécie de fobia em que o estudante de ciências sociais hesita em fazer quaisquer suposições (ou, melhor, quaisquer suposições explícitas) sobre a natureza do homem; no entanto, pode ser facilmente demonstrado que suposições latentes sobre a humanidade estão escondidas nos teóricos sociais mais obstinados, mesmo que estes se recusem a admitir que têm quaisquer noções ou preconceitos sobre os requisitos biológicos ou as características psíquicas do homem.
Antropologia comparativa
Uma das linhas de investigação mais frutíferas na antropologia do século XX é a da antropologia comparativa. A essência desta abordagem (falta-lhe a precisão necessária para lhe chamar método) é a consciência
(1) de que os padrões de comportamento social têm causas sociais, (2) de que existe uma inter-relação entre vários padrões institucionais numa comunidade e
(3) de que estas instituições desempenham funções na manutenção da ordem social. Por exemplo, Durkheim, no seu Suicídio , estava claramente preocupado com o primeiro destes pontos, Weber, na sua Ética Protestante, com o segundo, e Radcliffe-Brown, ao explicar a função de certos ritos de passagem entre os andamaneses , estava preocupado com o terceiro. Esta tradição produziu uma grande quantidade de literatura, desenvolveu uma forma totalmente nova de olhar para o comportamento humano e, acima de tudo, validou a análise sociológica como essencial para a compreensão da condição humana. Estes resultados não são um feito insignificante, apesar de, como os seus críticos salientaram, os antropólogos sociais não terem estabelecido quaisquer leis do comportamento social, como ousadamente se propuseram fazer, embora essa devesse ser, na minha opinião, a ambição contínua de todos os esforços científicos.
No entanto, uma boa parte do trabalho antropológico social envolve o exame minucioso das relações internas das instituições dentro de um único sistema social, análises que são perspicazes na sua perceção e que contribuíram para o nosso sentimento sobre o carácter da ordem social. O tema central deste ensaio pode ser resumido da seguinte forma: As abordagens existentes, embora tenham aprofundado a nossa compreensão académica da cena humana, não admitem um diagnóstico científico do carácter do homem em sociedade; tal diagnóstico só pode ser desenvolvido em termos de um modelo; a essência deste modelo reside no reconhecimento da universalidade das funções às quais as instituições são uma resposta, em vez de (como tem sido caraterístico) uma preocupação primária com as instituições enquanto tais. Um tal modelo de funções sociais deve ser visto como operando dentro de um contexto que inclui a natureza do homem como ser, o carácter do ambiente em que opera e os acessórios culturais de que é herdeiro; e o teste de pressupostos funcionais toma conhecimento das circunstâncias em que a sociedade opera e das consequências que podem ser demonstradas como derivando de a ausência de desempenho funcional. Creio que a antropologia chegou a um impasse e que este impasse exige uma nova e ousada abordagem dos dados em causa, e que uma abordagem funcional comparativa é uma saída para o nosso dilema.
A função como critério metodológico: Durkheim
No início dos anos 1900, o funcionalismo tornou-se amplamente aceite como um novo e importante método antropológico. Novo apenas como teoria sistemática, porque em si mesmo o conceito de função é tão antigo como a história da cultura. Heródoto, Platão, Aristóteles, Agostinho, Montesquieu, Hobbes, Locke e muitos outros filósofos sociais reconheceram a existência de inter-relações entre as várias "instituições culturais" e utilizaram-nas para explicar o funcionamento da sociedade. A máxima de Montesquieu segundo a qual «as leis são relações necessárias resultantes da natureza das coisas» pode ainda ser considerada o princípio formador do funcionalismo, embora nem Montesquieu nem os seus alunos fossem funcionalistas.
Os seus alunos eram funcionalistas no sentido moderno. Eles afirmaram e muitas vezes demonstraram as «relações necessárias» entre as instituições sociais, mas não procuraram os motivos por trás delas, nem construíram uma teoria das funções. No que diz respeito a Saint-Simon e Comte, embora utilizassem a função como principal instrumento metodológico, preocuparam-se sobretudo em informar a nova ciência com os princípios do positivismo, sem explicar o conceito de função.
Foi nos escritos de Émile Durkheim (1858-1917) que o conceito de função adquiriu um maior significado metodológico, de tal forma que os sociólogos e antropólogos o consideram geralmente como um funcionalista. No entanto, se distinguirmos entre o funcionalismo entendido como uma teoria coerente e a utilização da função como um método para explicar certos fenómenos sociais, Durkheim não é definitivamente um funcionalista no primeiro sentido do termo. Embora tenha utilizado o conceito de função com muita frequência, só raramente analisou o seu significado. Uma das constantes preocupações, foi aquela de estabelecer, o valor autónomo da sociologia como ciência. Mesmo que Comte tinha-a batizada, e tivesse enunciado alguns dos seus princípios, a sociologia não foi reconhecida em França até 1887, quando Durkheim obteve um lugar de professor de ciências sociais na Universidade de Bordeaux. Para muitos dos seus "contemporâneos", a sociologia ainda aparecia como uma inovação perigosa. Quando, em 1902, Durkheim foi chamado à Universidade de Paris, foi-lhe atribuída a cátedra de "ética e filosofia da educação", porque a sociologia ainda não era "matéria de ensino na faculdade parisiense".
■ Segundo Durkheim, se a sociologia queria ter um futuro, tinha de se colocar numa base autónoma e científica. Isto significava que os dados e as interpretações tinham de ser independentes da biologia, da psicologia e de todas as outras ciências. Os dados sociais também tinham de ser explicados com base em critérios intrínsecos, embora a sociologia tivesse de ter a mesma abordagem científica que as ciências naturais. O positivismo tinha declarado ser objecto da ciência a analise das coisas concretas e observáveis.
Durkheim descobriu que estas "coisas" no domínio do social eram precisamente os "factos sociais", que se distinguiam de outros fenómenos pela "exterioridade" e pelo "constrangimento". Por exterioridade, Durkheim queria dizer que o homem, desde o momento do nascimento, estava inserido num sistema de convenções, deveres e costumes sociais. Doutro lado os factos sociais tinham um poder que tornava o homem obrigado a se conformar às regras sociais apesar da sua vontade ou inclinação pessoal.
Estas formulações podem dar a impressão de que Durkheim era um superorganicista e que concebia a sociedade como uma entidade reificada e separada de tudo o resto, capaz de submeter o homem às suas leis; mas, na realidade, o que ele tinha em mente era algo algo muito diferente. Na sua formulação teórica, era impossível pensar a sociedade sem o homem: não só porque a sociedade não pode existir sem o elemento que a define, mas sobretudo porque é a sociedade que faz do homem um ser social.
Esta interpretação era muito diferente da do racionalismo iluminista, que tinha apresentado o homem como o único árbitro do seu próprio destino, capaz de escolher o melhor sistema de vida, de se libertar do passado e de se libertar das restrições da religião.
Na sociedade, havia uma interação contínua e, portanto, também uma interdependência necessária. O homem não era o único a gerir o facto social, mas também não era um robô; foi, de facto, o "individualismo" que provocou a mudança social. (Malefijt , 1978, p. 178)
A investigação antropológica nos ensinou a apreciar o fenómeno da cultura. Ele nos afastou apropriadamente do pensamento biológico ingénuo anterior e nos levou a perceber que cada pessoa é moldada por sua cultura e cada cultura é moldada por seu próprio passado. Foi uma lição importante ter aprendido, mas aprendemos tudo muito bem, ensinamos tudo com muita insistência. Os excessos da doutrina antropológica actual nos levam à suposição de que o homem é uma coisa perfeitamente plástica e que as culturas podem assumir qualquer forma. Isso, para dizer o mínimo, é uma posição questionável, mas é uma posição muito raramente questionada (Goldschmidt 1966: VIII).
Premissa teórica
Escola Funcionalista - Funcionalismo - século XX - 1920
Essa fase é marcada pela preocupação com o rigor na pesquisa de campo e com a abordagem funcionalista. A antropologia orienta-se, agora, para uma observação mais objectiva das culturas ou instituições, numa abordagem mais descritiva que valorativa, enfatizando a relação entre os diversos elementos que as compõem.
Antropólogos funcionalizas
Os funcíonalistas defendem a observação participativa: os antropólogos devem conviver com os povos analisados observando os detalhes dos seus costumes sociais, mesmo quando parecem sem sentido. O funcionalismo mudou a tendência das teorias evolucionistas, partindo do principio de que cada sociedade deve ser analisada em si mesma como um todo Integrado de relações e costumes. Assim, «a permanência de formas tradicionais de organização social deveria ser explicada pela função que elas desempenhassem do ponto de vista da sociedade global, e não pelo “atraso” em relação a uma suposta evolução geral das sociedades humanas», explica Maria Cristina Castilho Costa. Tem-se o início do conceito de Relativismo Cultural - postura de tolerância e respeito em relação aos costumes sociais. É uma forma de encarar as outras culturas ou as práticas culturais e partir do contexto de onde acontecem. Entender a lógica da cultura.
Malinowski, ao desenvolver o seu pensamento contrário ao pensamento evolucionista, produziu perguntas básicas para o desenvolvimento da sua teoria: o que é uma sociedade para os que a construíram? Quais as funções produzidas pelos membros dessa sociedade aos fenômenos culturais e sociais dos seus cotidianos? Afirmava Malinowski que os fenómenos culturais particulares têm significados que são próprios e que são, também, portadores de coerência. Desse modo, a observação teria que contemplar esse caráter para alcançar eficácia no seu resultado final. A partir dessa visão Malinowski criou os princípios do funcionalismo, retirados dos modelos anteriormente criados pelas ciências da natureza, sobretudo da biologia, que estabelecia a função como ponto de partida principal. Segundo esse modelo teórico, o indivíduo tem determinadas necessidades e a cultura, através das suas instituições, existiria exatamente para atender a essas necessidades, construindo, dessa forma, a estabilização da sociedade. Tentarei explicitar melhor, nas linhas seguintes, essa situação no interior do modelo. Para os funcionalistas a sociedade é o resultado da articulação entre o social, o psicológico e o biológico. Essa articulação acontece a partir da satisfação das necessidades sentidas pelos indivíduos através dos diversos mecanismos - fenómenos culturais -. É possível tentar clarear um pouco mais esse princípio: o indivíduo é parte da sociedade. A sociedade, com as suas instituições sociais e culturais, é um sistema que atende às necessidades dos indivíduos. As diversas instituições sociais e culturais, todas com funções sociais específicas, atenderiam aos indivíduos nas suas necessidades, tudo isso funcionando de forma harmónica. Tentando ser ainda mais claro: a religião, a família, o aparato jurídico, os costumes, as regras, tudo, a partir das suas funções, existiria para atender o indivíduo e, dessa forma, possibilitar o pleno funcionamento da sociedade.
Ora, aparentemente o funcionalismo teria descoberto o modelo perfeito, que retrataria plenamente a realidade da sociedade, contudo, os críticos não perderam tempo e construíram perguntas que o modelo funcionalista também não conseguia responder: se a sociedade pensada pelos funcionalistas se organiza de forma equilibrada e capaz de atender às necessidades do homem, como explicar os processos de mudanças sociais comuns a toda sociedade em qualquer época e em qualquer lugar? Os críticos ponderaram ainda que Malinowski havia construído leis gerais ou propostas de leis gerais a partir da análise dos costumes de uma micro-sociedade localizada em minúsculo arquipélago quase ou totalmente afastado dos contactos inter-culturais. Mesmo que consideremos as críticas formuladas contra Malinowski, é evidente a sua contribuição aos estudos antropológicos, tanto que ainda permanece: primeiro, a invenção literal da observação participante. Pesquisar o outro deixou de ser tarefa dos viajantes circunstanciais e passou a ser, em profundidade, tarefa do pesquisador. E Malinowski realizou essa tarefa na prática, deslocando-se do seu mundo civilizado e habitando com os seus pesquisados, na tentativa de melhor compreender os fenómenos culturais desses indivíduos e dos seus grupos.
Com o funcionalismo, as sociedades não europeias passaram a ser estudadas naquilo que lhe era próprio e específico (relativismo cultural). A crítica é pela colaboração dos funcíonalistas com a administração colonial, convivência da elite colonizada com os colonizados (parceria); Aculturação e choque cultural sem levar em conta as desigualdades existentes. Deram pouca importância as transformações sociais. Fizeram muito pouco pela libertação das populações colonizadas e pelo fim das relações de dependência e exploração a que eram submetidos.
A resposta a esse exagero antropológico não é retornar ao pensamento biológico, não explicar a diversidade humana em termos de composição genética nem comportamento humano em termos de respostas biológicas - embora, suspeito, exista o perigo de que esse movimento intelectual ocorra. . Pelo contrário, é reconhecer o biológico no homem, o fato de que cada cultura deve ser vista apenas como uma resposta padronizada ao caráter das necessidades humanas e cada sociedade é só compreendendo o homem cortando os determinantes culturais, e ele pode fazê-lo examinando as consistências subjacentes aos padrões manifestos variantes de comportamento. Não é razoável duvidar da existência de tais consistências.
A antropologia teve um grande impacto na filosofia moral de nossa época, um impacto desproporcional à força numérica e fiscal da disciplina. Ele nos afastou do pensamento biológico e em direção a uma apreciação da força da cultura; nos tornou conscientes de nossos próprios costumes e crenças como um dos muitos e aparentemente arbitrários modos de pensar. Ao fazer isso, promoveu um relativismo cultural e, por sua vez, colocou a própria antropologia na corrente principal de uma antiga tradição científica. Pois como a astronomia afastou a Terra do centro do universo e a biologia tirou o homem de sua posição única no mundo dos vivos, a antropologia também removeu o homem ocidental do auge e quintessência da perfeição humana e o colocou junto ao australiano aborígine e do Kamussekele como um dos tantos seres culturais diversos moldado pelas demandas insistentes que a vida exerce sobre os vivos. O etólogo pode estabelecer padrões comportamentais de uma espécie estudando qualquer amostra que encontrar; o antropólogo pode obter um exame histológico. Essa foi uma conquista intelectual benéfica e necessária, e, embora a antropologia não tenha feito isso sem ajuda, ela teve um papel importante nesse movimento intelectual.
Porém, por mais que possamos nos orgulhar dessa influência, por mais que tenha sido necessário obter uma visão relativista da cultura e de nossos próprios padrões de comportamento, não podemos escapar do fato de que essa é essencialmente uma conquista negativa. A realização positiva de uma teoria do homem não foi desenvolvida e parece haver poucas evidências no horizonte de que ela esteja desenvolvendo-se, pois nos preocupamos com o sistema de parentesco dos Bakongo, Akwakimbundo, Tchokwe, Kwanhama, Ovimbundu. Isso não é para desacreditar a importância da análise etnográfica, mas é um apelo para contextualizar as sociedades simples nos problemas globais ou sociedades de larga escala; antes, é um pedido urgente que nos preocupemos com a relevância teórica do que estamos fazendo. Se a antropologia detém o monopólio de um conjunto de dados que são essenciais para a compreensão do ser humano, a disciplina tem uma obrigação moral de fazer seu objetivo final a compreensão científica do comportamento social humano e uma compreensão sistemática da distribuição no tempo e no espaço de suas manifestações. O esforço para alcançar esse objetivo resultou em diversas escolas de etnologia e, embora se possa ver com consternação tanto as conquistas limitadas quanto as divergências internas. Entre as realizações que os antropólogos podem se orgulhar estão:
(1) o reconhecimento geral do fenômeno da cultura e a implicação de conjuntos culturais para os atributos manifestos dos seres humanos em seu habitat natural;
(2) o reconhecimento de que a sociedade humana impõe certas exigências à situação em que os humanos operam, de modo a afetar o caráter que a cultura pode ou deve assumir em determinadas circunstâncias; e
(3) que existe uma inter-relação (ainda pouco explorada) entre as manifestações da vida social e o caráter psicológico do ser humano.
No entanto, a contribuição de Boas foi precisamente inserir essa dimensão cultural na filosofia social. Embora a teoria de Boas seja inadequada e fraca em termos de entendimentos atuais - principalmente para algumas de suas desvantagens - ele colocou a mentira suprema no pensamento racista e teve um tremendo impacto na concepção genérica do homem e de seu comportamento.
A relação da antropologia com considerações psicológicas é de uma ordem diferente. Uma das linhas de investigação mais proveitosas da antropologia do século XX é a da comparação. A essência desse método é a consciência
(1) de que os padrões de comportamento social têm causas sociais,
(2) de que há uma inter-relação entre os vários padrões institucionais de uma comunidade
3) que essas instituições desempenham funções na manutenção da ordem social.
Por exemplo, Durkheim na sua obra O suicídio estava claramente preocupado com o primeiro ponto, Weber na sua obra A ética protestante com o segundo e Radcliffe-Brown, ao explicar a função de certos ritos de passagem entre os andamaneses, preocupava-se com o terceiro. Essa tradição produziu um grande corpo de literatura, desenvolveu uma maneira totalmente nova de encarar o comportamento humano e, acima de tudo, validou a análise sociológica como essencial para a compreensão da condição humana. Tais resultados não são uma realização mediana, embora, como apontaram seus críticos, os antropólogos sociais não tenham estabelecido leis de comportamento social, num esforço científico. deve permanecer, a comparação do comportamento social, na medida em que se manifesta nas várias comunidades submetidas ao escrutínio antropológico. No entanto, boa parte do trabalho social antropológico envolve o exame atento das relações internas das instituições dentro de um único sistema social, análises que são perspicazes em sua percepção e que aumentaram nosso sentimento sobre o caráter da ordem social.
O reconhecimento da universalidade de funções às quais as instituições são uma resposta, e não (como tem sido característico) uma preocupação primária com as instituições enquanto tais. Esse modelo de funções sociais deve ser visto como operando dentro de um contexto que inclui a natureza do homem como um ser, o caráter do ambiente em que ele opera e as características culturais de que é herdeiro; e o teste de suposições funcionais toma conhecimento das circunstâncias em que a sociedade opera e das consequências que podem ser demonstradas como derivadas de sociólogos ou análises sociológicas, refiro-me aos antropólogos de orientação sociológica preocupados com a estruturação das relações interpessoais e seus funciona, a menos que o contexto indique claramente a ausência de desempenho funcional. A essência da sociologia comparada o tratamento analítico dos sistemas sociais, onde o foco está na comparação; esse é normalmente o trabalho dos antropólogos - não dos sociólogos no sentido profissional.
Essencialmente, existem duas abordagens existentes na antropologia social:
(1) a análise interna detalhada de culturas individuais que geralmente se esforça para estabelecer inter-relações entre diversos conjuntos de instituições - melhor exemplificadas pelas investigações de Malinowski e geralmente chamadas de estudos funcionais; e
(2) a comparação de instituições ou características estruturais entre um grupo de sociedades (delimitadas ou em todo o mundo) mostrando a distribuição e a mudança de tais características.
O DILEMA de MALINOWSKI
Considero que o objetivo da antropologia social não pode ser alcançado pelos métodos existentes, se a compreensão científica dos fenómenos sociais for aceite como o objetivo adequado. Essencialmente, há duas abordagens existentes na antropologia social:
(1) a análise interna pormenorizada de culturas individuais que geralmente se esforça por estabelecer inter-relações entre diversos conjuntos de instituições - melhor exemplificada pelas investigações de Malinowski e geralmente designada por estudos funcionais;
e (2) a comparação de instituições ou características estruturais entre um grupo de sociedades (delimitadas ou mundiais), mostrando a distribuição e a covariação de tais características. Nas secções que se seguem, pretendo explorar cada uma delas com algum pormenor, para indicar por que razão nenhuma delas pode conduzir a uma solução satisfatória do problema da pesquisa antropológica. A essência do problema reside naquilo a que chamo a Dilema de Malinowski.
A análise interna da cultura malinowskiana demonstrou o carácter inter-relacionado dos componentes culturais e mostrou que é possível "explicar" elementos existentes em termos de funções presumidas. Quando bem feita por um estudante honesto e perspicaz, esta análise pode levar a verdadeiras descobertas. Mas a extrapolação destes conhecimentos para outras culturas, que Malinowski se esforçou por fazer inferencialmente nos títulos das suas obras mais importantes - por exemplo As limitações intelectuais da abordagem funcional foram submetidas a uma crítica minuciosa por Carl G. Hempel (1959:271) e a uma análise exaustiva por Ernest Nagel (1961) e, mais recentemente, no simpósio preparado por Martindale (1965), em particular a contribuição de Jarvie (1965). Hempel mostra que, enquanto o estudante "explicar" os factos internamente, ou
(1) não pode demonstrar que as suas presumíveis causas são mais do que circunstâncias, ou
(2) são tautológicas. Isto pode ser facilmente exemplificado. Examinemos algumas secções do estudo de Evans-Pritchard sobre os regulamentos matrimoniais dos Nuer (Evans-Pritchard 1951). Como todos os estudantes de antropologia social devem saber', os Nuer têm uma estrutura de linhagem segmentar, um sistema através do qual, segundo Evans-Pritchard, tanto a autonomia local como a ação política de todo o povo Nuer são operacionais. Na medida em que este modo de articulação social se baseia no idioma do parentesco, as regras de parentesco e, por conseguinte, os regulamentos matrimoniais são da maior importância para a vida social dos Nuer. No volume em apreço, Evans-Pritchard desenvolve (entre outras coisas) as regras e regulamentos que regem o casamento e, como os Nuer são bastante livres na sua atividade sexual extraconjugal, isto envolve também as regras do incesto relativas ao adultério e à fornicação. Não precisamos de rever estas complicações
Malinowski
Em 1934, Malinowski fez um discurso em Capetown sobre “Contato entre Educação e Cultura Nativas” e, em seguida, fez uma extensa viagem pelo Leste e África do Sul, realizando uma pesquisa antropológica por cinco meses entre Babemba, Suazi, Chaga, Masai, Kikuyu. e tribos Maragoli. Ele continuou a publicar artigos sobre mudança de cultura, dando palestras na Inglaterra, Europa e Estados Unidos; discutir e elaborar métodos para seu estudo em seus seminários, tanto na London School of Economics quanto na Yale University. Finalmente, ele esteve por muitos anos associado ao Instituto Internacional de Línguas Africanas, e Cultures, uma organização que fez muito para pesquisar mais sobre problemas coloniais e mudanças culturais na África. Malinowski insistia muito em que toda cultura fosse entendida em seus próprios termos; que toda instituição fosse vista como um produto da cultura em que se desenvolveu. Para os boasianos, cada cultura é apenas um produto de sua própria história. Se quisermos evitar a restrição de que a antropologia deve ser história ou nada, precisamos encontrar uma saída para esse dilema.
A análise interna da cultura malinowskiana demonstrou o caráter inter-relacionado dos componentes culturais e mostrou que é possível 'explicar' os elementos existentes em termos de funções presumidas.
As limitações intelectuais da abordagem funcional foram submetidas a uma crítica pesquisadora. Vamos examinar algumas seções do estudo de Evans-Pritchard sobre os regulamentos matrimoniais de Nuer. Como todos os estudantes de antropologia social devem saber, os Nuer têm uma estrutura de linhagem segmentaria, um sistema através do qual, de acordo com Evans-Pritchard, tanto a autonomia local quanto a ação política em todo o Nuer operam a partir de grupos acéfalos. Na medida em que esse modo de articulação social é construído sobre a estrutura do parentesco, segue-se que as regras de parentesco e, portanto, os regulamentos conjugais são de maior importância para a vida social de Nuer. No volume em questão, Evans-Pritchard desenvolve (entre outras coisas) as regras e os regulamentos que regem o casamento e, como os Nuer são bastante livres em sua atividade sexual extraconjugal, isso envolve o desgaste das regras do incesto relacionadas ao adultério e fornicação. Em vista da importância atribuída às crianças por Nuer na determinação do que é incesto, ou o grau dele, é fácil entender por que as relações sexuais com as esposas de irmãos, tio paterno e primos patrilineares são consideradas sendo incestuosas.
A comparação de instituições
Se as generalizações evocadas pelas análises sempre fechadas dos sistemas sociais individuais devem ser validadas como afirmações causais verdadeiras ou estabelecidas com generalizações significativas sobre o comportamento social humano, elas terão que ser examinadas transculturalmente. Como o ensaio de Oscar Lewis sobre a antropologia da pobreza, indica, eles geralmente deixam muito a desejar. Ocasionalmente, uma comparação nítida, como a de Nadel (1952) sobre bruxaria africana, estabelece satisfatoriamente uma analise das mudanças significativa. Mais frequentemente, no entanto, os estudos institucionais “comparativos”.
O padrão usual entre os antropólogos sociais de se envolver em investigações transculturais é focar em uma instituição, geralmente uma das principais proporções - família, casamento, estado -, mas ocasionalmente uma menor, como casamento entre primos. O resultado final é geralmente um
Como, por exemplo, Sistemas Africanos de Parentesco e Casamento (Radcliffe-Brown e Forde, eds. 1950), Sistemas Políticos Africanos (Fortes e Evans-Pritchard, eds. 1940), African Worlds (Forde, ed. 1954) .
No que diz respeito à definição de casamento. De um ponto de vista do senso comum, o casamento parece ser uma instituição bastante simples e facilmente definida, mas, se se conhece a variedade de direitos, privilégios, envolvimentos secundários e fatores circunstanciais, conclui-se que esse não é o caso. O elemento significativo da contribuição do professor Leach é que as definições de casamento são inadequadas, que o casamento envolve um número expansível de ações sociais específicas, das quais o próprio Leach lista pelo menos dez, que em nenhuma sociedade a instituição que geralmente chamamos de casamento necessariamente incluem todos esses elementos, nem nenhum deles é universalmente encontrado nas instituições matrimoniais. Leach demonstra crescente impaciência com essa abordagem, pois, embora sua discussão sobre casamento seja moderada em tom e parcial em realização, seu ensaio posterior,“ Repensando a antropologia ”, é ao mesmo tempo desmesurado e muito mais completo. Cada rapariga pré-adolescente passa por uma espécie de casamento cerimonial com um homem escolhido de outra linhagem na ligação, após o qual ele pode, mas não necessariamente (e geralmente não), ter contato sexual com ela. O matrimonio é necessário para a legitimação não apenas de seus futuros filhos, mas também de seu próprio status de adulto na comunidade; ainda assim, não confere direitos ou privilégios sexual-econômicos. A mulher permaneceu livre, com certas restrições sociais e de parentesco, e disponível para que os homens a visitem.
Uma mulher normalmente tinha diversas relações: ligações que eram essencialmente sexuais, não econômicas e não sociais. No entanto, sempre que ela engravidava, era esperado que um (ou mais) de seus parceiros sexuais reconhecesse sua paternidade (social) pelo pagamento das taxas impostas pela família, um acto absolutamente essencial para a validação social da criança e do filho. A mulher no seu papel de mãe de criança (mas com uma contribuição econômica insignificante) era submetida a dois atos rituais normalmente envolvendo dois (ou mais) homens diferentes, um desde que a mulher tivesse um “marido”, ou mais explicitamente que ela fosse legalmente dotada do direito de procriar, enquanto o outro fornecia à criança com um pai nominal, ou melhor, que a criança e sua mãe tivessem um status apropriado na comunidade. Primeiro, o uso continuado de análise funcional ou tratamento estatístico dos dados disponíveis. O primeiro é necessário para a descoberta das profundezas do envolvimento humano no comportamento cultural e social. O tratamento estatístico dos correlatos sociais não pode ser abandonado, pois eles são necessários para a demonstração de que certas soluções institucionais são encontradas regularmente para atender aos problemas recorrentes que uma sociedade deve enfrentar em determinadas circunstâncias ecológicas.
Mas nenhum desses empreendimentos - análise funcional ou tratamento estatístico - em suas formas existentes resolverá os problemas que devem ser centrais para a disciplina antropológica. O que é consistente de cultura para cultura não é a instituição; o que é consistente são os problemas sociais. O que é recorrente de sociedade para sociedade são soluções para esses problemas.
A sociedade deve ser capaz de extrapolar, enquanto as análises comparativas estão envolvidas no falso empreendimento de comparar coise que não se comparam, uma vez que as instituições são definidas em uma base diversificada de culturas diferentes.
O modelo é o de comportamento humano; isto é deriva duma teoria. Não podemos, é claro, oferecer um modelo completo para todos os casos, mas devemos desenvolvê-lo mediante constante correção por análises empíricas. Da mesma forma, não começamos com uma lista de funções elaboradas, mas pelo estudo do contexto sócio-cultural.
O CONTEXTO DOS SISTEMAS SOCIAIS
O modelo da sociedade está directamente implicado com as funções sociais; isto é, as ações necessárias ou desejáveis para a auto-manutenção do sistema social. Essas funções serão desempenhadas por “instituições” ou modos padronizados de interação entre o pessoal de uma sociedade e o cumprimento dessas funções. No entanto, o modelo deve operar dentro de um campo, e esse campo é constituído por três partes básicas:
(1) o caráter básico do homem,
(2) o ecossistema e
(3) a dimensão temporal.
A primeira tem um carácter constante; a segundo tem duas dimensões diversificadas e a terceiro é multiforme.
O caráter psico-biológico do homem
Como sociólogos, estamos preocupados com o caráter da sociedade. Mas não podemos criar um modelo de sociedade sem considerar a natureza dos elementos que a compõem, e certamente um desses elementos é a própria humanidade. Temos apenas duas opções: ignorarmos esse problema e inserirmos atitudes e atributos não reconhecidas em nosso sistema por meio da escolha de palavras mas quais são esses elementos na nossa formulação teórica. Tendo assim declarado o assunto, é evidente que realmente não há escolha.
Primeiro, devemos explorar um falso problema na antropologia: o medo do reducionismo. Devemos ter em conta que os factos sociais não são apenas a projeção a nível comunitário dos factos naturais. Como antropólogos, estamos preocupados com as diferenças entre os padrões de comportamento em diferentes populações; os fatos psico-biológicos não podem explicar essas diferenças porque elas próprias são constantes, não mudam. No entanto, eles fazem parte da realidade nos termos dos quais a interação social ocorre. Ninguém nega que atributos biológicos estabelecem uma base para a vida humana; ninguém duvida que na etnografia mundial o homem se apresenta com as mesmas necessidades: precisa de comer, de se reproduzir, de comunicar, de ferramentas para trabalhar com as mãos, pois não nasce com a capacidade total de auto-sustento. A questão não é se reconhecemos o carácter do homem como ser subjacente ao carácter da ação social; é, antes, quais atributos devem ser reconhecidos. Boas apreciou esse problema, embora de acordo com as atitudes actuais, quando escreveu: “Um dos objetivos fundamentais da antropologia científica é aprender quais características do comportamento, se houver, são organicamente determinadas e são, portanto, propriedade comum da humanidade e quais são devidas à cultura em que vivemos ” (Boas 1962: 206).
Esse reconhecimento de atributos psicológicos, pode ser facilmente demonstrado, é encontrado regularmente no pensamento social antropológico. Se dissermos, com Kluckhohn (1944), que as práticas mágicas aumentam onde as oportunidades de conflito aberto são suprimidas, estamos assumindo que existe um quantum mais ou menos constante de hostilidade latente em uma população; e ainda mais que a hostilidade encontrará uma saída ou fará uma. Se dissermos que uma instituição tem a função de reduzir conflitos dentro do grupo ou que uma cerimônia reforça a identidade, estamos assumindo que os seres humanos têm uma tendência ao conflito e uma necessidade de representação simbólica de seus envolvimentos do ego. Dizemos isso ou estamos dizendo que a sociedade está, de alguma forma, respondendo a esses requisitos e que portanto é funcional. Embora os antropólogos não possam reivindicar a perícia para julgar entre as escolas do pensamento psicológico, permanece o fato de que a viabilidade final das teorias antropológicas relevantes para o homem depende da compreensão adequada das diversas formas de comportamento humano, uma vez que estas se manifestam em condições naturais evidenciados por factos etnográficos. Como antropólogos, o que devemos inevitavelmente fazer - e o que temos feito implícita ou explicitamente - é procurar unidade entre as teorias e os quadros de referência que acreditamos serem necessários para obter um sentido coerente dos eventos observados no campo. Embora, à primeira vista, isso possa parecer difícil e inapropriado, na verdade não é. Não é inapropriado porque o uso de modelos - de sistemas hipotéticos - se baseia na noção básica de que todos os elementos do modelo são experimentais. A antropologia serve, portanto, como um teste da teoria antropológica nas áreas em que esta se preocupa com o comportamento social. Não precisamos descuidar do factor evidente das necessidades animais às quais o homem é submetido: comida, reprodução sexual, dependência infantil, protecção. Para aqueles elementos que o homem compartilha com mamíferos relacionados, precisamos apenas acrescentar que o homem difere na sua disponibilidade sexual contínua, distinta das respostas dos animais ao ciclo mestrual e do período muito prolongado de dependência infantil; mas estes também foram adequadamente compreendidos na literatura. Da mesma forma, não precisamos parar muito sobre a habilidade manipuladora peculiar do homem, a coordenação olho-mão que torna possível o uso de ferramentas, o que dá ao homem sua vantagem evolutiva e w valoriza toda a cultura. Podemos sugerir, no entanto, que isso possa implicar maior habilidade individual (física e mental) dependendo de outras formas de vida. A primeira característica da humanidade que deve ser especificada é a exigência dos seres humanos de interagir e socializar.
A segunda característica principal é verdadeira é que «A cultura humana é estabelecida através de uma série de renúncias. O sacrifício do eu é o começo da personalidade» (Philip Rieff 1959). Pois indiscutivelmente única no homem é sua capacidade de simbolizar. Consideramos que essa é a dotação mental humana essencial que torna a linguagem possível (e, portanto, necessária à verdadeira cultura), mas nossa preocupação aqui vai além dos factos da linguagem. Infelizmente, o uso de símbolos pelo homem não se limita ao negócio da comunicação verbal; os símbolos permeiam todos os aspectos de suas atividades de vida. De fato, é melhor dizer que o homem vive sua vida em um universo simbólico, pois toda a realidade é mediada na forma de símbolos; o símbolo serve como a medida dos objetivos de auto-realização e o padrão pelo qual as necessidades pessoais são atendidas. Pode ser necessário reiterar aqui o ponto, agora firmemente estabelecido na antropologia, de que nada que seja biológico no homem seja apenas meramente biológico. Todas as características da criatura que entram em ação humana estão envolvidas no sistema simbólico do homem; isto é, na interpretação cultural. É difícil pensar em qualquer atividade física - batimentos cardíacos, frequência respiratória, piscar de olhos, salivação, tosse, sonho, secreção de adrenalina - que não sofre influência do sistema cultural e social em que a pessoa está operando. Mas apontar o envolvimento cultural não é negar a realidade biológica (ou a função biológica) do elemento fisiológico. É, antes, reafirmar que tudo o que está disponível para a consciência do homem pode, e provavelmente sempre o faz, entrar em seu sistema de símbolos.
Em suma, existem impulsos e potencialidades humanos característicos que são canalizados através do processo cultural e que só podem ser expressos no contexto de uma sistema institucional culturalmente definida
o. Isso significa que devemos testar culturalmente esses impulsos e potenciais postulados para examinar se são universais ou esporádicos, se podem ser completamente suprimidos ou meramente submersos, sob quais circunstâncias eles podem ser tratados de maneiras particulares e quais são as consequências para a sociedade. a vida é arco quando são manuseados de tais maneiras.
Reacções
Bronislaw Malinowski (1884–1942) inspirou fortes reações nas pessoas, e é claro que ele queria assim. Não há relatos mornos de Malinowski; eles são quentes ou frios. Os antropólogos tendem a avaliar Malinowski por três motivos - como pesquisador de campo, como teórico ou como personalidade. Como pesquisador de campo, há quase unanimidade: Malinowski estabeleceu novos padrões para a pesquisa etnográfica, influenciando toda uma geração de antropólogos. Como teórico, as opiniões de Malinowski divergem. Por um lado, o antropólogo social britânico Audrey I. Richards escreveu: “O conceito de cultura de Malinowski, como ele o desenvolveu pela primeira vez, foi uma de suas contribuições mais estimulantes ao pensamento antropológico de sua época”, concluindo que essa contribuição foi “consideravelmente subvalorizado ”(1957: 15). No outro extremo, Edmund Leach contrastou o valioso trabalho de campo de Malinowski com sua contribuição teórica: além de alterar todo o modo e o objetivo da investigação etnográfica, Malinowski fez numerosos pronunciamentos teóricos de um tipo geral, abstrato e sociológico, que deveriam ser válidos para todas as situações culturais , independentemente do tempo ou espaço. Aqui, eu considero, ele foi um fracasso. Para mim, Malinowski falando sobre os Trobrianders é um gênio estimulante; mas Malinowski discursar sobre a cultura em geral é muitas vezes um tédio generalizado. (1957: 119) Notavelmente, essas opiniões diferentes aparecem na mesma coleção de trabalhos do simpósio editada por um dos primeiros e mais leais ex-alunos de Malinowski, Raymond Firth. Escrevendo dez anos após sua morte, as diferentes avaliações dos contribuidores das contribuições teóricas de Malinowski à antropologia são amplamente representativas. Mas se a resposta a suas teorias era mista, Malinowski, o homem, era amado ou odiado. Um defensor disse: 'Ele tinha uma mente realmente criativa, uma perspectiva internacional, a abordagem e a imaginação de um artista' (Karberry citado em Firth 1988: 37). Em contraste, o antropólogo Clyde Kluckhohn o chamou de 'um pretensioso Messias dos crédulos' - e isso em um obituário no Journal of American Folklore (1943: 208). Quem foi esse homem que inspirou reações tão diferentes? (Moore, 2009: 135)
Para que as generalizações evocadas pelas análises cada vez mais fechadas dos sistemas sociais individuais possam ser validadas como afirmações causais verdadeiras ou estabelecidas como generalizações significativas sobre o comportamento social humano, terão de ser examinadas transculturalmente. Como indica uma análise do ensaio de Oscar Lewis (1955), "Comparações em Antropologia Cultural", estas geralmente deixam muito a desejar. Ocasionalmente, uma comparação nítida, como a de Nadel (1952) sobre a feitiçaria africana, estabelece satisfatoriamente uma covariação significativa. Mais frequentemente, porém, os estudos institucionais "comparativos" não passam de simpósios - contendo ensaios individuais relativamente perspicazes com introduções mais ou menos convincentes que tentam apontar alguns pontos em comum. Estes volumes oferecem-nos itens lado a lado, e podemos fazer as comparações que nos apetecerem (se os dados para cada grupo estiverem disponíveis), mas não são estudos comparativos, mesmo no sentido científico mais lato do termo.
O padrão habitual entre os antropólogos sociais de se envolverem em investigações interculturais é centrarem-se numa instituição, normalmente uma de grandes proporções - a família, o casamento, o Estado - mas ocasionalmente uma menor, como o casamento entre primos, a relação de brincadeira e outras semelhantes. O resultado final é geralmente uma proliferação de taxonomias.
Ninguém nega que os atributos biológicos estabelecem uma base para a vida humana; ninguém esperaria que a etnografia mundial tivesse a mesma forma se o homem não tivesse de comer, se pudesse reproduzir-se partenogeneticamente, se não tivesse capacidade para a fala humana, se não fosse uma criatura que usa ferramentas com as mãos e os olhos necessários, se nascesse com plena capacidade de auto-manutenção. A questão não é se reconhecemos o carácter do homem-animal subjacente ao carácter da ação social; é, antes, que atributos devem ser reconhecidos. Boas apreciou este problema, embora de acordo com as atitudes então correntes, quando escreveu: «É . . . um dos objectivos fundamentais da antropologia científica aprender quais os traços de comportamento, se é que existem, que são organicamente determinados e são, portanto, propriedade comum da humanidade, e quais são devidos à cultura em que vivemos» (Boas 1962:206). Este reconhecimento de atributos psicológicos, pode ser facilmente demonstrado, encontra-se regularmente no pensamento antropológico social. Se dissermos, com Kluckhohn (1944), que as práticas mágicas aumentam onde as oportunidades de conflito aberto são suprimidas, estamos a assumir que existe um quantum mais ou menos constante de hostilidade latente numa população; e, além disso, que a hostilidade encontrará uma saída ou criará uma. Se dissermos que uma instituição tem a função de reduzir o conflito entre grupos, ou que uma cerimónia reforça a identidade, estamos a assumir que os seres humanos têm uma tendência para o conflito e uma necessidade de representação simbólica dos seus envolvimentos egoístas. Ou dizemos isto ou estamos a dizer que a sociedade está, de alguma forma, a criar estas necessidades que depois resolve - uma tese que reduz o funcionalismo a uma tautologia sem sentido.
No entanto, não acredito que se possa seguir a lógica de qualquer análise estrutural sem encontrar estes pressupostos ocultos, quer estejam ou não na consciência do estudioso (como no caso de Kluck- hohn).* Assim, estamos a tornar explícito o que está normalmente implícito, mas sem reduzir as nossas explicações ao nível da psicobiologia, tal como um fisiologista que reconhece os problemas inerentes ao processo de oxidação não está a reduzir a fisiologia à química. A estrutura do sangue e dos pulmões de um animal não pode ser explicada pela química, mas também não pode ser explicada sem o pleno reconhecimento do processo de oxidação-redução!
Bibliografia
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5ª Lição 10 de Abril 2024: Estruturalismo
Claude Lévi-Strauss (1908-2009)
Esse pensador educado em Paris estudou música, artes e filosofia antes de vir ao Brasil participar da fundação da cátedra de sociologia na USP dos anos 1930. Nessas paragens, visitou as frentes de expansão agrícola, contatou grupos indígenas no Brasil Central, coletou mitos e registrou folclore. Exilado em Nova Iorque, fez amizade com Roman Jakobson e absorveu muito dos trabalhos do Círculo Linguístico de Praga. Em 1949 publicaria As formas elementares do parentesco, mas ganharia notoriedade somente a partir do início dos anos 1960. Tornou-se um dos intelectuais mais conhecidos pelo público e citados pelos acadêmicos na França. Dos anos 1970 em diante, as críticas pós-estruturalistas, o pós-modernismo e giro linguístico (ou hermenêutico) diminuíram a influência de Lévi-Strauss. O pensador continuou com publicações esporádicas até sua morte já centenário. Suas ideias mais marcantes são:
- Categorizações: a mente humana organiza a natureza a partir de dicotomias. Porém, como Lévi-Strauss observou, a necessidade de categorizar binariamente a realidade faz com que as pessoas se deparem com fenômenos que cabem em nenhuma das categorias, surgem assim terceiras categorias.
- Parentesco: estudar as relações de uma família nuclear não explica muito uma sociedade, mas a rede complexa de relações, as terminologias dos parentes revelam um sistema coeso que reflete na ampla sociedade.
- Formação da sociedade: resulta da troca das mulheres em um grupo restrito (como a complexa relação controlada por parentesco, coorte e frarias dos povos jês) ou generalizadas (em sociedades amplas) criando mais de um núcleo de parentesco, possibilitando uma sociedade estável.
- Mitos: a existência de parâmetros em narrativas mitológicas de tão díspares culturas como os povos gês e os gregos revelaria a existência de temas comuns universais que reverberam em outras áreas de suas sociedades, por exemplo na organização espacial das aldeias ou tabus alimentares. Essas unidades de mitos, com parâmetros de elementos e narrativa comuns são os mitemas. Os mitos decorrem da necessidade humana de criar sentido no mundo e resolver o dilema da determinação cultural.
- O estudo da estrutura e conteúdo seria entendido pela mitologia enquanto o estudo da estrutura e expressão seria entendido pela linguística.
- O estruturalismo como método cria modelos sobre fenômenos socioculturais e decifra os mecanismos mentais por dois meios: (1) identificar e isolar os níveis de realidades representáveis que possuam propriedades formais comparáveis; e (2) isolar os fenômenos mais significativos.
Legado: críticos e sucessores
- Pós-Estruturalismo: reação contra a validade de parâmetros binários como universais. Os escritos tardios de Barthes, Lacan, Foucault, Ernesto Laclau e Slavoj Žižek são os melhores exemplos dessa abordagem.
- Pós-Modernismo: intimamente relacionado ao pós-estruturalismo, é a falta de fé em “grandes narrativas”. Como disse seu maior expoente (de tipo Deconstrucionista) Jacques Derrida, “não há um além-texto”, negando a realidade objetiva desprovida de contexto.
- Marxismo Estrutural: o filósofo Louis Althusser reformulou o pensamento estruturalista para retratar uma visão não reducionista de determinação econômica do marxismo clássico, aplicando-a à complexidade das formações sociais e subjetividade humana. O antropólogo Maurice Godelier reintroduziu a versão althusseriana de estruturalismo na antropologia, especialmente em questões econômicas, influenciando a escola antropológica dinâmica francesa.
- Teoria da Estruturação: o sociólogo Anthony Giddens criticou a falta de agência – a liberdade de iniciativa e ação humana dos atores nas relações estruturais – o que dava a impressão de um determinismo à teoria estruturalista. Para Giddens, a agência cria estruturas que moldam a agência e assim sucessivamente.
- Teoria da Práxis: o antropólogo e sociólogo Pierre Bourdieu também compartilhou das provocações teóricas pela teoria da estruturação, abordando temas como a agência e estrutura, porém sua teoria da prática ultrapassou os limites das estruturas proposta pela geração de Lévi-Strauss.
- Antropologia Simbólica e Interpretativa: sem preocupar em formular modelos estruturais, antropólogos como Geertz, os Turners, Mary Douglas e Louis Dumont empregaram componentes metodológicos e teóricos do estruturalismo de Lévi-Strauss somados à hermenêutica para compreender fenômenos culturais de um modo menos universalizante.
- Antropologia Cognitiva: também chamada de etnosemântica, etnociência, etnolinguística e nova etnografia, essa abordagem soma o estruturalismo ao relativismo cultural radical da hipótese Sapir-Whorf. O escopo é compreender a visão de mundo interna de cada grupo cultural sem pretensões de uma objetividade externa ao grupo.
- Historiografia estruturalista: o discípulo de Lévi-Strauss Jean-Pierre Vernant propôs uma análise estruturalistas dos mitos gregos nas peças de Ésquilo para argumentar a emergência do raciocínio filosófico a partir da consolidação da democracia nas cidades-estados.
- Perspectivismo: a virada ontológica na antropologia, capitaneada por Eduardo Viveiros de Castro deve-se muito aos pressupostos do estruturalismo de Lévi-Strauss.
A antropologia estrutural de Lévi-Strauss
Toda a obra de Claude Lévi-Strauss (1908-2009) pode ser vista como um desenvolvimento da etnologia francesa de inspiração durkhemiana. No entanto, não seria exato atribuir a antropologia de Lévi-Strauss única e exclusivamente a esta tradição. Lévi-Strauss declarou a sua dívida como "discípulo inconstante" para com Durkheim, mas, como filósofo de formação, rejeitou tanto a filosofia como a sociologia para se proclamar um estudioso das «chamadas sociedades primitivas, aquelas com que os etnólogos se preocupam» (1966 : 371). Em Lévi-Strauss convergem, sobretudo, temas e sugestões largamente estranhos à tradição etnológica francesa e europeia, bem como instâncias teóricas de outras áreas das ciências humanas.
Após várias missões de pesquisa no Brasil entre 1934 e 1939, Lévi-Strauss refugiou-se nos Estados Unidos em 1941, após a ocupação da França pelos alemães.
Residiu até 1948. Durante a sua estadia na América, entrou em contacto com etnólogos da escola de Boas, incluindo Krober e Lowie. Mas Lévi-Strauss também conheceu filósofos e linguistas europeus expatriados, como o russo Roman Jakobson e outros expoentes da linguística estrutural.
A influência exercida pelo estruturalismo linguístico na produção teórica de Lévi-Strauss é, de facto, bem conhecida e é central para a compreensão de grande parte da sua obra. Mas mesmo a linguística estrutural é apenas um segmento da complexa constelação cultural em que Lévi-Strauss se move. Os "fragmentos de música e de poesia", expressão de um clima intelectual refinado de onde Lévi-Strauss provém, e que constituem frequentemente o objeto de fascinantes operações de "bricolagem" teórica, funcionam igualmente como vestígios de uma memória quase proustiana, nas dobras da qual a teoria recupera uma relevância significativa no seio de uma experiência vivida. Esta experiência, contada por Lévi-Strauss em Tristes tropiques (1955), é a do etnólogo, uma figura socialmente "anómala" cuja vocação o leva a "reconstituir o curso dos milénios" em busca de um tempo duplamente perdido, tanto pela sociedade a que pertence tanto quanto por ele próprio que procura, longe disso, um sentido de distanciamento dos seus semelhantes.
A par da sua produção etnográfica e teórica em sentido estrito, Lévi-Strauss tem também uma vertente estética e filosófica, que muitas vezes se mistura com a primeira para a atenuar nos aspectos que podem ser excessivamente influenciados por uma inspiração positivista identificável com a utilização analógica e nem sempre justificável de modelos epistemológicos pertencentes a outros continentes científicos, como a linguística estrutural. De facto, Lévi-Strauss não é apenas o autor de uma importante obra sobre os sistemas de parentesco e de uma quadrilogia dedicada à análise dos mitos; é também o autor de um livro como Tristi tropici (1955) em que encontramos uma meditação não apenas no sentido da antropo-linguística, mas também no sentido da antropologia.
Sob o termo “estruturalismo” várias abordagens na linguística, psicologia e antropologia propuseram métodos e perspectivas para compreender diversos fenómenos. Mais um método que uma teoria propriamente dita, esse movimento teve seu auge nos anos 1960, influenciando áreas fora de suas disciplinas iniciais, a exemplo, a filosofia, a crítica literária, a semiótica, a pedagogia de Piaget e a psicanálise.
O estruturalismo ora contrapôs ora interagiu aos discursos positivistas, da fenomenologia, dos existencialistas, dos marxistas, a teoria crítica (especialmente a Escola de Frankfurt), da psicanálise lacaniana, da linguística de Chomsky, bem como ao funcionalismo, ao estrutural-funcionalismo, ao particularismo histórico e à escola de cultura personalidade em se tratando de antropologia.
Ideias comuns do Estruturalismo
Uma das últimas “grandes narrativas” com pretensões generalizantes a ser levada a sério no século XX, o estruturalismo possui alguns pressupostos comuns:
- Não atomismo: perspectiva na totalidade e não nas partes;
- b e não na substância: em uma metáfora bem conhecida, o carbono é a mesma substância do diamante e do grafite, só diferindo em sua estrutura.
- Estruturas são relações entre categorias e relações entre relações.
- Universalismo: as teorias estruturalistas argumentam a existências de universais nas estruturas comportamentais, culturais, linguísticas e psicológicas; contrapondo ao particularismo e ao individualismo metodológicos.
- Processos mentais como centro de análise: a realidade de processos e estruturais mentais funcionam como “programas” que ordenam a percepção do mundo e são comuns a todas as culturas, ainda que com características locais. Por exemplo, os critérios de taxonomias são particulares a cada cultura, mas o processo de criar taxonomia é universal.
- Relações sociais: são a matéria-prima para os modelos estruturais.
- Redução binária: a complexidade das estruturas pode ser reduzida e representada em elementos binários. Esses arcabouços de opostos –frio/calor, macho/fêmea, cru/cozido a e alto/baixo dentre outros — organizam o pensamento. Há uma lógica universal das dualidades que molda as representações profundas.
- Representações profundas: a percepção da superfície de um texto, de um mito, um artefato ou da organização social de uma aldeia integra e revela a existência de uma relação estrutural profunda que orienta a manifestação exterior nesses produtos culturais e instituições.
- O valor relacional dos elementos: cada componente cultural só faz sentido em relação a outro e com o todo.
- Sincronia: sendo as estruturas universais e atemporais, a análise diacrônica dos fenômenos passa a ser irrelevante.
- Transcendência dos problemas ontológicos e epistemológicos do pensamento ocidental: o estruturalismo aborda a relação intrínseca entre seres e coisas, assim as dicotomias do sensível e do racional, da forma e do conteúdo, do abstrato e do concreto dentre outros não fazem sentidos.
Influências
O estruturalismo, principalmente na antropologia de Claude Lévi-Strauss, recebeu influências dos seguintes fatores:
- Análise da sociedade com termos de infraestrutura, superestrutura e conflito de Marx, porém sem seu fundamento materialista.
- Holismo da psicologia da Gestalt para a produção dos sentidos;
- Pressupostos de um inconsciente e seus mecanismos em conflitos (como o Ego, Id e Superego) para organizar a mente conforme discutia Freud.
- Coletivismo metodológico de Durkheim e a universalidade das relações do modo explicado no Ensaio sobre a dádiva de Mauss.
- Os estudos das operações lógicas através de culturas de Lucien Lévi-Bruhl.
- Linguística estrutural de Ferdinand Saussure e Roman Jakobson, especialmente nas relações binárias e na ontologia do não ser (por exemplo, chá é um “não café”, A→‘A).
- A síntese entre linguística estrutural europeia e a semiótica norte-americana de Leonard Bloomfield.
- Um “ancestral” mais remoto na psicologia experimental estruturalista de Wilhelm Wundt e Edward Lee Thorndike que enfocaram em elementos intuitivo estudados sistematicamente como se fossem fenômenos.
Estruturalismo
Em 1800, a antropologia oscilava entre versões rígidas e flexíveis de ciência, de um lado enfatizava condições objetivas, como cultura material e ambiente, e doutro lado as condições subjectivas, tratando as indivíduos nas sociedades como se fossem robôs controlados por uma estrutura rígida, manipulavam-se os agentes sociais em um universo em constante mudança. Nas décadas de 1970 e 1980 surgem de três novas orientações teóricas - estruturalismo, pós-modernismo e antropologia feminista - a visão de uma ciência natural da sociedade foi essencialmente abandonada. A adequação do positivismo, com ênfase em dados empíricos, evidências, confirmação de hipóteses e relações de causa e efeito, foi fortemente questionada pelos estruturalistas. Os pós-modernistas e feministas, por sua vez, discutiram aquele tipo de antropologia que se tornou uma empresa de trabalho de campo. Em vez de ser objectiva e neutra em termos de valor, a pesquisa etnográfica foi acusada de etnocentrismo. A própria ciência foi descartada como um mecanismo ideológico que reforçava a hierarquia e o capitalismo. Em outras palavras, o objetivo era nada menos do que desmantelar a disciplina e começar tudo de novo.O estruturalismo nas décadas de 1960 e 1970 nasce como alternativa ao positivismo considerado numa perspectiva teórica com uma abordagem conceitual e metodológica distinta que emergiu em várias disciplinas, incluindo antropologia, linguística, crítica literária, psicanálise e filosofia.
CONCEITOS BÁSICOS
O homem não é apenas um ser natural (biológico), mas um ser cultural, isto é, ele vive na sociedade. É necessário ver que as estruturas de troca transcendem o indivíduo e o fazem agir inconscientemente. O indivíduo da sociedade Aranda ignora por que ele deve cumprir essas obrigações. É o etnólogo que faz com que a estrutura de trocas pareça forçar a contrair casamento neste ou naquela linhagem. A troca de casamento é certamente apenas uma das trocas sociais. As palavras também podem ser trocadas (e a linguagem também define o homem, segundo Lévi-Strauss) e bens. Mas o aspecto econômico das trocas é predominante apenas em nossas sociedades. Em muitas sociedades, parece ser secundário à troca simbólica. Em muitas sociedades, existe uma verdadeira economia do presente que implica tanto a obrigação de dar (sob pena de desprezo social), como a de receber (um presente recusado é um sinal de desprezo) e, finalmente, a obrigação de retornar no final de um determinado momento (e, portanto, estabelecer a troca). O presente transforma o outro em um parceiro e adiciona um novo valor simbólico ao objeto especificado. Permite que grupos potencialmente hostis mantenham relações pacíficas. Lévi-Strauss argumenta que no homem tudo o que é universal é natural e o que depende da regra, da norma. (a antiga oposição grega entre φυσει e νομω). Com efeito, o homem é o único ser que se impõe às normas, ou que exige a norma. Como as culturas são diferentes, as regras também são diferentes. Em vez de focar no comportamento empírico observável (estrutura ), os estruturalistas examinam a estrutura profunda que gera um conhecimento e um comportamento e que assume a forma de oposições binárias: natureza - cultura, homem - mulher, mão esquerda - mão direita, terra - céu, quente - frio, incesto - exogamia. A cultura atribui a essas estruturas um significado simbólico específico.
Mas um fato havia atraído a atenção dos antropólogos antes de Lévi-Strauss: existe uma norma universal, uma proibição universal, a do incesto. As tentativas de explicação foram avançadas. Por exemplo, vimos uma forma de princípio da lei natural: o homem consideraria a idéia, por exemplo, de casar com sua própria mãe ou pai, como uma repugnância natural. Freud a através da análise do complexo de Édipo nos disse que essa primeira explicação não se aplica. Também foi explicada a proibição do incesto com a existência de riscos genéticos: os casamentos consanguíneos aumentam o risco de doenças. Mas esses riscos não são grandes o suficiente para serem empiricamente visíveis e só podem ser conhecidos em sociedades onde a biologia científica se desenvolveu, mas não é assim nas chamadas sociedades primitivas. Além disso, deve-se acrescentar que, se a proibição do incesto é universal, a definição de incesto varia de acordo com o grupo considerado. Em algumas sociedades, por exemplo, é permitido o casamento entre primos cruzados (casamento com a filha do irmão da mãe ou da irmã do pai), enquanto entre primos paralelos (casamento com a filha do irmão do pai ou da irmã da mãe) é estritamente proibido. O risco genético é aqui, porém idêntico nos dois casos. Com sua universalidade, a proibição do incesto parece depender da natureza, mas com a diversidade de suas modalidades, com o fato de que desce da norma, parece antes depender da cultura.Análise da estrutura binária ético-émico prioriza, as estruturas que estão abaixo da superfície do comportamento cotidiano, cujos motivos e ações são vistos como amplamente irrelevantes O estruturalismo não olha a uma orientação anti-humanística. Em vez de focar na mudança ou na diacronia, os estruturalistas se preocupam com estruturas repetitivas. O pressuposto é que diferentes formas de organização social são produzidas repetidamente pelos princípios subjacentes, que eles mesmos permanecem relativamente constantes. A esse respeito, o estruturalismo parece ser altamente conservador, bastante descompassado com a ênfase contemporânea na mudança social.
Reversibilidade do tempo.
É feita uma distinção entre tempo cronológico (ou histórico) e mecânico (ou antropológico). O tempo cronológico é cumulativo; eventos se desenrolam ao longo da história. O tempo mecânico é repetitivo; eventos que se desenrolam no espaço. A suposição subjacente, eminentemente desafiadora, é que o tempo mecânico se ajusta ao ritmo das sociedades pré-industriais nas quais os antropólogos se concentraram, onde a organização social supostamente é fielmente reproduzida geração após geração.
Análise da mudança.
Supõe-se que as diferentes instituições da existência humana - organização econômica, sistemas matrimoniais, organização social, cultura material e ritual - são meramente transformações umas das outras, manifestações da mesma estrutura feita de princípios subjacentes.
Analogia linguística.
A cultura é como uma língua em dois aspectos. Primeiro, assim como não existe uma relação intrínseca entre o som de uma palavra e seu significado - em vez disso, o significado repousa no relacionamento de uma palavra com as palavras que a cercam - aspectos da cultura derivam o seu significado no contexto do sistema geral de relacionamentos em que quais eles estão incorporados. Em primeiro lugar considera-se o aspecto comunicativo individual a fala, e o aspecto estrutural gramatical, a langue. Segundo, a cultura é como uma língua, na medida em que as várias instituições culturais constituem códigos ou mensagens que devem ser descodificados a partir de símbolos e significados socialmente partilhados. A tarefa do antropólogo é descodificar essas instituições, para nos dizer o que elas de facto são.
Concentrar-se na vida mental.
Essas estruturas são acessadas não através da descrição puramente empírica das várias situações factuais, mas através da construção de modelos. São sistemas de relações lógicas entre elementos, nos quais é possível realizar experimentos ou transformações, a fim de identificar o que escapa à observação imediata. Os modelos nunca têm correspondência perfeita com a realidade, mas nem sequer são simples construções puramente subjetivas ou dotados apenas de valor metodológico: eles têm valor objetivo, porque destacam as estruturas que formam a espinha dorsal lógica da realidade. Essas estruturas são acessadas não através da descrição meramente empírica das várias situações factuais, mas através da construção de modelos. São sistemas de relações lógicas entre elementos, nos quais é possível realizar experimentos ou transformações, a fim de identificar o que escapa à observação imediata. Os modelos nunca têm correspondência perfeita na realidade, mas nem sequer são simples construções puramente subjetivas ou dotados apenas de valor metodológico: eles têm valor objetivo, porque destacam as estruturas que formam a espinha dorsal lógica da realidade. A estrutura, de fato, não é uma forma pura e simples, mas 'é o próprio conteúdo capturado em uma organização lógica concebida como uma propriedade do real'. Um arranjo de partes constitui uma estrutura, quando é um sistema governado por uma coesão interna, que se manifesta no momento em que suas transformações não históricas são estudadas, mas de acordo com regras lógicas: graças a este estudo, é possível de fato traçar propriedades semelhantes em sistemas aparentemente diferentes. Embora existam estudos estruturalistas de organização social (incluindo vida econômica e parentesco), a ênfase esmagadora tem sido em sistemas de crenças, mapas cognitivos e pensamento oral ou escrito. Sem dúvida, o foco principal tem sido a mitologia, entendida como uma 'linguagem' ou 'código' distintivo que reflete a maneira como a mente humano opera e articula temas, dilemas e contradições fundamentais na vida.
Reducionismo.
Por trás do nível do comportamento observável, ou do nível da superfície, estão os princípios que geram a interação cotidiana. Por trás desses princípios, em um nível ainda mais profundo, estão as categorias mentais. O pressuposto é que a cultura é modificada e restrita a segunda das categorias mentais, que são consideradas universais e partilhadas por toda a humanidade. Os estruturalistas se esforçam não apenas para detectar o impacto das categorias mentais na organização cultural, mas também para explicar como funciona o conhecimento humano. Dada a suposição de que as estruturas mitológicas condicionam as categorias mentais, é compreensível que a mitologia seja a oficina do estruturalista. Enquanto Lévi-Strauss lançou uma nova luz sobre vários tópicos antropológicos clássicos, do parentesco à estrutura social, ao totemismo e à lógica do pensamento pré-industrial, ele é mais conhecido por sua análise imaginativa da mitologia. Ele assumiu que os mitos constituem um tipo de linguagem, que fica no meio do caminho entre a linguagem convencional e a mente humana. Mitos, em outras palavras, são veículos que supostamente levam o analista para perto do funcionamento do cérebro. Lévi-Strauss estava menos preocupado com o que o mito nos diz sobre o mundo social do que com as operações mentais. Seu interesse, em outras palavras, não era tanto no que os humanos pensam como no que pensam, embora uma de suas principais asserções fosse a de que os mitos giram em torno de dilemas e contradições humanos fundamentais, como viver significa morrer. Segundo Lévi-Strauss, uma versão de um mito não é melhor que outra, nem os mitos melhoram ou ficam mais ricos com o tempo com as novas versões. Além disso, é possível iluminar uma versão de um mito em 1990 com uma versão que apareceu em 1890, ou o contrário. Lévi-Strauss até tentou explicar mitos que ocorrem em uma parte do mundo com aqueles encontrados em outras partes do mundo, rejeitando assim o que tem sido um princípio metodológico básico em antropologia: crenças e comportamentos devem ser explicados em suas especificidades culturais. contexto. O procedimento aparentemente desconcertante de Lévi-Strauss repousa na distinção entre tempo cronológico (histórico) e mecânico (antropológico). No tempo mecânico, materiais culturais como o mito não progridem cronologicamente; eles simplesmente são reproduzidos no espaço. Isso explica por que Lévi-Strauss saltou de um ponto no tempo de volta para outro, ou mesmo através dos continentes (Barrett 2009: 150-151).
Método dialético: análise dos mitos.
Os mitos são constituídos por grandes unidades constitutivas chamadas mitemi; os mitos são comparados aos fonemas da linguística. Os mitos têm importantes funções sociais ligadas à coesão do grupo. A mitologia tem significado a partir da relação de correlação e oposição dentro do mito com outros mitos.A função do mito seria oferecer mediações lógicas quando uma sociedade percebe oposições que parecem difíceis de superar. Uma vez que o mitemi é isolado, variáveis podem ser estabelecidas nas diferentes versões. Os mitos são o resultado de um contínuo processo de criação e remoção dos agregados que os compõem.
O pensamento mítico processa estruturas. Lévi-Strauss mostra que é possível dividir o mito em mitos, à maneira dos linguistas que dividem o idioma em morfemas, unidades elementares. Uma vez que os mitos são classificados e relacionados, ele afirma que os mitos são jogos lógicos que mobilizam as estruturas universais do espírito humano. O mito vale mais pelas estruturas subjacentes do que pelos personagens que coloca no palco. Assim, 'se os mitos fazem sentido, este último não pode ser referido aos termos individuais que entram em sua composição, mas à maneira como esses elementos são combinados'.
Lévi-Strauss estabelece uma gramática geral dos mitos que não leva em conta as diferenças de tempo, lugar, idioma e tem como objetivo explicar quase todos os mitos conhecidos. Ele procura mais definir o pensamento mítico em si do que descobrir o significado de um ou mais mitos conhecidos. Pouco importa então que o mito tenha ou não significado, o que importa é que o instrumento que o faz é suscetível de estudo racional.
O universo dos mitos
De certa forma, os mitologos são apenas a verificação longa e complexa da hipótese do pensamento selvagem, porque 'os mitos significam o espírito que os elabora no meio do mundo do qual ele próprio faz parte'.
1) Os mitos não apresentam nenhum primeiro sentido, nem em sua trama nem em seu simbolismo.
2) É a interação deles com a natureza, bem como as relações entre eles ('mitos são pensados entre si') que lhes permitem produzir significados.
3) Portanto, é essa referência e essa comparação do mito (ou conjunto de mitos) com o mito que constitui a matéria-prima do antropólogo.
O método de demonstração funciona em três níveis:
1) a de um dado mito,
2) a de um conjunto de mitos próximos com suas alternativas
3) e finalmente o de todos os mitos possíveis que validam a lógica estrutural e binária do pensamento selvagem graças a procedimentos
a. oposição,
b. homologia,
c. de simetria,
d. de inversão ou de novo
e. equivalência.
A principal tarefa é, portanto, etnográfica,
1) porque é necessário reconhecer com precisão as categorias empíricas (cruas, cozidas, podres, frescas, úmidas, queimadas etc.) que também se tornarão ferramentas conceituais.
2) A comparação sistemática, o uso de sinais lógico-matemáticos (na forma de equações, transformações ou isomorfismos sobre os quais o antropólogo tem poucas ilusões) permitem identificar mitos que validam esta ou aquela hipótese em particular:
a. os mitemas são os elementos menores do mito, breves relatos da sucessão de eventos na narrativa.
Certamente, os mitos não são apenas máquinas abstratas; produzem um sentido: a origem do cozimento de produtos alimentares, a razão desse hábito matrimonial, o local ritual dessa ou daquela espécie etc. Esse sentido não parece evidente para quem produz ou transmite mitos; o trabalho de desconstrução, por um lado, o estabelecimento da cadeia referencial de elementos e mitos míticos, por outro lado, relaciona-se ao conhecimento e 'know-how' do antropólogo. A lógica mítica é tal apenas porque o analista tenta reduzir ao máximo a incerteza.
Assim, os efeitos sociais e estéticos dos mitos são considerados, em certo sentido, secundários. No entanto, os cerca de mil mitos deste trabalho retornam uma cultura luxuriante e um mundo intelectual de originalidade inquestionável. Só podemos admirar a imaginação dessas populações e a qualidade dos documentos etnográficos coletados por Lévi-Strauss. Portanto, não há escolhas deixadas para a iniciativa pessoal. Presume-se que o conhecimento humano, funcione como um computador, opere em termos de oposições binárias. O conhecimento antropológico convencional há muito tempo sustenta que as oposições binárias são quase universalmente representadas na organização cultural, o que, segundo os estruturalistas, determinam as categorias mentais. Das oposições binárias, foi apenas um pequeno passo para o método dialético: tese, antítese e síntese, refletindo supostamente a influência de Marx.
O ponte natureza-cultura.
Lévi-Strauss vê neste contexto a dialéctica particular entre natureza e cultura: o que faz do homem natural um ser cultural. O que importa na proibição do incesto é menos o aspecto da proibição contida na norma de que a obrigação do corolário implica: não ter o direito de casar com alguém da própria família, envolve a obrigação de casar com alguém de outra família . O casamento aparece então como uma troca, uma troca que constitui a base social aos olhos de Lévi-Strauss. Mas um fato complica as coisas. No casamento ', não se recebe daquele a quem é se deu, e não se dá àquele de quem recebeu-se. Cada um dá a um parceiro e recebe de outro ». Na realidade, existem ciclos muito complexos que atingem a balança comercial apenas no final de muitas gerações. Lévi-Strauss desenvolve as estruturas elementares do parentesco, mostrando que, globalmente, a troca é sempre realizada no final de algumas gerações. Assim, em algumas sociedades, um homem não tem o direito de se casar com nenhuma mulher. Alguns são muito próximos dele (é a norma da exogamia). Mas muitas vezes acontece que o homem deve escolher sua esposa dentro de um círculo bem definido (é a norma da endogamia).Uma das características dos estruturalistas é a disposição de enfrentar problemas filosóficos profundos. O que torna os humanos humanos? Como eles deram o salto da natureza para a cultura? Existe alguma diferença entre humanos e outros animais?
Humanos como classificadores.
O ponto central do estruturalismo é a afirmação de que o que torna os humanos únicos é sua capacidade de classificação. Pensa-se que essa capacidade seja intrínseca ao cérebro humano. Pensar é classificar. O primeiro é impossível sem o segundo. Diz-se que a propensão a classificar é universal entre a humanidade, de caçadores e coletores a capitalistas industriais, e marca o Homo sapiens como um tipo especial de animal: um intelectual.
Modelos reduzidos.
Felizmente para os antropólogos, existem atalhos analíticos: modelos reduzidos. Esses são tipos de cultura ou categorias de cultura reduzidas às suas propriedades mais simples e elementares. Nessas situações, as camadas do pensamento consciente, ou normas ideológicas e racionalização, são relativamente finas. Isso significa que é mais fácil chegar à estrutura inconsciente ou profunda e, finalmente, expor as operações do cérebro humano. Um exemplo de modelo reduzido é a cultura supostamente primitiva. Diz-se que contém todos os elementos básicos que caracterizam a existência humana em todos os lugares, mas retrata a essência da condição humana em uma realidade rígida e indisfarçada. O conceito do modelo reduzido, mesmo assumindo que fazia sentido, era uma bênção mista. Justificava um foco contínuo na sociedade primitiva, exatamente no ponto da história em que os antropólogos precisavam se adaptar ao fato de que seu território de pão com manteiga praticamente desapareceu da face da terra.
Bibliografia
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Lévi-Strauss, Claude. 1957. Tristes Trópicos. São Paulo: Anhembi.
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Jakobson, R. (2007). Linguística e Comunicação. São Paulo: Cultrix.
Lewi-Strauss, C. (1987). Mito e Significado. Lisboa: Edições 70.
Barrett, R. S. (2009). Anthropology. A Student Guide to Theory and Methods. Toronto: University Press.
Lévi-Strauss, C. (1982). As estruturas elementares do parentesco. Petrópolis: Vozes.